O Banco Central Europeu (BCE) publicou o mês passado um estudo assinado por António Afonso – economista principal no BCE – que examina o papel e a eficiência das políticas de despesa pública na afectação da distribuição do rendimento.
O estudo conclui que em Portugal são elevados os gastos sociais e fracos os resultados na redução das desigualdades sociais. Com efeito, refere o estudo que 25% dos gastos sociais feitos pelo Estado não têm qualquer impacto ao nível da redução das desigualdades. São dados que ilustram os fenómenos que temos vindo a registar, quer no que se refere ao alargamento do fosso entre o rendimento dos mais riscos e o rendimento dos mais pobres, quer no que respeita ao elevado nível de pobreza que persiste em manter-se no País.
O estudo coloca no centro das explicações para uma tal ineficiência não o Estado mas antes factores mais abrangentes como os níveis existentes de riqueza e de educação. Ou seja, os baixos níveis de rendimento per capita e de educação da população são entraves na eficiência dos próprios gastos públicos na redução das desigualdades sociais.
Segundo o estudo, se Portugal estivesse na média das economias estudadas (OCDE) em relação ao rendimento per capita e aos resultados escolares, o actual nível de despesa social resultaria numa redução de 15% do nível de desigualdade existente. Estamos, portanto, numa situação, há muito apontada, em que gastamos muito e temos poucos resultados e que manifesatamente temos dificuldades em inverter.
Uma conclusão importante pode ser retirada (e reiterada), é que o País está a pagar muito caro o fraco nível educacional e o baixo nível de qualificações da população. O défice de qualificações dos portugueses constitui uma importante barreira ao desenvolvimento. A assimetria de informação e a assimetria de conhecimento constituem graves consequências e desvantagens num mundo em que a competição se faz globalmente.
O estudo conclui que em Portugal são elevados os gastos sociais e fracos os resultados na redução das desigualdades sociais. Com efeito, refere o estudo que 25% dos gastos sociais feitos pelo Estado não têm qualquer impacto ao nível da redução das desigualdades. São dados que ilustram os fenómenos que temos vindo a registar, quer no que se refere ao alargamento do fosso entre o rendimento dos mais riscos e o rendimento dos mais pobres, quer no que respeita ao elevado nível de pobreza que persiste em manter-se no País.
O estudo coloca no centro das explicações para uma tal ineficiência não o Estado mas antes factores mais abrangentes como os níveis existentes de riqueza e de educação. Ou seja, os baixos níveis de rendimento per capita e de educação da população são entraves na eficiência dos próprios gastos públicos na redução das desigualdades sociais.
Segundo o estudo, se Portugal estivesse na média das economias estudadas (OCDE) em relação ao rendimento per capita e aos resultados escolares, o actual nível de despesa social resultaria numa redução de 15% do nível de desigualdade existente. Estamos, portanto, numa situação, há muito apontada, em que gastamos muito e temos poucos resultados e que manifesatamente temos dificuldades em inverter.
Uma conclusão importante pode ser retirada (e reiterada), é que o País está a pagar muito caro o fraco nível educacional e o baixo nível de qualificações da população. O défice de qualificações dos portugueses constitui uma importante barreira ao desenvolvimento. A assimetria de informação e a assimetria de conhecimento constituem graves consequências e desvantagens num mundo em que a competição se faz globalmente.
É por isso que o investimento na educação deve ser assumido como um desígnio nacional e não menos importante é o grau de exigência que é imperioso colocar nos meios e nos resultados. Estivemos décadas a fazer “reformas”, mas não fomos capazes de instituir um modelo de ensino à altura das exigências de uma economia moderna e aberta. Estamos e vamos continuar a pagar o preço desta nossa incompetência!
9 comentários:
Na verdade, cara Margarida, o relatório da OCDE sobre a educação indica que o sistema educativo português é, ele mesmo, uma fonte de desigualdade. É bem pior que não reduzir.
Não me custa a aceitar esta leitura, Margarida. Percebemos, no dia a dia, que numa sociedade que se globalizou também ou sobretudo pelo conhecimento, Portugal vive uma confrangedora situação de falta dele. Aos mais variados níveis.
Embora esteja convicto que só sairemos da cepa torta quando acertarmos no modelo educativo, não deixo no entanto de pensar no exemplo dos países de leste que apesar de terem atingido níveis de literacia e de educação incomparáveis aos nossos, nem por isso apresentam taxas de desenvolvimento muito diferentes das nossas. Mais: parte da mão-de-obra indiferenciada de que o País se serve vem justamente desses Estados, sendo frequente encontrar emigrados com habilitações superiores que se sujeitam a desempenhar funções muito abaixo das suas competências.
E também encontramos o contrário, isto é, paises desenvolvidos com um nivel educacionale cultural da generalidade da população muito baixo, fruto de um sistema de ensino pouco exigente.
O que os diferencia é a qualidade das elites. Das elites políticas, económicas, culturais.
O que prova que sendo o sistema educativo muito importante, não é a resposta. É uma das respostas.
Creio, cara Margarida, que desde o Marquês de Pombal, nenhum outro estadista ou alto responsável pelo ensino em Portugal, se voltou a preocupar com um aspecto que considero o mais importante neste país: dimensionar e direccionar o ensino de acordo com as capacidades e aptências dos jovens estudantes. Aquilo a que temos assistido, é a "importação" de modelos estrangeiros, muitos deles, sem que haja a preocupação de os adaptar às necessidades, à realidade e aos objectivos do país.
A preocupação maior dos nossos responsáveis pelo ensino, parece resumir-se à necessidade de obter resultados estatísticos a qualquer custo, números para apresentar na União Europeia e que tenham como objectivo, justificar o recebimento de subsídios comunitários.
Como se diz na província, andamos de candeias às avessas, perseguindo quimeras, sem acertar num rumo que dignifique o nosso ensino, mas que sobretudo forme os jovens, qualificando-os para uma vida profissional que por sua vez, irá contribuir para o engrandecimento e fortalecimento do país a todos os níveis.
Sem educação, não ha progresso, mas, em minha opinião, é fundamental que a educação não seja hermética, mas sim, direccionada e nunca alienada, ou dispersa.
Cara Dra. Margarida Aguiar.
Como sempre, mais um post oportuno.
Diz o Drº Jm Ferreira de Almeida, referido-se a países desenvolvidos (com melhor nível de vida face a Portugal), o seguinte:
"O que os diferencia é a qualidade das elites. Das elites políticas, económicas, culturais.
O que prova que sendo o sistema educativo muito importante, não é a resposta. É uma das respostas."
Subscrevo esta opinião.
Não se pode concluir que existe conexão directa entre "riqueza e alta literacia".
No caso português, observamos, neste momento, a dispensa de milhares de jovens do mercado de trabalho; no entanto, são jovens com cursos superiores...
Será que partimos de premissas erradas sobre os empregos que os licenciados devem ter? Isto é: será que é razoável, um jovem licenciado em direito, exercer a profissão de balconista?; ou um jovem engº exercer funções de pedreiro, como nos países de leste?
É isto que temos de perceber, porque, com o número de licenciados desempregados, afigura-se ser este o futuro...
Caro Tonibler
Mas é isso mesmo, a educação é uma fonte de desigualdade social. Aliás como outros domínios, bem evidentes em Portugal, a saúde e a justiça.
José Mário
Naturalmente que a educação não é o único pilar do desenvolvimento. Mas é um pilar fundamental. Não estou totalmente de acordo consigo quando refere que a qualidade das elites não está dependente da educação. Não pode haver elites de qualidade sem educação. Uma educação pobre como a nossa não só tem responsabilidades no atraso do País, como também não é capaz de gerar as elites que o José Mário muito bem lembra. Afinal de onde surgem as elites? Elas são o espelho de um país!
Caro Bartolomeu
Aponta muitíssimo bem a questão das estatísticas. Trabalhar para as estatísticas comunitárias tem conduzido a medidas políticas de fraco alcance, em que predomina a preocupação da obtenção de números no muito curto prazo. A quem queremos enganar? É que a Europa conhece bem as fragilidades e as debilidades do nosso sistema de ensino. Aliás têm sido recorrentemente apontadas em sucessivos relatórios quer da Comissão Europeia quer de outras organizações internacionais, como a OCDE. E as recomendações lá constam ano após ano, relativamente a aspectos em que depois estamos todos de acordo!
Caro invisivel
O desemprego de jovens qualificados é um verdadeiro massacre económico e social. O País investe na formação dos jovens e depois não tem trabalho para lhes dar. A falta de esperança no futuro e a falta de perspectivas de valorização profissional está a conduzir um cada vez maior número de jovens licenciados a procurarem alternativas profissionais no estrangeiro, designadamente em domínios em que Portugal deveria estar a investir fortemente, na área de I & D. Estamos no presente a gerar mais um défice futuro de qualificações, forçando a ida para o estrangeiro de qualificações de que o País afinal precisa.
Que a eficiência do nosso sistema educativo, medido em termos dos resultados obtidos relativamente aos recursos afectos, anda pelas ruas da amargura, não me parece merecer grande discordância por parte da generalidade das pessoas que costumam pensar nestas coisas.
Já a correlação entre o nível educativo e o desenvolvimento económico não é susceptível de uma leitura tão geralmente concordante.
A produtividade geral de um país, que é o motor do seu crescimento económico, nem sempre depende de um elevado nível educativo médio.
William W. Lewis, que foi partner da Mckinsey e director fundador do Mckinsey Global Institute, refere em "The power of productivity" - (The University of Chicago Press, 2004):
"Nunca duvidei que as capacidades dos trabalhadores à volta do mundo apresentam uma distribuição suficientemente similar para as empresas os treinarem na prática dos melhores procedimentos...Geralmente pensa-se (nas sociedades mais desenvolvidas) que do nível educacional de uma população depende o seu grau de capacidade. O que não é verdade.
E dá exemplo dos trabalhadores mexicanos (com níveis de produtividade baixos no seu país de origem) que atingem elevados níveis de produtividade nos EUA.
Aliás, temos um exemplo bem mais caseiro: os emigrantes portugueses são geralmente bem sucedidos nos países para onde emigram.
Onde está a diferença: Notoriamente, no ambiente em que trabalham.
Concordo, portanto, com a perspectiva de que não é a educação (neste caso a insuficiência dela) a maior responsável pelo nosso atraso.
Se fosse, não se observaria tanto licenciado (mesmo em cursos técnicos) sem emprego. Engenheiros, por exemplo.
Lamenta-se muitas vezes os resultados desastrosos em matemática e em física no ensino secundário. E a situação é, realmente, preocupante. Sabemos que essa moléstia tem causas, umas evidentes outras menos. Nenhuma pode ser identificada, creio eu, em algum gene que nos tenha provocado algum entorse em larga escala naquelas matérias.
Sabemos que muitos professores de matemática e física entraram naqueles cursos por insuficiência de média para entrarem noutros mais concorridos. Daí que muitos foram seleccionados para leccionar matemática e física por serem menos qualificados nestas matérias
durante o secundário.
Mas há muito mais razões.
Contudo, ainda ontem à noite ouvi uma notícia que dava conta do encerramento dos cursos de matemática e física na Universidade de Évora.
Parece um absurdo: Quando tanta gente clama que nos faltam qualificações médias em matemática e física, uma Universidade, perante constrangimentos orçamentais encerra Matemática e Física porque os cursos respectivos tinham menos de 20 alunos.
E aí está um dos segredos de todas as contradições em que nos enredamos: As pessoas reagem a incentivos, diz-se que matemática e física são muito importantes, mas, pelos vistos, a sociedade não desperta incentivos nesse sentido.
A começar pelo Estado. Há alguma exigência quanto ao domínio destas matérias na admissão no funcionalismo público?
Quantos são os que não conseguem emprego por falta de conhecimentos médios de matemática, física ou português?
Quantos são os que, tendo obtido bons níveis de conhecimentos em matemática, física, português, inglês, etc., trabalham em empregos para os quais essas habilitações não foram (nem são) consideradas relevantes?
Quantos se doutoraram e emigraram? Ou emigraram, e se doutoraram, e por lá ficaram?
Nada disto, repito, invalida o que afirmai quando comecei: A educação é o mais importante activo de um país. Mas não nos iludamos. Como em qualquer investimento, não basta o edifício, as máquinas, as matérias-primas, as pessoas. É preciso capacidade para fazer funcionar o conjunto. E exigência.
É isso. Mais do que falta de nível educativo carecemos de nível de exigência.
E esta falha se não é congénita é de natureza degenerativa. Talvez fosse bom começar por discutir como se poderá inverter o processo.
Já há muita gente a queixar-se que lhe estão a apertar os calo
Cara Margarida
Eu sou dos tais para quem estes estudos, com toda a sua carga de subjectividade, têm uma relevância muito limitada relativamente a um povo cujas características se revelam especiais no tocante à sua idiossincrasia. É evidente que, todos nós o conhecemos, o investimento público na óptica em causa, anda cheio de " infelicidades", mas não me parece que seja só a esta circunstância que se devem assacar responsabilidades. A tradicional "sonolência" portuguesa em termos de trabalho, digo, actividade, é notória, se bem que esta desapareça praticamente quando os nossos profissionais se encontram integrados numa economia europeia tradicional, seja qual for o nível das exigências assumidas. Para lá de outras razões, são evidentes as deficiências de comando, de apoio e de formação profissional, que por cá vão distorcendo os factos analisados. A competência do estado e do empresário médio em termos de capacidade de gestão e de análise de investimentos, a maioria das vezes por falta de formação adequada, é o que é, com todas as suas indesejáveis consequências. Por outro lado, afigura-se dificil lidar com gente como o português, que quer ter o nível de qualidade de vida do alemão, mas sem trabalhar no duro como estes fazem, a menos que se transfira para esses mercados onde, aí sim, comparticipa activamente na produção da riqueza de que ele vai usufruir também. E isto é deveras importante, pois a remuneração mensal pesa e que de maneira na reflexão diária dos acontecimentos sociais. Esta conclusão talvez se deva ao facto do português nestas paragens profissionais, ser melhor dirigido, sobretudo numa perspectiva de productividade, a arma decisiva nesta matéria.
Este preciso assunto tem gerado polémicas muito interessantes, que ficam sempre quanto à aplicabilidade das suas conclusões, no esquecimento ou no rol das coisas indesejáveis.
Quanto a dirigentes, veja-se a nossa pouca sorte no cenário da política ; e depois queixem-se do tipo de investimentos públicos realizados, a maioria das vezes ao arrepio dos príncipios que nortearam o estudo empreendido.
Caro Rui Fonseca
Partilho das várias constatações que faz ao longo do seu texto e de um modo geral das conclusões.
Estamos absolutamente de acordo que a "educação é o mais importante activo de um país" e que "o défice de qualificações dos portugueses constitui uma importante barreira ao desenvolvimento”. E também estamos de acordo que é preciso "exigência". A meu ver necessitamos de ser exigentes em tudo, a começar na educação. Como referi no meu texto "não menos importante é o grau de exigência que é imperioso colocar nos meios e nos resultados" do investimento na educação.
O Caro Rui Fonseca aponta também o dedo ao "ambiente", dando como exemplo os emigrantes portugueses bem sucedidos nos países para onde emigram.
Mas o ambiente de que fala é também influenciado pelos níveis de educação e de formação, tem que ver por exemplo com a qualidade das instituições, o sistema judicial, a administração pública e até com a economia subterrânea (aspectos que também são evidenciados no estudo de António Afonso como factores passíveis de gerar desigualdade ou maior eficiência nos gastos públicos).
Um aspecto interessante que o Caro Rui Fonseca menciona tem que ver a desadequação das competências às reais necessidades do País. Do meu ponto de vista a desadequação deve ser analisada numa lógica estruturante e não de ajustamento conjuntural. Numa abordagem estruturante, temos falhas graves de mercado que o Estado em Portugal deveria ter identificado e actuado para corrigir. Que sentido faz, que sabendo o País há muitos anos que iria necessitar no futuro de mais profissionais de saúde, governos sucessivos não tivessem criado os necessários incentivos? E a contrário, conhecendo as projecções demográficas, nada tivesse feito para abrandar as escolhas pela actividade do ensino? De facto estamos perante questões que custam a entender porque sucederam! Será que não têm que ver com a qualidade das nossas elites? Talvez! E, portanto, lá vamos nós outra vez falar de educação...
Caro antoniodasiscas
A Portugal falta-lhe cultura de risco, o que em certa medida poderá ter que ver com a educação e a formação, mas que está muito ligada à "sonolência" que o Caro antoniodasiscas menciona nos seus comentários.
A falta de capacidade de liderança e as insuficiências em matéria de gestão e organização são também aspectos que pesam muito na baixa produtividade.
Tenhamos a esperança que estes problemas "genéticos" possam ser ultrapassados com o contributo de mais e melhor educação e formação. Vai levar algum tempo!
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