A proposta do Orçamento do Estado para 2014 inclui uma medida de segurança social que tem passado despercebida. Tem que ver com as contribuições para a Segurança Social dos membros dos órgãos estatutários das empresas. Até agora a base de remuneração sobre a qual incidem as contribuições tem um limite máximo mensal - " plafond" - correspondente a 12 IAS - 5.030 euros. A este plafonamento nas contribuições corresponde um plafonamento nas pensões. Ou seja, a parte da remuneração auferida superior ao limite máximo não é pensionável pelo sistema de pensões público.
Pois a proposta do OE vem estabelecer que a base de incidência de contribuições deixa de estar sujeita aquele limite. É uma medida que vai transferir mais responsabilidades com pensões para a Segurança Social e, consequentemente, aumentar a despesa com pensões, quando são conhecidas as dificuldades para lhes fazer face. Dificuldades que têm levado a cortes nas pensões, a alteração das regras de cálculo e acesso às pensões. Tudo em nome da sustentabilidade. A contrapartida é, no curto prazo, aumentar a receita da Segurança Social e, consequentemente, ter um impacto imediato positivo nas contas orçamentais, embora o OE não quantifique os impactos.
Mas o que é mais espantoso é que o governo defende no "Guião da Reforma do Estado" uma reforma da Segurança Social que deve admitir um "plafonamento" das contribuições e das futuras pensões, embora dizendo que a mesma só poderá ser feita se o PIB atingir 2%. É claro que se trata de uma não reforma, atenta a condição imposta. Mas o princípio do "plafonamento" é defendido e apresentado como o único para levar por diante uma reforma do sistema de pensões. É, portanto, normal que se questione a medida avançava na proposta do OE, que vai justamente em sentido contrário.
Muitos membros de órgãos sociais - conheço alguns - constituíram planos complementares de reforma. Vêem-se agora confrontados com uma medida que não só altera subitamente as suas expectativas, como lhes pode criar dificuldades financeiras e, porventura, contratuais em relação a escolhas racionais que oportunamente fizeram em termos de protecção na reforma. Acresce que as empresas verão os seus custos aumentados, num tempo em que toda a gente fala da necessidade de os reduzir.
As inconsistências em nada ajudam a confiança nas decisões políticas, fazem pensar que há ausência de um plano, de consistência e coerência das escolhas...
3 comentários:
Não, Margarida, o que há é falta de receitas na segurança social, e como a despesa correspondente é diminuída sejam quais forem ou tiverem sido as contribuições, está visto que o melhor é só plafonar o montante a receber e deixar a céu aberto o montante a contribuir... Coerência, como diz.
Em minha opinião, no "Guião da Reforma do Estado" devia estar incluída a restauração da "Lei das Sesmarias".
Tenho ideia que mudaram o nome, caro Bartolomeu, então e a inovação ? :)
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