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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Pão sobe mais 15%: que felizes somos!

Notícia de cabeçalho em vários diários esta manhã, o anúncio de mais esta subida no preço do pão.
Frequentador diário de várias modalidades de transporte público, ouvi já hoje agrestes comentários de leitores menos conformados, exprimindo sua indignação por esta “subida” (aparente, pelo menos) do custo de vida.
Este episódio faz-me pensar na ingratidão de alguns concidadãos que ainda não terão percebido bem que, qualquer que seja a subida dos preços, temos felizmente garantia de que a inflação nunca ultrapassará 2,1%...em 2008.
Assim, esta subida do pão é irrelevante para o poder de compra dos cidadãos, uma vez que este depende da evolução relativa da inflação e do rendimento disponível. E se quanto à primeira podemos dormir descansados porque o respectivo valor está devidamente fixado, também existem muito boas perspectivas de aumento do rendimento disponível, uma vez que (i) temos garantido um crescimento (de estaca) do PIB de 2,2% ; (ii) sabemos que as taxas de juro irão baixar.
E convém ainda lembrar que os impostos não vão subir – até se sabe que em cerca de duas dezenas de concelhos do País o IRS irá baixar.
Mostra-se de todo o interesse a promoção de campanhas de esclarecimento das populações, para que os cidadãos percebam melhor estes benefícios que temos vindo a acumular. Aqui está uma missão certamente gratificante - e de alto valor acrescentado - para o marketing oficial que às vezes se entrem em cousas menores...
Que felizes somos!

13 comentários:

invisivel disse...

Este post, lembra-me uma conversa que há dias tive com a minha mulher a propósito do pão.
Após ter comprado umas "carcaças", comentou que o pão estava demasiado caro, e que não era justo porque havia pessoas que não tinham dinheiro...
Recordei-me então de, há uns anos atrás, ver habitualmente junto aos caixotes do lixo, muito pão, provavelmente deitado fora por uma classe média que naquela altura emergia. Hoje já não vejo pão no lixo...

Ruben Correia disse...

O Estado é o paizinho e o paizinho é que sabe (e manda!). Que felizes somos por ter um paizinho destes não acham? Não interessa o que se passa lá fora da porta, interessa apenas o que ele nos diz, e assim vivemos mais tranquilos e satisfeitos na nossa doce ilusão.

Tonibler disse...

Este post foi desnecessário porque a nossa felicidade já tinha sido decidida, na generalidade, na semana passada em conselho de ministros.

Mário de Jesus disse...

Caro Dr. Tavares Moreira

Para além do pão também o leite viu o seu preço subir durante as últimas semanas. Estes 2 produtos representam as componentes mais básicas e fundamentais da alimentação dos portugueses, aos quais as pessoas de mais parcos recursos ainda conseguiam chegar. Daqui para a frente como será? Relembro o que me foi dito recentemente por um amigo espanhol que passa algum tempo em Portugal e que ficou surpreendido e incrédulo pelo facto de um cabaz de compras de bens de primeira necessidade estar acima dos preços praticados em Espanha na ordem dos 20% a 30%. Ele próprio, dono de um estilo de vida muito acima da média nacional, chega a regatear o preço dos legumes no mercado pela absurdez dos mesmos! Posto isto, parece-me que teremos então que refazer os cálculos da taxa de inflação, ou não será?

André disse...

Como a maior parte dos portugueses começa a ficar FARTO, deste tipo de atitudes governamentais.

Já chega de tentar enganar as pessoas com as previsões de inflação. Toda a gente sabe que a inflação estará entre os 2,3% e os 2,4%. No entanto partem para as negociações com previsões de 2.1%. Para ser sincero já vi uma quarta república mais longe, e mais me preocupa porque tal cenário pode trazer uma idêntica à 2ª. Não estou a dar uma de caustico, mas se nos pusermos no lugar do português de classe média. De há 5 anos para cá quanto ganhou em poder de compra? Quanto paga de impostos?

Saudações Republicanas

Bartolomeu disse...

Na aldeia onde moro, um agricultor vende um kilo de grão de trigo por 20 cêntimos. Levando esse grão ao moleiro, ele cobra-me 10 cêntimos por cada kilo de farinha moída e peneirada. Fica para si como o farelo, que me vende a 20 cêntimos se eu o quiser para, juntamente com folhas de couve, ou cabeças de nabo, ou beterraba, alimentar galinhas, suinos, perus, patos, etc. Com um kilo da farinha peneirada, cozo um pouco mais que um kilo de pão. Para cozer esse pão, preciso de aquecer um forno e para isso colho nas matas próximo, os ramos de pinheiro secos caídos, assim como pelos baldios, ramos de carrasco, planta resinosa, que se regenera de um para outro ano e que, para alem de arder com facilidade proporciona um aroma especial.
Resumindo; um quilo de pão, custa-me a módica quantia de 30 cêntimos o kilo. Porem, este kilo de pão permite-me deixar de gastar outras quantias, por exemplo na área medicamentosa, pois são um perfeito complemento para os comprimidos de bravo esmolfe que o caríssimo Prof. M.C., prescrevia algum tempo atrás.
Para quem ainda não experienciou, aconselho a provarem a cumplicidade do pão com qualquer fruto.
É a isto, caríssimo Dr. Tavares Moreira, que eu chamo economia... mas isto sou eu, que não conheço uma letra do tamanho d'um camboio.

Anthrax disse...

Caro Bartolomeu,

Como sempre, fantástico. Eu também nunca vi uma letra do tamanho de um combóio... muito embora, se considerarmos o conjunto de letras que compõem a palavra «Hollywood" na sua localização geográfica habitual, penso que são capazes de ser do tamanho de um combóio.

A mim, não me aborrece, fenomenalmente, o aumento do preço do pão embora também tenha preocupações por aqueles que têm dificuldades em adquiri-lo. A mim, o que me aborrece, fenomenalmente, é o facto de me quererem fazer passar por parvo e a história do pão é um bom exemplo disso.

Não é normal quererem veícular a ideia de que a inflacção é de 2,1/2/3 ou 4% e depois tudo resto aumenta de forma absolutamente desmesurada.

Não é normal propor-se um aumento de 2,1% e a malta ficar impávida e serena numa onda de «no pasa nada».

Uma vez, numa aula, dizia-nos o Prof. João César das Neves, que Portugal era o único país no mundo em que os trabalhadores (e a população em geral) perdiam poder de compra e os Sindicatos continuavam na onda do «no pasa nada». Recordo-vos, nos EUA, os argumentistas estiveram 3 MESES em greve (chegaram a acordo ontem, ou lá o que foi). Não foi 1 dia (com direito a fds prolongado). Foram 3 MESES. E toda a gente sabe que nos EUA, se não se trabalhar, não se ganha dinheiro. Acontece que lá, os Sindicatos não fazem parte do Sistema, não é verdade? Logo, têm um poder negocial muito mais forte.

Mais, ainda a propósito do pão, penso que quem deve estar a pular de contentamento com este aumento devem ser os ecologistas, porque o pão pode estar mais caro mas, o mais importante, é que o ambiente está mais limpo graças às fontes alternativas de combústivel (tipo produção de biodiesel por exemplo). Ora quando se começa a encorajar a produção deste tipo de combustível é certinho que o preço das matérias-primas vai aumentar e se essas matérias-primas são as mesmas que no fim originam a bela da "carcacita", pois é normal que o preço aumente.

Não vou falar mais de pão. Chega.

invisivel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
invisivel disse...

Mas que "PÃO"!
Gostei caro Antrhax. Tem mesmo muita graça. De facto as letras garrafais, HOLLYWOOD, são do tamanho dum comboio; essas até eu via quando era míope...
:))))

António de Almeida disse...

-Então agora a inflação e o crescimento passaram a ser decretadas? Quando é que os nossos governantes aprendem, esta também serve aos comentadores, que a economia não precisa ser objecto de decisão, funciona por si. Não estou obviamente a falar do autor do texto, o qual percebi, e estou de acordo com o mesmo.

Bartolomeu disse...

Car'Anthrax, sem pretender contrariar a sua opinião, que é obviamente lógica numa optica puramente economicista, gostaria no entanto de lhe colocar um pequeno problema... existencialista e nada, nada mesmo Hollywoodesco.
Imagine car'Anthrax, que o governo passaria a aumentar sistemáticamente o preço do pão, tornando-o tão estupidamente caro, que nem a um cidadão de classe média seria acessível.
De que modo, sem ser fazendo-se passar por parvo, acha que seria possível, num contexto assim, inverter esse aumento e o pobre cidadão, retomar a hipotese de comer pãozinho?

Anthrax disse...

Meu querido Bartolomeu,

Pois a questão é: Não é o Estado quem define o preço do pão.

Nem tem de ser. Nem deve ter nada a ver com isso.

No entanto, também não deve vir com delírios de inflações para o resto da malta, até porque o pão não é a única coisa a subir.

De qualquer forma, não me apetece falar do Estado e muito menos do governo, pois cada vez que isso acontece fico com um intenso desejo mórbido de os ver explodir em directo (no sentido literal da coisa. Tipo: BUUM!).

Fernando Antolin disse...

There are three kinds of lies: lies, damned lies, and statistics.
Disraeli, acho eu, não se aplica mal cá ao "rectângulo".