As declarações do Governador do Banco de Portugal sobre a grave crise orçamental em que estamos mergulhados não poderão ser dissociadas das notícias sobre o choque sentido pelos Ministros face às propostas apresentadas pelo Ministro das Finanças.
Vamos por partes. As declarações de Vítor Constâncio surpreendem pela sua surpresa. A situação é mais grave do que ele próprio esperava. Vindo do Governador do BP, estas declarações colocam duas hipóteses de interpretação: ou andava distraído, ou o anterior Governo ocultou informação ao BP, à Assembleia e ao País. Uma e outra são graves e requerem rigoroso escrutínio político. É possível, entretanto, descortinar uma terceira: os pressupostos (conjuntura internacional, projecção de receitas e de despesas, previsões de crescimento económico) que presidiram à elaboração do OE2005 estão desfasados da realidade, pelo que a sua revisão obriga a uma reavaliação do deficit.
O Governo já conhece as principais conclusões da Comissão encarregada de avaliar as contas públicas. Só assim se entende as declarações do Primeiro-ministro e a notícia do Expresso sobre o “choque” provocado pelo Ministro das Finanças. O Governo já sabe que vai ter de tomar medidas impopulares para superar o problema criado.
A questão que se impõe é simples: mas já não sabia, mesmo antes de formar Governo? Já não sabia quando decidiu apresentar o seu programa eleitoral e quando mais tarde o transformou em programa de Governo? Respigando as muitas declarações feitas por responsáveis do PS nos últimos 8 meses, todos conheciam bem o quadro conjuntural que agora se pretende destacar.
O que nós estamos a assistir só tem um nome: dramatização! É o “discurso da tanga” sem falar da “tanga”. Mas é também o assumir que os pressupostos eleitoralistas do PS têm de ser postos de lado, porque inconcretizáveis. O drama do Governo é este: criou expectativas optimistas e não tem como as satisfazer. O que é mais grave é que muitos dos Ministros continuam a pensar o contrário. Ainda não perceberam o problema que têm em mãos e não querem ver o que todos já viram: não há alternativa a cortes radicais na despesa. Não há benesses para distribuir. Como dizia um amigo meu, “ a cenoura foi-se, só nos resta o pau!”
É este o drama. Não vale a pena inventar outros porque este já nos chega.
2 comentários:
Dsicordo. Na campanha eleitoral nunca foi mostrado o pau.
Logo que foi conhecida a composição do Governo eu escrevi no "O Reformista" que este era um Governo de engenheiro, politicamente traçado a regra e esquadro, mas bloqueado. Tinha um Ministro das Finanças Liberal e os restantes Ministros estatistas e despesistas. Ou vencia o Ministro das Finanças e os outros Ministros ficavam sem obra para fazer ou o Ministro das Finanças perdia e o défict disparava.
Agora está a chegar a hora da verdade.
Para que lado vai cair Socrates?
Enviar um comentário