Na segunda-feira de manhã lá fui, como é habitual, tomar um café na leitaria que fica a três quarteirões de distância da minha casa. É uma daquelas rotinas perfeitamente robotizadas que nos dão alento para começar bem o dia. Vamos lá saber porquê!
Vivo num bairro antigo de Lisboa, residencial, ainda preservado do urbanismo desenfreado que inundou a cidade, por vezes sossegado demais, não fossem uma escola primária e um infantário que dão um certo movimento ao nascer do dia.
O dia começou com três histórias, com diferentes protagonistas, mas todas com um denominador comum que é bem o espelho da desproporção e da ausência de bom senso com que as nossas autoridades públicas decidiram de há uns tempos para cá actuar.
Tudo aconteceu logo pela manhãzinha, de acordo com o ritual diário, quando estacionei o carro num espaço exíguo à porta da leitaria, para numa corrida ir beber o café. Um espaço que não permite o estacionamento perfeito, mas que ocupado não causa qualquer impedimento à boa circulação nem qualquer insegurança a peões e a condutores. Num ápice surgiram dois polícias de segurança pública que de imediato me advertiram que o carro não poderia ser estacionado naquele local e muito menos com os quatro piscas ligados, ainda que pelos cinco minutos que expliquei seria a minha demora para tomar o café. Depois de uma troca de palavras e da tentativa da minha parte em perceber porque estavam a perturbar as pequenas coisas que fazem parte da pacata vida dos habitantes do bairro, dei meia volta e tive a sorte de uns metros mais abaixo encontrar um buraco para parar o carro, pois não queria desistir do meu cafezinho matinal que me vitamina as primeiras horas do dia. Pronto, gosto de ir àquela leitaria. Não sei se o poderei continuar a fazer com a tranquilidade de antigamente, pois a polícia parece estar decidida em “expulsar” a pacata vivência do bairro! Não sei a troco de quê!?
Já a saborear o café que tanto me custou a conquistar, o Senhor Silva, proprietário da leitaria, que tinha entretanto assistido à cena e a outras do mesmo género que se têm passado à porta do seu estabelecimento, lamentou-se das dificuldades que a ASAE lhe tinha imposto, proibindo-o de trazer de casa o caldo verde, a carne assada e os pastelinhos de bacalhau que a sua mulher, a Dona Adília, confeccionava afincadamente todos os dias para sustento e ganha-pão da família Silva e para satisfação gastronómica dos clientes que diariamente ali fazem uma refeição simples, caseira, rápida e económica. O Senhor Silva está angustiado e desiludido e a viver um sentimento de injustiça porque uma ASAE lhe entrou pela porta dentro impondo e ameaçando sem conta nem medida!
Estava na leitaria uma senhora muito agitada a queixar-se da desgraça que na semana passada lhe tinha acontecido quando a meio da tarde se tinha dirigido ao seu carro, estacionado no parque situado nas traseiras da sua casa, para ir buscar a neta à escola. Contou ela que, já com a chave na ignição, o carro caiu. Sim caiu, isto é, faltavam as quatro rodas e no seu lugar estavam uns tacos de madeira que mantinham o carro como que suspenso. A perda de equilíbrio levou à aterragem do carro em cima do asfalto. Assustada e aflita, olhou e voltou a olhar, mas não encontrou nada nem ninguém que pudesse dar alguma pista do que se estava a passar. Contou a senhora que, veio depois a saber, no parque de estacionamento tinha estado um piquete de mecânicos devidamente equipados com fatos de macaco, transportados numa carrinha toda bonita e artilhada para acorrer a situações de dificuldade dos automobilistas. Feita a queixa na esquadra da PSP da zona a resposta que recebeu foi “minha senhora, eles andam por aí, mas não temos como os apanhar; a senhora ainda teve muita sorte pois poderia ter sido bem pior…”.
Vivo num bairro antigo de Lisboa, residencial, ainda preservado do urbanismo desenfreado que inundou a cidade, por vezes sossegado demais, não fossem uma escola primária e um infantário que dão um certo movimento ao nascer do dia.
O dia começou com três histórias, com diferentes protagonistas, mas todas com um denominador comum que é bem o espelho da desproporção e da ausência de bom senso com que as nossas autoridades públicas decidiram de há uns tempos para cá actuar.
Tudo aconteceu logo pela manhãzinha, de acordo com o ritual diário, quando estacionei o carro num espaço exíguo à porta da leitaria, para numa corrida ir beber o café. Um espaço que não permite o estacionamento perfeito, mas que ocupado não causa qualquer impedimento à boa circulação nem qualquer insegurança a peões e a condutores. Num ápice surgiram dois polícias de segurança pública que de imediato me advertiram que o carro não poderia ser estacionado naquele local e muito menos com os quatro piscas ligados, ainda que pelos cinco minutos que expliquei seria a minha demora para tomar o café. Depois de uma troca de palavras e da tentativa da minha parte em perceber porque estavam a perturbar as pequenas coisas que fazem parte da pacata vida dos habitantes do bairro, dei meia volta e tive a sorte de uns metros mais abaixo encontrar um buraco para parar o carro, pois não queria desistir do meu cafezinho matinal que me vitamina as primeiras horas do dia. Pronto, gosto de ir àquela leitaria. Não sei se o poderei continuar a fazer com a tranquilidade de antigamente, pois a polícia parece estar decidida em “expulsar” a pacata vivência do bairro! Não sei a troco de quê!?
Já a saborear o café que tanto me custou a conquistar, o Senhor Silva, proprietário da leitaria, que tinha entretanto assistido à cena e a outras do mesmo género que se têm passado à porta do seu estabelecimento, lamentou-se das dificuldades que a ASAE lhe tinha imposto, proibindo-o de trazer de casa o caldo verde, a carne assada e os pastelinhos de bacalhau que a sua mulher, a Dona Adília, confeccionava afincadamente todos os dias para sustento e ganha-pão da família Silva e para satisfação gastronómica dos clientes que diariamente ali fazem uma refeição simples, caseira, rápida e económica. O Senhor Silva está angustiado e desiludido e a viver um sentimento de injustiça porque uma ASAE lhe entrou pela porta dentro impondo e ameaçando sem conta nem medida!
Estava na leitaria uma senhora muito agitada a queixar-se da desgraça que na semana passada lhe tinha acontecido quando a meio da tarde se tinha dirigido ao seu carro, estacionado no parque situado nas traseiras da sua casa, para ir buscar a neta à escola. Contou ela que, já com a chave na ignição, o carro caiu. Sim caiu, isto é, faltavam as quatro rodas e no seu lugar estavam uns tacos de madeira que mantinham o carro como que suspenso. A perda de equilíbrio levou à aterragem do carro em cima do asfalto. Assustada e aflita, olhou e voltou a olhar, mas não encontrou nada nem ninguém que pudesse dar alguma pista do que se estava a passar. Contou a senhora que, veio depois a saber, no parque de estacionamento tinha estado um piquete de mecânicos devidamente equipados com fatos de macaco, transportados numa carrinha toda bonita e artilhada para acorrer a situações de dificuldade dos automobilistas. Feita a queixa na esquadra da PSP da zona a resposta que recebeu foi “minha senhora, eles andam por aí, mas não temos como os apanhar; a senhora ainda teve muita sorte pois poderia ter sido bem pior…”.
Fiquei, portanto, a saber, que os bandidos estão cada vez mais profissionalizados e pelos vistos com uma produtividade de fazer inveja e que nós, cidadãos trabalhadores e honestos, temos que dar espaço, em nome do progresso, às inovadoras actividades profissionais que se desenvolvem nas “barbas” das autoridades públicas!
Sinceramente que fico triste com tudo isto. Estas histórias não têm que acontecer. Progresso sim e segurança também. Mas não vejo razão para estarmos a forçar a construção de um ambiente que nos vai destruir naquilo que são os pequenos gostos e gestos e singelas tradições que nos fazem sentir bem, a que estamos habituados, sem prejudicar ninguém, antes pelo contrário motivo de bem-estar. Estamos com as grandes ASAE’s a dar cabo das pequenas coisas que o progresso deveria preservar!
Sinceramente que fico triste com tudo isto. Estas histórias não têm que acontecer. Progresso sim e segurança também. Mas não vejo razão para estarmos a forçar a construção de um ambiente que nos vai destruir naquilo que são os pequenos gostos e gestos e singelas tradições que nos fazem sentir bem, a que estamos habituados, sem prejudicar ninguém, antes pelo contrário motivo de bem-estar. Estamos com as grandes ASAE’s a dar cabo das pequenas coisas que o progresso deveria preservar!
12 comentários:
Cara Margarida,
Este é um daqueles posts que aplaudo. Estamos a fazer da nossa sociedade um mundo de proibições, não estamos? Mas se dissecarmos tudo o que escreveu, Margarida, vai ver que individualmente cada uma das situações que refere colhe o aplauso geral. Seria impensável não proibir o tabaco em tudo quanto é sítio, não multar o carro de quem trabalha, não instalar parquímetros, policiar quem apenas se limita a fazer a sua vida normal, etc etc.
Este modo de aceitar passivamente, e até de forma colaborante, todos os abusos que nos impõem (e incluo 40 anos de ditadura que não existiriam sem uma massiva colaboração de todos), é uma das características mais vergonhosas do nosso povo. Tão vergonhosa que talvez ofusque eventuais méritos que tenhamos.
Tornou-se claro e evidente, cara Margarida, que é muitíssimo mais fácil e seguro para a nossa polícia, exercer controle e coacção sobre todos os que não estacionam na perfeição, mesmo sem prejuízo para terceiros, do que interceptar e prender assaltantes, que diga-se em abono da verdade, passado poucas horas irão estar de novo em liberdade.
Esta infeliz constatação, não deveria todavia constituir desculpa para que os agentes da autoridade encolhessem os ombros e aconselhassem a resignação e o jubilo a quantos se lhes dirigem, vítimas de verdadeiros assaltos.
Um amigo costuma dizer-me que em breve os portugueses, vão passar a andar armados e a resolverem as questões no momento, à bala, como terá sido no velho oeste americano.
da lei da bala não sou cliente, mas de uns murros bem assentes, de preferência no meio dos olhos... isso aí já não me faço rogado...
Cara Margarida, :))
Adorei! Adorei! Adorei, este seu post (tanto ao nível do estilo, como do conteúdo). A sério, muitos parabéns, gostei mesmo.
De resto, além de lamentar pelo senhor Silva, começo a acreditar que os moços da ASAE devem começar a ser - efectivamente - contrariados, por qualquer meio que esteja disponível.
O episódio do senhor Silva é apenas mais um, da mesma maneira que é mais um, o episódio que se passou numa das lojas do "Virus" em que o tico e o teco arnados com distintivos da ASAE puseram uma das empregadas a chorar (situação que está devidamente documentada pelas câmaras de vigilância e só ainda não foi parar ao youtube porque só me lembrei disto agora).
Têm um comportamento lamentável e muito pouco digno mas e daí, parece que de hoje em dia distribuem distintivos a qualquer macaco que bata palmas e coma amendoíns.
De facto, Margarida, aqui está um belo "instantâneo" da vida lisboeta. A questão é que é muito mais fácil "meter na ordem" os que são ordeiros, limitando os pequenos gestos de prevaricação que subsistam, do que perseguir e confrontar os que actuam deliberadamente fora da lei. Não sei se é assim em todo o lado, mas que a população pacífica fica exasperada por se ver tolhida por todos os lados, isso fica!
Cara Dra. Margarida Aguiar:
Muito oportuno este seu post.
Subscrevo por inteiro o comentário da Drª Suzana que, infelizmente, caracteriza muito bem estado a que se chegou, no que cocerne à caça dos cidadãos cumpridores a quem é sempre fácil perseguir, impor regras e aplicar coimas...
Também subscrevo o comentário do meu caro amigo antrahx, no seu estilo sempre incisivo, implacável e irreverente...
Cara Margarida,
Creio que saberá o interesse que tenho por tudo o que escreve.
Posso até dizer-lhe que estou condenado a cumprir 135 dias de inibição de condução por utilização insistente de telemóvel e que tal ocorreu apenas porque as multas que paguei em Multibanco não apareceram no sistema e que em consequência fui julgado.
No entanto não concordo com o seu ponto de vista e passo naturalmente a explicar:
a) As viaturas não se estacionam com "quatro piscas": Existem lugares, como até constatou, para o fazer sem que esteja preocupada com o que quer que seja incluindo os agentes da autoridade;
b) Não conheço, e imagino que infelizmente, a Dona Adília. O que me parece é que a Dona Adília não deve estar a confeccionar as ditas refeições numa cozinha aprovada para tal e, apenas por suspeita, isenta de contribuições para a Segurança Social.
c) Nenhum país do mundo está isento de roubos e assaltos. Não creio no entanto que deveremos ficar de braços cruzados. Mas não é um mal "português".
Em sintese: Só percebi o verdadeiro valor da ASAE quando tive que comer em Espanha e, 70% dos restaurantes que visitei não tinham, de acordo com a minha actual perspectiva, condições mínimas de higiene. Em Portugal não me acontece com esta frequência.
Pelo exposto, julgo que os estrangeiros quando chegam a Portugal deverão ficar impressionados com o nosso nivel de higiene nos nossos estabelecimentos alimentares. ...E é assim que se faz uma marca forte em termos de turismo.
Um abraço
Caro cmonteiro, nestas histórias que todos ou quase todos "aplaudem" preocupam-me várias coisas: a desproporcionalidade com que as autoridades públicas interpretam e aplicam as leis perante casos concretos e a desproporcionada afectação dos recursos determinada por essas autoridades na fiscalização do seu cumprimento. A polícia em lugar de andar atrás desses bandidos profissionais que meticulosamente deixam carros suspensos em tacos de madeira, anda preocupada a multar os cidadãos normais que sem causarem perigo nem prejudicarem nada e ninguém não estacionam por cinco minutos o carro direitinho junto ao passeio.
Como diz o nosso Caro Bartolomeu é muito mais fácil e seguro - é dinheiro em caixa - exercer controle sobre quem não estaciona na perfeição, ainda que sem prejudicar ninguém, do que andar atrás de ladrões. Para além de desproporcionada, esta actuação contribui isso sim para uma distorção do sentido da lei, convida ao incumprimento e ao crime grave, dá uma péssima imagem da actuação das autoridades e cria insegurança e desconfiança.
Como refere a Suzana, muito bem acompanhada pelo Caro invisivel, os cidadãos ordeiros são um isco fácil e os fora da lei agradecem.
Caro Anthrax, são tantas as histórias que vamos ouvindo e assistindo que chegamos a certa altura que o melhor é mesmo escrever "preto no branco", com um pouco de cor à mistura, como tentei fazer, para não acabarmos todos angustiados como os senhores Silva deste País.
Caro frederico lucas, muito obrigada pelas suas simpáticas palavras e porque não pela sua discordância que só tenho a dizer que é muito bem vinda. Falar ao telemóvel quando se está a conduzir é muito perigoso para o próprio e para terceiros. As sanções neste caso são essenciais. Seria bom que as autoridades policiais se preocupassem em apanhar quem conduz ao telemóvel em vez de perseguirem quem está estacionado na via pública ao telemóvel. Ainda assim, Caro frederico lucas não é justo o que lhe aconteceu, mas infelizmente também foi colhido pelo excelente funcionamento dos guichets das multas. E quanto à higiene das leitarias cá do sítio, não é qualidade que se deva para já à ASAE. Com o andar da carruagem nunca iremos saber porque as leitarias não vão durar muito tempo...
Por acaso esta leitaria não é no Alto de Sto. Amaro?;
Compreendo bem a sua angústia mas vejo-me forçado a concordar com o Frederico Lucas.
Já chega de carnes assadas e pasteis preparados não se sabe bem onde nem em que condições. Trata-se de concorrência desleal relativamente aos outros que têm que ter cozinhas equipadas ou que compram produtos certificados.
Quanto ao estacionamento, digo-lhe que deve ter tido mesmo muito azar. Aqui nas av. novas a polícia não multa ninguém, nem mesmo os que estacionam descaradamente em segunda fila(não foi o seu caso).
Cumprimentos.
Cara Margarida, a sinceridade com que expôe o assunto e a afectividade e respeito que demonstra pela D. Adília agradam-me profundamente.
Usarei das pinças mais finas para lhe dar a minha opinião. Porque quero tudo menos que me intreprete mal.
Até porque eu tb tenho uma "adília" com outro nome no meu bairro. Percebo bem a sua afectividade pelos senhores da leitaria.
Querida Amiga, tivéssemos nós todos uns módulozinhos de formação em higiene alimentar e muito melhor compreenderíamos certas coisas que se passam nos bastidores de cafés e restaurantes. Nisto, incluo tb uns módulos de Seg. e Higiene no Trabalho. Falo por experiência. Só depois de exposta a esse tipo de formação percebi melhor o mundo da hotelaria.
E o que se passa a céu aberto é aterrador Cara Margarida.
Mais !
Depois de ter aprendido umas coisas sobre o assunto passei a entrar e a sair DE IMEDIATO de certos cafés e restaurantes, após a observação em segundos de alguns procedimentos (incorrectos, obviamente !).
Tenho amigos que fazem "auditorias" a cozinhas de restaurantes. Talvez seja melhor eu nem relatar, o que já foi encontrado em certos sítios.
Claro que nada disto, inclui a D. Adília, que provavelmente é alguém que cumpre escrupulosamente as regras de higiene.
Mas que há que "cuspir" com alguns pseudo profissionais de hotelaria para fora do sistema, lá isso há. Nem que seja com técnicas do FBI ....:-))))
Pronto estou a levar a coisa para a brincadeira, mas estou a falar muito a sério.
Quanto a 4 piscas ligados, pois eu tb pertenço ao "Club".
É o tal espírito de "resolução rápida" muito típico de nós mulheres.
Uma vez ouvi um polícia perguntar a um senhor porque tinha os 4 piscas ligados:
- O Senhor foi levar a sua mulher para parir ?
Não era nada comigo, e se tivesse ali um buraquinho tinha-me enfiado nele.
com um abraço
Caro Bekx
Como em tudo na vida o equilíbrio é sempre a melhor solução. Os radicalismos e fundamentalismos venham de onde vierem são sempre piores. Por isso não gostaria de ver a gastronomia e a restauração portuguesas pura e simplesmente plastificadas! Por essa Europa fora nas "leitarias", nos pequenos restaurantes e espaços para tomar uma refeição também se comem carnes assadas e no entanto não dispõem de cozinhas para o fazerem. Não me consta que funcionem à margem da lei, com atropelos à higiene, limpeza, segurança e qualidade. Gente que não cumpre a lei e os regulamentos haverá em toda a parte, mas nesses países não constituem certamente a regra. Se é assim lá fora não vejo porque razão não há-de ser assim cá dentro.
Cara Pézinhos n' Areia
Os seus pezinhos são sempre muito leves. Demonstra sempre muito cuidado e bom senso na exposição das suas ideias e muito delicadeza quando porventura não concorda com esta ou aquela opinião.
Não tenho dúvidas de que é necessário fazer uma grande limpeza nos nossos restaurantes e que há que ter a mão pesada em relação a muitos deles. E também não tenho dúvidas de que as leitarias dos senhores silvas deste país devem ser fiscalizadas e cumprir com as regras de higiene e segurança alimentar e com os padrões de qualidade que estejam estabelecidos.
A questão que se coloca é a de sabermos como devemos regulamentar estas actividades de modo a que não acabemos todos a comer hamburgers numa qualquer multinacional, sem sabermos muito bem o que estamos a comer porque o que interessa é que está tudo plastificado.
A propósito da sua "anedota" dos quatro piscas, deixe-me retribuir-lhe Cara Pézinhos n' Areia com esta historieta. Uma amiga minha estava a conduzir sem cinto, quando um polícia lhe deu ordem para encostar, com o objectivo de evidentemente a multar. Com a noção clara que tinha sido apanhada em transgressão a minha amiga quando o polícia a advertiu não esteve para meias medidas e justificou-se assim: “o senhor guarda imagina a dor que me causa colocar o cinto em cima de uma mama que está inchadíssima por causa de uma cirurgia a que fui submetida para tirar um caroço? Quer ver? E começou em preparos para mostrar… Foi então que o guarda perante uma cena “impossível” bateu a pala, desejou à minha amiga a continuação de uma boa tarde e de uma rápida recuperação, deu meia volta e desapareceu!
Cara Margarida
Gostei francamente do seu texto cujo teor é como de costume, da maior actualidade. Já agora, avanço mais dois comentários,para baralhar. O primeiro tem a ver com a actuação da nossa polícia municipal,suponho bem que terá sido esta corporação que teve o desempenho "patriótico e pertinente" referido no seu texto. Acho bem, mas acharia muito melhor se em vez de actuarem cada vez mais com a mira apostada nas receitas camarárias, e sem qualquer finalidade educativa, tomassem a iniciativa de defender o património dos cidadãos, começando exactamente pela luta contra os larápios de automóveis,uma peste que alastra cada vez mais, numa conjuntura social cada vez mais complicada, também. Mas as receitas das multas, sejam elas de que natureza forem, fazem muito jeito à Exma.Câmara, nem que tenham de ser obtidas pela via da "chamada caça à multa".
O segundo ponto que me apetece abordar,prende-se é claro, com a já inefável asae. Este organismo é o produto mais acabado do que é o exagero de uma actuação que poderia e deveria ser abertamente pedagógica e de uma arrogância ostensivamente clonada, e que por isso, se está a transformar num pesadelo, tal o fundamentalismo que exibe nas suas intervenções. Uma coisa é asseio, para empregar o termo corrente na nossa província - e aqui estamos todos de acordo, há que forçar o cumprimento cego de determinados valores - outra coisa é ir, sem qualquer razão plausível, contra hábitos e costumes que no contexto da alimantação, sempre foram considerados e apreciados, tal o valor que tradicionalmente representam junto dos consumidores dessses verdadeiros petiscos. Proteja-se o consumidor,isso sim, contra oportunismos verdadeiramente criticáveis que por vezes sucedem quer na confecção da alimentação, quer na respectiva distribuição, mas não se esmague o que deve e pode ser considerado como produtos derivados de um louvável artesanato cada vez mais apreciado, por ser raro e por ser delicioso. A actuação das duas instituições em causa, com parecenças negativas evidentes, arrisca-se a ser muito mal interpretada e até perversa, quando não sabe o que é ecletismo e moderação.
Caro antoniodasiscas
Acompanho totalmente as suas perplexidades.
Hoje estive a conversar com um especialista em Higiene e Segurança Alimentar e é claro que a ASAE não poderia faltar. Foi-me explicado que a legislação sobre HSA é muitíssimo avançada e que o problema está na deficiente avaliação do risco que é feita em cada situação concreta. Não sendo feita uma avaliação ponderada o que acontece é que o nível de exigência acaba por ser excessivo em muitas situações.
A ASAE sofre desta deficiência e depois os resultados são aqueles a que estamos a assistir com as consequências negativas que o bom senso e a ponderação não podem deixar de apontar.
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