Num artigo publicado no Público de dia 19 de Outubro, Adrián Caldart, professor de Política de Empresa na AESE - Escola de Direcção e Negócio, sob o título Ricos mas Pobres, refere-se aos resultados do World Competitiveness Index sobre o nível de competitividade de Portugal, que desceu do 49° para o 52° lugar num ano. Diz o autor que "Portugal é, em linhas gerais, bem ou muito bem avaliado em relação aos recursos e condiçóes sociais" excelentes em infra-estruturas de transportes e em segurança, saúde entre as melhores, tal como o acesso a todos os níveis de ensino e centros de investigação. Mas o pior é que não conseguimos "converter aqueles recursos e condições em competitividade real", pois temos má classificação no funcionamento dos mercados de bens, de trabalho e financeiro, na gestão pública e também na gestão privada. Quanto a esta, destaca-se a má qualidade do governo corporativo, a baixa disponibilidade das empresas para contratar dirigentes profissionais, a má relação com os empregados e pouco interesse em delegar poderes, tudo isto levando ao desaproveitamento de excelentes condições que "não se constroem do dia para a noite" e que são essenciais para a competitividade.
Gostei deste artigo, que foca o mais relevante de relatório mas que, inexplicavelmente, foi muito pouco badalado, parece que ficamos mais confortáveis em saber sumariamente que perdemos competitividade no ranking do que em perceber realmente por que motivo tal está a acontecer, com relevo para a má qualidade da direcção e gestão. Entretanto, vamos desvalorizando o que construímos, na ânsia de melhorar..
9 comentários:
...quando é que empresas não competitivas sobrevivem? Quando podem. E o quando podem está finalmente a acabar, depois de uma centena de anos.
Sim, parece-me um retrato correto do Portugal atual.
Desde que me lembro que surgem análises precisamente com essas conclusões. Os anos, bastantes, passam, e elas continuam iguais. É cultural...
Também o International Institute for Management Development (IMP), com sede em Lausana (Suiça) apresentou, como acontece todos os anos, o ranking de competitividade por países no qual Portugal aparece muito mal colocado. De facto, o nosso país perdeu cinco posições relativamente ao ano anterior: se em 2012 ocupava o posto 41, em 2013 baixou até 46, segundo o IMP.
Mas será que se poderia esperar outra coisa? Porque se insiste nestas políticas de austeridade pura. A meta é o empobrecimento, mas paralelamente ao empobrecimento económico das famílias resultará igualmente o empobrecimento na educação e na saúde que se traduz numa qualificação profissional inferior e numa saúde da população mais precária. Para os austeristas será isto que fomentará um país mais desenvolvido? Será isto que fomentará o crescimento económico e social?
Em que país do mundo estas políticas do FMI, tão acarinhadas pelo governo e seus apoiantes austeristas, resultou em competitividade económica, em mais saúde, em mais educação, em mais crescimento económico? Apontem-me um país sul-americano, onde estas políticas foram ensaiadas, cujo resultado tenha sido positivo? Se até no Chile de Pinochet, onde estas políticas do “Chicago boys” foram primeiramente ensaiadas, elas foram abandonadas dado os maus resultados obtidos.
Porquê esta cegueira que nos leva ao abismo.
Caro Tonibler, não sei se está finalmente a acabar, mas o facto é que se houvesse maior consciência do defice na qualidade dos dirigentes e gestores e se procurasse melhorar esse ponto, talvez muitas dessas empresas pudessem ter sobrevivido no mercado.Mas parece que os argumentos apontam para todos os lados menos para dentro das organizações.
caro zuricher, não sei se é cultural, pelo menos é ignorância e muitas vezes preconceito, há esta ideia feita de que o que é "privado" é fantástico, sobretudo ao nível de "uma gestão mais eficiente" e não é verdade, bem longe disso, pelo menos na grande maioria das empresas, há pouca formação e a noção de gestão, sobretudo ao nível da organização, é completamente desconsiderada. É curioso ver que este estudo se baseia em inquéritos aos empresários e são eles que consideram que há uma relacionamento difícil ao nível laboral, difícil porquê?, por causa da legislação, por causa do activismo sindical, por causa de quê? Basta ver a lista e o tipo de países que nos superam neste ponto concreto para ficarmos pasmados com esta percepção dos nossos empresários.
Caro Carlos Sério, o que poderemos dizer é que nem sequer sabemos aproveitar o muito que já fizemos, como os bons níveis de educação e saúde, mais valia concentrarmo-nos em corrigir o que podemos melhorar em vez de lamentar não podermos fazer mais e melhor no que já temos, o que nos deveria preocupar também era não piorar nesses mesmos "contextos" que tanto nos custou construir.
Suzana
Lembrei-me de uma conversa que não há muito tempo tive com uns holandeses que vivem em Portugal há já alguns anos. Comentavam eles que Portugal tem tudo: pessoas encantadoras, história e cultura, bom tempo, sol, campo e praia, paisagens variadas, boa gastronomia, espaço, boas infra-estruturas. Mas, há um mas! Portugal que tem um grave problema: os portugueses não sabem pensar, têm dificuldade em aproveitar todos os seus recursos.
Cara Suzana,
a economia não selecciona só os estadps viáveis, deve seleccionar também as empresas viáveis. Se existem empresas não competitivas em Portugal, que existem, então há um mecanismo anómalo a permitir tal coisa. Não somos considerados um paraíso de corrupção por acaso... O facto do estado ter menos recursos para gastar está a corrigir esta situação.
Caro Tonibler, é uma explicação, sem dúvida. Se o Estado não tiver recursos para ajudar a manter empresas mal geridas, então só sobrevivem as bem geridas, mas essa lei do mais forte, digamos assim, aplica-se a tudo, se "o Estado", como diz, não tiver dinheiro para ajudar a estudar os menos inteligentes, só os melhores é que chegam a acabar a escola, se não tiver dinheiro para tratar dos menos saudáveis, morrem muitos antes de tempo, e por aí fora. Para gastar bem esse dinheiro, procura-se eliminar tanto quanto possível os factores de risco e de exclusão, tratando de corrigir o que pode vir a ser um problema. Por isso, se a má gestão empresarial é um problema da competitividade, e grande, pelos vistos, então não seria de tentar corrigir isso, mudando alguma cultura retrógrada e estimulando a formação de quadros dirigentes? Esta é a questão, este é também o interesse destes diagnósticos, não é para "matar" mas para ensinar onde se deve melhorar. No caso, o sector privado e o modo como se (não) valoriza a qualidade da gestão e direcção.
Cara Suzana,
esse é exactamente o cenário da educação portuguesa, por isso que produz os melhores do mundo, como as lixeiras da cidade do México produzem os corpos mais saudáveis do mundo. Os que sobrevivem.
Mas essa é a discussão do papel do estado, onde é que melhora a média e onde não deve mexer. Perante os cidadãos, deve proporcionar a melhor média para que os bons sejam bons, mas os maus também sejam, porque os cidadãos cooperam para formar a nação, não competem como no caso das empresas.
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