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domingo, 10 de novembro de 2013

Há muros que não derrubámos

Dia 9 de novembro de 1989, 23 horas e 17 minutos. O regime comunista cedeu e o muro ruíu.
Com ele, um modelo de sociedade sem liberdade, de ditadura feroz, de assassínios em massa, de deportações, de goulags hediondos, de nomenklaturas poderosas, de desigualdades gritantes, de castração continuada dos espíritos mais resistentes.
Comemorou-se ontem o 24º aniversário. Porventura terá havido notícia do acontecimento, mas tão discreta ou modesta que não dei conta que tivesse existido.
Vi e ouvi, sim, enormes reportagens e gigantesca propaganda sobre os 100 anos do nascimento de Cunhal. Um dos mais lídimos defensores do Muro e do regime que caíu com o Muro.
Na mesma data em que, lá fora, se festeja a queda de um muro de vergonha, por cá a imprensa glorifica a data de nascimento de Cunhal. O que, só por si, também ajuda a explicar as razões do nosso atraso e da situação que vivemos.

18 comentários:

António Barreto disse...

Pois ajuda...e de que maneira!

opjj disse...

Bem oportuno.De facto abri as TVs às 7h por minutos e fechei ÁS 24H OUVINDO O MESMO.
Tb acontece- uma TV diz 100.000 emigrantes em Angola, outra 120.000 outra 150.000 e já vamos em 200.000 no espaço de 4 dias. E se falarmos em manifestantes teremos as mesmas contagens a gosto.

Cumprimentos

Bartolomeu disse...

Bom, de uma coisa estou certo; o muro não ruiu. Foi derrubado por gente de carne e osso e, até acredito que alguns dos que por lá estiveram empoleirados, de marreta nas unhas à castanhada ao betão, ajudaram vinte e tal anos antes a ergue-lo. Acho que a indignação que o Caro Dr. Pinho Cardão sente, devido ao alarido que é feito pela imprensa, em torno da comemoração do ano em que Álvaro Cunhal veio ao mundo, não fica bem ilustrada no exemplo escolhido. E digo isto porque, apesar de o muro estar a fazer quase tantos anos desde que foi derrubado como os que se manteve de pé, os motivos que levaram à sua edificação, não se resolveram com a sua demolição.
Ainda há pouco tempo estive em Berlim e constatei que alguns segmentos do muro são mantidos intactos e, nesta matéria, as opiniões dos alemães divergem; há quem continue a preferir que o muro se mantivesse, outros concordam com a decisão de o terem derrubado e outros... nim.

Luis Moreira disse...

É verdade. O impacto na vida nacional do PC é muito superior à sua avaliação eleitoral pelos portugueses. Domina largas fatias da administração pública, desde a Educação, aos transportes públicos.E Portugal atraza-se e não muda.

Pinho Cardão disse...

Caro Bartolomeu:
Não posso estar em mais desacordo. É a vida!...

Bartolomeu disse...

Pois é, caro Dr.!

Suzana Toscano disse...

É verdade, um contraste ensurdecedor, quem diria que um marco histórico que mudou a História da Europa e a vida de todos nós quase passa despercebida? Quase concordo com o caro Bartolomeu, se calhar a alegria de muitos já esmoreceu, é caso para nos alarmarmos todos com estes sinais.

Carlos Sério disse...

Na verdade, assistimos no século XX a dois modelos de ditaduras ferozes. De um lado o regime comunista soviético e seus satélites, do outro, o regime fascista alemão e seus satélites. Ambos abomináveis. Um intitulava-se defensor intransigente dos trabalhadores o outro defensor intransigente do capital financeiro e industrial. Será que o mundo aprendeu alguma coisa com isto? Ou estamos a caminhar para novos despotismos.

Bartolomeu disse...

O percurso da humanidade tem sido feito nessa base, caro Carlos Sério. A grandeza humana, tem sido medida ao longo dos milénios pela bitola do imperialismo. E têm sido vários os impérios que foram erguidos sobre o sangue e a vida de muitos e derrubados à custa do sangue e da vida de milhares. Século após século, milénio após milénio, não tendo a humanidade sabido retirar de todos esses despóticos episódios, a lição mais evidente; que os impérios são efémeros, tal como o poder que os constroi e os derruba.
Mas pronto, lá vamos prosseguindo, pisando e repisando os mesmos trilhos, embriagados por esse éter imponderável que, segundo os antigos físicos, penetra os corpos, transportando a luz e o calor. Ainda se fosse por paixão...

Tonibler disse...

Esse estranho esquecimento vem do mesmo sítio que reclama do "fascismo alemão que oprime os gregos" e que, assim, resolve cuspir na memória dos outros parceiros europeus da Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, R. Checa, R. Eslovaca, Hungria. Bulgária, Roménia, Alemanha sem esquecer a Finlândia e a Austria cuja "ocidentalidade" era controlada. Glorificar o nascimento de Cunhal é um insulto à democracia, aos milhões de mortos e oprimidos da europa e ao milhão e meio de refugiados portugueses que andaram pelo mundo de caixote às costas e, que eu saiba, proibido pela constituição portuguesa .

Bartolomeu disse...

Ora aí tem, caro Tonibler, bem à vista, o motivo principal pelo qual a Alemanha ainda não permitiu a entrada da Turquia para a União Europeia!
:)))

Tonibler disse...

Isso o meu caro não pode dizer... Até porque metade da Turquia está na Alemanha...

Pinho Cardão disse...

Cara Suzana:
É mesmo grande motivo de preocupação. Os regimes comunistas sempre criaram e dispuseram de grandes máquinas de propaganda e os partidos comunistas e congéneres sempre dominaram o know-how. Claro que, em Portugal, conseguiram posições sólidas em todos os órgãos de comunicação social e nas instâncias ditas culturais, e aí não brincam em serviço. Propagandeiam, enganam, manipulam, tudo em nome da "verdade" deles e que consideram a única a que temos direito.

Caro Carlos Sério:
Concordo no que respeita aos dois modelos de ditadura, comunista e fascista, mas já não quanto à caracterização do modelo fascista, "defensor do capital financeiro e industrial".
Isso é mesmo uma contradição nos termos: o capital financeiro gosta de liberdade, não de restrições de qualquer espécie.
Mas é verdade que o mundo tem aprendido muito pouco. Já desde os gregos que os diversos regimes aparecem descritos, e Aristóteles definiu-os com a precisão, face ao que se ia apercebendo das suas características e mutações nas várias cidades gregas. Passaram séculos, passaram civilizações, na Europa e na Ásia (de África e América sabe-se menos), e o homem foi sempre lobo do homem, a história da humanidade foi sempre um mar de opressão e miséria para muitos, a maioria. De qualquer modo, nunca, como hoje, os direitos humanos foram mais respeitados.
É em nome desses direitos que não podemos esquecer os regimes opressores como esse que simbolicamente caiu com o Muro de Berlim. Para que nunca mais voltem.

Carlos Sério disse...

Caro Pinho Cardão,
estranho a sua observação. No fascismo sempre houve liberdade para uma minoria. Os defensores do fascismo viviam em liberdade total.
Não houve liberdade foi para as maiorias que o detestavam e lutavam contra ele.

Bartolomeu disse...

Tem a sua graça constatar que quando se discutem ideologias, partidos, regimes políticos, holocaustos, assassínios em massa, ditaduras, nos esquecemos quase sempre que têm origem num engano. Um engano colectivo, que permite aos opressores ver aqueles a quem oprimem como gente a si inferior e ainda, necessáriamente a abater, a erradicar deste mundo, onde só deveriam caber os perfeitos, segundo o modelo dos que exterminam...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Cunhal é uma figura incontornável da História do País do ultimo quartel do século XX. Disso não pode haver dúvidas. O que não se percebe é a exaltação, por alguma direita pseudo-inteletual acompanhada pelos socialistas que gostam de exibir o "esquerdismo" como credencial de superioridade, do "legado" de Álvaro Cunhal. Escrevi que não se percebe? Enganei-me. Percebe-se, sim, é uma prova da mais rematada ignorância sobre as ideias de Cunhal.

Pinho Cardão disse...

Caro Carlos Sério:

Claro que no fascismo sempre houve liberdade para uma minoria, como no comunismo também. Hitler e Estaline foram inteiramente livres de fazer o que queriam.
Quanto à outra questão, olhe, por exemplo, o que aconteceu ao importante capital financeiro judeu da Alemanha e da Rússia e a tantos empresários, qualquer que fosse a sua filiação religiosa ou ideológica, desde que não se enquadrasse na doutrina do chefe?