A propósito das recomendações inultrapassáveis dos nossos credores sobre salários altos e baixos, lembrei-me da fábula do macaco e do queijo. Se bem se recordam, dois animais que tinham encontrado um queijo não se entendiam sobre o modo de o dividir. Decidiram então procurar o macaco, conhecido pela sua inteligência e sentido de justiça, pedindo-lhe que fosse ele a dividir o queijo em medidas iguais e, portanto, justas. O macaco fez uma primeira divisão e o resultado foi uma metade maior do que a outra. Para equilibrar, cortou uma fatia à parte maior e comeu-a. Depois foi a outra metade a ficar maior, cortou nova fatia, dessa vez do outro lado, e comeu-a. E assim prosseguiu, emagrecendo cada um dos lados sucessivamente, comendo fatia atrás de fatia até que não sobrou queijo nenhum para os animais desavindos.
No caso actual, se bem se lembram, tudo começou com o custo do trabalho no sector privado, a inevitável necessidade de as empresas aumentarem a produtividade, a competitividade, etc, seguiu-se um tsunami de desemprego, depois concluiu-se que "o privado já tinha feito o ajustamento" e o sector público era o que faltava. Tinham mesmo era que seguir o mesmo caminho, se muitos deles não podiam ser despedidos isso valia dinheiro, baixam-se os salários, tiram-se muitos outros custos laborais, etc, em muitos casos até se reduzir 30%. Chega-se agora à conclusão de que afinal o sector privado tem que reduzir o mesmo que os do público já reduziram, afinal os salários mínimos são altíssimos, os dos menos qualificados altíssimos são, está visto que temos que cortar mais uma fatia, a balança do macaco não falha, os pratos vacilam, ora para um lado ora para outro...
6 comentários:
Boa imagem! Acontece que na empresa onde trabalho, na função pública, já há anos que cerca de 50 % dos trabalhadores ganham entre o ordenado mínimo e 600 euros. Como quem faz as contas raramente pondera a médias, a média salarial da empresa era bastante superior a isso.
Quanto ao macaco da história, espetem-lhe uma estaca no coração – única forma de eliminar um vampiro.
Sem dúvida, cara Drª Suzana. Só um pormenor marca a diferença entre a fábula e a realidade portuguesa:... o número de macacos que têem a faca e o queijo na mão.
Tenho de dizer: -Desde que conheço o 4R sempre apreciei, sobremaneira, a forma brilhante como a Dra. Suzana parte das fábulas para ironizar com a realidade. Bem sei que é óbvio, as fábulas encerram em si próprias lições de moral sobre comportamentos ou situações imperfeitas da sociedade… Mas a criatividade e a singeleza de quem escreve assim dá outro “sabor” a quem lê, mexe com os comportamentos éticos de cada um de nós porque as fábulas estão sedimentadas nas nossas memórias.
No caso do nosso macaco, que mais não é do que o capataz-mor dos credores, não se limita apenas a escolher a “melhor parte” do queijinho! Que lição havemos de tomar?! Arrisco esta: - Numa sociedade de tolos em que uma parte se vira contra a outra, umas vezes por inveja, outras por mesquinhez, a frivolidade é sempre castigada.
Assenta muito bem esta lição àqueles privados que se regozijaram com as macaquices feitas aos funcionários públicos, esquecendo-se que o mesmo lhes irá bater à porta, inevitavelmente, para acabarmos todos de igual.
Sim, caro Diogo, já tinha sido tempo de aprendermos a fazer médias que não sejam pura manipulação, depois admiramos-nos que as decisões que se basearam nelas não conduzam aos resultados que se previam.
Caro Bartolomeu, ainda pior! Nem nas fåbulas se imaginou tal complicação.
Caro jotac, é sempre um renovado prazer ter estes leitores, muito obrigada! E acho que é uma boa reflexão a sua, se as pessoas não se regozijassem com o que acontece aos outros, esperando assim que ninguém lhes tire a eles a fatia, não seria tão fácil ficar sem queijo nenhum, por alguma razão na fábula são os animais que se entregam nas mãos do macaco e ficam depois a assistir impotentes à perda do que pensavam que iriam ter.
Suzana
Até ao desastre final!
Para o tuga uma negociação é algo de transcendente e incogniscível.
Impressiona-me muito este traço do tuga, que nem a educação obrigatória ou facultativa conseguem apagar.
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