Um deputado, até há pouco tempo responsável pela federação de Coimbra do PS, veio dizer a quem o quis ouvir que o chefe de gabinete do secretário-geral do PS lhe propôs um cargo numa empresa pública em troca da renúncia à sua recandidatura à federação. É verdade que o deputado só veio denunciar a generosa oferta do seu camarada após ter perdido as eleições. Não foi bonito. Mas menos bonito foi ver o secretário-geral do PS e PM de Portugal justificar mais esta triste estória com o despeito do deputado. Percebe-se que arquivou o assunto, apesar de se tratar de clara e manifesta denúncia, ainda para mais pública, de uma conduta política, ética, moral e, quiça, juridicamente reprovável de um seu colaborador muito próximo.
Vem-nos nestas ocasiões à lembrança que o País gastou rios de dinheiro a investigar se era verdade ou não que os árbitros de futebol aferiam a sua acuidade visual por fruta, café com leite ou miniaturas douradas de apitos. Já este caso de alegada colocação à venda de um cargo de nomeação governamental por um alto dirigente partidário parece não merecer qualquer atenção. O drama do orçamento encarregar-se-à, com grande probabilidade, de obnubilar quer a denúncia do deputado, quer o grave desprezo do PM pelo caso. O mesmo PM que há dias exaltava os valores éticos do republicanismo, apesar de tudo isto ter que ver com a situação a que chegámos e para a qual não há orçamento que seja panaceia.
6 comentários:
Caro JM Ferreira de Almeida,
Concordando com tudo o que escreveu não posso deixar de fazer um reparo irónico.
Onde escreveu "o mesmo PM que há dias exaltava os valores éticos do republicanismo", eu escreveria "o mesmo PM que há dias exaltava os valores éticos da oligarquia"!
Meu caro, esta forma espessa de venalidade é a marca de água da Podridão Socratinesca.
Lisura nula.
Caro Ferreira de Almeida, esse episódio, infelizmente o que mais fortemente marca é o baixo a que se chegou na ética, nos valores, em tudo o que deveria ser agregador da sociedade.
A proposta da troca, já de si é algo aberrante. Mas depois o visado vir conta-lo em praça publica, sem quaisquer pudores e, pior do que isso, ser algo que passa como um mero fait-divers são coisas que ultrapassam em muito a minha capacidade de entendimento.
Parece mais um empolgante romance policial, agora nas notícias o que se ouve é "...pela calada da noite"..."tramóia"..."x mil euros" e mesmo, pasme-se "sentido de humor"!
Diz o DN que o deputado ofendido não revelou logo na altura a alegada tentativa de aliciamento de que terá sido alvo para "preservar o PS, a sua imagem". E conseguiu?
Conseguiu pois Margarida. Não é esta a imagem que a maioria das pessoas já tem do PS?
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