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terça-feira, 20 de novembro de 2007

4r em Lamego,trazemos muito que contar!


Conseguir ajustar as agendas de um grupo de pessoas cheias de actividade não é nada fácil e é preciso um motivo de peso para que o projecto que se pretendia comum não acabe esquecido à espera de melhores dias. Mas o que é mesmo importante acaba por ter muita força e foi isso mesmo que permitiu ao grupo da 4r meter-se a caminho de Lamego e do Porto para, com esse pretexto, termos uns excelentes momentos de convívio com quem tão generosamente nos acolheu e respondeu ao nosso convite.
Lamego recebeu-nos com a simpatia e o calor humano das gentes do Douro, o mesmo é dizer que foi com pena que vimos o dia escoar-se até à hora da partida, apesar de virmos carregados de boas memórias e aguçada a vontade de voltar.
A apresentação do livro, na sala emprestada pela Assembleia Municipal, foi coroada com um brinde com o magnifico espumante da região, justo motivo de orgulho e néctar para o paladar dos mais exigentes. A ambição de conseguir que o espumante passe a barreira dos “momentos solenes” e integre a normalidade das refeições como uma bebida de eleição é mais do que razoável, além do mais um copo de espumante ajudará a dar um toque especial a momentos que passariam na rotina diária, sem que déssemos conta de que há sempre uma forma de chamar o optimismo e erguer a taça à nesga de felicidade que está ali a espreitar.
O jantar, deixo que seja o Pinho Cardão a fazer as honras, ninguém como ele para lhe dar cor, paladar e transmitir com sabedoria esse grande momento gastronómico e de harmonioso e alegre convívio.
Na manhã de 2ª feira, nem a chuva finalmente chegada abalou o magnífico percurso guiado pela bela cidade de Lamego. Na rua de Almacave, lembrando que talvez em tempos aí tenha havido um cemitério, num trocadilho com a cova das almas, lá está a igreja de Sta Maria onde reza a história que terão reunido as Cortes de para legitimar D. Afonso Henriques como 1º Rei de Portugal. Verdade ou lenda, o que importa?, algum fundo de verdade haverá no relato que atravessou os séculos.
O Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, magnífico com as suas escadarias de um lado e de outro (617 degraus de um lado, 618 de outro, diz quem já subiu para tirar teimas, o 4r não se afoitou, atirando culpas para o frio e a chuva…), cuja imagem lindíssima pudemos depois admirar no altar da Sé da Lamego. Nossa Senhora a amamentar o Menino, com uma expressão plena de serenidade e ternura que faz empalidecer a fantástica talha dourada e os tectos pintados por Nasoni, em vias de recuperação integral depois de umas infiltrações que as deterioraram sem dó.
A romaria anual de Nossa Senhora dos Remédios, no dia 8 de Setembro, é única pela curiosidade de a imagem ser transportada a reboque de uma junta de bois, também numa homenagem ao trabalho árduo de quem tira o seu sustento da lavoura.
Na Sé vale a pena demorar, admirar a beleza da Capela do Espírito Santo e a sua arca em prata lavrada, a riqueza dos detalhes, o assombro das pinturas. Mas também, que pena!, para reparar como o nosso património merecia mais atenção, como se descura o que outrora foi feito com amor e esforço e hoje está à mercê das intempéries, sem restauro e mesmo sem resguardo, como é o caso das duas lindas capelas abertas para o exterior, já quase apagadas as imagens pintadas a óleo em telas imensas, o dourado da talha desvanecido, as grades do portão quinhentista roídas de ferrugem. Por falta de dinheiro, por falta de interesse, por interesses que não se interessam, sabe-se lá, o facto é que desperdiçamos uma imensa riqueza que outros países trariam acalentada, protegida, enaltecida como um tesouro do passado que devia chegar ao futuro. Que bem se entendem os lamentos das gentes de Lamego, cujas vozes se perdem nos corredores intermináveis que levam a quem decide!
A paisagem do Douro é assombrosa, as matizes vermelhas douradas dos vinhedos ainda à espera do sopro gelado que as dispa do resto da folhagem, os veios de água a brotar dos muros, o rio Douro a separar as margens, a Régua a espreguiçar-se ao fundo da vista deslumbrante, aqui e ali as casa senhoriais, grandes quintas que ainda hoje produzem os magníficos vinhos que a região apresenta como um ADN que vai marcando as gerações.
O nosso guia falava com paixão dos detalhes, dos produtos, das gentes. O “vinho cheirante de Lamego”, também "cheirudo", também “do benefício”, dizia ele “aqui não lhe chamamos vinho do Porto”…
Mas viémos deste passeio como a Nau Catrineta, que traz muito que contar, aguardemos os próximos testemunhos!

3 comentários:

Bartolomeu disse...

Extasiado, é o adjectivo que define o meu estado.
Desde ha algum tempo, coloco-me a questão que imagino já possa ter aflorado ao pensamento dos ilustres autores do 4R - Depois do sucesso que o livro obteve, o que irá seguir-se?
Desculpem-me a especulação, mas os caros autores deram entrada directa, com este sucesso, num ciclo que exige, além de continuidade, diversidade, até porque, os já fidelíssimos leitores e comentadores, se habituaram a um rítmo, cuja direcção só pode esperar-se ascendente.
Depois de ler a magnífica descrição, pela cara Drª. Suzana, ocorreu-me o esboço de uma vertente na continuidade deste já "nosso" 4 R.

Suzana Toscano disse...

Caro Bartolomeu, as suas ideias ainda acabam por nos convencer...! Cuidado, ainda o encarregamos da próxima selecção! :))

Bartolomeu disse...

A selecção escolhida foi, a meu ver, bastante homogénea e representativa. Os textos demonstram sem a menor dúvida, qualidade literária, aquidade, objectividade e quidado na escolha dos temas que a todos nós preocupam.
Agora, como disse, passada esta fase de "glamour", estou certo que algo dentro da "vontade" dos caros autores, se agita.
Algo, penso eu, relacionado com o rumo futuro. É certo que no panorama em que o 4R se projecta, sobretudo devido à equidade e fecundidade dos autores, é seguro que a qualidade dos textos e matérias serão mantidos. Porém, desculpe-me cara Suzana se insisto neste ponto, estou certo que a mesma equidade e fecundidade,esta fusão, poderá conduzir o rumo do 4R num sentido mais profícuo. Exemplo daquilo que acabo de expôr, são os dois últimos post da autora Suzana Toscano e um terceiro da autora Clara Carneiro.
Os três post, excelentemente bem escritos, apresentam um olhar diferente sobre Lamego, fundem a informação paisagística, histórica,religiosa, social, económica e, mais importante, apontam, indicam, aconselham.
É sobretudo nesta vertente que penso eu, o 4R poderá introduzir algumas inovações. Quem sabe os autarcas, lhes irão um dia ser gratos?