Portugal tem, sem ter disso consciência, um senado. Não um órgão constituído segundo os canônes constitucionais, mas uma instância de poder composta por alguns ex-presidentes, ex-primeiros-ministros, ex-secretários-gerais, ex-ministros, ex-gurus. Todos subitamente inspirados e esquecidos de responsabilidades pessoais pretéritas, opinam agora como nunca opinaram. E as suas sentenças são objecto de veneração pelos comentadores e analistas do reino como se a salvação da Pátria repousasse nas ideias de algumas dessas personagens.
Pelo que fui lendo na comunicação social do fim-de-semana, o senado informal apresenta-se incomodado com a alegada falta de sensatez do PS e do PSD a propósito do orçamento do Estado e do que virá a seguir. É indisfarçável que de soslaio olham só para Pedro Passos Coelho, lançando sibilinamente a ideia venenosa de não ser homem à altura de cada um dos senadores, isto é, à altura das circunstâncias. A ele, Coelho, dirigem constantes apelos à sensatez, sem que apelos nesse mesmo sentido tenham sido ouvidos no passado, ou dirigidos actualmente, ao PM José Sócrates. Devo dizer que compreendo que alguns o fazem seriamente convencidos que tais chamadas de atenção não operam junto de quem, ao longo dos anos, demonstrou ser insensível à prudência, à sensatez e à responsabilidade governativas. Mas imagino o que não diriam as mesmas personagens de Passos Coelho se ele, a bem da Nação, se apresentasse desde já a anunciar que aceita uma proposta de orçamento do Estado que ninguém conhece, ou que instruirá o grupo parlamentar a abster-se antes de a conhecer ou de conhecer os desvios e as razões dos desvios da execução orçamental do ano financeiro em curso. Ou mesmo que viesse dizer agora o contrário do que muitos aplaudiram há meses, isto é, que a economia não suporta que o Estado subtraia às famílias e às empresas mais recursos através de um aumento adicional da carga fiscal para 2011!
5 comentários:
Ah! Ainda é o "Se o orçamento não passar não governo!". Faço birra, pronto. Vou ali amuadinho para um canto da sala e recuso-me a falar com os outros meninos.
Pergunta: E então?... Detecto aí alguma insinuação de que tem estado a governar até agora?
Bom, felizmente há um senado. Assim podem governar eles sempre que alguém ficar amuado.
Ora aqui está uma grande verdade...
E é curioso como o mais pequeno e insubstancial palpite deste senado, gera de imediato largo consenso!.
Esta nossa tendência para "endeusar", não tem limites...
Caro JMF Almeida
Não tenho dúvidas que a maioria dos portugueses considerarão como pouco sério alguêm, pedir a outrêm para assinar um documento que não conheçe; com consideram, no mínimo,pouco sensato, que alguêm assine sem ver.
Aparentemente, um conjunto de figuras de "proa", acham normal um tal comportamento; embora não tenha qualquer dúvida que, nas suas empresas, despediriam os funcionários que tivessem um ou outro comportamento acima descrito. A rés publica é menos exigente que a rés privada....
O interesse nacional reside em criar condições para viabilizar uma restruturação da nossa economia, finanças e demais artefactos (AP, banca, empresas, legislação laboral etc);
O interesse nacional e o nível das nossas reservas impõe medidas imediatas e rápidas;
O histórico de seis anos do actual PM não permite sequer, duvidar da incapacidade para realizar a tarefa acima descrita;
Tenho dificuldade em admitir que o interesse nacional seja viabilizar uma lei que apenas propõe que nos endividemos para pagar juros, quando o que todos consideramos como necessário diminuir a dívida e criar condições para que essa dívida diminua ou desapareça.
Tenho dificuldade em perceber que se possam criar condições secando o aforro nacional para pagar serviço de dívida.
Tenho dificuldade em compreender como se pode supor que o país acaba em Novembro sem orçamento, quando estão criadas as condições para que as próximas duas gerações venham a pagar as dívidas de hoje e que, muito provavelmente, nem sequer nos poderão apoiar na velhice.
Tenho dificuldade em compreender como mais um ano com o eng Sócrates é preferível a uma crise que clarifique a situação o mais rapidamente possível.
Tenho dificuldade em admitir que, os portugueses, desde que lhes seja contada a verdade, prefiram que lhes continuem a escondê-la e suportem meias medidas e meias curas;
Tenho dificuldade em acreditar que os portugueses aceitem que se lhes sejam pedidos sacríficios prolongados e dolorosos, sem que lhes apresentem alternativas mesmo que mais dolorosas, mas mais curtas.
Por isso, qualquer decisão que não seja acompanhada de uma explicação e de alternativas está, mesmo que siga os bonzos pensantes, será sempre péssima e suicidária para quem a toma
Cumprimentos
joão
José Mário
Infelizmente entrámos por um caminho em que o poder se joga na táctica diária de condicionamento do dia seguinte do adversário ou do inimigo.
Faz lembrar uma batalha em que aí se joga a derradeira vitória ou derrota de uma guerra.
Aplicar esta carga bélica no dia-a-dia da vida de um país, reduzindo-o a uma espécie de plateia que assiste quase impotente aos sistemáticos ataques e contra-ataques, conduzirá à destruição.
E num cenário de guerra não poderiam faltar as altas patentes, que cheias de grandes virtudes vão largando as suas ordens…
É bem verdade o que escreve, Margarida. Algumas das altas patentes esqueceram-se rapidamente do que as suas ordens e as suas omissões provocaram no passado.
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