1. Andam os nossos ilustres comentadores e analistas mediáticos, por estes dias, muito afadigados tentando explicar ao Povo como poderá Portugal sair do PAEF usando como termo de comparação o caso (de sucesso, até agora) da Irlanda.
2. A postura geral, que já aqui tenho comentado com o cepticismo que na minha opinião deve merecer, tem consistido em tentar adivinhar como será o misterioso “Programa Cautelar” que, apesar de inteiramente desconhecido, conta já entre nós com tantos subscritores...
3. Uma das medidas mais utilizadas para perceber a distância que separa o caso português do sucesso da Irlanda tem sido a diferença ACTUAL entre as taxas de juro implícitas na cotação das respectivas dívidas públicas (yields) no prazo de 10 anos: 6% no caso português (hoje) e 3,55% no caso da Irlanda (hoje).
4. Curiosamente, ninguém se tem lembrado de uma comparação bem mais sugestiva: das ditas taxas de juro em ambos os casos a 7 meses do termo dos respectivos Programas, que é a distância que nos separa do fim do PAEF subscrito por Portugal...
5. Pois bem, a 7 meses do termo do seu Programa (Maio de 2013), a taxa de juro implícita na cotação da dívida pública irlandesa ao prazo de 10 anos era...3,5%, ou seja praticamente a mesma que é hoje...
6. ...Depois disso teve algumas subidas episódicas, para um nível em torno de 4% (Junho e Julho e novamente em Setembro), situando-se em torno de 3,5% desde o final de Setembro...
7. No caso português, a 7 meses do termo do Programa de Assistência, a taxa de juro situa-se confortavelmente em 6% e o TC ainda não entrou em acção...para bom entendedor, creio que esta comparação é suficiente...
8. Continuem pois a discutir o misterioso Programa Cautelar, que vão por muito bom caminho...
11 comentários:
Do meu ponto de vista, ao TC compete aferir se as medidas propostas estão ou não enquadradas nos artigos da Constituição Portuguesa, nada mais que isso.
Mas isto sou eu, que não me distingo de um calhau com dois olhos...
Ah, o TC é isso? Não é o braço executivo do Cavaco?
Caro Bartolomeu,
Conhece, porventura, o bondoso aferómetro utilizado pelo TC nesse processo de ajuizamento das medidas?
Quanto à ultima frase do seu comentário, não posso estar mais em desacordo, totalmente em desacordo!
Devo confessar que não conheço o aferómetro do TC, tãpouco se ele na realidade existe. No entanto, com ou sem o zingarelho, não deixa de ser essa a competência que cabe ao dito.
Quanto ao resto... pode crer que se lhe parecer outra coisa, é pura ilusão de ótica, caro Dr. Tavares Moreira.
As divisões nas votações entre os juizes do TC deixam-me muito de pé atrás quanto à bondade dos juizos que fazem. Admito, porém, que a culpa não é dos juizes mas sim da Constituição por estar escrita de forma que permite tais disparidades de interpretação e, enfim, por ser tão extensa e normativa havendo sempre inevitavelmente possiveis contradições (lá está, depende das interpretações) entre artigos da mesma.
Quanto ao fundo do post, a comparação com a Irlanda, caro Tavares Moreira penso que nenhum investidor (seja investidor financeiro seja doutro tipo) comete a sandez de comparar Portugal à Irlanda. São dois paises que estão em campeonatos totalmente distintos a todos os niveis.
Caro Zuricher,
Mesmo que a CRP assentasse numa redação espartana, daria sempre às mentes mais inventivas e aos corpos mais hábeis para o contorcionismo, espaço para fazer com elas, a leitura mais... ajustada... cómodas, pronto!
Não se esqueça o meu estimado amigo, que nas veias ainda nos corre sangue fenício e árabe... isto para negociar, ceder em contrapartidas, sempre na mira do lucro próprio, é coisa que faz parte do nosso património genético, não sai, nem com uma desencrustação a ácido sulfúrico... à pressão.
Meus senhores:
O que acontece em Portugal e motiva, direi mesmo, justifica, a dissemelhança entre os Programas Irlandês e Português a 7 (sete) meses do final, está bem expressa neste painel de comentários. Ninguém se entende, todos procuram a sua razão e...assim é que é.
O mesmo acontece com os nossos partidos políticos, TODOS são senhores da verdade, o esforço para um consenso, inexistente. O que passa para o exterior é o descrédito. Os resultados? Estão à vista.
Da IRLANDA, contentes ou descontentes com o Programa aplicado, para o exterior não passou uma suspeita grave de discórdia. Eis a diferença.
Caro Tavares Moreira
Sob pena de ser repetitivo, este seu post é outra forma de mostrar que, ao contrário do que se pensa em Portugal, há uma enorme diferença entre fazer o que tem de ser feito e fazer o nosso melhor.
Comparando com a Irlanda, que fez o que tinha de ser feito, a nossa taxa é +/- o dobro; mutatis mutandis, podemos, com a mesma métrica, comparar com a Grécia que, manifestamente, sempre tentou fazer o seu melhor, ou o melhor que podia...
Cumprimentos
joão
Caro Zuricher,
Eu até "dou de barato" a bondade dos ilustres e respeitáveis magistrados quando produzem jurisprudência sobre matérias com implicações orçamentais...
Só que o tipo de bondade, pela forma como é utilizada, acaba por se converter em enorme maldade para os interesses últimos do País...
Veja a situação presente: o TC conseguiu, graças ao impacto real (financeiro) e mediático das suas decisões, que a sorte do País, quanto a sair sofrivelmente ou pessimamente do PAEF, dependa, criticamente, da decisão que vier a tomar sobre o OE/2014...
Já viu maior imbroglio do que este? Os ilustres magistrados decidirem tendo a consciência de que vão (literalmente) enterrar o País?
Trata-se, como dizia, de uma bondade totalmente contraproducente, que fazer com tal bondade?
Caro SLGS,
Tem toda a razão no que diz, mas que se há-de fazer se é esta a realidade com que nos deparamos?
Caro João Jardine,
Essa distinção entre "fazer o que tem de ser feito" ou simplesmente "fazer o nosso melhor", parece-me de grande utilidade metodológica...
Se me permite, recomendaria a sua utilização pelos decisores políticos...
Caro Tavares Moreira,
Embora nunca tenha trabalhado no Banco de Portugal, faz-me imensa confusão que Portugal, a Irlanda, a Espanha, a Itália ou a Grécia, andem a pagar juros usurários sobre dinheiro que deveria ser seu.
O que prova que existe um Monopólio Financeiro Mundial que cria «crises financeiras» simultâneas, através das quais se apodera das riquezas dos países e respectivos cidadãos. Faz lembrar Eça de Queirós:
Na compilação "Cartas de Inglaterra", no capítulo «Israelismo", Eça de Queirós escreveu:
"Mas o pior ainda na Alemanha é o hábil plano com que fortificam a sua prosperidade e garantem o luxo, tão hábil que tem um sabor de conspiração: na Alemanha, o judeu, lentamente, surdamente, tem-se apoderado das duas grandes forças sociais – a Bolsa e imprensa. Quase todas as grandes casas bancárias da Alemanha, quase todos os grandes jornais, estão na posse do semita. Assim, torna-se inatacável. De modo que não só expulsa o alemão das profissões liberais, o humilha com a sua opulência rutilante e o traz dependente pelo capital; mas, injúria suprema, pela voz dos seus jornais, ordena-lhe o que há-de fazer, o que há-de pensar, como se há-de governar e com quem se há-de bater!"
Novamente as comparações com a Irlanda.
Nos anos anteriores à crise os caminhos de Portugal e da Irlanda eram bem diferentes. Enquanto Portugal tinha uma dívida pública próxima dos 70% do PIB (2007) a Irlanda possuía uma dívida inferior a 25%, mercê dos fortes crescimento económicos sem défices públicos. Por outro lado a realidade económica e social Irlandesa era e é muito diferente da portuguesa. O salário mínimo na Irlanda era de 1.462 euros em 2011 quando em Portugal era e é de 566 euros (salário bruto); o PIB por habitante (2012 em SPA) é de 130 na Irlanda e 75 em Portugal; o esforço fiscal em 2008 era de 0,08 na Irlanda enquanto em Portugal era, no mesmo ano, de 0,23; ou ainda, no Índice de Desenvolvimento Humano 2012 das nações Unidas a Irlanda surge na 7ª posição enquanto Portugal aparece na 43ª.
Afinal há sempre uma razão para os juros de dívida pública a 10 anos da Irlanda estarem a sete meses da finalização do programa a juros de 3,5%.
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