Hemingway tinha muitas estratégias para escrever. Uma delas é muito curiosa. Como tinha necessidade de satisfazer o impulso da criatividade utilizava uma "frase verdadeira" como ponto de partida. A partir desse momento as palavras deslizavam com suavidade preenchendo o seu vazio até sentir a satisfação final, evitando as formas rebuscadas de preencher as folhas em branco. Uma boa estratégia, basta ler a sua obra, até que um dia deixou de sentir, de ouvir ou de ler "frases verdadeiras". Mas isso é outra história!
Escrevi o texto "Sabor da própria morte" por causa de Hemingway. Li uma frase que esteve na base do pequeno texto "Apostasia", uma "frase verdadeira". A frase propriamente dita foi a condição necessária e um comentário que li, interrogando-me se queria pertencer à seita em questão, a condição suficiente. Estive vai não vai para responder ao comentador na altura, que não, que não queria, mas desisti, o que não é muito habitual em mim. Mas fiquei satisfeito com o meu silêncio, silêncio esse que fez despolatar outros silêncios guardados nas profundezas da memória e recordar frases e palavras, também elas verdadeiras. Depois deixei que os dedos encontrassem as letras e lhes dessem alguma vida ou significado, não com o brilhantismo de Hemingway, obviamente, mas graças à sua forma de dizer as coisas, coisas escritas há muitos anos e que continuam a ensinar-nos, ajudou-me a libertar uma história que continua agrilhoada ao meu pensamento.
- Não, não quero pertencer!
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