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quarta-feira, 20 de abril de 2005

O Papa I

Em primeiro lugar, a minha homenagem a João Paulo II, pelo que fez e pelo que significou para o mundo: lutador incansável contra os totalitarismos e fundamentalismos, defensor intransigente da paz, apoiante da ciência e das novas tecnologias, combatente contra a pobreza, homem dialogante e com a virtude da compaixão.
Depois, a minha saudação ao novo Papa, Bento XVI.
O Cardeal Ratzinger, na homilia da missa celebrada na Basílica de S. Pedro, no início do Conclave, e de acordo com o que foi publicado, enumerou as muitas correntes ideológicas que estão a agitar o mundo: ”… do marxismo ao liberalismo, desembocando no libertinismo, do colectivismo ao individualismo radical, do ateísmo a um vago misticismo religioso, do agnosticismo ao sincretismo, vai-se construindo uma ditadura do relativismo, que não reconhece nenhuma das doutrinas como definitiva, apresentando-se antes como uma mistura em que apenas conta o próprio eu e a sua vontade…”
Tem razão o Cardeal Ratzinger.
Hoje, muitos aderem a uma igreja, a uma associação, a um partido político, pretendendo que sejam, em exclusivo, a sua Igreja, a sua associação ou o seu partido político.
Esquecem que a Igreja a que aderiram tem os seus dogmas, os seus mistérios, a sua prática, e todos os seus crentes ou que o partido a que aderiram tem a sua ideologia, a sua dinâmica e a sua tradição, as suas regras e os seus militantes.
Se numa doutrina “apenas o próprio eu contasse e a sua vontade”, não havia doutrina, haveria tantas quantos os intérpretes.
Vem isto a propósito dos comentários, dos comentadores e dos jornalistas que se estenderam ao longo das emissões de televisão, desde a morte de João Paulo II.
Cada qual apresentou a sua Igreja, com os seus dogmas próprios, as suas práticas e as suas prioridades; cada comentador tinha a receita própria para os tempos actuais. E o Cardeal ou Cardeais que melhor serviriam essa receita!...
E se o novo Papa a não adoptasse era de imediato apelidado de conservador.
Fiquei, no início, estupefacto pelo profunda erudição que havia em Portugal do perfil, da obra e do pensamento do Cardeal de Tegucigalpa, dos Cardeais da Nigéria, do Cardeal de Bombaim e até do Cardeal de Madagascar!…
Verifiquei depois que a erudição consistia na mera repetição do que outros, no estrangeiro, referiram e se tornou guião e bíblia que todos recitavam, com grande pompa e elevado grau de auto-convencimento!...
No meio de tudo isto, até me chegou a parecer que só a própria Igreja é que não tinha legitimidade e, muito menos, competência para escolher, através dos seus órgãos, o perfil e o nome do novo Papa!...

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