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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

“Loucuras científicas”...

Qualquer fruto ou vegetal é passível de ser transformado em sumo, até a beterraba. Nunca bebi, mas presumo que deve ser doce, no mínimo. O que eu não sabia é que bebendo meio litro de sumo de beterraba por dia se consegue baixar a pressão arterial! Aqui está mais um exemplo da medicalização dos alimentos.
Esta notícia fez-me recordar o uso “científico”, anunciado recentemente, das maças bravo de esmolfe para a prevenção das doenças cardiovasculares e do cancro!
Os investigadores que concluíram pelo efeito benéfico do sumo de beterraba na redução da pressão arterial publicaram o artigo numa prestigiada revista científica e invocaram a presença dos nitratos como sendo a chave para explicar o fenómeno. Até aqui eram os antioxidantes existentes nas frutas e legumes os responsáveis por muitos benefícios associados a estes tipos de alimentos.
Mas como é que os nitratos baixam a pressão arterial? Segundo os autores os nitratos ingeridos são transformados em nitritos na saliva, os quais, por sua vez, são deglutidos e transformados no estômago em óxido nítrico ou então absorvidos sob aquela forma. Desta forma poder-se-ia explicar o efeito benéfico numa situação tão comum como é o caso da hipertensão arterial.
Após ler esta notícia, lembrei-me de muitas experiências que, em tempos, tive oportunidade de fazer a propósito dos efeitos da ingestão de água enriquecida em nitratos e na sua transformação em nitritos na saliva. Tudo por causa das nitrosaminas, substâncias altamente cancerígenas e que resultam da interacção dos nitritos com as aminas alimentares. Na altura, verifiquei que as pessoas que bebiam água enriquecida em nitratos apresentavam concentrações significativamente superiores de nitritos na saliva. No entanto, ocorriam situações muito curiosas. Alguns indivíduos, que bebiam a mesma água, chegavam a apresentar concentrações extraordinariamente elevadas. Para explicar a situação - são as bactérias que vivem na boca as responsáveis pela transformação dos nitratos em nitritos -, especulei que os que tinham má higiene oral teriam mais bactérias e, consequentemente, produziam mais nitritos. De facto, foi possível verificar diferenças marcadas na higiene oral entre os indivíduos estudados. Face às novas evidências, redução da pressão arterial do sumo da beterraba, por obra e graça dos nitratos, então, será de esperar que os que não tratam da boca e dos dentes e que comam enchidos, salsichas, carnes enlatadas (ricos em nitritos) ou bebam água poluída em fertilizantes tenham níveis mais baixos de pressão arterial e sofram menos de enfarte e de acidentes vasculares cerebrais!
Aguardo uma campanha contra a hipertensão arterial apelando a maus hábitos de higiene oral ou convidando os cidadãos a consumir sumo de beterraba. Se não gostarem do sumo, sempre podem optar por beber água rica em adubos ou ingerirem produtos que contenham nitritos.
Enfim! loucuras “científicas”...

6 comentários:

Tonibler disse...

Minha mãe, senhora de 65 anos e alta pressão arterial crónica, colestrol nos píncaros, aqui há uns meses veio-me com a história do sumo de beterraba. Disse-me que tomou medicamentos toda a vida e a única vez em que os indicadores baixaram foi depois de uma semana com o "tratamento" do sumo de beterraba. Eu disse-lhe que isso deveria ser de a beterraba ter alguma coisa que engana os testes, que tal não era possível.
Quer dizer com este post que a minha mãe tinha razão???

Massano Cardoso disse...

Ah!Ah! Parece que sim! Mas tem de beber grandes quantidades diariamente.

Suzana Toscano disse...

Caro Massano cardos, temos então que concluir que, para consertar de um lado, temos que estragar de outro? Ter uma tensão estãvel mas ser desdentado...

Massano Cardoso disse...

Cara Susana

Loucuras! Loucuras! Mas vá lá, não deixem de tratar dos dentes que o resto também é tratável...
Certos achados são importantes para compreender determinadas dinâmicas. No caso concreto, os nitratos das beterrabas poderão ser úteis, mas correm-se outros riscos nada despiciendos, tal como a produção de substâncias cancerígenas, por exemplo.
No meio disto tudo, o problema assenta na informação parcial e avulsa que pode originar alguns desvios ou mau usos da mesma. Por este motivo terá que haver uma certa “contra-informação” de modo a posicionar certas afirmações, mesmo socorrendo de situações um pouco caricatas. Se funcionar, então, sempre é um pequeno contributo...

invisivel disse...

Caro Professor Massano Cardoso:
Era só o que nos faltava agora! Conviver deliberadamente com bocas cheias de micróbios!?
Não, prefiro a hipertensão e o colesterol..., dá-se-lhes com os comprimidos e vai-se vivendo!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso
Já estou como o nosso Caro invisível! Prefiro ter algumas dessas doenças do que andar com a boca desdentada e atacada por bactérias horríveis! Uma boca assim tinha que estar sempre fechada. Seria uma coisa muito triste, não falar e não sorrir para não assustar as pessoas...