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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Austeridade: falta de clareza do discurso e o "doce" engano...

1. Achei estranha, a forma como foi noticiada entre nós a divulgação das perspectivas económicas do FMI na parte que se referem à economia portuguesa: “FMI ameaça que a adopção das medidas de austeridade vai lançar a economia em nova recessão...”.
2. Um leitor menos atento ou entendido na matéria, ao ouvir ou ler este anúncio dirá, com toda a lógica: mas então faz algum sentido adoptar medidas de austeridade, que para além de nos custarem imensos sacrifícios nos vão atirar para nova recessão? Para que “diabo” servem então as medidas de austeridade?!
3. Calculo a confusão que vai por centenas de milhares de cabeças em Portugal, nesta altura, ao serem bombardeadas com notícias como esta...que de facto não ajudam nada a entender a austeridade orçamental.
4. O Governo também parece desconcentrado e perturbado, tendo apresentado estas medidas quase como fruto de uma inevitabilidade sobrenatural, quiçá de uma má convergência astral que nos vem perseguindo sem descanso...
5. Aquilo que seria necessário dizer aos portugueses até seria bem simples - embora paradoxalmente reconheça que é impossível, dada a incapacidade política vigente:
- As medidas de austeridade, estas e outras que se lhe vão suceder, são necessárias em consequência da acumulação de graves erros de política económica ao longo dos últimos anos, especialmente um crescimento desmesurado da despesa pública, que agora se revela incomportável;
- Que certamente, no curto prazo, estas medidas têm um impacto negativo na economia, pois reduzindo a despesa de consumo público e privado, vão contribuir provavelmente para um cenário recessivo;
- Que na ausência destas medidas o cenário recessivo iria acontecer do mesmo modo ou provavelmente com maior intensidade, em consequência da impossibilidade de financiar externamente o nível de despesa a que nos habituamos nos últimos anos;
- Que na ausência destas medidas não só teríamos um cenário recessivo ainda mais intenso como seríamos forçados a adoptar, daqui por um ano, não mais, medidas bem mais duras do que aquelas que estão anunciadas.
6. Para que este discurso fosse totalmente clarificador, faltam 2 pontos:
- Que as medidas de austeridade se traduzem exclusivamente em cortes na despesa porque uma carga fiscal mais elevada, sendo desincentivadora do investimento, tapa-nos a única saída para ultrapassar a crise – o crescimento do investimento produtivo, sobretudo nos sectores que produzem para os mercados externos...
- Que, por força da austeridade e para não a agravar ainda mais, os grandes projectos de obras públicas ficam por agora suspensos, até nova ordem...
7. Mas percebo que pedir isto é pedir demais, a nossa sina é mesmo continuar no “doce” engano...

3 comentários:

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

E apesar disto, La Grande Bouffe, continua: «Instituições do Estado gastam milhões em festas, brindes e consultores. Turismo dos Açores pagou mais de 1,5 milhões de euros para organizar a cerimónia das 7 Maravilhas de Portugal».
E não se pode penhorá-los?

Manuel Brás disse...

Como se diz/escreve em latim: Voluntas pro facto reputatur...

Com esse cenário recessivo
que é, sem dúvida, evidente,
é como um “doce” excessivo
para um regime decadente.

É para ficar siderado
com tantas asneiras firmadas
num discurso acalorado
por doçuras tão engrumadas!

Esse oásis perdido
entre abjectas ilusões
é um caso desmedido
de tão mascavadas razões...

Tavares Moreira disse...

Caro (c) PAS,

Claro que continua, isso é dos livros...tal como no Titanic, a orquestra nunca desistirá de tocar enquanto a água não submergir os músicos!

Exactamente, caro M. Brás " é para ficar siderado com tantas asneiras firmadas...".
Siderado e também "teso", no nosso caso!