E pronto: lá vai o Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) para o Campo de Tiro de Alcochete (que, ironicamente, fica localizado nos concelhos de… Montijo e Benavente).
Nove anos e cerca de 25 milhões de euros em estudos depois de a Ota ter sido considerada “irreversível”, é Portugal quem fica a ganhar.
De tudo o que já tinha lido, visto e ouvido, não tinha grandes dúvidas de que a opção Alcochete batia largamente a opção Ota. Não foi, por isso, para mim, surpreendente que o Relatório do LNEC tenha considerado Alcochete a melhor opção – se bem que não com um argumentário esmagador, abrindo a porta a uma saída política airosa para um Governo que, sabe-se lá por que razões, tinha optado pela Ota e, teimosamente, se recusava a estudar outras alternativas.
Foi, por isso, necessário “convencer” o Governo a ter bom senso. O que, em meu entender, não teria sido possível sem a intervenção de três intervenientes essenciais.
Desde logo, o Presidente da República. A “sugestão” de Cavaco Silva relativamente à realização de um debate aprofundado na Assembleia da República sobre a localização do NAL e o pedido de um consenso “técnico” e “político” sobre este tema foram fundamentais. Bem como a necessidade, tantas vezes repetida, de se pesar bem a relação custo-benefício de uma obra desta envergadura.
Em segundo lugar, a sociedade civil – de que destaco, naturalmente, o estudo patrocinado pela Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), que revelou que o Campo de Tiro de Alcochete era, indubitavelmente, melhor do que a Ota para receber o NAL. Um estudo que nasceu, entre outros, de contactos com a Presidência da República, e a que José Sócrates acabou por dar luz verde. E que levou a que o LNEC tivesse, definitivamente, que analisar comparativamente a Ota com Alcochete.
Finalmente, mas não menos importante (muito pelo contrário), a actuação da Oposição, sobretudo do PSD e, em particular, do ex-líder do meu Partido, Luís Marques Mendes – que vi com desagrado e injustiça, ser esquecido pela maioria dos analistas e críticos nos seus comentários à decisão do Governo sobre o NAL. Durante dois anos, e na maior parte das vezes em circunstâncias políticas adversas, Marques Mendes não abandonou por um só instante o tema da localização do NAL na Ota, tendo interpelado o Primeiro-Ministro em praticamente todos os debates mensais na Assembleia da República, e trazido o tema, persistentemente, para outros fora, quer políticos, quer da sociedade civil. Creio que se o PSD e o seu ex-líder tivessem deixado cair este tema, nunca se teria chegado à intervenção do Presidente da República e ao estudo da CIP que provocaram a reviravolta da situação. Por isso, mesmo não podendo capitalizar já, politicamente, esta vitória, não tenho dúvidas que Marques Mendes pensará a esta altura que “valeu a pena”. Porque, acima de tudo, trata-se de uma vitória de Portugal.
NOTA: Este texto constitui uma versão editada do artigo publicado no jornal “Público” em Janeiro 21, 2008.
9 comentários:
Caro Miguel Frasquilho:
Sem dúvida que a intervenção persistente de Marques Mendes foi importante e decisiva. Mas não foi ela que decidiu a posição de Cavaco Silva. Na Campanha Eleitoral para a Presidência, Cavaco aludiu por várias vezes à necessidade de estudos que confirmassem e comprovassem, numa análise de custos e benefícios, a opção OTA.
Esquece, injustamente deixe-me que lhe diga Miguel, o extraordinário contributo de Mário Lino.
Ninguém como ele contribuiu para descredibilizar a Ota.
Merece por isso um lugar na galeria ;)
Não, Miguel Frasquilho, não é uma vitória para Portugal. É uma derrota. E é uma derrota porque a parte vitoriosa só teve que colocar as opções entre a OTA ou Alcochete, que do ponto de vista económico é tão má uma, como a outra. Isto se deixarmos de lado os trocos.
A parte derrotada, o país, vai ter que dar um aeroporto que já tem, dar parte de outros dois que já tem, dar o transporte aéreo interno que tem e vai deixar de ter. Tudo isto, mais um esparrame imoral de dinheiro, que não tem, para construir uma cidade aeroportuária que, como devia saber, economicamente rima com "Complexo Industrial de Sines".
Agora, para o PSD? Imagino que também tenha sido uma vitória...
Sim senhores, vamos aceitar e acreditar que o governo baseado nos últimos estudos executados pelos técnicos capazes para o efeito concluiu, e muito bem, pela opção Alcochete.
Mas agora fica-me uma dúvida: -Então se o Ministro disse que a opção Ota era irreversível face a aos estudos que possuía...
Mas ninguém vai assumir agora a responsabilidade de ter induzido o Governo a tomar a opção pela Ota!?
Quando muito acusem o gajo que tirou as fotocópias dos projectos e despeçam-no por incompetência...
Caro Pinho Cardão,
Claro que não foi Marques Mendes a decidir a posição de Cavaco Silva... Mas o que eu tenho dúvidas é se a intervenção do PR e, depois, da CIP teriam tido lugar se Marques Mendes não tivesse sido tão insistente... Olha que não, meu caro, olhe que não!...
Caro José Mário,
Tem toda a razão: o Ministro Mário Lino bem merecia uma referência simpática no meu texto!... :-)
Um abraço.,
Ganhou-se uma batalha, mas a guerra está longe de estar ganha. Ainda está por provar a necessidade - ou o interesse - de se encerrar a Portela.
Para já, só se mudou a localização do elefante branco - mesmo que não tenha sido pouco.
VAMOS PARA A FRENTE QUE ATRÁS VEM GENTE!!
AEROPORTO NOVO VIDA NOVA!!
Enfim, o rotativo laranja ganhou desta vez e ainda bem, do mal o menos. Quanto à Portela, talvez deva servir ainda por muitos anos. A menos que os "quartos republicanos" já tenham qualquer grande empreendimento imobiliário para os terrenos. Basta de república!
Só se forem os quintos, por aqui só se constrói na blogosfera!
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