É do conhecimento geral que certos factores e circunstâncias são determinantes para explicar as diferenças verificadas nos riscos de adoecer e de morrer. As discrepâncias existem, sendo por vezes muito marcadas.
Os pertencentes aos estratos sociais e culturais mais elevados vivem mais e adoecem menos dos que estão nos opostos. Seria conveniente que quando se procedesse à análise de certas taxas, estas deveriam ter em conta os tais “factores” e “circunstâncias”. Deste modo, a dinâmica dos fenómenos revelaria a sua verdadeira faceta, ou seja, a uma diminuição da taxa de mortalidade por uma determinada doença poderia corresponder em certos grupos, habitualmente os mais desfavorecidos, a um aumento efectivo da mesma.
Esta pequena reflexão surgiu na sequência de um trabalho em que foi demonstrado que os profissionais manuais correm mais riscos de morrer do que os executivos.
A Grã-Bretanha tem sido palco de muitos estudos nesta área e o mais recente revela que os trabalhadores de profissões rotineiras correm três vezes mais risco de morrer por volta dos 64 anos do que os “grandes” executivos. Os profissionais liberais também apresentam taxas de mortalidade baixas mas mais elevadas do que os dirigentes.
Tudo aponta para que não seja a profissão em si o responsável pelas diferenças. As principais causas de morte neste grupo etário são os acidentes, a violência e o suicídio os quais estão associados à remuneração e à forma como é valorizada a actividade. Um trabalho bem pago, mais prestigiado, com elevada capacidade de decisão corresponde a menos violência, no seu sentido mais amplo.
Dentre da escala apresentada os carteiros e seguranças ocupam o penúltimo lugar. É curioso verificar que os trabalhadores autónomos como donos de lojas e pedreiros correm menos riscos do que os trabalhadores já referidos. Estes últimos são muito bem pagos no Reino Unido ao ponto de ganharem tanto como os médicos e outros profissionais liberais e por isso dotados das tais “características” protectoras.
Seria interessante analisar em Portugal o que é que acontece com o risco de adoecer e morrer em função do tipo de actividade/profissão.
Claro que agora “compreendemos” porque é que tantos querem ocupar elevados cargos na administração pública ou privada. No fundo querem fazer “prevenção”, querem ser mais saudáveis e morrer o mais tarde possível! Aspiração legítima! A minha curiosidade estender-se-ia também aos “vigaristas”, “corruptos” e “quejandos”. Poderia colocar a hipótese de que estes grupos “profissionais”, tendo uma capacidade de decisão ilimitada, elevada autonomia e uma “natural” violência, deverão viver muito mais do que os restantes, sobretudo os “grandes executivos”. Também seria interessante saber qual o peso na mortalidade dos portugueses, de acordo com as actividades profissionais, provocado pelas acções, comportamentos e atitudes dos diversos agentes ao serviço da política, da justiça, do fisco, da segurança e da comunicação social, a par de outros factores já conhecidos. Sempre seria um contributo para, eventualmente, reduzir o risco de adoecer e morrer em Portugal.
Os pertencentes aos estratos sociais e culturais mais elevados vivem mais e adoecem menos dos que estão nos opostos. Seria conveniente que quando se procedesse à análise de certas taxas, estas deveriam ter em conta os tais “factores” e “circunstâncias”. Deste modo, a dinâmica dos fenómenos revelaria a sua verdadeira faceta, ou seja, a uma diminuição da taxa de mortalidade por uma determinada doença poderia corresponder em certos grupos, habitualmente os mais desfavorecidos, a um aumento efectivo da mesma.
Esta pequena reflexão surgiu na sequência de um trabalho em que foi demonstrado que os profissionais manuais correm mais riscos de morrer do que os executivos.
A Grã-Bretanha tem sido palco de muitos estudos nesta área e o mais recente revela que os trabalhadores de profissões rotineiras correm três vezes mais risco de morrer por volta dos 64 anos do que os “grandes” executivos. Os profissionais liberais também apresentam taxas de mortalidade baixas mas mais elevadas do que os dirigentes.
Tudo aponta para que não seja a profissão em si o responsável pelas diferenças. As principais causas de morte neste grupo etário são os acidentes, a violência e o suicídio os quais estão associados à remuneração e à forma como é valorizada a actividade. Um trabalho bem pago, mais prestigiado, com elevada capacidade de decisão corresponde a menos violência, no seu sentido mais amplo.
Dentre da escala apresentada os carteiros e seguranças ocupam o penúltimo lugar. É curioso verificar que os trabalhadores autónomos como donos de lojas e pedreiros correm menos riscos do que os trabalhadores já referidos. Estes últimos são muito bem pagos no Reino Unido ao ponto de ganharem tanto como os médicos e outros profissionais liberais e por isso dotados das tais “características” protectoras.
Seria interessante analisar em Portugal o que é que acontece com o risco de adoecer e morrer em função do tipo de actividade/profissão.
Claro que agora “compreendemos” porque é que tantos querem ocupar elevados cargos na administração pública ou privada. No fundo querem fazer “prevenção”, querem ser mais saudáveis e morrer o mais tarde possível! Aspiração legítima! A minha curiosidade estender-se-ia também aos “vigaristas”, “corruptos” e “quejandos”. Poderia colocar a hipótese de que estes grupos “profissionais”, tendo uma capacidade de decisão ilimitada, elevada autonomia e uma “natural” violência, deverão viver muito mais do que os restantes, sobretudo os “grandes executivos”. Também seria interessante saber qual o peso na mortalidade dos portugueses, de acordo com as actividades profissionais, provocado pelas acções, comportamentos e atitudes dos diversos agentes ao serviço da política, da justiça, do fisco, da segurança e da comunicação social, a par de outros factores já conhecidos. Sempre seria um contributo para, eventualmente, reduzir o risco de adoecer e morrer em Portugal.
2 comentários:
O primeiro impulso, caro Professor Massano Cardoso, é de evidenciar a qualidade do seu discurso. Obviamente que essa qualidade intrínseca em tudo o que o caro professor escreve, está sempre patente, pelo que só me resta manifestar-lhe o meu apreço.
Depois, e num "olhar" assim muito pela "rama" (assim, tipo como quem olha de cima para a horta) identifico alguns grupos sociais, onde a longevidade e a saúde são mais notórios. Em primeiro plano e talvez porque segundo a gíria, se trata da profissão mais antiga, destaco as prostituição. Não posso afirmar que possua um conhecimento fundamentado nesta área profissional, portanto a minha opinião assenta somente na voz popular e, essa diz-nos que as meretrizes de profissão, refiro-me às da velha-guarda, são todas velhíssimas, apesar dos poucos cuidados com a saúde e dos vícios destructivos a que são propensas, muitas delas atingiram idades bastante avançadas. Talvez esse facto se fique a dever à posição de trabalho, não sei. A par destas profissionais e ainda olhando para a "horta", descubro os agricultores, todos muito velhos, acho que tão velhos quanto o país.
Li ha algum tempo uma tese interessante acerca da longevidade deste grupo social, em que era afirmado que por desenvolverem a sua actividade numa ligação tão estreita com a terra, eles já eram a própria terra. Os merceeiros, essa profissão já quase desaparecida, apesar das varizes, que eram um estigma comum aquela classe, também se encontravam no Top Ten da longevidade. Lembro-me dos merceeiros da minha velhinha Algés, faziam um esforço titânico para se manter em pé, sobretudo ao chegar o final do dia e, eu perguntáva à minha mãe, porque é que eles andavam tão devagarinho e ela respondia-me que tinham um doi doi nas pernas, depois, impelido pela curiosidade, ia como quem não-quer-a-coisa até à ponta do balcão e espreitava na tentativa de "topar" a ferida, mas os gajos eram espertos, estavam sempre de calças e sandális, ou então com uns sapatos velhíssimos, onde de um buraco feito de lado, lhes saía o famigerado joanete. Bom, este comentário já vai longo e, urge termina-lo, para isso vou aludir à classe mais representativa de longevidade, os funcionários públicos. O governo, sempre atento, percebeu essa "qualidade" e rápidamente estendeu o prazo de idade mínima para a reforma, passando para os 65 anos e, quem sabe num futuro próximo para os 70 ou 80. Não ficarei surpreendido se o governo em breve nacionalizar as empresas funerárias e ficar o detentor exclusivo do negócio, isso é que vai dar "bago" com fartura.
Talvez o que nos leve a ser mais saudáveis e morrer o mais tarde possível tenha resposta nesta palavra: desafios. Fazer desafios e responder a desafios.
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