Londres é mesmo uma cidade muito especial, onde o insólito acontece a cada passo.
Entrei para tomar um café num dos numerosos “pronto-a-comer” da cidade. Na bicha ao lado, um vulto vestido da cabeça aos pés, cara tapada, só dois buracos nos olhos, não sei se era nikab ou burka que trajava.
Comecei a matutar de mim para comigo como é que ela conseguiria tomar um café ou comer um bolo com tal vestimenta. Entraria apenas para comprar uma sanduíche para levar? E dispus-me a ver o que aconteceria.
Depois de aviado, o vulto procurou com os olhos uma mesa vaga. Havia duas ou três no centro, mas essas não pareciam servir-lhe. Hesitou um ligeiro segundo entre permanecer e sair de imediato, quando providencialmente vagou uma mesa redonda, pequena, numa das esquinas do restaurante. Precipitou-se, ágil, para lá. Empurrou a mesa totalmente para o canto e sentou-se tão de costas para a sala e tão virada para a parede que só uma observação de frente, mas impossível, permitiria que se lhe visse o rosto. Com um movimento, e mantendo as faces tapadas, a severa cobertura da cara terá admitido uma abertura ao nível da parte da frente, já que vi o braço da presumivelmente mulher mover-se na direcção da boca.
Saí então. Não sei se era nova ou velha, bonita ou feia ou assim, assim. Também não sei se o vestuário advinha de forte convicção própria ou de subjugação passiva aos usos e costumes em que nasceu.
Mas pensei como é intolerável que uma mulher, neste ano de 2008, não possa mostrar a cara à luz do sol, nem possa comer, de cara destapada, uma simples sanduíche num qualquer restaurante ou numa qualquer rua de um qualquer país.
Por mais que muitos não queiram, esta é mesmo uma questão civilizacional. E não há multiculturalismo que lhe valha!...
Entrei para tomar um café num dos numerosos “pronto-a-comer” da cidade. Na bicha ao lado, um vulto vestido da cabeça aos pés, cara tapada, só dois buracos nos olhos, não sei se era nikab ou burka que trajava.
Comecei a matutar de mim para comigo como é que ela conseguiria tomar um café ou comer um bolo com tal vestimenta. Entraria apenas para comprar uma sanduíche para levar? E dispus-me a ver o que aconteceria.
Depois de aviado, o vulto procurou com os olhos uma mesa vaga. Havia duas ou três no centro, mas essas não pareciam servir-lhe. Hesitou um ligeiro segundo entre permanecer e sair de imediato, quando providencialmente vagou uma mesa redonda, pequena, numa das esquinas do restaurante. Precipitou-se, ágil, para lá. Empurrou a mesa totalmente para o canto e sentou-se tão de costas para a sala e tão virada para a parede que só uma observação de frente, mas impossível, permitiria que se lhe visse o rosto. Com um movimento, e mantendo as faces tapadas, a severa cobertura da cara terá admitido uma abertura ao nível da parte da frente, já que vi o braço da presumivelmente mulher mover-se na direcção da boca.
Saí então. Não sei se era nova ou velha, bonita ou feia ou assim, assim. Também não sei se o vestuário advinha de forte convicção própria ou de subjugação passiva aos usos e costumes em que nasceu.
Mas pensei como é intolerável que uma mulher, neste ano de 2008, não possa mostrar a cara à luz do sol, nem possa comer, de cara destapada, uma simples sanduíche num qualquer restaurante ou numa qualquer rua de um qualquer país.
Por mais que muitos não queiram, esta é mesmo uma questão civilizacional. E não há multiculturalismo que lhe valha!...
3 comentários:
Não tão intolerável como parece, caro Dr. Pinho Cardão, não se esqueça, por favor (detesto imperaivos) que em pleno 2008 ainda buscamos com uma curiosidade muitas vezes indisfarçável, o brinde no bolo-rei.
Ha pouco tempo, contáva-me uma colega, que uma avó dela, quando casou, vestiu na noite de núpcias uma camisa de dormir, em linho, com uma pequena abertura frontal, cuja terá sido, comparatiamenta à burka da mulher que observou, o portal de entrada para o doce, a porta tridimensional que permite a passagem para mundo sensorial, etc, etc, etc.
Não me alongo em considerações, porque já plantei 7 árvores, estamos na altura ideal, almocei umas excelentes caras de bacalhau, cozidas com todos, regadas por um raposeira geladinho.
Burka, não é verdade?
Está bem, está muitíssimo bem, aliás, nem podia estar melhor.
Caro Dr. PC,
Pois que é mesmo uma questão civilizacional e não há multiculturalismo que lhes valha. Nem a elas, nem a nós que, na realidade, não passamos de uns hipócritas. Passamos o tempo com a democracia na boca, a defender a igualdade de direitos etc, mas depois - a bem da tolerância e do respeito para com a diversidade cultural - aceitamos, pacificamente, este tipo de coisas.
É como a ecologia. Somos todos super-ecológicos, adeptos do "think green"... os supermercados até passaram a cobrar pelos sacos de plástico a título de ser uma medida ecológica. Pois sim... esta medida ecológica - que todos achamos muito bem - traduzida em termos práticos apenas significa que quem puder pagar, pode poluír à vontade (a mesma base que serve ao protocolo de Kyoto, aqueles que pagarem podem poluir).
Somos uns tipos "porreiros pá". :)
Que as mulheres não consigam deixar de andar de burka no Afeganistão ou lá nos confins das Arábias, ainda percebo. Agora em Londres, onde é suposto integrarem-se e onde se adoptam os hábitos que interessam, acho que só andam assim porque querem ou por ostentação de diferenças culturais que, pelos vistos, prezam muito.Lamento por elas, se é assim, acho que há formas de afirmação bem mais interessantes. Se é por se sentirem confortáveis, gostam de andar embuçadas, então é lá com elas,o melhor é nem reparar porque é isso que pretendem, ostentar culturas como se fosse uma acusaçao moral a quem não as partilha.Pena é que nesses países não haja a mesma tolerância que há em Londres e as mulheres de outras culturas não possam andar por lá vestidas como se vestem nos seus países...
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