1. Nestas fracassadas negociações – primeiro “round” é certo – para a “viabilização” do OE/2011, há um elemento que impressiona pela exuberância do irrealismo que revela: a insistência no objectivo do défice de 4,6% do PIB.
2. O Governo chega mesmo a declarar que se trata de um ponto inegociável, mostra-se totalmente inflexível quanto a esse dado.
3. Confesso que pasmo perante tão grande falta de sentido da realidade: sem se saber ainda qual vai ser o défice de 2010 – que pode atingir níveis bem superiores aos valores até agora sugeridos – como é possível fazer uma aposta arriscada com toda esta firmeza, com altíssimo risco de fracassar?
4. Não dá para perceber que o objectivo do défice para 2011 só pode ser razoavelmente projectado quando se tiver uma noção muito próxima do ponto de partida – ou seja de qual é o défice efectivo em 2010?
5. E que nesta fase, em que persistem enormes dúvidas quanto à real situação das contas públicas em 2010, seria do mais elementar bom senso apontar um objectivo para 2011 bem menos ambicioso, susceptível de ser cumprido sem grande risco, admitindo-se até o “brilharete” de, em meados de 2011, ser anunciada uma revisão em baixa desse objectivo?...
6. Generalizou-se a ideia, profundamente errada, de que o ponto de partida para a fixação do objectivo para 2011 é o défice de 7,3% do PIB em 2010.
7. Mas ninguém repara que este défice – de resto mais do que duvidoso neste momento – só será possível graças aos 1,6% do PIB que vêm da transferência do Fundo de Pensões da PT?...
8. O ponto de partida mínimo para avaliar a exequibilidade do objectivo de 4,6% em 2011 é assim um défice de, pelo menos, 8,9% do PIB...ou de 8% sem submarinos segundo os cálculos da Unidade Técnica de apoio à AR.
9. Mas é muito provável que o défice de 2010 venha a ser muito superior, na orla dos 10% do PIB, se tivermos em conta que existem volumes consideráveis de despesa (Saúde, etc) que estão neste momento fora das contas da execução orçamental e que numa avaliação segundo as regras de contabilidade nacional – de compromissos de despesa (e de “accrual” quanto aos juros) – terão de ser contabilizadas no défice.
10. Sendo assim, o objectivo de 4,6% para 2011 pode bem ser tomado como uma mistura explosiva de UTOPIA, INSENSATEZ e TEMERIDADE...
11. Quanto à posição de o considerar inegociável, nem me atrevo a classificar...
P.S.: A Grécia acaba de anunciar mais uma revisão em alta do défice de 2009, agora para 15% do PIB...não aprendemos?
15 comentários:
Caro Dr. Tavares Moreira, com a devida consideração e respeito que lhe devo, porque inequívocamente mo merece, permita-me que estableça uma comparação entre o défice de 4,6% do PIB e a notícia do mineiro Chileno... o Alberto Gallardo, a quem a mulher surpreendeu à saída da mina, com a notícia de estar grávida de cinco semanas.
O homem, que não é muito bom em contas, achou a notícia... delirante, mais ainda por se tratar do primeiro filho do casal, mas... passada a vertingem, provocada pelo regresso à superfície, e ao lembrar-se que havia estado 68 dias debaixo da terra, começou a sentir uma certa azia no estômago.
Porem, o médico Alfonso De la Onza, sossegou-o, garantindo-lhe que por vezes... ha espermatozoides que sobrevivem por muito tempo antes de fecundar o óvulo.
Vai ver, caro Dr. Tavares Moreira, que este 4,6%, é um défice guerreiro que, tal como o espermatozoide Gallardo, vai sobreviver.
Agora, resta-nos estar atentos e esperar, para ver quem é que vai saír... fecundado, deste desabamento.
Caro Tavares Moreira,
Outro aspecto que me espanta é o facto de ninguém falar na dívida... alguém acredita que o Estado vai conseguir cumprir os seus compromissos? Será possível que ninguém (da governação, claro) não ande já a renegociar a dívida junto dos credores? E as ppp? Será que alguém acredita que o Estado vai conseguir pagar as rendas negociadas? As empresas e os bancos em questão ainda não perceberam que têm que reunir com urgência com o Estado para renegociar tudo? Ou será que estão à espera sentados que o Estado rasgue os contratos por os não conseguir cumprir?
Estas empresas e respectivos bancos ainda não perceberam que têm um enorme problema nas mãos? Será que estão à espera que o Pai Natal e as renas os ajudem?
Continuo a considerar que há muita gente, demasiada gente, com responsabilidade que ainda não acordou para a vida...
Não posso acreditar que o ministro das finanças de Portugal apresente um orçamento que depois vai descarrilar...Se isso acontecesse de certeza que o governo se demitia...
Para quem (este desgoverno) convive tão mal com os números...
Qual mistura tão explosiva
de números mal amanhados,
numa fixação evasiva
por caminhos definhados…
Dessa redita insistência,
num discurso tão enfadado,
revela-se a impotência
de um regime malfadado.
Que opção mais estranha. Que estratégia incompreensível.
Conseguiu passar um orçamento mau para um orçamento 96% mau.
Agora, vai partilha-lo com o PS...
Bastaria manter a sua oposição e, no momento da votação, fazer como os comunistas fizeram ao votar em Mário Soares, há muitos anos atrás.
De olhos fechados, os deputados do PSD, apenas os necessários, votariam para viabilizar o Orçamento. Patrioticamente.
Dentro de 6 meses, Sócrates cairia que nem ginjas...
Assim, agradece o PP. Pode somar...
Caro Bartolomeu,
Essa comparação não me parece má, não senhor...tal como esparmatozoide que leva tempo a fecundar o óvulo, mas fecunda-o finalmente, este défice orçamental vai levar tempo a descarrilar...mas descarrilará, finalmente!
E seforem 68 dias também, nada mau - significa que só descarrilará por alturas de meados de Março...
Ainda mais curioso, caro Tarinho da Silva, é andarem para aí a dizer - alguns comentadores de serviço e alguns Armani - que precisamos de reduzir a dívida...quando nem conseguimos pagar os juros...
Só mesmo se os credores aceitarem que paguemos o capital, esquecendo os juros...
Boa piada, caro Tonibler! Só que nesse caso a demissão deveria ser retroactiva - será possível em política uma demissão retroactiva?
Admito que em Portugal tudo se consiga...
Grande M. Brás,
De facto, a impotência deste regime malfadado, como bem escreve, revela-se com um esplendor que nos arrouba!
Caro Fartinho da Silva,
As minhas desculpas pelo Tarinho da Silva...não percebo como se deu o lapso, confesso...
Caro Tavares Moreira,
Não é possível que alguém que consegue prever um crescimento de 0,2% possa errar na despesa, que é metade, em muito mais que 0,1%. Muito menos em 4%.
Claro que também existe a hipótese de tudo isto ser um exercício perfeitamente disparatado, mas estou a afasta-la.
Caro Tavares Moreira
Alinho pelo comentário de Bartolomeu;
O saudoso treinador Meirim, há um par de décadas estava no Estoril; um jornalista da Bola acompanhou-o num dos treinos em Lisboa na praia de Carcavelos
A reportagem glosava o "pensamento positivo" na época "mentalizaçaao" da equipa.
Para tal, Meirim obrigava os jogadores, ao mesmo tempo que corriam pela praia a entoar o seguinte cântico:
"Seremos campeões nacionais".
Infelizmente, Meirim já morreu e o Estoril não foi campeão nacional.
Não tenho dúvidas que Portugal é a equipe do Estoril, ainda não percebi se, o PM e o MdF, são ambos o treinador mencionado ou se é apenas um deles....
Agora, acho que o método de treino não será o mais adequado para os tempos que correm, mas quem sou eu para opinar sobre futebol....
Cumprimentos
joão
Os raciocínios lógicos e coerentes, como aquele que o Tonibler desenvolve, mostram-se totalmente desaquados para este exercício orçamental, onde reinam as regras da mercearia desordenada e o caos financeiro...
Aqui não há coerências nem rigor de calculo, tudo pode falhar sem que se entenda tampouco como foi e quem tem a ver com o assunto.
Caro João,
Evoca uma figura de treinador de futebol que introduziu métodos revolucionários no treinamento dos pupilos, que conheci muito bem pois foi no Varzim Sport Clube - agremiação desportiva da minha terra natal - que atingiu maoir notoriedade, tendo conseguido um impossível quarto lugar no campeonato da 1ª Divisão (nomenclatura da época).
Julgo que a assimilação dos métodos de Meirim está justamente a começar na função pública e noutras áreas do sector público - com as reduções salariais e noutros tipos de benefícios...
Mas tb julgo que isto é apenas um começo, que ainda não evita a despromoção, vai ser necessário um esforço bem maior e a aplicação de métodos bem mais agressivos!
Caro Tavares Moreira,
Mas isso significa que as pessoas que fazem os orçamentos são vigaristas!....
Caro Tonibler,
De que existe farta incompetência na formulação e na execução da política bem como um gravíssimo descontrolo na realização das despesas, estou bastante convencido...
A conclusão mais bravia e fustigante que formula no seu comentário talvez possa inserir-se num contexto de interpretação livre dessa lamentável realidade...
Se fossem incompetentes falhavam dos dois lados e o défice acabava na mesma. Parece-me mais roubo...
Ora essa, meu caro, atentemos na realidade:
- Na despesa falham sempre, gastam sempre mais do que deviam gastar e tb mais do que a previsão...
- Na receita falham sempre, propõem-se cobrar mais do que deviam e cobram menos do que a previsão...
Como vê, a falha é dos dois lados - portanto cabe bem, muito bem mesmo, no conceito de incompetência tal como o define!
Eu não falava na receita, falava no crescimento. Sendo a única variável macro que um governo não controla (sabendo esta, a receita deveria sair directa, digo eu...) e sendo a receita e a despesa variáveis que, à partida, seriam geríveis, digo eu, se avanço com um número que não sei se consigo gerir, estou a roubar. Isto digo eu...
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