O Ano Novo tem destas coisas, aguilhoa-nos a consciência com esta aparência de novinho em folha e, de certa maneira, ajuda-nos a ver as coisas com outro olhar, talvez menos rancoroso, talvez mais disposto a desdramatizar as contrariedades. Por isso vou escrever o que se calhar nunca chegaria sequer a pensar, se não fosse esta época de alma limpa e boas vontades. E vou escrever que eu, fumadora moderada mas persistente há muitos anos, não posso, em boa razão, criticar a lei do tabaco.
Claro que me contraria, detesto que me dêem ordens ou me imponham restrições quando eu me considero mais do que habilitada a gerir os meus comportamentos de forma razoável. Claro que vivia muito melhor e me sentiria individualmente mais livre sem esta floresta de tabuletas com o sinal proibido e eu, pobre fumadora, a sentir-me expulsa dos “meus” locais favoritos, Keep out!, como se faz aos indesejáveis.
Mas a necessidade de me adaptar às novas circunstâncias fez-me mudar alguns hábitos e foi assim que reparei que, afinal, antes também vivia com outras tantas limitações, com a diferença que resultavam da minha opção pessoal, determinadas em função do meu conforto ou do meu julgamento das conveniências mas, ainda assim, eram limites ao prazer de fumar um cigarrinho quando me apetecia.
A saber, nunca fumei na rua porque me ensinaram em criança que era uma falta de educação grave. Raramente fumava em casa, primeiro porque as crianças eram pequenas, depois porque elas não gostavam, finalmente porque decidi que deixava o maço no carro ao fim do dia. Há muito tempo que não levo cigarros para reuniões, mesmo as mais prolongadas. No avião nem me lembro dos cigarros. Nunca fumava no carro, meu ou dos outros, porque não gosto do cheiro que se entranha, porque tenho medo de queimar a roupa ou de me distrair a guiar. E há muito tempo que, se vou com alguém que não fuma, também me inibo de fumar no café restaurante. Além disso, há poucos anos, parei de fumar durante um ano porque tive um problema de saúde que desaconselhava em absoluto a absorção do fumo.
Tudo isto para me lembrar que já havia muito espaço condicionado à minha qualidade de fumadora, só que eram limites que eu própria decidia, por conveniência pessoal, podemos bem resumir assim, dependendo exclusivamente do meu interesse ou vontade. Agora, trata-se de aceitar que o critério da conveniência e conforto dos outros também faz todo o sentido, sendo certo que não se sobreporia ao meu gosto pelo cigarro se não me fosse imposto, tenho que reconhecer, há coisas que só mudam mesmo à força, os egoísmos pessoais por excelência. É uma grande maçada? Sem dúvida, até porque agora só posso fumar na rua, na minha casa, no meu carro, tudo o que não fazia antes porque não queria, tenho que pensar como é que vou resolver este conflito…O mais certo é ir deixando de fumar, até porque não quero pagar o imposto que aumenta mais uma vez, sempre é uma forma de me vingar das proibições. Keep out!
Claro que me contraria, detesto que me dêem ordens ou me imponham restrições quando eu me considero mais do que habilitada a gerir os meus comportamentos de forma razoável. Claro que vivia muito melhor e me sentiria individualmente mais livre sem esta floresta de tabuletas com o sinal proibido e eu, pobre fumadora, a sentir-me expulsa dos “meus” locais favoritos, Keep out!, como se faz aos indesejáveis.
Mas a necessidade de me adaptar às novas circunstâncias fez-me mudar alguns hábitos e foi assim que reparei que, afinal, antes também vivia com outras tantas limitações, com a diferença que resultavam da minha opção pessoal, determinadas em função do meu conforto ou do meu julgamento das conveniências mas, ainda assim, eram limites ao prazer de fumar um cigarrinho quando me apetecia.
A saber, nunca fumei na rua porque me ensinaram em criança que era uma falta de educação grave. Raramente fumava em casa, primeiro porque as crianças eram pequenas, depois porque elas não gostavam, finalmente porque decidi que deixava o maço no carro ao fim do dia. Há muito tempo que não levo cigarros para reuniões, mesmo as mais prolongadas. No avião nem me lembro dos cigarros. Nunca fumava no carro, meu ou dos outros, porque não gosto do cheiro que se entranha, porque tenho medo de queimar a roupa ou de me distrair a guiar. E há muito tempo que, se vou com alguém que não fuma, também me inibo de fumar no café restaurante. Além disso, há poucos anos, parei de fumar durante um ano porque tive um problema de saúde que desaconselhava em absoluto a absorção do fumo.
Tudo isto para me lembrar que já havia muito espaço condicionado à minha qualidade de fumadora, só que eram limites que eu própria decidia, por conveniência pessoal, podemos bem resumir assim, dependendo exclusivamente do meu interesse ou vontade. Agora, trata-se de aceitar que o critério da conveniência e conforto dos outros também faz todo o sentido, sendo certo que não se sobreporia ao meu gosto pelo cigarro se não me fosse imposto, tenho que reconhecer, há coisas que só mudam mesmo à força, os egoísmos pessoais por excelência. É uma grande maçada? Sem dúvida, até porque agora só posso fumar na rua, na minha casa, no meu carro, tudo o que não fazia antes porque não queria, tenho que pensar como é que vou resolver este conflito…O mais certo é ir deixando de fumar, até porque não quero pagar o imposto que aumenta mais uma vez, sempre é uma forma de me vingar das proibições. Keep out!
13 comentários:
Esta questão da proibição de fumar dentro dos edifícios está a tornar-se irracional. Digo isto porque se assiste às mais díspares evocações de motivos e comparações por parte dos fumadores, para tentar... tentar o que? Não sei bem, mas numa primeira leitura, tentar demonstrar publicamente a discriminação a que se acham sujeitos. Miguel Sousa Tavares, num dos seus comentários, tomou como exemplo desta demonstração os avisos que se encontram colocados à porta dos cafés e que proíbem a entrada a cães. Eu não coloco as coisas neste pé, mas a verdade é que neste assunto, justifica-se a alusão ao ditado popular "só não se sente, quem não for filho de boa gente". Adiante...
"fumadora moderada mas persistente há muitos anos"
Cara Drª. Susana isto não pretende ser uma critica, obviamente, mas soa a algo do género... Eu insisto, insisto, mas não consigo ficar vicada à séria, será?
Nã quero crer que seja
;)))
Se todos os fumadores fossem tão criteriosos como a Suzana e se todos fossem tão conscienciosos e socialmente responsáveis a lei poderia não ter chegado ao nível de proibição a que chegou.
É verdade que há coisas que só mudam à força. Uma força boazinha!
Afinal a nova lei até lhe vai dar uma ajudinha para deixar de ser "uma fumadora moderada mas persistente há muitos anos"...
Pois cara Suzana, em 1º lugar... BOM ANO!!!!! :)
Em 2º lugar, fartei-me de rir com o seu post mas, se quer que lhe diga não faço ideia porque é que me fartei de rir. Sem dúvida que me associei ao que descreveu, principalmente, porque as regras que descreveu foram as regras que me impus enquanto fumador. Foi uma questão de consciência e de bom-senso (e também não fumo na rua porque me ensinaram que era falta de educação).
No entanto, concordo com o Bartolomeu. Isto começa a tocar as raias do irracional e eu dou-me muito mal com o irracional. Não sei porquê... mas sei que começo a provovocar, a desafiar e a levar as coisas aos seus limites. Quando isto acontece deixo, automaticamente, de reconhecer a existência do "Outro" (condição que numa situação normal eu reconheço sem que ma imponham) e se eu deixo de reconhecer a existência do "Outro" é porque entretanto já passei por um processo de desumanização do "Outro". Logo se eu não "O" reconheço,para mim o "Outro" torna-se "disposable" e se isto for mútuo então há um problema. Tudo passa a ser um jogo de soma zero em que para um ganhar o outro vai ter de perder.
É aborrecido... mas estes jogos tentam-me e isso é terrível.
Fumo, mas estou plenamente de acordo com esta imposição legal.
Constato é que, os cafés começam a estar mais vazios, e alguns proprietários já reclamam. Pela minha parte, como cidadã, vou sensibilizando, os proprietários com quem falo, que os primeiros beneficiados desta regra, são eles, por deixarem de estar expostos a um ambiente tão poluído, de fumo de nicotina.
Por outro lado, ...
Eu gostaria muito, era de ver, no mundo laboral, esta "rédea curta" a ser accionada, quanto ao cumprimento das directivas comunitárias, já legisladas e regulamentadas em Portugal, no que à SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO concerne.
A começar pelos trabalhadores que servem o Estado, cujas condições de trabalho - de alguns - estão ao nível do Burkina Fasso.
Não me parece que o Lisboa-Dakar, fizesse passagem pelo Burkina, pelo Mali sim...
Olá bom dia Pézinhos,
Não discordando do seu comentário (até porque não discordo), devo dizer-lhe que, em plena crise económica, esta foi - de facto - uma decisão genial do governo português que encoraja e fomenta o desenvolvimento de uma economia saudável. Bom timing para a implementação da legislação.
Em termos generalistas, eu diria que muitos dos proprietários dos cafézinhos e afins estão, definitivamente, a caminhar em direcção à ruína. Mas paciência! Arruínados mas saudáveis (achamos nós, porque há que considerar que há pessoas que não reagem muito bem, em termos físicos, face a situações de tensão), esse é o mote de 2008. Além disso, mais falência, menos falência não tem grande importância, o pessoal do Registo Comercial agradece o acréscimo do volume de trabalho e sempre é mais um motivo para tentarem contratar mais gente para o serviço (proposta que não inclui o recrutamento das pessoas que integravam os postos de trabalho que entretanto vão ao ar por cada empresa que fecha).
Assim sendo Pézinhos, quando encetar a próxima acção de sensibilização - que eu apoio inquestionavelmente - reforce muito bem os aspectos benéficos para a saúde dos mesmos, porque muitos vão mesmo precisar de estar saudáveis quando precisarem de arranjar um emprego novo.
Cara Dra. Suzana Toscano:
Apraz-me verificar, que entrou o Ano Novo cheia de "energia limpa".
Por energia limpa não quero significar "pulmões limpos". Não, nada disso! Sobre isso V. Exa. decidirá quando bem entender, pese embora esta lei irracional que em nome da nossa rica saúde (kiduxos heim!), viola o direito de alguns. Mas enfim, está tudo de acordo...as finanças do estado e o estado das finanças...
O que eu quero mesmo significar é a bondade, é a compreensão e a tolerância que parece demonstrar pelos mentores desta lei; só espero que a minha cara Dra. não se autoflagele...
Talvez em breve alguém irá dizer e escrever que os portugueses passaram a ficar mais doentes, desde que foram proíbidos de fumar...
Até concordo com algumas regras sociais para fumadores, agora caminhar para a violação de direitos de uns a favor de outros, isso não!
Dizem que nas prisões também não se pode fumar mas,na sala ao lado fornecem-se seringas para se drogarem...
Tenho de sair deste filme, ou acabo a fazer parte do número de portugueses com depressões nervosas...
P.S.
Esquecia-me de dizer uma coisa importante...
Como sempre escreve divinalmente.
:)
Caro Anthrax, e porque não transformar este problema criado pela "Lei Sêca" do tabaco, numa oportunidade de negócio, para as actividades comerciais, em futura ruína, alterando a actividade ?
Não haverá cafés a mais ?
E outras actividades a menos ?
De facto é uma lei que vem tocar, em aspectos económicos, mas principalmente, numa atitude cultural dos portugueses, que não será muito saudável. Digo eu !
Abram "saunas", centros de ioga, de dança, de arte, de teatro, etc.
Devo dizer-lhe que penso que o sucesso económico de um país é também (e muito !) determinado por trabalhadores saudáveis e pelo rigoroso cumprimento das normas de segurança em ambiente laboral.
... é quase Lapalisse, mas é a verdade !
Caras Anthrax e Pezinhos, calma, calma, que o Ano ainda vai no princípio!, ainda vamos ver muita coisa. Mas, Anthrax, percebo bem o que diz, era melhor sermos nós a reconhecer o OUTRO, mas não creio que se caminhe para aí, se calhar é uma utopia, para já o que faz caminho é não se perder muito tempo a deixar formar consciências e toca mas é de impor comportamentos que se chega lá mais depressa. Diz que as tensões se vão acumular noutro lado, é bem possível, é até mais que certo, tudo tão arrumadinho e limpinho, sem consciência a separar o bom e o mau, somos todos iguais, é capaz de não levar muito longe. Mas, para já, é o que temos. Além disso, cara Pezinhos, não acredito que a "Lei Seca (ou Limpa?" vá ter assim tantos efeitos colaterais, para além de baixar a factura da saúde enquanto não aumenta por outra doença qualquer, talvez o stress, as unhas roídas ou as maxilas largas dos chicletes. O que vai acontecer, porque o homem é um animal de hábitos, é que vamos passar sem cigarros, a pouco e pouco voltamos ao café, ao restaurante ou aos bares e achamos óptimo que ninguém se lembre de fumar. Vai ver, não será o reino dos ginásios e saunas, meu Deus, isso também era depressivo, ainda se dissesse que íamos aproveitar o belo sol que temos e os passeios à beira mar para fazer uns passeios saudáveis, ainda alinhava, mas para suar sem proveito, não conte comigo, iam todos à falência. A menos que os chocolates de substituição causem mesmo muitos estragos...lá se abre um novo campo de negócio para os dentistas!Vamos mas é ver qual das duas desiste primeiro de fumar de vez!;)
Caro Bartolomeu, deixou-me apreensiva, como é que sabe que pertenço a essa raça híbrida dos que não são viciados mas não largam o cigarrinho? É adivinho? Pois é, pelo menos não aceito considerar-me dependente, tenho horror a dependências, talvez por isso tenha sempre procurado "racionalizar" a questão e teimar em deixar de vez em quando o maço esquecido, só para ver se me irritava muito. Se sim, continuava de castigo, se não, lá ia buscar outra vez. Mais para medir a teimosia, porque lá que me sabe bem fumar, isso sabe...
Caro Invisível, espero que também tenha começado bem o Ano, novinho em folha, não sei se fuma mas se não é o caso já leva algum avanço! Obrigada pelo seu simpático alento à escrita, mas aquilo não foi tolerância, foi fraqueza de Ano Novo, hoje já estou mais contrariada, a falta de nicotina tem os seus efeitos no humor limpo!
Enfim, espero que haja sempre boa disposição neste blogue, não há-de ser esta contrariedade a interferir com os republicanos, apesar de estar habituada a tirar umas fumaças para aumentar a inspiração. Agora, nicles, é ver se mesmo a seco chego lá...Grande teste.
Creia cara Drª. Suzana, que se eu fosse adivinho, montaria staminé num jardim que conheço e não iria ter mãos a medir. Ia fazer inveja a qualquer pitonisa de Delfos e nem precisava da piton.
;)
Pelo que me diz, identifico uma afinidade nas nossas personalidades.
Aresistência à deêndência e à subjugação de vícios, sejam eles quais forem.
Porem a tenacidade que demonstra possuir, apesar de coerente naquilo que diz respeito ao desafio dos limites e ao consequente auto-conhecimento, representa alguns riscos. A fronteira entre o seguro e o inseguro, nesta matéria é ténue e difusa e, a beira do abismo pode perder a solidez inesperadamente.
Mas, o que seria a vida sem riscos e desafios?
Um deprimente marasmo creio eu.
;)
O mais sensato ainda, a meu ver, é a alternativa dos passeios à beira-mar. Dão-nos uma clareza de espírito e permitem-nos avaliar com maior acuidade e entender serenamente aquilo que é a nossa identificação pessoal.
Foi encontrada no sopé da Serra de Sintra, na vertente que dá para o mar, uma lápide que os especialistas crêm ser datada do tempo de Platão, com a seguinte inscrição " Quem nasce em Portugal, ou é por castigo, ou por missão".
;)
Sim, sim, vai-me dizer que no tempo de Platão, Portugal não existia, mas... e os desígnios?
;))))
Cara Dra. Suzana:
Bem sei o que sente quando quer escrever algo mais rebuscado (algo, faz-me lembrar o ambrósio do ferrero...não vá por aí senão engorda), e parece que as ideias se evaporam, e necessita daquele fumo para que tudo se torne mais fácil...sei muito bem o que isso é!
Mas "praaantossss", já que está disposta a "domar" esse desejo, acredite que passado o tempo necessário de provação, vai ver que afinal aquele fumo é perfeitamente dispensável; e se sentir algumas tremuras interiores, não as leve muito a sério porque no meu caso, eram o sinal da falta de nicotina...
ahahaha ... que simpatia, Cara e Amiga Dra. Susana, vamos ver, sim, qual das duas deixa de fumar primeiro.
Mas devo dizer-lhe que, da minha parte, não é pelo facto de frequentar cafés com a proibição de fumar, em vigor, que me levará à abstinência deste meu acto voluntário de me ir "suicidando" lentamente, fumando. Porque o "Café" (estabelecimento comercial) serve para mim, exactamente, o tempo de beber um café e sair. Uma prática que vou manter. Outros clientes há, que fazem do Café, a sua 2ª sala de estar (ou a 1ª !), e estão no seu direito. E esses, ao longo do tempo que vão estando, no "Café", vão consumindo. Bebendo, comendo ... e claro está, FUMANDO !
O que eu questiono, é se essa prática de "ir e estar no café", não poderá ser substituída, por novas práticas de lazer e também de convivência, das quais se retire uma mais valia superior, em termos de qualidade de vida. E a do passeio à beira mar, conforme sugere, é fundamental.
Por outro lado, o nº excessivo de "cafés, pastelarias" resulta do facto, de se tratar de uma actividade a que qualquer pessoa, com facilidade, acede como meio de sobrevivência. Não é necessário muita qualificação, nem muitos recursos humanos (muita vezes, negócio familiar), nem um investimento muito elevado, nem as exigências e o controlo das Entidades competentes têm sido rigorosas.
De tudo isto resulta:
- Práticas pouco saudáveis de lazer dos portugueses
- Pouca diversidade e qualidade nas actividades de lazer, que o Mercado oferece.
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