A leitura é a capacidade de decifração. Foi mais ou menos assim que ouvi há uns dias alguém explicar que o grau de literacia não se afere pelo número de livros que se lêem mas pelo género de livros que se lêem. Isto parece bastante óbvio, verdade se diga, por isso o que se pergunta a alguém que queremos conhecer melhor não é –“Quantos livros lê por mês?” mas sim “-Que livros é que leu e gostou mais?” e, com um pouco de sorte, as pessoas identificam afinidades e podem até trocar uns dedos de conversa sobre as respectivas interpretações que fizeram das obras que leram em comum. Este é, a meu ver, um dos grandes prazeres da leitura.
Quero com isto dizer que, quando se escreve, se procura captar a atenção de um determinado tipo de leitores, sendo certo que, se não for o simples relato de um facto, mas uma reflexão, o escrito vai certamente suscitar outros pensamentos, levar a outros caminhos que podem não ser os que estavam na mente de quem os escreveu. Quanto mais elaborado for e mais literato o leitor, maior será a amplitude que pode alcançar. Ora, as diferente leituras, erradas ou certeiras, são certamente do leitor, e não de quem as escreveu.
Uma vez perguntaram a António Lobo Antunes qualquer coisa sobre as “mensagens” dos seus livros, se ele queira dizer isto ou aquilo, e ele respondeu que nada o surpreendia tanto como a quantidade de interpretações que faziam dos seus romances, dos sentidos profundos e subtilezas que lhes encontravam, quando ele o que fazia era escrever histórias e contar as coisas à sua maneira.
Mas uma coisa é interpretar, tentando tirar do que se lê o seu sentido útil, outra é misturar alhos com bugalhos, distorcer o que se lê para provar o que se quer afirmar, atribuindo a quem escreveu uma coisa bem diferente do que foi escrito.
Este tipo de “literacia” é infelizmente bem comum e encontra-se muitas vezes convertido em notícias de jornal que atribuem a outros não o que foi dito, mas o que foi lido. Sendo intencional, é pura má fé. Não sendo, é falta de leitura, da tal que aumenta o grau de literacia.
Quero com isto dizer que, quando se escreve, se procura captar a atenção de um determinado tipo de leitores, sendo certo que, se não for o simples relato de um facto, mas uma reflexão, o escrito vai certamente suscitar outros pensamentos, levar a outros caminhos que podem não ser os que estavam na mente de quem os escreveu. Quanto mais elaborado for e mais literato o leitor, maior será a amplitude que pode alcançar. Ora, as diferente leituras, erradas ou certeiras, são certamente do leitor, e não de quem as escreveu.
Uma vez perguntaram a António Lobo Antunes qualquer coisa sobre as “mensagens” dos seus livros, se ele queira dizer isto ou aquilo, e ele respondeu que nada o surpreendia tanto como a quantidade de interpretações que faziam dos seus romances, dos sentidos profundos e subtilezas que lhes encontravam, quando ele o que fazia era escrever histórias e contar as coisas à sua maneira.
Mas uma coisa é interpretar, tentando tirar do que se lê o seu sentido útil, outra é misturar alhos com bugalhos, distorcer o que se lê para provar o que se quer afirmar, atribuindo a quem escreveu uma coisa bem diferente do que foi escrito.
Este tipo de “literacia” é infelizmente bem comum e encontra-se muitas vezes convertido em notícias de jornal que atribuem a outros não o que foi dito, mas o que foi lido. Sendo intencional, é pura má fé. Não sendo, é falta de leitura, da tal que aumenta o grau de literacia.
7 comentários:
Dra. Suzana Toscano,
Este seu texto revela mais uma vez uma grande clareza de espírito e separa claramente o essencial do acessório.
Pode parecer um pouco desajustado, mas a primeira pessoa que me lembrei ao ler a sua passagem sobre a quantidade vs qualidade foi do Dr. MRS; vá-se lá saber porquê...
Cordiais saudações!
Seja muito bem vindo ao 4r, caro Wortan, cá ficamos a contar com os seus comentários e com o seu interesse em participar nas nossas conversas cruzadas. Pois é, muitas vezes sentimos dissonâncias e não detectamos logo o que está mal, geram-se imensos equívocos e acaba por ficar tudo emaranhado num sentimento negativo "Isto está tudo mal", ou "não vale a pena".Mas vale, temos é que nos dar ao trabalho de ir procurando o fio à meada, o que está mal, porquê, e grave, é episódico...É a única forma de nos mantermos activos e optimistas, caso contrário acabamos por não achar graça a coisa nenhuma. Depois, é aplicarmos as nossas conclusões aos casos concretos, como teste!
...cordiais saudações, também!
Vamos a uma coisa que não precisa de interpretações.
Você sabe que o Concurso de Titulares da Sinistra Lurdes Rodrigues colocou gente com duvidosa habilitação, equivalente a um 12º Ano mal tirado, no Topo da Carreira e a custar 2000 e tal €/mês?...
Pois leia:
http://asvicentinasdebraganza.blogspot.com/2007/11/mestres-mestrandos-mestranos-amestrados.html#links
Pois é cara Suzana, o grande problema muitas vezes, é a tendência latente em muita gente, de trocar alhos por bogalhos, ou... o meio da rua pela Rua do Meio. Estou como o caro Wotan, o nome que me assaltou de imediato, foi precisamente o de Marcelo Rebelo de Sousa (não atino com iniciais, podem ser lidas de diferentes modos). Devo confessar, pessoa de quem não perco as opiniões domingueiras, mas que no meu ponto de vista, foi além da sua chinela, quando misturou a opinião do caro Prof. David Justino, com a responsabilidade do cargo que ocupa. Assim, em democracia, não vamos lá! Não vamos não senhor!
Suzana
O prazer da leitura está na descoberta, na vontade de conhecer mais e de nos enriquecermos interiormente e sobre o mundo, porventura na vontade de aferirmos a nossa sensibilidade ou entendimento das coisas, de confirmarmos a aceitação ou rejeição sobre comportamento ou atitudes...
É por isso que temos uma natural tendência para escolhermos escritores, pensadores, contadores de histórias, temas, que nos parecem ter alguma coisa de comum connosco. Não há nada como um bom livro, uma boa reflexão, um bom texto, um bom escritor, um bom pensador ou bom articulista.
Ás vezes enfiamos uns barretes, que não é mau que de vez em quando aconteçam. Por aqui também se aprende...
Cara Suzana:
Pura má fé, quando se adapta a interpretação ao que se pretende no o momento.
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