Entrou com um olhar terno, inquieto e interrogador. É tão fácil ver almas nuas e desejosas de conforto. Olhei-a e perguntei-lhe os motivos da sua presença, os quais me pareceram, quase de imediato, nada de importante. Foram utilizados para fugir ou adiar a eventual responsabilidade de um ato que exige trocas de conforto e alguma cumplicidade.
- Foi por isto? - perguntei-lhe.
- Sim, foi.
- Mas isto não é nada de especial. - Respondi-lhe. Tal como se como se comprovou com os sofisticados exames de que era portadora. - Está tudo bem!
- Pois está. - Respondeu-me com um sorriso de cumplicidade.
- Mas o que é lhe aconteceu na altura? - Certo de que a experiência não me costuma enganar, atrevi-me a fazer-lhe a pergunta.
Olhou-me e disse:
- Tem toda a razão. O meu coração andava acelerado, não andava bem, porque tive três mortes num curto espaço de tempo. Morreu um irmão, fui eu que o encontrei, morreu o meu pai e morreu a minha tia, a minha tia-mãe que me criou.
Ouvi-a em silêncio.
- A vida é muito cruel, ingrata e até impiedosa. - Comentei.
- Pois é! Mas também tem coisas muito belas. - Deu-me um abraço e um beijo. Saiu. Ao sair, perguntou-me, com um sorriso suave, terno e tranquilo: - Como é que se chama?
Eu disse-lhe.
- Obrigada. - Cantou muito baixinho. - Muito obrigada...
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