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sexta-feira, 12 de julho de 2013

"Sorte"...


Sorte, uma palavra enigmática, simples de pronunciar e rara de encontrar. Se fosse matemático  decerto encontraria modos de a exprimir através de complicadas equações. As constantes, os expoentes, as raízes quadradas, cúbicas ou que tais, as derivadas, das quais já não me lembro bem, e o uso de letras gregas, belas e cheias de sabedoria, conseguem seduzir qualquer ignorante provando que naquela complexidade equacional está a explicação científica deste fenómeno. Mas não sou, infelizmente. Se fosse poeta diria que a sorte era a benção de algum deus ocioso ou vicioso, que, apaixonado por alguma deliciosa mortal, se encarregaria de me utilizar para a possuir e amar através de belos e sedutores versos. Mas não sou, infelizmente, Se fosse religioso diria que era a vontade divina, que, ao escolher-me para usufruir a sorte, me tinha considerado como um eleito entre os eleitos. Mas não sou, infelizmente. Se fosse guerreiro seria um herói, porque a sorte protege os audazes, isso caso sobrevivesse, o que nem sempre acontece aos que lutam nos campos da batalha, infelizmente. Se fosse jogador, atribuiria decerto a sorte ao diabo, porque só ele sabe como ninguém como comprar uma alma através da ganância do jogo. Mas não sou jogador, felizmente. A sorte campeia por todo o lado e o seu atributo tanto pode ser fruto do acaso, do poder de um deus qualquer, menor ou do maior, do diabo em pessoa ou, então, como já ouvi, e mais do que uma vez, do trabalho. Aqui, tenho de fazer um parêntesis, ou seja, como é possível ouvir alguém dizer que "a sorte dá muito trabalho"? Confundir sorte com trabalho é, para mim, muito estranho, porque acredito no trabalho como forma de realização humana. Acredito no trabalho para que cada um possa ganhar a vida e realizar-se, embora saiba que há pessoas que "trabalham" apenas para ter "sorte". Resta saber o que é que entendem por esse tipo de "trabalho", que nem sempre é sinónimo de honestidade, nem sempre é realizado com respeito pelos direitos dos outros e nem sempre é legal. Mesmo assim continuam a designar essas atividades como "trabalho". Tenho dúvidas. Ouço-os, mas não aceito a expressão de que "a sorte dá muito trabalho". Preferiria ouvir dizer algo como o "trabalho compensa", o que não acontece algumas vezes quando o azar se encarrega de destruir todo o trabalho de uma vida. Não posso ouvir a expressão segundo a qual "a sorte dá muito trabalho", quando muitos não têm meios, nem possibilidades de trabalhar com determinação, com honestidade e com vontade genuína de poder ganhar a vida e realizar-se. Não gosto da palavra sorte na boca daqueles que trabalham para a "alcançar". A sorte é uma mera questão probabilística do jogo, de qualquer tipo de jogo, inclusive o da própria vida. Prefiro acreditar no trabalho apenas como forma de realização pessoal e não como a procura da "sorte" tal como é entendida e alcançada por muitos.
Será por falta de sorte? Não, nunca a procurei, nem a procuro. Prefiro saborear o fruto do meu trabalho. Para mim chega. Só tenho pena que outros seres com os quais me defronto no dia-a-dia não o consigam saborear. E merecem, tanto como eu e até como aqueles que, ufanamente, sabem mostrar que "a sorte dá muito trabalho"... 

1 comentário:

Bartolomeu disse...

Quando Leonardo Da Vince estudou a fundo a anatomia do olho, percebeu que este, possuía únicamente a capacidade de captar as imágens que se achavam à sua frente. Aquilo que depois possibilitava ao cérebro humano atribuir a essas imágens que lhe chegavam através do olho, as características que possuíam e enquadra-las relativamente a um ambiente envolvente, já se achava a cargo de um sofisticadíssimo sistema que invertia a imágem e a projectava numa parte específica do cérebro onde era tratada.
A sorte, penso, está directamente relacionada com o "olho". Ou seja, depende muito da forma como os nossos sentidos captam e tratam as imágens, os sons, as energias, etc.
Por isso, considero sorte, possuir-se a capacidade de se emocionar à beira de uma ribeira, ao pé de uma ponte, olhando as águas e os reflexos de luz na sua superfície. Considero sorte, possuir-se a capacidade de ver o mundo com os olhos, mas ser-se capaz de o compreender com a alma e emocionar-se com isso e fazer desse sentimento uma forma de estar na vida e dela retirar todo o prazer e felicidade possíveis.
;)