Os
problemas económicos em Portugal são fáceis de explicar e a única coisa a fazer
é apertar o cinto.
Mário Soares, ao DN, 27 Maio 1984
Não
se fazem omoletas sem ovos. Evidentemente teremos de partir alguns.
Quem vê, do estrangeiro, este esforço e a coragem com que estamos a
aplicar as medidas impopulares aprecia e louva o esforço feito por este governo.
Mário Soares, ao DN, 1 Maio 1984
23 comentários:
Bom exercício de memória, caro Pinho Cardão! Pena que essas frases e muitas outras bem como o recordar dos factos ocorridos não chegue ao mainstream da comunicação social.
Já alguém viu a comunicação social confrontar Soares com o que disse e o que fez?
Caro Dr. Pinho Cardão, vamos lá "chamar os bois pelos nomes".
Mas quem é que neste país está a empregar esforço e coragem na aplicação de medidas impopulares?!
O governo tem-se limitado a aplicar as medidas que entende, sem esforço e muito menos, coragem. E todos sobre quem essas medidas causam efeito, não têm outra hipótese que a de cumpri-las.
Eu não faço ideia de qual será a imagem que aqueles que nos vêm do estrangeiro, fazem de nós. Até porque, imagino que essas imagens sejam múltiplas e diferentes, dependendo do ângulo que somos vistos. Mas acredito que os Gregos, por exemplo, nos considerem uns tremendos pacóvios, uns bananas, uns desqualificados. Talvez aos Irlandeses tenhamos servido de proveito, os Italianos devem-se estar a ca... a borrifar, para nós e os tipos que detêm a nossa dívida pública, devem ver-nos como uma mina de ouro inesgotável.
Coragem, esforço??? Poderia o nosso governo ter feito uso dessas armas, sim. E se o tivesse feito, estaríamos hoje, muito provavelmente melhor posicionados nessa questão das classificações das agências de rating e numa posição mais favorável para recorrer ao crédito em condições menos penalizantes. Mas para que esse "milagre" se tivesse operado, teria o primeiro ministro P P Coelho ter tido a coragem de manter as promessas que fez ao povo português quando lhes pediu o voto para ser eleito e de ter feito o esforço de reduzir as verdadeiras "gorduras" do estado. Mas não, limitou-se a desculpar-se com a herança socrática que recebeu, como se, quando se candidatou ao cargo de primeiro ministro, não conhecesse a real situação económica e financeira do país, como se não tivesse subscrito os PACK's do governo de Sócrates e não conhecesse os contratos que sugam ao estado o dinheiro dos impostos dos portugueses. Coragem? Esforço? Caro Dr. Pinho Cardão, coragem é enfrentar as situações difíceis, e esforço é tentar encontrar por todos os meios, forma de as resolver sem prejuízo de um povo, ou, quanto muito, com o mínimo de prejuízo, depois do prejuízo próprio. Isso é que demonstra a verdade da tão apregoada frase com que os nossos governantes passados e presentes, nos enchem os ouvidos e não passa de demagogia eu faço os possíveis em nome do povo, mesmo que isso custe sacrifícios e prejuízos para a minha pessoa!
Soares tem muitos telhados de vidro e é um grandessíssimo aldrabão. Só que, ultimamente, provavelmente devido à idade, a boca tem-lhe andado a fugir para a verdade.
Bartolomeu, em abono da verdade não podemos esquecer que muitas das medidas que o governo tem tentado tomar relativas às gorduras do Estado acabaram chumbadas pelo Tribunal Constitucional. E que as medidas destinadas a diminuir os custos da Administração Pública e das Empresas Públicas são sempre seguidas de greves sem fim e gritaria até mais não poder.
Caro Pinho Cardão
Eu, que me recordo desses tempos, devo dizer que os sacrifícios então pedidos, foram incomensuravelmente menores dos que são hoje exigidos aos portugueses. Por outro lado, existia então a esperança que depois de tais sacrifícios todos poderiam viver melhor. O que de facto aconteceu. Hoje, não existe essa esperança, e o futuro a cada ano que passa parece cada vez mais sombrio, constatando-se que os sacrifícios impostos foram todos e a cada ano, completamente em vão, não resolvendo qualquer dos problemas económicos, sociais e financeiros do país; cresce o défice, cresce a dívida pública, cresce o desemprego, crescem as falências das empresas e cresce sobretudo a miséria entre os portugueses. Não há nenhum governante que nos apresente um projecto para o país, uma esperança para o futuro. Não se atrevem a tal porque eles próprios não descortinam qualquer futuro. A cada ano aplicam mais austeridade para suprir os efeitos negativos da austeridade precedente. E é por este caminho sem futuro que teimosamente vêm insistindo. E dizem mais, que tal caminho é o único e inevitável.
É por esta razão que são absolutamente incomparáveis as duas situações dos apoios externos vividos pelo país.
Zuricher, as medidas que o governo tentou implementar e que sofreram o chumbo do TC e que deram origem a greves, não foram as que visaram cortar as "gorduras" do estado, mas sim aquelas que tentaram retirar aos trabalhadores, os direitos adquiridos e aqueles que vigoravam à data do contrato de trabalho que estabeleceram com o estado. E isso, é inequivocamente inconstitucional, tanto que, o próprio PR, na sua qualidade de garante do respeito, observação e defesa dos artigos da Constituição Portuguesa enviou os diplomas ao TC para que os juízes que o constituem se pronunciassem.
O que está agora a tentar tornar-se viral, é a desculpa que o TC está a ser o responsável pelo entrave à recuperação da economia portuguesa, ao sancionarem com demasiada frequência as medidas que o governo pretende implementar. Ora bem, das duas, uma; ou o governo não conhece os artigos da Constituição, ou os juízes do TC estão a desempenhar mal a sua função. Se é o governo que está a "pisar o risco", então colocam-se duas questões, ou está a fazê-lo por incompetência e nesse caso temos de o mandar estudar o calhamaço, ou então está a fazê-lo por malandrice e nesse caso temos de dar ouvidos aos apelos do Dr. M. Soares (o governo deve demitir-se). Por outro lado se forem os Juízes do TC que estão a boicotar o "esforço" do governo em tentar concertar as coisas, então cabe ao Sr. P R, na sua qualidade de Supremo Magistrado da Nação, meter os rapazes na ordem e se necessário aceitar a demissão do seu presidente.
juros de 40% pagos no acto.
pedia empréstimo de 100 recebia 60.
o governo pagava aos fornecedores ao fim de 6 meses
o fdp só é bom nos comícios de maldizer.
o comunismo nunca o abandonou.
ao pacheco também
Diz o Bartolomeu que "os tipos que detêm a nossa dívida pública devem ver-nos como uma mina de ouro inesgotável" e eu pergunto-lhe: sabe quem é que detém a nossa dívida pública, para além dos 78.000 milhões emprestados pela troica? Para o caso de não ter isso presente, respondo-lhe: grande parte está nas mãos de instituições portuguesas que “não podem falir”, o mesmo é dizer que está nas mãos de todos nós.
Aproveito para lembrar ao Carlos Sério que, durante aquele período de aperto do cinto, a inflação em Portugal chegou a 30% ao ano. Repito, ao ano!
Diz o Carlos Sério que os sacrifícios então pedidos aos portugueses "foram incomensuravelmente" menores do que os que hoje nos estão a exigir. E eu digo que há gente com falta de memória.
Tiro ao Alvo... e o dinheiro que é emprestado ao estado por essas instituições; nasce-lhes nos cofres? Tem origem nos depósitos dos cidadãos particulares? É o produto dos investimentos do próprio banco? Ou é emprestado por instituições estrangeiras a um juro 50% a baixo daquele que é depois cobrado ao estado?
Caros Zuricher e Luís Moreira:
A comunicação social sabe tudo isso, mas reverencia Soares. Alguns sabem bem porquê.
Caro Bartolomeu:
Sou o primeiro a não concordar com muitas medidas deste governo e, aliás, já o expressei em público, numa conferência na Ordem dos Economistas,em Março deste ano. Está na Internet e já a dei a conhecer aqui no Blog.
http://umfuturomelhorparaportugal.blogspot.pt/p/manifesto.html
Independentemente disso, não me posso rever no que escreveu. Paciência!...
Caro Diogo:
Ninguém é dono da verdade, muito menos os que a procuram afeiçoar aos seus fins de protagonismos pessoais ou de vinganças serôdias.
Caro Carlos Sério:
Não tenho um aparelho preciso de medida para dizer se os sacrifícios de então foram incomensuravelmente menores, como diz. Mas penso o contrário e farei um post sobre isso. O que aconteceu é que a inflação e a desvalorização da moeda anestesiaram muita gente. Mas, conjuntamente com o corte nos salários e outras medidas restritivas até terão provocado sacrifícios maiores. Concordo que por menos tempo, porque a situação era outra.
Caros Floribundus e Tiro ao Alvo :
De facto, a taxa de juro e o valor da inflação que aponta confirmam o que acabei de dizer
Caro Bartolomeu:
Acho que labora em vários erros de apreciação no que respeita à dívida da República.
Seria bom perguntarmo-nos então o que faz afinal correr o governo?
Todos já sabemos a resposta. O que faz correr o governo são os mercados financeiros. O governo segue à letra as ideias de Friedrich von Hayek e James Buchanan que apelavam à redução do Estado, às privatizações e ao fim da democracia. Diziam que os mercados estavam tão ligados com a vida das pessoas, que não podia existir nada melhor habilitado que os mercados para resolver os seus problemas e responder democraticamente às suas necessidades de um modo que não podia fazer a política. Expressavam-se assim: “Os mercados são as únicas máquinas de votar reais; se estas máquinas se mantiverem longe do alcance dos políticos e das regulações, chegarão a expressar fielmente a vontade da comunidade… e quem deve estar a cargo desta revolução que pela primeira vez na história tornará real a vontade da comunidade, são os banqueiros. Eles serão os encarregados de fazer que isto ocorra”.
Tiro ao alvo
Deverá estar a falar do VIII governo chefiado por Pinto Balsemão e que quando deixou o governo em Junho de 1983 o país tinha uma inflação de 32%.
Quando Mário Soares sai do governo em 1985 a inflação tinha sido reduzida para 16%.
Caro Dr. Pinho Cardão, não espero que os nossos pontos de vista, em matéria de economia, gestão e finança, sejam algum dia coincidentes. O Senhor, porque estudou princípios teóricos para serem aplicados em ambientes especulativos de empresas cujo objetivo único é a obtenção dos mais elevados lucros, ao menor custo. Eu, simples cidadão, porque sonho com uma harmonia social onde cada cidadão tenha a oportunidade de integrar uma sociedade equilibrada em termos de deveres e de direitos, uma sociedade que valorize o esforço do seu trabalho e o compense de forma justa, uma sociedade cujo objetivo único seja o do progresso; refletido num serviço de saúde abrangente, num serviço de apoio social certeiro e eficaz, num serviço educacional organizado e direcionado para a formação de cidadãos, aptos para desempenhar uma profissão.
Em suma, uma sociedade onde haja quem governe, quem administre, quem regule, quem dirija, mas que o faça tendo em vista o bem-estar, o desenvolvimento e o progresso geral. Uma sociedade em que cada um esteja consciente dos seus direitos e dos seus deveres e onde se sinta integrado de pleno direito, onde sinta o desejo de participar, de se envolver por inteiro, confiante de que todos em seu redor, trabalham e cooperam, impregnados dos mesmos valores.
De resto, futebóis à parte, tenho a certeza que coincidiremos em muitas outras opiniões e convicções. ;)
Caro Bartolomeu, deixe-me fazer-lhe uma pergunta. A quem é que compete zelar pelos interesses da Nação e dos cidadãos?
A cada cidadão de pleno direito, o qual possui uma cota-parte nessa competência, através de vários órgãos institucionais, os quais existem para lhe garantir essa competência. O Tribunal Constitucional, é um exemplo. A Assembleia da República também. O Presidente da República, idem. Após eleito, quando é empossado no cargo, o Presidente da República jura: “Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.“
A Constituição Portuguesa, nos seus vários artigos, garante a todos os cidadãos de pleno direito, igualdade de direitos e deveres, com base na convenção universal dos direitos dos homens.
Penso ter respondido integralmente à sua pergunta, caro Zuricher.
Não respondeu objectivamente. Vou colocar-lha, porém, doutra forma. A defesa dos interesses da Nação e dos cidadãos cabe ao Governo ou aos investidores em dívida pública, nacionais e estrangeiros? Enfase no "estrangeiros" dado uma boa parte da dívida pública Nacional ser detida por entidades estrangeiras. É a estes que cabe defender os interesses de Portugal e dos Portugueses?
Caro Zuricher, em Portugal, no momento atual, conflituam interesses de vária ordem, públicos e privados. Interesses que não visam, nenhum deles, a defesa dos superiores interesses da nação, menos ainda dos cidadãos que não se achem incluídos na classe dos investidores em dívida pública, ou a eles ligados na forma de protetores ou de facilitadores.
Bartolomeu, não respondeu. :)
Caro Bartolomeu:
Continua enganado.
Eu não estudei "princípios teóricos para serem aplicados em ambientes especulativos de empresas cujo objetivo único é a obtenção dos mais elevados lucros, ao menor custo", nem sei onde é que isso se estuda.
Mas que estudei bastante e bem, creio que sim. E as minhas opiniões e convicções vêm sobretudo do que fui assimilando dos livros, dos contactos, do trabalho, em suma, da experiência de vida.
E, quanto a sonhos, teremos os mesmos. Mas há formas realistas de os ir materializando e há outras que não passam de vãs miragens.
Sinto nas palavras do comentário que o meu estimado Amigo Pinho Cardão me dedica, alguma amargura e um certo sentimento de ofensa pelo teor do comentário que lhe dirigi. A estar correta, esta minha leitura, só vejo que o ^"desentendimento se possa ficar a dever ao facto de eu ter usado a palavra «especulação». Esta suspeita, levou-me a confirmar nos diversos dicionários que possuo, todos obras de autores reconhecidamente sérios e conhecedores profundos da língua portuguesa, confirmando assim que o significado, salvo uma ou outra virgula, coincide em todas as obras. A exemplo, cito do "Dicionário Prático Ilustrado" uma obra editada no ano de 1966pela Lello & Irmãos - Editores, sob a direcção de Jaime de Séguier. Desta obra, transcrevo o significado da palavra "Especular": (do latim specular) Observar. Explorar. V. i. Meditar, raciocinar, fazer teoria pura...
Ora como poderá confirmar, o significado dos termos que empreguei são justamentes aqueles que definem a atividade de um economista, ou seja: Observam, meditam, raciocinam e... fazem teoria pura, ou seja: e recorrendo novamente à obra que referi logo de início, encontro no significado da palavra "teoria", o seguinte: do grego(teoria, de theorein, considerar, considerar) Conhecimento especulativo, puramente racional. Opiniões sistematizadas: teorias políticas. Conjunto de conhecimentos e de hipóteses que dão a explicação completa de certa ordem de factos...
Eu sei que em conjunturas específicas, ao mesmo termo "especular" pode ser atribuído um significado oposto: «Servir-se de recursos especiais para iludir alguém em proveito próprio.»
Mas nesse caso, meu estimado amigo, qualquer outro termo, por mais ingénuo que seja, pode sempre ser entendido pela outra parte, de uma forma ofensiva.
No caso vertente, posso garantir-lhe que da minha parte, não houve qualquer intenção de o ofender, mesmo não partilhando dos seus pontos de vista, os quais considero de toda a legitimidade.
Mas, e não querendo abusar da paciência que tão prodigamente tem dispensado aos meus desinteressantes comentários, permito-me voltar ao princípio da questão que o tema do post levanta, repetindo a frase com que dei início ao meu primeiro comentário: Mas quem é que neste país está a empregar esforço e coragem na aplicação de medidas impopulares?! Se revisitarmos a nossa História, passamos por períodos que de alguma forma se assemelham à situação que se vive atualmente, as duas mais importantes, quando fomos governados durante 40 anos por 3 Filipes Espanhóis e quando fomos invadidos 3 vezes por generais franceses ao serviço de Napoleão. Em qualquer uma destas situações, o poder deixou o povo à mercê do invasor e, ou aleou-se-lhe, ou fugiu-lhe. E como diz o povo "não há uma sem duas, nem duas sem três, estamos agora a ser invadidos pela terceira vez, invadidos pelo poder financeiro, limitador da nossa independência, castrador da nossa capacidade de nos governarmos. E o que faz o poder? Aceita as regras impostas pelo invasor, baixa as calças sem oferecer resistência, para que seja sodomizado, de qualquer maneira e a qualquer hora e ainda pede ao sodomizador para não colocar qualquer lubrificante ou analgésico.
Caro Zuricher, respondi com uma não-resposta, àquilo que considerei ser uma não-pergunta.
Pois, caro Bartolomeu, era uma pergunta. E muito séria. Aliás, se todos e cada um tivessem muito bem noção das suas funções e as levassem a sério, Portugal nunca teria chegado onde chegou.
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