Se alguém me perguntasse qual o maior atributo inerente à condição humana responderia sem hesitação, a liberdade, a liberdade de ser, a liberdade de estar, a liberdade de falar. Se alguém me perguntasse para representar a maior igualdade do mundo descreveria sem hesitação, liberdade = humanidade. Não consigo conceber que se limite ou impeça a liberdade de expressão de ninguém, mesmo que discorda frontalmente da ideologia, do credo, do clube e da forma de ver o mundo. Quando tal acontece, saio a terreiro para os defender. É meu dever, é um direito que não abdico. Esta posição não significa que aceite todas as opiniões, sobretudo quando estas caiem no âmbito do insulto ou da calúnia. Isso nunca, isso não é sinónimo de liberdade, trata-se de uma conduta que é própria dos sacanas, de gente sem escrúpulos, de pessoas sem caráter e sem dignidade, que, afinal, não passam de meros representantes da libertinagem, que é o oposto da liberdade.
Portugal viveu anos de ditadura. Não se podia falar. Havia um desprezo pelos direitos das pessoas. Nas pequenas localidades, os "ditadorezinhos" locais replicavam o comportamento dos dirigentes do país. Impunham e viviam à custa do medo, da represália, da humilhação e da denúncia. Uma verdadeira rede que se alimentava da negação dos direitos dos mais necessitados. Ouvi e conheço muitas histórias que ilustram esses comportamentos. A mordaça existia e era aplicada por tudo e por nada. A tristeza e a humilhação andavam de braço dado, e descalças como os pés da gente humilde e necessitada. Depois veio a explosão de alegria e de amor social, graças a uma revolução que colocou no pedestal, no altar da vida, a imagem que qualquer ser humano digno deveria adorar, independentemente da sua fé, a deusa da liberdade. Mesmo os que não têm religião são capazes, humildemente, de se ajoelharem perante esse símbolo. E devem fazê-lo, porque ajoelhar aos pés da liberdade é sinónimo de respeito pela condição humana. Custa-me que em "liberdade", quase quarenta anos depois, começam a aparecer pessoas a queixarem-se, a chorarem, porque não se sentem livres de poderem exprimir as suas ideias e opiniões. Falo de gente digna, respeitadora, consciente do seu papel e não de gente sacana, tacanha, mesquinha e com falta de caráter. Falo de gente de bem. Há neste país, pessoas de bem que começam a queixar-se de que se sentem amordaçadas, algo impensável, indigno, ofensivo e humilhante da condição humana. Não aceito que se amordace ninguém por pensar de forma diferente, pensamento que até pode ser oposto do meu, mas está a acontecer, e eu coloco-me ao lado de todos, sejam os que comungam das minhas ideias, sejam os que não concordam comigo. Respeito-os no mesmo plano, e ao fazê-lo estou a dar-me ao respeito e a contribuir para o desenvolvimento e equilíbrio social. Não consigo aturar os libertinos, os sacanas, os trafulhas, os vigaristas, mas respeito e admiro todos os que honestamente querem dar o seu melhor para o país, independentemente da ideologia, credo, ou forma de ser.
Não às mordaças, sim à denúncia da libertinagem.
Não consigo pensar viver sem liberdade, o maior bem que alguém pode desfrutar.
1 comentário:
A liberdade pela liberdade não fará muito sentido. O objectivo último das lutas sociais é e será sempre a luta pela melhoria das condições de existência dos homens. A liberdade é um meio indispensável pera que tal melhoria aconteça sem custos sociais. Daí a luta pela liberdade.
Não se pode confundir os objectivos últimos com os meios de os alcançar. A liberdade pressupõe igualdade de oportunidades, igualdade de acesso à educação, igualdade de acesso à saúde, igualdade de acesso à protecção social, igualdade de acesso à justiça, igualdade de acesso à segurança; a liberdade materializa-se nestes direitos sociais em sociedades democráticas.
E como reagir quando se verifica que tais direitos estão a ser ofendidos e desprezados pelo poder ocasional?
Diz a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, (Art.-º 35):
“Quando o governo viola os direitos do povo, a insurreição é, para o povo e para cada segmento do povo, o mais sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres”.
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