Em domingo de Páscoa, é bom fazer uma pausa e passar os olhos por “um dos mais belos textos da poesia universal de todos os tempos”, no dizer do grande e saudoso poeta David Mourão Ferreira, o Cântico dos Cânticos. Este livro terá sido escrito mil anos antes de Cristo e vem sendo atribuído a Salomão.
É um conjunto de poemas com uma linguagem cheia de imagens e metáforas, ao jeito oriental, que ”canta a amor de forma lírica e ao mesmo tempo sensual e erótica”.
A sua inclusão na Bíblia chegou a ser contestada no século V, no Concílio de Constatinopla e, ao longo dos tempos, por outros movimentos, o que levou a Igreja Católica, para preservar a sua inclusão na Bíblia, a defender que “as expressões ardentes só poderiam ser devidamente interpretadas por uma mente espiritual madura”.
Quão belos são os teus pés nas sandálias que trazes, ó filha de príncipe!As colunas das tuas pernas são como anéis trabalhados por mãos de artista.
O teu umbigo é uma taça arredondada, que nunca está desprovida de vinho. O teu ventre é como um monte de trigo cercado de lírios.
Os teus dois seios são como dois filhinhos gêmeos duma gazela.O teu pescoço é como uma torre de marfim. Quão formosa e encantadora és, meu amor, minha delícia!
A tua figura é semelhante a uma palmeira. Subirei à palmeira, e colherei os seus frutos.Os teus seios serão, para mim, como cachos de uvas, e o perfume da tua boca como o das maçãs.
O teu paladar é como o bom vinho, escorrendo directamente para o meu amante, até abrir lábios adormecidos.
Eu sou do meu amado e o seu desejo está em mim
Anda, meu amado, saiamos para os campos
Dormiremos nas aldeias, madrugaremos nos vinhedos
Veremos se a vinha lançou rebentos, se abrem as suas flores
Se despontam as romanzeiras
Lá darei o meu amor para ti!…
1 comentário:
Ora aqui está algo muito mais soboroso do que as amêndoas, as broinhas ou os folares da Páscoa.
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