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quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O deserto de Alcochete!...

O Governo decidiu-se pela localização do aeroporto em Alcochete.
A Quercus, através do seu Presidente, e a Associação para a Protecção da Natureza já contestaram. Seria para admirar, se não o fizessem.
Por outras razões, dentro da ilogicidade em que vivemos e para que o Governo tem generosamente concorrido, também a escolha me parece abstrusa. Na sequência do que já referi, mas não é de mais repetir, Alcochete é, de facto, o pior dos sítios para o aeroporto!....
Primeiro, porque oficialmente existe um deserto no perímetro do Campo de Tiro e não se faz um aeroporto no deserto. Depois, porque vai provocar uma enorme pressão demográfica no deserto, com os malefícios consequentes sobre o deserto.
Segundo, porque se trata de um terreno plano, sem montanhas circundantes. O que impede, no céu, o exercício pleno dos “skills”, conhecimentos e virtualidades da pilotagem e, na terra, o exercício enriquecedor de vastas movimentações de terras.
Terceiro, porque se trata de um terreno seco, não pantanoso e não atravessado por rios. O que impede naturais obras de estacaria e consolidação dos terrenos, e não permite dar continuidade à experiência adquirida em Macau.
Quarto, porque não tem montes por perto que precisem de ser arrasados, ou centrais de combustíveis, que precisem de ser removidas. O que impede a obtenção de recomendáveis sinergias de obras públicas.
Quinto, porque fiz parte da tropa no Campo de Tiro, como aspirante miliciano, durante seis meses, e não posso ver esse local assim desfeito.
Sexto, porque o aeroporto em Alcochete é o aeroporto natural da Estremadura espanhola e de uma parte da Andaluzia. O que implica invasões, por carro e TGV, de milhares de espanhóis, e de lá “nem bom vento, nem bom casamento”.
Sétimo, porque se trata de um terreno do Estado, que não exige expropriações ou elas são diminutas em relação a outros locais. O que implica defraudar legítimos direitos adquiridos.
Oitavo, é que se trata de uma zona com muita caça. O que implicaria que muitos notáveis não mais seriam convidados para aí dar ao gatilho, como no meu tempo de oficial.
Nono, porque implica a travessia do Tejo. Com os problemas de eventuais quedas de pontes, já lucida e sobejamente teorizados por ilustres políticos.
Décimo, porque é um aeroporto para durar cem anos. O que vai retirar aos nossos políticos a oportunidade de construir outro, daqui a meia dúzia de anos!... E aos nossos ecologistas a oportunidade de novamente se expressarem no contra!...
Por isso, e face aos antecedentes, não percebo a posição governamental.

11 comentários:

Anthrax disse...

FOMCL (Falling off my chair laughing)!!!!
:)))

Lindo, lindo, lindo, lindo!

Bartolomeu disse...

Pinho Cardão, qual Moisés, descendo o Sinai, trazendo nas mãos as 2 tábuas da Lei que recebeu de Deus, contendo os dez mandamentos.
;))))

Anónimo disse...

Caro Pinho Cardão, brilhante, brilhante este seu naco de prosa surrealista!

Já agora peço-lhe uma opinião. Da sua experiência, parece-lhe que o ministro Lino irá demitir-se e sair pelo próprio pé ou irá esperar até ser bem grelhado com tudo isto e ser posto fora?

Paulo Porto disse...

O seu post é um Autentico blitz sobre o assunto Ota. Parabéns.

Tonibler disse...

Mas, entretanto, aquilo que era uma loucura economicamente ruinosa passou a ser a alternativa correcta e desejável. A jogada foi brilhante por parte do governo que levou a água ao seu moínho, conseguiu a sua "Expo2008" com, ainda por cima, a oposição a rir-se do Lino e a cantar vitória.
Lá no blog disse que o anúncio devia ser acompanhado da música do filme "A Golpada", de tão parecidos que são os enredos.

António de Almeida disse...

-Mas a história não termina aqui, o que será feito dos terrenos da Portela, uma vez desactivada? Uma nova alta de Lisboa? Todos sabemos como se financia o poder local. Cidade aeroportuária? Será uma forma de construirem uma infraestrutura mais cara que a Ota? Por falar em pressão imobiliária, não serão apenas os terrenos da actual Portela, mas serão revistos os actuais PDM's de Benavente, Montijo e Alcochete? Aí sim, há que usar de cautelas ambientais. É bom não esquecer que estamos a falar de Portugal, país onde os orçamentos derrapam sempre, onde duas espécies certamente a Querqus não se queixará de correrem perigo de extinção, os pato-bravos e os elefantes brancos.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Pinho Cardão,
Está meio enganado. A LPN parece-me que de facto é contra a localização do aeroporto em Alcochete, mas a QUERCUS a única coisa que criticou foi o processo de decisão: pretende uma avaliação estratégica ambiental das diferentes alternativas com base no estudo do LNEC, a respectiva discussão pública e só depois a decisão.
Discorda disso?
henrique pereira dos santos

Pinho Cardão disse...

Caro Zuricher:
Quanto ao Eng. Mário Lino temos que ser magnânimos. O ilustre ministro cumpria as ordens que tinha. Toda a orientação governamental, e lembro-me bem das posições de Sócrates, era pró-OTA.
E o que me deixou sempre estupefacto foi, perante a seriedade dos argumentos contrários, o Governo nunca se ter decidido a mandar fazer o estudo que a CIP promoveu.
Claro que, no fim, a corda parte sempre pelo ponto mais fraco. Mas creio bem que não é já!...

Caro Henrique Pereira dos Santos:
Obrigado pelo esclarecimento. Mas eu escrevi o que ouvi na rádio. Altera o sentido, tanto mais que a outra associação referida contestava a OTA e Alcochete.
Isto é, altera se o impacto ambiental de que fala não se refere a outras alternativas de localização, mas de meras alternativas de projecto em Alcochete.

Aos que gostaram, o meu agradecimento!...

Suzana Toscano disse...

Ó Pinho Cardão, ainda a baralhar mais as hostes??? Isso é que é verve!:))

Luís Bonifácio disse...

Caro Pinho

Para calar a Quercus basta dar-lhe mais uma ventoinhas ou aumentar a produção de Biodiesel das empresas que eles participam

Luís Bonifácio disse...

Existe ainda uma décima primeira:

Apesar do anúncio de hoje, Alcochete nunca na vida do universo vai ter aeroporto.