Incomoda-me a arrogância que marca o estilo de intervenção de alguns membros do governo.
Não é a primeira vez que leio palavras do senhor Secretário de Estado Ascenso Simões em estilo "ESTOU A AVISAR!".
Admito que a veneração da forma de estar e da personalidade do Sr. Engº Sócrates explique esses comportamentos. Aliás o Primeiro-Ministro deve ter o dom da atracção mimética, pois que até nos trajeitos da voz e na gesticulação tem quem o imite...
Uma coisa, porém, é o feitio do Primeiro-Ministro e lider do partido maioritário, que se tolera (outros no passado não primaram pela simpatia e dificilmente disfarçavam tiques de autoritarismo...). Outra coisa é um Secretário de Estado que se arroga do papel de porta-voz do governo em atitude despositadamente hostil a sectores que deveriam merecer do Executivo e do referido governante, outro respeito.
Ascenso desta vez manifesta-se contra o sector vitivinícola, presumo que nacional. Acusa-o de em nada contribuir para diminuir os indices de sinistralidade rodoviária provocados pelo excesso de alcool, avisando que se o sector não der curso a campanhas de sensibilização para os efeitos do consumo excessivo, em retorsão vai fazer com que, sem dó ou piedade, o governo baixe os níveis de alcoolemia legalmente admitidos.
Este estilo de colocar publicamente os problemas é deplorável. Traz-me a memória a infeliz tirada de Jorge Coelho "quem se meter com o PS, leva".
Não é a primeira vez que leio palavras do senhor Secretário de Estado Ascenso Simões em estilo "ESTOU A AVISAR!".
Admito que a veneração da forma de estar e da personalidade do Sr. Engº Sócrates explique esses comportamentos. Aliás o Primeiro-Ministro deve ter o dom da atracção mimética, pois que até nos trajeitos da voz e na gesticulação tem quem o imite...
Uma coisa, porém, é o feitio do Primeiro-Ministro e lider do partido maioritário, que se tolera (outros no passado não primaram pela simpatia e dificilmente disfarçavam tiques de autoritarismo...). Outra coisa é um Secretário de Estado que se arroga do papel de porta-voz do governo em atitude despositadamente hostil a sectores que deveriam merecer do Executivo e do referido governante, outro respeito.
Ascenso desta vez manifesta-se contra o sector vitivinícola, presumo que nacional. Acusa-o de em nada contribuir para diminuir os indices de sinistralidade rodoviária provocados pelo excesso de alcool, avisando que se o sector não der curso a campanhas de sensibilização para os efeitos do consumo excessivo, em retorsão vai fazer com que, sem dó ou piedade, o governo baixe os níveis de alcoolemia legalmente admitidos.
Este estilo de colocar publicamente os problemas é deplorável. Traz-me a memória a infeliz tirada de Jorge Coelho "quem se meter com o PS, leva".
Mas se o estilo irrita, é espantoso o raciocínio que está na base das declarações do Secretário de Estado Ascenso. Em primeiro lugar, para o governante o governo não revê o indice de alcoolemia porque entende que essa é a medida adequada para diminuir o impressionante número de mortos e feridos provocados por pessoas sem consciência nem respeito pelo próximo. Não. Fá-lo, pelos vistos, porque o martirizado sector vitivinícola nacional não colabora na sensibilização pública que, distintamente do que se passa com a luta anti-tabagismo ou contra o uso de drogas, ao que parece deixou de ser incumbência do Estado.
Depreende-se das asserções deste senhor Secretário de Estado que se os produtores de vinho reservarem uns dinheiritos para comparticipar nas campanhas de prevenção rodoviária, fica tudo como está! E fica bem. Notável...
Mas mais admirável ainda é o alvo escolhido. Porquê o sector vitivinícola nacional, que aliás bem carecido de apoio anda para que se atinjam níveis de exportação compatíveis com a qualidade de um dos nossos melhores produtos? O alcool que se detecta no sangue dos inconscientes do volante, resulta na maior parte dos casos, da ingestão de vinho? Então e a cerveja, produto que tem vindo a vender-se cada vez? E o whisky, os cognacs, os vodkas e tantas outras bebidas brancas de que se fazem os ´shots´ que causam, nas madrugadas dos fins de semana, tantas tragédias?
Creio que o senhor Ministro da Administração Interna, cuja experiência política lhe permite percepcionar bem estas tentativas de ascensão pública das figuras de terceira linha (que conveniências do aparelho partidário tornam, contudo, incontornável ter de aturar), não deixará de por ordem nestes excessos de Ascenso.
Mas o que verdeiramente convinha é que além dele, outros membros do governo se convencessem ou fossem convencidos que nada se ganha com estas entradas contra tudo e contra todos, como se os problemas do país se resolvessem com este estilo "estás aqui, estás a levar na tromba!" impróprio de um Executivo de legítimidade indiscutível, que se suporta numa confortável e obediente maioria parlamentar, o que só por si dispensaria estas proclamações, tantas vezes patéticas, de autoridade.
Mesmo nos casos - que não o que aqui se comenta - em que o governante vem publicitar coisa razoável.
Depreende-se das asserções deste senhor Secretário de Estado que se os produtores de vinho reservarem uns dinheiritos para comparticipar nas campanhas de prevenção rodoviária, fica tudo como está! E fica bem. Notável...
Mas mais admirável ainda é o alvo escolhido. Porquê o sector vitivinícola nacional, que aliás bem carecido de apoio anda para que se atinjam níveis de exportação compatíveis com a qualidade de um dos nossos melhores produtos? O alcool que se detecta no sangue dos inconscientes do volante, resulta na maior parte dos casos, da ingestão de vinho? Então e a cerveja, produto que tem vindo a vender-se cada vez? E o whisky, os cognacs, os vodkas e tantas outras bebidas brancas de que se fazem os ´shots´ que causam, nas madrugadas dos fins de semana, tantas tragédias?
Creio que o senhor Ministro da Administração Interna, cuja experiência política lhe permite percepcionar bem estas tentativas de ascensão pública das figuras de terceira linha (que conveniências do aparelho partidário tornam, contudo, incontornável ter de aturar), não deixará de por ordem nestes excessos de Ascenso.
Mas o que verdeiramente convinha é que além dele, outros membros do governo se convencessem ou fossem convencidos que nada se ganha com estas entradas contra tudo e contra todos, como se os problemas do país se resolvessem com este estilo "estás aqui, estás a levar na tromba!" impróprio de um Executivo de legítimidade indiscutível, que se suporta numa confortável e obediente maioria parlamentar, o que só por si dispensaria estas proclamações, tantas vezes patéticas, de autoridade.
Mesmo nos casos - que não o que aqui se comenta - em que o governante vem publicitar coisa razoável.
8 comentários:
Acusa o sector vitivinícola de em nada contribuir para diminuir os indices de sinistralidade rodoviária???
É o que eu digo, gastamos metade da nossa riqueza para funções do estado e, no fim do dia, a culpa é sempre minha. Bem, calculo que se a culpa é do sector vitivinícola, também já podemos abolir essa sec de estado, não é?
PS: A culpa é mesmo nossa. Como é que um génio desses chega a ter poder executivo??????
Gostava que o Secretário de Estado Ascenso Simões apresentasse números concretos para suportar as suas afirmações.
Há cerca de 15 anos vendeu-se o "facto" de que era necessário realizar uma inspecção periódica aos veículos com mais de 5 anos porque seriam estes os grandes causadores dos acidentes. Contudo, pegando nos relatórios anuais da DGV e traçando uma curva que relaciona o número de acidentes e a idade dos veículos, facilmente se demonstra que quanto mais velho um veículo menos probabilidade tem de interferir num acidente.
O relatório anual da DGV (2004) é claro, de cerca de 54000 condutores intervenientes em acidentes, 51500 sopraram no balão e apresentaram uma Taxa de Alcool inferior a 0.5 g/l
.
Caro CCz,
Não posso concordar com esta sua tese. É por demais evidente que há efectivamente uma relação entre mortalidade/sinistralidade rodoviária e excesso de alcool.
Caro JM Ferreira de Almeida,
Concordo que não é de todo aceitável este tipo de comportamento por parte de um elemento do Governo.
AAF - Regionalização
OK, se é por demais evidente que há efectivamente uma relação entre mortalidade/sinistralidade rodoviária e excesso de alcool, fico a aguardar pelos números do sr. secretário de estado.
A polémica criada ao redor da taxa de alcoolemia vai estar na agenda política.
O governo de Guterres baixou a taxa máxima para 0,2 g/l, facto que originou contestações a vários níveis. Foram ouvidos peritos que argumentavam que a cifra proposta era a mais adequada, face à elevada sinistralidade rodoviária que caracterizava e continua a caracterizar o nosso país. A medida tinha objectivos bem definidos. Os opositores a tal medida argumentavam de todas as maneiras possíveis: muitos países mantinham a taxa de alcoolemia de 0,5 g/l e tinham taxas de sinistralidade inferiores à nossa; que a medida iria provocar colapso económico dos produtores de vinho com impacto significativo na economia nacional, que o cozido à portuguesa sem o vinhito não seria o mesmo, que valores até este limite não provocavam quaisquer alterações do comportamento, que muitos dos sinistrados não apresentavam álcool no sangue, que os acidentes se deviam ao mau estado das estradas e/ou das viaturas, que a falta de civismo era o factor mais importante (e realmente até é)… Os argumentos foram tantos, que levou à suspensão temporária da lei, até que foi "restaurado" o limite anterior, na IX legislatura.
Um dos argumentos mais esgrimidos estribava-se no facto de que, até 0,5g/l de álcool no sangue, não ocorriam quaisquer alterações neurológicas que pudessem pôr em causa a segurança rodoviária. A grande maioria provava inclusive com a sua experiência diária (subjectivismo susceptível de erros grosseiros). A ciência fornece constantemente novos elementos que podem influenciar as decisões políticas. Na revista Science, foi publicado, há três anos, salvo erro, um trabalho interessante de Richard Ridderinkhof, da Universidade de Amesterdão. Este autor provou que uma zona particular do cérebro, responsável pela monitorização de um processo de reconhecimento de sinais de erro, sofre importantes alterações, mesmo com doses moderadas de álcool (abaixo dos limites aceites em muitos países, o nosso incluído). Como no decurso da condução estamos constantemente a corrigir erros, é fácil compreender as eventuais consequências. Sendo assim, o álcool interfere com um componente crítico do controlo cognitivo, o qual pode explicar porque é que as pessoas sob o efeito da influência do álcool não conseguem (nem admitem!) reconhecer a má performance e persistem nesta posição. Perante estes novos dados (e estudos subsequentes) é de prever que, mais tarde ou mais cedo (naturalmente mais tarde, por motivos óbvios…), a taxa de alcoolemia irá sofrer uma redução. Convinha sensibilizar todos os agentes com interesses neste sector (nomeadamente produtores e consumidores de álcool) a adaptarem-se a uma nova realidade. Isto de andar na estrada, sobretudo em Portugal, é um perigo real de morte. O civismo não é passível de decreto, mas a taxa de alcoolemia é.
Ascenso Simões tem um estilo muito próprio, vaidoso, sem sombra de dúvida, mas quer ajudar a resolver o problema. Mas só à custa dos vinivultores não! Tem que alargar a sua intervenção a outros sectores da produção e distribuição de álcool. Não sei se já se apercebeu da força dos lóbis do álcool. São extraordinariamente poderosos...
Meu Caro Professor Massano Cardoso,
sei do seu empenho na defesa das medidas de limitação do consumo de alcool pelos condutores. Não se entenda o meu post no sentido de censurar qualquer iniciativa que vise penalizar a inconsciência criminosa de quem se aventura à estrada pondo em risco a sua vida e as dos demais. Se o governo entender ir por aí estribado em estudos que não precisam ser universais, força, estarei entre os que aplaudirão. Nestas matérias não exijo certezas absolutas, basto-me com o princípio da precaução.
Oxalá que a coragem que o porta-voz do governo para o assunto agora exibe, não se mostre como da outra vez, postiça, recuando perante quem grite ainda mais alto...
Não creio que, como refere, o senhor secretário de estado tenha um estilo muito próprio. Sucede que ele é dos que, porventura, disfarça menos ou disfarça pior esta permanente pulsão para as afirmações de autoridade, escolhendo mal, ainda por cima, os alvos.
Não me custa a crer que exista um lobi do alcool e que ele tenha poder. Mas, o meu prezado Professor Massano acha mesmo que esse lobi é constituído pelos nossos vitivinicultores? Posso estar muito enganado, mas não o creio, como também não creio que o governo se possa desresponsabilizar do papel que lhe cabe na sensibilização pública para as desgraças que o consumo do alcool pode provocar.
Mais há uma frase no seu comentário que gostaria de sublinhar. Como muito bem diz, o civismo não é passível de decreto, mas a taxa de alcoolemia é.
Assuma pois o governo as suas responsabilidades, agravando se tiver de agravar, evitando porém promoções, pessoais ou políticas, à custa de assunto tão sério.
O sócrates não vai explicar isso porque ele também é assim.
quanto à alcoolemia, a taxa devia ser ZERO. Já há criminosos que cheguem.
Lamento informar, mas concordo com o bota. A Taxa devia ser zero.
Agora acho que os produtores de vinho é que não têm nada a ver com isso. Da mesma maneira que, se vendem pouco para o mercado nacional, então exportem vinho para o mercado internacional.
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