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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Será mesmo uma "Cerimónia Canibal"?


Recebi hoje o livro "La cérémonie cannibale - De la performance politique" de Christian Salmon em que o autor descreve o que ele chama " o processo de desconstrução política" e "auto devoração do homo politicus" nos dias de hoje. Como consequência da perda de soberania dos Estados e da revolução tecnológica, " o homem político apresenta-se cada vez menos como uma figura de autoridade, alguém a quem se obedece, mas como algo a consumir;(...) A soberania apoia-se numa dupla realidade:o poder e um dispositivo representativo" e a construção europeia deslocou esta dupla realidade, de um lado, uma burocracia anónima (Bruxelas ou Strasbourg), de outro, "políticos desarmados, um rei nu. De um lado, decisões sem rosto, do outro, rostos impotentes. De um lado, acção sem representação percebida como não democrática, do outro, uma representação sem poder. O resultado desta deslocação: a acção é percebida como ilegítima e a palavra perdeu toda a credibilidade (...) quando o rei vai nu e o poder é impotente, em que é que consiste o exercício do Estado, a governação, senão em jogar com as aparências? (...) A função jornalística desviou-se das suas missões originais para uma função de desencriptação tentando descobrir sob as aparências enganosas da vida política a verdade de um cálculo, as fontes de uma história, o segredo de uma montagem narrativa."
Veremos como o autor vai explicar a a transformação da " arte de governar" na "arte de encenar", numa "cerimónia canibal" na qual, "os políticos são ao mesmo tempo os performers e as vítimas".

3 comentários:

António Barreto disse...

Este, parece-me ser o maior paradoxo político europeu atual, que, estranhamente, poucos parecem vislumbrar; à doutrina constituinte de proximidade sobrepõe-se um mega-centralismo elitista e decadente característico dos regimes totalitários!

O desafio consiste em temperar a representatividade com a participatividade, que poderá passar por alargar a representação política a outras organizações que não os partidos. E este é que é o grande problema!

Maria Margarida disse...

Suzana
O autor dá como adquirido, segundo entendi, que a arte de governar deu lugar a arte de encenar. Não sei se a segunda substituiu a primeira, mas a bem dizer, hoje governar tem muito de encenação, o que também explica o comportamento da comunicação social que se preocupa em explorar na encenação a verdadeira governação.

Tonibler disse...

Cara Suzana,

A soberania nos países civilizados é do povo, não é dos estados e os políticos servem para defender os cidadãos mandando no funcionários do estado, não o contrário. Mas a questão até é bem colocada, com um nível de poder em Bruxelas para que é que precisamos do aparente poder nos estados do anterior regime?