Foram hoje conhecidas as chamadas “estimativas rápidas” do Eurostat para o crescimento do PIB nos países da União Europeia no terceiro trimestre de 2007. Há resultados para apenas 11 países, mas os maiores (Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha) já são conhecidos, pelo que o resultado preliminar agora apurado será já muito próximo do final. Para Portugal, o cálculo foi apresentado pelo INE. Em minha opinião, devemos reter os seguintes aspectos dos números hoje anunciados:
1. Em termos homólogos (isto é, comparando o terceiro trimestre de 2007 com o mesmo período de 2006), Portugal cresceu 1.8%, a UE-27 2.9% e a Zona Euro 2.6%. O registo português é o pior de entre os 11 países já conhecidos. E como a maioria dos países por apurar é de leste – que costumam crescer bastante mais do que nós – não me surpreenderia que, mesmo entre os 27 ficássemos com o pior desempenho.
2. Face ao trimestre anterior, Portugal estagnou: crescimento de 0%. Na UE-27 tivemos 0.8% e na Zona Euro 0.7%. Mais uma vez, o nosso registo foi o pior de entre os países já apurados e, como sucede no crescimento homólogo, creio que também face ao trimestre anterior nos situaremos na cauda da Europa quando todos os países forem apurados.
3. Foi, portanto, mais um trimestre em que os portugueses ficaram mais pobres face aos seus congéneres europeus. Continuamos a divergir da Europa, isto é, a atrasar-nos face à média europeia. A ver a nossa vida a andar para trás.
4. De acordo com o INE, o nosso crescimento nos dois trimestres anteriores foi revisto em alta; e dois trimestres de 2006 foram revistos em baixa. No entanto, apesar de o resultado na primeira metade deste ano ter sido revisto para cima, isso não apaga o mau desempenho da nossa economia no terceiro trimestre, em que desacelerámos claramente, enquanto a Europa acelerou…
5. Como o INE também mostra, em ambos os trimestres anteriores foi sobretudo à custa das exportações que o crescimento foi revisto em alta – o que é bom, mas atenção, deixa-nos ainda mais vulneráveis face à incerteza que continua a caracterizar a economia mundial (crise do mercados de crédito e financeiro). Mas também o consumo público contribuiu para esta revisão em alta – o que é preocupante e revela que o Governo não tem controlado a despesa pública como deveria estar a fazer. No entanto, o pior mesmo foi a revisão em baixa do investimento (que o INE não quantifica). É que sem uma recuperação do investimento, não conseguiremos crescer a um ritmo maior e se forma sustentada.
Não vejo, assim, motivos de contentamento na análise destes dados – ao contrário do Primeiro-Ministro, que achou esta informação estatística “muito positiva”. Apetece perguntar: em que mundo vive o PM? Terá sido informado de como compara o nosso crescimento com o resto da Europa? Não se apercebeu que fechamos o pelotão europeu e temos todos os outros países à nossa frente? Ou terá dificuldade em admitir que a sua governação tem contribuído – e de que maneira – para a manutenção desta pobre e triste situação?!...
5 comentários:
Pergunta: Como é que um crescimento económico de 1,8% gera um crescimento da receita fiscal de 8%?
Citando novamente o Berardo: "HELLO!?!?!"
Caro Dr.Frasquilho
Mais uma vez apreciei muitíssimo a forma como apresenta estes seus artigos, pois é bom de ver, " põem a careca à mostra" de quem sistematicamente se recusa a verificar com seriedade profissional - admito que o Sr. Primeiro Ministro tenha didficuldades em lidar com estas matérias - a conjuntura macro-económica portuguesa, sem demagogias e sem subterfúgios de origem política e pessoal. Por sinal, ouvi há pouco o Sr. Primeiro Minitro acentuar com pompa e circunstância a possibilidade, para ele uma verdadeira certeza desde já - de alcançarmos os dois por cento na perspectiva de aumento do nosso enfraquecido P.I.B. Embora os que alguma coisa sabem sobre estas matérias não o possam levar a sério, é mais uma " boutade ", apetece-me formular uma pequena pergunta: quando é que acaba a campanha de intoxicação da opinião pública, levada a efeito com uma desfaçatez imperial?.
Caro Antoniodasiscas, muito obrigado pelos seus comentários; espero que, de facto, os comentários do PM possam ser desmascarados - bem o merece, por tanta propaganda e intoxicação!...
Caro Tonibler: trata-se do aumento de impostos (sempre, com este Governo!) e do combate à fraude e evasão fiscais - que, creio, ainda tem margem para prosseguir nos próximos anos. Daí que, mesmo com crescimento baixo, as receitas fiscais não parem de aumentar e de registar subidas assinaláveis de uns anos para os outros. Embora, claro, com fraquíssima correlação com o crescimento económico!...
Caro Miguel,
Impossível. Além de que está a contrariar tudo o que tem dito nos últimos meses.
O combate à fraude fiscal não gera mais receitas, simplesmente apanha o imposto mais cedo. A fuga retira dos impostos sobre o rendimento para os colocar no consumo, com vantagens para o fisco, até.
A razão é que 1.8% é o crescimento da economia formal, enquanto o crescimento da receita fiscal inclui tudo. A carga fiscal já é tão elevada que a economia já executou os seus mecanismos de defesa. 1.8% já não quer dizer nada relativamente à real economia portuguesa, apenas àquela fracção que ainda se relacciona com o estado e reporta a realidade ao INE
Bem observado por Tonibler.
Caro Miguel Frasquilho - permita-me que discorde da expectativa das receitas fiscais continuarem a crescer.
Sou um pequeno empresário e sinto estes assuntos com maior proximidade. Os aumentos da receita fiscal vêm na sequência do primeiro impacto do aperfeiçoamento da máquina fiscal, mas de seguida ficará o deserto. As finanças estão a secar a economia. E pelo que sei, mas V.Exa. poderá confirmar, as dividas fiscais estão a crescer, o que poderia ser considerado contraditório face à eficácia de máquina fiscal. Mas não, não há simplesmente dinheiro! Acabou!!
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