Os espanhóis têm uma estranha tradição – morte de touros – que incomoda, naturalmente, muitas pessoas. A par dos touros de morte, a sua capacidade atávica, e verdadeiramente troglodita, reveladora de um sadismo face ao não respeito dos direitos dos animais está bem patenteado no Toro de la Vega. Na mítica vila peninsular de Tordesilhas, todos os anos, numa quarta-feira de Setembro, um bando de selvagens persegue pelo campo um touro, picando-o, retalhando-o, com pavorosas lanças provocando um sofrimento estúpido ao pobre animal. Muitos cidadãos espanhóis, civilizados, e não portadores de taras, insurgem-se cada vez mais contra esta prática, e outras, incompatíveis com uma Espanha civilizada e em franca expansão. Os defensores da prática argumentam que tratam os animais com "muito carinho" (!) e com o máximo respeito pela tradição. O que é que poderia acontecer ao animal se não o tratassem com tanto desvelo? Quanto à tradição é um argumento falacioso. A frase segundo a qual "a tradição já não é o que era" é de levar em linha de conta, e ainda bem! As tradições nascem, envelhecem e morrem. Algumas demoram muito tempo a morrer, revelando uma decrepitude patética, exigindo uma boa e valente "eutanásia". Espero que ninguém se lembre de constituir alguma comissão de ética com o objectivo de impedir a eutanásia de tradições meio parvas e incompatíveis com os valores dos seres humanos e direitos dos animais!
Esta reflexão fez-me recordar a polémica de fim de Agosto que, entre nós, constituía uma "tradição": os touros de morte de Barrancos. Todos os anos era o motivo número um dos telejornais e periódicos, além dos inúmeros debates que suscitava. Eram entrevistas, eram debates, eram directos, era uma romaria que, freneticamente, levava as pessoas, umas a favor, outras contra, à vila meio perdida do Alentejo. Barrancos tinha os seus dias de glória no final de Agosto. De repente, a Assembleia da República decidiu produzir uma lei para que os cidadãos de Barrancos mantivessem a tradição sem sobressaltos legais. Desapareceram as notícias e o interesse pelos touros de morte barranquenhos. Não se diz nada, as pessoas deixaram de peregrinar para aquelas bandas e, de acordo com a informação prestada pelos autóctones, cada vez é mais difícil realizar as festas. As dificuldades são sentidas, o interesse da comunicação social desapareceu e, por este andar, a falta de interessados, aliada a uma maior consciencialização dos jovens irão ditar a morte de uma tradição "legitimada" por uma disposição da AR, na expectativa de acabar com as tremendas confusões criadas ao redor do assunto.
As tradições também se abatem...
5 comentários:
Ou seja:
Acabou-se a publicidade de borla, acabou-se a fonte de rendimento. Deve ser tramado.
Paciência, encontrem um estilo de vida alternativo.
É pena que a "tradicional" polémica de fim de Agosto tenha acabado.
Porque, em rigor, não passava de um grupo de fascistas a tentar mandar o seu moralismo para cima dos outros, como se o touro de 4 anos que morria em Barrancos visse os seus direitos mais violados que o touro de 3 meses que tinham no prato.
E é sempre bom perceber onde andam os moralistas. Quando a coisa é verdadeiramente importante, como no caso da pesquisa em estaminais ou na reprodução medicamente assistida, já sabemos quem são aqueles que não interessa ouvir...
As festas de Barrancos realizam-se há pelos menos 200 anos, incluindo os 4 em que tiveram publicidade. Todo este assunto é tudo menos comparável ao tema do post inicial, dado que em Barrancos o assunto cedo deixou de ser uma questão de direitos do animais, que os têm, mas passou a ser, por via de imposições moralistas na casa dos outros, uma questão de direito humanos e direito à preservação de especificidades culturais.
Onde se prova, tal como eu havia dito, que o problema das pessoas que não gostam de touradas de morte, é haver pessoas que gostam de touradas de morte... Os animais? Esses não interessam!
http://tonibler.blogspot.com/2006/09/face-oculta-de-portugal.html
Espero sinceramente que os Espanhois evoluam, pois este touro de la Vega é um dos espectáculos mais primitivos que se possa imaginar. No dia 12 deste mes vao assassinar mais um. Não percebo o quanto o ser humano é maquiavélico.
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