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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Chegaram as "quotas masculinas"...


Chamou-me a atenção o título do artigo do jornal Sol do passado fim-de-semana “Maria José Morgado quer quotas masculinas”. Chamou-me a atenção por duas razões, a primeira por falar de quotas masculinas e a segunda por ser quem é alertar para a necessidade de quotas masculinas.
Fui, então, ler a notícia do El País, publicada em 28 de Janeiro, Maria José Morgado chama a atenção para o facto de na magistratura as mulheres estarem em larga maioria e de nos concursos de ingresso a proporção ser de dez mulheres por cada homem. E acrescenta que se a situação continuar assim fará falta uma quota masculina. Não sabe se é bom ou mau a magistratura estar nas mãos nas mulheres, mas considera que uma justiça na mão de mulheres pode dar problemas.
É interessante reflectirmos sobre este “problema” colocando duas questões. Numa primeira questão, trata-se de compreender porque é que os homens não concorrem, pura e simplesmente, à magistratura?
Porque é que os homens não querem ou não gostam de ser juízes? Será porque se trata de uma profissão mal paga quando comparada com outras actividades que exigindo uma licenciatura em direito remuneram melhor? Lembrei-me que poderia ser o caso dos advogados de “negócios”. Realmente esta categoria de advogados tem vindo a conhecer um grande crescimento e os homens predominam nas sociedades de advogados bem posicionadas nesta vertente do exercício da advocacia. Lembrei-me também, como acontece no acesso a outros ramos profissionais que exigem elevados desempenhos, que os homens por estudarem em média menos e em média por serem menos aplicados desistem de concorrer à magistratura. É que as mulheres são de facto mais estudiosas, mais assertivas, mais disciplinadas e mais determinadas e como tal acabam por ter mais facilidade em obter desempenhos superiores.
E porque é que as mulheres querem ser juízas? As mulheres são muito práticas e inteligentes, percepcionando muito bem a necessidade de compatibilizarem a sua vida familiar com a sua vida profissional e como tal orientando as suas escolhas profissionais para carreiras em que a possibilidade de o conseguirem com êxito é maior. As mulheres são naturalmente “compradoras de tempo” e portanto procuram soluções profissionais que lhes deixem tempo para despenderem mais tempo com a sua vida pessoal e familiar. Talvez a carreira da magistratura melhore esta combinação.
Por outro lado, as mulheres estão geneticamente habituadas a governar a casa e a tomar conta da família o que implica autoridade, organização, disciplina e muita sensibilidade. Ora encontramos aqui muitas semelhanças nas competências que justamente se revelam também necessárias na magistratura. Numa palavra, “mandar” é algo que as mulheres sabem fazer.

Numa segunda questão, trata-se de avaliar se uma magistratura feminina pode ser um problema e porquê? Não tenho informação nem formação que permitam pensar que poderemos ter problemas no exercício da magistratura porque faltam homens. O que sei, ou penso saber, é que as mulheres e os homens têm um olhar diferente da realidade, razão porque é vantajoso que na liderança das organizações, não apenas no topo mas em lugares de gestão operacional, estejam presentes de forma equilibrada as diferenças que distinguem homens e mulheres, porque as mesmas se podem complementar. Nas empresas, por exemplo, a predominância naqueles lugares continua a ser masculina. Já na medicina, as mulheres começam a ganhar maior peso.
Será que devemos actuar nas quotas, sejam femininas ou masculinas? Não creio. Ou devemos antes criar condições, criar incentivos que permitam na base corrigir situações que potenciem e conduzam porventura a excessos que não ajudam a desempenhos ricos na variedade de sensibilidades e de olhares variados sobre o mundo!
Confesso que não tenho ainda uma reflexão bem clara a este respeito. Quotas de género, um tema que ainda vai dar muito que pensar...

13 comentários:

Bartolomeu disse...

Este seu texto, bastante apetitoso, cara Margarida, contem um verdadeiro convite à reflexão.
Desde sempre que entre competências masculinas e femininas se criaram diferentes estigmas que, adicionados a estereotipos perniciosos, foram ditando (naturalmente) as discrepâncias que se verificam quando observamos as taxas dos e das que ocupam cargos profissionais específicos.
Tal como a Margarida refere, ha efectivamente uma diferença entre a forma como um homem e uma mulher olham e entendem uma determinada realidade. Não podemos ser peremptórios na constatação dessa forma diferente, pois é evidente também, que dois homens ou duas mulheres, avaliam normalmente de forma diferente um do outro, o mesmo problema ou questão.
Porém, o tema do presente post, remete-nos ainda para outra questão que tem a ver com o enquadramento no código legislativo, da matéria a julgar. Obviamente que a leitura da lei é só uma, mas todos sabemos que a forma como é aplicada pode ser defendida, atenuada, e, ou ampliada. Nesse sentido, cara Margarida, estou convicto que este número maior que a Drª. Morgado identifica na magistratura, trata-se somente uma estratégia masculina.
Como assim?
Passo a explicar...
Como a cara Margarida refere, a mulher possui uma aptência genética para tomar conta da família, é efectivamente uma constatação, para além de que, é ela que zela pelo equilíbrio físico e espiritual do agregado familiar, do clã. Nesta prespectiva, o homem, cuja aptência é direccionada para a sustentação material, para o proporcionar de conforto e para a protecção física, é dotado de uma aptência estratégica. É! O homem é um estratega, idealiza a forma de capturar o animal selvagem que irá garantir o sustento da família, prevê o clima e a altura certa de plantar, repara a habitação para que, chegando o tempo invernal, estejam todos em segurança e confortáveis. Resumindo, o homem é ambicioso, a mulher, como a cara Margarida refere, é racional. O homem projecta, a mulher articula.
Daí cara Margarida, o homem reservar para a mulher, os cargos de magistratura, num projecto que o leva à estratégia da manipulação ;))) (agora é que o Bartolomeu estragou a pintura toda).
Vamos lá concluir isto, antes que me espalhe totalmente em considerações, no mínimo esquisitas.
Bom, sinteticamente, a ideia que deixo a pairar, é a seguinte: (vamos ver se consigo compor o ramalhete)
Creio que, para a magistratura, só pode ser benéfico que exista um maior número de mulheres. Mais, creio que a magistratura perderá alguma credibilidade se o número de homens, nesse cargo crescer.
(Agora vou ter de fundamentar esta afirmação, não é verdade? pois...)
Ora bem, esta afirmação, encontra fundamento, precisamente naquilo que atrás fica identificado como sendo as características masculinas e femininas e, se se deseja que a magistratura seja efectivamente representativa da justiça, aquela senhora de postura vertical, olhos vendados, que empunha a espada numa mão e a balança na outra, nunca poderá ter muitos homens nos seus assentos...
Isso mesmo!!!!
Não estamos a ver um homem de olhos vendados, capaz de estar quietinho com a espada, sem desafinar por completo a balança, ou estamos?
Eu não!
;))))
Desculpe cara Margarida, tanta palermice, a este seu admirador.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Confesso-lhe que gostei bastante da sua "palermice"! Sem dúvida que o tema se presta a reflexão e a diversas reflexões. E a sua é bem interessante. Brincando, brincando vai dizendo as coisas a sério, não é Caro Bartolomeu? E sem "estragar a pintura", a "compor o ramalhete" e a "fundamentar" tudo muito bem...
"Aquela senhora de postura vertical, olhos vendados, que empunha a espada numa mão e a balança na outra" é um símbolo que pelos vistos as mulheres estão mesmo a levar à risca, num exercício de equilíbrio que sabem muito bem fazer !

invisivel disse...

Cara Dra. Margarida Aguiar:
Esta diferença para menos na magistratura, do género masculino, penso que terá a ver com o facto dos jovens que acabam direito apostarem numa carreira mais "dinâmica" e mais promissora, em termos de remuneração.
Este desequilíbrio de que fala a Dra Maria José Morgado, acaba por ser benéfico para a justiça porquanto, não há mais justa condenação ou absolvição, do que a proferida por uma mulher! E falo muito a sério!
A mulher, além de outros excelsos dons, tem a particularidade de ser mais atenta, mais dedicada, mais humana, mais estudiosa e ponderada do que o homem. Um dia que eu vá a tribunal, por qualquer motivo, gostaria de ser julgado por uma mulher. Tenho a certeza que a sentença proferida seria a mais justa possível!
Para concluir: a magistratura assenta como uma luva nas mulheres.

antoniodasiscas disse...

Cara Margarida
Confesso que não esperava um tema destas, tão polémico, como acutilante, pois é sempre agradável sermos confrontados com assuntos que têm a ver e sempre o tiveram, com a equidade referente aos direitos e obrigações entre os sexos.E é aqui que a porca torce o rabo. Deixemo-nos de filosofias baratas, mas até aos confins do mundo, haverá pela certa, profissões que são naturalmente desempenhadas com muito mais proficiência por mulheres, da mesma forma que existem funções profissionais relativamente às quais dadas as suas características, os homens estarão mais bem dotados para as desempenharem. Mas tudo isto é, salvo melhor opinião,extremamente controverso e presta-se às maiores especulações. Pelo meio, entram a baralhar tudo, fenómenos sociais altamente rebarbativos,como é o caso da evolução do feminismo, com os seus famosos estádios interventivos e progressivos e da subordinação das sociedades em geral, por exemplo, a modas de todos os feitios e modelos, até relativamente ao exercício desta ou daquela profissão.Tenho para mim que à parte de algumas tarefas profissionais que não podem ou não devem ser exercidas,ou por homens, ou por mulheres, de uma maneira equilibrada, deve existir uma igualdade de oportunidades entre os dois sexos. O que me parece essencial e para aí, julgo, ter-se-á que avançar sem rodeios, é haver cada vez mais, e com grande evidência também nos serviços a cargo do estado, uma selecção que assegure o despiste das qualidades, do carácter e do temperamento dos interessados, à luz dos factores determinantes que caracterizam uma profissão.Talvez passasse a haver menos desastres de automóvel, se houvesse exames psicotécnicos sérios e credenciados para o efeito desejado. Ser-se juiz é um direito cívico? Qualquer pessoa tem direito a tirar o brevet de aviões? Lá ter tem, só que a maioria que o tenta, não possui todos as condições e condicionalismos físicos, sociais e psicológicos para tal. Nesta história de profissões, é bom não esquecer que existem umas de maior responsabilidade junto de terceiros, do que outras.

Suzana Toscano disse...

Margarida, enquanto a magistratura esteve vedada às mulheres, ninguém se preocupou com os desequilíbrios, com essa tal visão matizada de que agora a maria José Morgado se lembrou.Além disso, se olhar para a carreira diplomática acontece o mesmo, para os professores, para os médicos, para muitas áreas científicas, sobretudo biologia, ciências sociais, psicologia...Está bem, os homens preferem estar onde se gannha mais dinheiro, não me parece uma má opção, mas será só isso?Os homens estão a procurar os novos bastiões do poder, isso é que sempre foi determinante nestas escolhas masculinas, em geral, o poder e o prestígio, há poucos anos o dinheiro em si não conferia nem um nem outro. E talvez pudessemos pensar que há sectores que, mantendo embora o seu papel fundamental na sociedade, como obviamente é o caso da justiça, da educação ou das relações externas, eles são hoje menos conotados com o poder, porque são postos em causa, e socialmente menos prestigiantes. Sem dúvida muito menos do que ter muito dinheiro, muitos negócios e montes de bens de luxo.Por isso, quando os melhores concorrem, é para aí que vão. Digamos que a riqueza passou a ser o poder que comanda o mundo e que é visto como o mais digno de admiração e respeito... Não é uma questão de quotas, tal como para as mulheres chegarem onde querem também não é.Está à vista...

0:40:00

Tonibler disse...

Pronto, já não estrago a discussão ...

A justificação é simples. Primeiro como o sistema de leis portuguesas é cada vez mais ilógico vai-se adequando mais à forma feminina de pensar. Segundo as mulheres têm uma predisposição genética para serem juiz, uma vez que o martelo é uma espécie de mistura de martelo dos bifes e de rolo da massa. Terceiro, as salas do tribunal são salas particularmente adequadas a falarem pelos cotovelos. Quarto, com aqueles vestidos pretos quase até aos pés podem concentrar-se no juízo sobre os sapatos e os penteados das demais intervenientes. Quinto, não há qualquer exigência de manobra de maquinaria ou aparelhos com mais botões que um fogão.

Em resumo, os tribunais foram feitos para serem geridos por mulheres.

:)

Bartolomeu disse...

Tum...Tum...Tum...
Está aberta a sessão, vão ser lidos de imediato os autos, vaça favor Senhora escrivã.
Em dia tantos dos tantos de dois mil e não sei quantos, apresentam-se neste tribunal, perante Sua Excelência a Juiza Zorra de Fora, na qualidade de arguido, o Senhor Machista Chauvinista de Tonibler, acusado pelo crime de difamação e delação de preceitos, na pessoa do corpo magistral feminino da justiça portuguesa. O presente julgamento será efectuado sem a presença das vítimas, que estarão no entanto representadas, conforme procuração anexa ao processo, a folhas 956, páginas tantas, pelo advogado incorruptível, Sr. Bartolomeu Escâncio, portador da cédula profissional nº 1, inscrito na ordem sob o número de registo -1 (é dos da velha guarda).
Oiça-se então a acusação!

invisivel disse...

:)))))
Este tonibler é demais...
Descansem as senhoras aqui interventoras, porque pela maneira que ele fala do martelo dos bifes já lhe tomou o peso na tola...
;)

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Impagáveis estes nossos Amigos Comentadores!

O nosso caro Tonibler tem a "escola" feminina estudada na perfeição. O rolo da massa já foi mais útil nas actividades culinárias do que é agora, mas continua a ser um utensílio doméstico de grande utilidade. Agora as mulheres já não estão para fazer em casa a massa tenra e a massa folhada, os rissolitos e as empadinhas. Até podem dizer aos maridos que fizeram com o rolo da massa porque eles não descobrem. Só de ouvirem falar do rolo da massa comem e calam!

Pois é, Caro invisivel com o rolo da massa não se brinca!
No ADN feminino está lá a molécula do "martelo dos bifes". É por isso que dos bifes para as sentenças vai um saltinho. Com o andar da carruagem, o Caro invisivel vai com toda a probabilidade se for parar a um tribunal - coisa que não lhe desejo - ser julgado por uma juíza. Aguarde mais uns anitos e não há hipótese de apanhar um juiz!

Caro Doutor Bartolomeu
Então, estamos à espera da acusação! Não me diga que pediu o adiamento do julgamento? Que manobra vem a ser essa? Não há nada que enganar, o nosso Caro Tonibler alguma pena terá que levar. Na qualidade de testemunha peço uma atenuante porque afinal de contas o réu conhece bem os atributos femininos e parece-me também que lhes tem algum respeito...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Os homens gostam de dinheiro, de poder e do prestígio. Às vezes o dinheiro estraga tudo!
É claro que a mulheres também gostam de ter o seu dinheirito. E digo dinheirito porque a mulheres não fazem disso a sua ambição. Tem coisas bem mais importantes que os homens não podem nem sabem fazer! Uma diferença que, apesar do desenvolvimento, a natureza se encarregará de proteger.

Caro antoniodasiscas
Fico sempre surpreendida com os seus "tratados". Estou muito de acordo com a preocupação que manifesta de que deve existir igualdade de oportunidades, mas que deve haver "uma selecção que assegure o despiste das qualidades... à luz dos factores determinantes que caracterizam uma profissão".

Bartolomeu disse...

Pois sim cara Margarida, a acusação proseguirá, este interregno foi uma estratégia para permitir à defesa, quando confrontada com as causas acusatórias, se manifestar despodoradamente, declarando-se assim e deliberadamente, culpado.
hehehehehehe
Mas pelos vistos, os advogados de defesa são finos como coral e não foram no engodo.
Temos então de provar a acusação e convencer a juíza.
hehehehehe

O Reformista disse...

Há homens e homens, mulheres e mulheres
Em relação à Medicina podemos dizer que de uma forma geral o sexo masculino tem mais dificuldades em se dedicar só ao estudo que o sexo feminino nas idades do 10º ao 12º pelo que a elevada média exigia para entrar para Medicina, tirando a meia duzia de sobredotados que têm 20 a tudo sem esforço, distorce em favor daqueles(as) que dedicam toda a energia ao estudo.
Eu de certeza que não tinha entrado...
António Alvim

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Reformista
É sempre muito bem vinda a sua presença!
No meio deste crescendo de acesso das mulheres às universidades, há sempre homens tão ou mais aplicados que não deixam ficar mal a sua "classe". Nada melhor do que um Médico para nos contar o que se passa em Medicina...