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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Arrefecer a engrenagem!...

No pouco que consegui ver do Prós e Contras de ontem, aprendi coisas verdadeiramente essenciais sobre a educação nacional.
Logo para começar, um investigador convidado, para mais catedrático, veio ensinar-me que essa noção de escola que aprova, reprova ou, mais modernamente, retém, está ultrapassada. Na escola moderna deve-se é falar de promoção. Os alunos têm que ser promovidos!... Foi a primeira lição: toma e vai-te deitar!...
Não explicou a que é que os alunos devem ser promovidos, mas não faz mal, eu também não entenderia facilmente…Mas parece-me uma tese suculenta e politicamente muito correcta. Vai ter seguidores.
Depois, uma outra alta autoridade ensinou-me que a escola moderna e democrática deve ensinar mal os carpinteiros e bem os doutores. Segundo a elaborada tese, as disciplinas têm que ser dadas de acordo com o futuro profissional de cada aluno, assim como a exigência do professor tem que se adequar a esse mesmo perfil. Se um aluno vai para carpinteiro, o inglês deve ser dado de uma maneira mais rasteirinha e a avaliação pouco exigente; mas se o aluno vai para doutor, aí outro galo cantará, quer no modo como se ensina, como na exigência. Foi a segunda lição.
Essa Autoridade também não explicou como é que se marca, à partida, o futuro profissional dos alunos, mas também não faz mal, eu julgo que não viria a compreender.
Por último, um professor ensinou-me que todos os alunos de matemática deviam passar, pelo menos com a nota 3, isto de acordo com as orientações do Ministério da Educação deixadas na escola através de um Inspector, enviado especial do dito Ministério. De forma a evidenciar o sucesso escolar!...
Considerei então que a minha cabeça já esquentava no esforço de compreender tanta sabedoria e fui-me deitar…não sem antes passar a cabeça por água, para arrefecer a engrenagem!...

13 comentários:

António de Almeida disse...

-Há pouco nun programa de rádio, ouvi uma professora contestar o facto de ir ser avaliada por uma colega com menos tempo de serviço. Expliquem-me, mas não é isso a avaliação pelos pares? Se fosse objectivo avaliar pelo tempo de serviço, não voltaremos ás progressões automáticas? Claro que vai ser divertido observar o dr. Luis Filipe Menezes, representando o "seu PSD", talvez venha a propor PSD/ML, de braço dado com a CGTP nas manifs. Já agora, e que tal filiar os TSD na CGTP-IN? Já faltou mais...

pedro oliveira disse...

Pois meu caro o problema deste país é dormir pouco...Anda tudo com a engrenagem gripada!
Esperamos todos que as nossas crianças tenham ontem ido para a cama a horas, pois se vissem o programa, com aqueles exemplos de professores....Rico futuro nos espera.

Pedro Oliveira

vilaforte

Tonibler disse...

Fiquei a saber que os professores trabalham muito, são muito esforçados, todos sabem mais que a ministra, todos (individualmente) sabem o que é melhor para as escolas.
Mais uma vez, parece que a culpa é minha...

Tavares Moreira disse...

Não tive o privilégio de assistir a esse suculento programa televisivo,estive entretido com cousas bem menores.
Sem embargo, pelo magnífico testemunho de Pinho Cardão, constato que esse programa teve pelo menos uma importante vantagem: ficar-se a perceber que o problema não tem mesmo solução.
E, como é hábito dizer-se, o que não tem solução...solucionado está!

Bartolomeu disse...

N�o quero duvidar do que nos apresenta, caro Dr. Pinho Card�o, mas... n�o estar� o caro amigo a fazer confus�o e, julgando que assistia ao "Pr�s e Contras", estaria sim a assistir a uma com�dia do Mr. Been, ou do Beny Hill?
Olhe que hoje em dia, dado o conte�do dos programas, sobretudo das entrevistas e da categoria das opini�es do intervenientes, � f�cil equivocarmo-nos, sobretudo se o corpinho j� pede leito e os sentidos j� estiverem meio nublados.

Rui Fonseca disse...

Caro Pinho Cardão,

Sem contestar a tua perspectiva vou tentar demonstrar-te que a tua abordagem é errada, apesar da ironia bem conseguida. Para o efeito, escolho a perspectiva liberal que, estou certo, tu não enjeitas.

Vamos lá então. A questão da educação, num modelo simplificado, interessa, fundamentalmente, a quatro grupos sociais: empregadores, pais, alunos e profissionais.

Numa perspectiva liberal ninguém deve ser obrigado a aprender seja o que for. A escola deve ser frequentada por quem está interessado em passar pelas suas portas. Implicitamente, ninguém deve ser obrigado a provar as suas capacidades na escola. Os exames, numa perspectiva liberal, são destituídos de sentido.

Analisemos o comportamento dos diferentes grupos numa sociedade onde o ensino é um desejo e não uma imposição.

Se és um empregador ou utilizador de serviços, que fazes nestas circunstâncias? Precisas de um soldador? Se conheces um bom nas redondezas, convida-lo e ajustas a retribuição com ele. Se não conheces, promoves o recrutamento e submete-lo a provas. Quais? As que tu entenderes, que são as que reputas serem essenciais para o desempenho da função. E escolhes aquele que te parece oferecer a melhor relação capacidade/preço. É assim que faz o Pinto da Costa. Procura as melhores capacidades possíveis.( Acho que chegado a este ponto começas a estar de acordo comigo)

Precisas de um contabilista? Repetes o exercício.

Precisas de um médico? Recorres à associação de médicos que apresenta as credenciais e as tabelas que se conformam com o que pretendes.

Advogado, engenheiro, sapateiro, é a ti que compete avaliar os méritos de quem a cujos serviços recorres. Quem deve fazer os exames és tu.

O que é que se passa actualmente: Diz-se e repete-se que a rapaziada não sabe nada e de matemática ainda sabe menos. Diz-me: sabes de alguma empresa ou instituição pública que submeta os indivíduos que recruta a provas de matemática, por exemplo? Eu não conheço.

Assim sendo, mais vale uma boa cunha que uma boa nota a matemática. Aliás, uma boa nota a matemática pode ser um desastre para o anormal. Porque sendo bom a matemática pode ser tentado a prosseguir uma carreira de cientista e, neste caso, a probabilidade de ter de emigrar é elevada.

Por outro lado, facilmente se demonstra que não pode haver bons ministros da educação. Não há, não pode haver nenhum espécie humano capaz de se aguentar com cento e tal mil indivíduos na época do SMS. É virtualmente impossível sair-se um ministro airosamente rodeado de tanta gente, sem contar com o pessoal administrativo e auxiliar.

Se és pai, e te interessas pelo futuro dos teus filhos, como te comportas numa sociedade sem exames escolares? Procuras a escola que te dê garantias do menino ou da menina passarem nas provas que tem de prestar perante o empregador.

Se és aluno, depressa concluirás que se não estudas não passas no exame do empregador.

Admitamos agora que, por razões que não vamos aqui discutir, se mantém o ensino público com as actuais dimensões. Como é que isto funciona?

Funciona, descentralizando. O ensino, com exclusão do ensino superior, deve ser da responsabilidade dos municípios, competindo ao Ministério dar apenas normas orientadoras gerais.

Devem ser os municípios a gerir o ensino básico e secundário com a participação dos pais dos alunos. Estes, como clientes, têm de ter uma posição decisiva na apreciação da capacidade dos professores. Sem exames, o problema do facilitismo não se põe. O trade off só existe quando há possibilidade de troca. Sem exames deixa de existir. Claro que se os órgãos de gestão, que incluem os pais, decidirem fazer exames, os exames far-se-ão, mas não podem impedir o aluno de passar para a classe seguinte, se assim o entender, ele ou o pai dele.

E não me venhas dizer que é uma tonteria submeter à apreciação dos pais os méritos dos professores porque em regime liberal "puro", isto é, sem ensino público, a escolha do colégio para onde vai o menino é feita, e só feita, pelos pais dele. Com base em quê? No mérito dos professores.

Como se retribuem os professores? Por decisão/negociação com os órgãos municipais de gestão do ensino.

Quem financia o ensino público? O Estado, maioritariamente através dos impostos locais (que devem crescer e serem cobrados localmente, reduzindo-se na mesma medida os centrais) e subsidiariamente pelo governo central por razões de coesão social. Um liberal a sério não pode esquecer que os outros existem.

Salvo melhor opinião.

Anthrax disse...

"Mes chéres amis",

Por vezes dou comigo a pensar se, realmente, vale a pena abrir a boca ou se devo fazer as malitas e bazar daqui para fora antes disto tudo dar o berro.

Eu não vi o Prós e Contras porque, simplesmente, me recuso a ver e a ouvir mais estupidez. Vejo-a e oiço-a todos os dias durante o horário de trabalho e como tal, reservo-me o direito de não a ouvir, nem a ver, fora do mesmo.

Diz o senso comum, para quem o tem, que as questões relacionadas com o tema da avaliação são sempre sensíveis. Ninguém põe em causa o facto de ser necessário avaliar, mas pode colocar-se em causa o modelo que se pretende utilizar e a idoneidade, a competência e a experiência de quem a executa. Por isso, caro Antonio Almeida, quando diz que ficou espantado por uma professora se mostrar indignada com o facto de ter de ser avaliada por pessoas (seus pares) com menos anos de serviço do que ela pergunto-lhe, se gostava que fosse um puto - assim saidinho da Universidade - a avaliar o seu trabalho de uma vida? Há coisas fantásticas não há? (NOTA: Eu posso dizer estas coisas porque não pertenço à classe dos professores. Sou puramente técnicista).

Camarada tóni... :))... consigo não vou discutir porque vamos marrar na certa.

Dr. TM, os problemas são as pessoas que os criam. Não sei quantos Sistemas Educativos é que os presentes conhecem, eu - por força da profissão - conheço alguns e posso garantir-vos que o nosso Sistema educativo tem coisas muito positivas quando comparado com outros. O problema não está no modelo, está na gestão terrorista que fazem do mesmo. Tal como noutras áreas de actividade, também na educação, há falta de visão estratégica e falta de estratégia e quando isto acontece as consequências são bastante previsiveis; i.e desperdício de recursos e uma guerra perdida.

Caro Rui Fonseca,

Gostei do seu discurso. :) Os americanos chamam-lhe ensino progressista e os resultados são francamente maus. Felizemente, depois há as instituições privadas que se estão um bocado nas tintas para a questão do progressismo.

Sobre o modelo, devo dizer que é deveras interessante visto que ensina os alunos a pensar sobre nada e nada é sempre um bom tema sobre o qual se pensar. É o famoso sistema do "centrado no aluno", é uma ideia fantástica porque as escolas deixam de ser escolas e passam a ser uma espécie de instituições psiquiátricas de baixo custo.

Rui Fonseca disse...

Terrível Antrax,

Deve ter entendido mal o meu desafio, porque é isso que proponho: um desafio a olhar a educação sem meter no assunto o Ministro.

A realização ou não realização de exames deve depender fundamentalmente daqueles que são os grupos interessados: empregadores, pais e alunos.

Se estes grupos decidirem que devem ser realizados exames, façam-se os exames. Se decidirem que deles depende a passagem para o nível seguinte, que assim se faça.

O que não funciona, não poderá nunca funcionar é o alheamento quase completo daqueles que deveriam ser os principais interessados na qualidade do ensino.

Com efeito, os empregadores não são exigentes nas admissões que fazem (de um modo geral, claro) a começar pelo Estado no recrutamento de professores, os pais não qurem saber de qualidade, querem é que os filhos passem(há excepções, mas devem ser relativamente poucas) e os alunos querem é que o setôr não os chateie (salvo raras excepções).

Ora um sistema de ensino para se dignificar precisa de um requisito fundamental: exigência. Ora essa exigência não pode ser pedida apenas, nem sobretudo, ao Ministério, sob pena de o Ministro, qualquer Ministro ser vaiado e ridicularizado. Não houve, até hoje, nenhum Ministro que em democracia, em Portugal, tivesse escapado a esta sina.

A questão da avaliação de professores (que eles maioritariamente, notoriamente rejeitam) só é objecto do sururu que para aí vai porque os principais interessados, e sobretudo os empregadores e os pais, constituem uma maioria silenciosa e inconsciente.

Anónimo disse...

Concordo inteiramente com Pinho Cardão!
A escola "nova" cheia de ideologias pedagógicas delirantes e completamente fora da realidade é aquela que existe hoje em Portugal.

Esta escola "do faz de conta" em que um professor para reprovar um aluno tem que preencher dezenas de formulários soviéticos emanados de uma coisa a que se chamou ministério da educação, é a escola do facilitismo, do laxismo, da preguiça e da indisciplina.

Esta ministra é apenas aquela que consegui OBRIGAR todos os professores e todas as escolas a ADOPTAREM as pedagogias delirantes do "eduquês".

Esta ministra, através do novo estatuto docente, do novo estatuto do aluno e através desta avaliação docente, vai fazer com que Portugal estatisticamente passe a figurar no topo dos países da OCDE no que ao ensino diz respeito!

Mas os alunos portugueses terão mais conhecimentos e como consequência mais competências? Não, claro que não!

Num país onde apenas existem VERDADEIROS exames no 12º ano e mesmo esses o ano passado foram de uma facilidade difícil de imaginar e muito menos acreditar, como podemos saber o que verdadeiramente sabem os alunos?

Tenho muita pena em dizer isto, mas não acredito que aquilo que tem que ser feito no ensino alguém o faça. Porque aquilo que tem que ser feito é demasiadamente impopular e portanto continuaremos como até aqui, ou seja sempre a facilitar e sempre a criar legislação tonta de forma a obrigar os professores a melhorarem as estatísticas nacionais.

Basta ler o artigo seguinte para se perceber a enormidade do problema: http://ensinarnaescola.blogspot.com/2008/02/o-populismo-do-eduqus-ii.html

Anthrax disse...

Caro Rui Fonseca,

Eu não o entendi mal :))... apenas considero que aquilo que propõe não é um desafio. É o apocalipse.

Depois das notícias que vi ontem, estou mesmo convencido que aquilo que se pretende não é uma escola, é um aterro sanitário para despejar os putos das 9h às 17h, com a agravante de se esquecerem que há pessoal que trabalha por turnos e logo dava jeito que a escola tivesse, também, serviços nocturnos.

E é assim que se pretende promover o envolvimentos dos encarregados de educação na vida escolar dos seus pimpolhos.

Tirando isso, o Anti-Eduquês tem toda a razão.

Fliscorno disse...

Faço minhas as palavras de José Luiz Sarmento (link):

«A tragédia da Ministra: não é ter contra si muitos professores. É ter contra si os melhores.»

E já que vamos em aforismos, acrescento: quando muitos dizem que estamos errados talvez o estejamos de facto.

Anthrax disse...

Cara Raposa Velha,

Não resisti. Tenho que dizer!

Também o Ícaro dizia ao Dédalo que ele estava errado. No fim, esborrachou-se cá em baixo que foi uma beleza... tiveram os "bombeiros" que andar a raspá-lo, do chão, com umas pázinhas.

Fliscorno disse...

Anthrax, é justo :-)
Salvaguardo-me por ter frisado o muitos.