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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

OE/2011: ser ou não ser vital para o País...

1. Aumentaram de intensidade, nas últimas horas, os apelos ao PSD e ao seu Presidente para que viabilizem o OE/2011 – ou que deixem passar o OE/2011, já que a viabilidade deste é matéria bem mais complexa – de modo a “evitar” uma crise política e financeira de grandes proporções.
2. Ainda hoje um comentador dizia, num dos media on-line mais conhecidos que “a aprovação do OE/2011 é vital para os mercados e para o País...”.
3. Grande parte das pessoas que apelam à viabilização do OE/2011, em nome da “salvação do País”, parecem não ter percebido – ou fazem de conta que não percebem ou disfarçam o mais que podem – que a grave crise política e financeira de que falam já aí está, não precisa da inviabilização do OE/2011 para existir...
4. A extrema falta de credibilidade (versus mercados) das finanças públicas portuguesas bem como a acumulação de graves erros de política económica que afundaram a economia nacional, levando-a para um nível de desequilíbrio de que não há memória, já EXISTEM, não vão resultar da não aprovação do OE/2011...
5. O efeito específico que se poderá esperar da não aprovação do OE/2011 será a antecipação da asfixia financeira que em qualquer caso, daqui por mais ou menos tempo se abaterá sobre a economia portuguesa – já começou aliás a abater-se embora nem todos os seus efeitos sejam ainda plenamente visíveis.
6. É já do domínio público que a economia portuguesa não tem acesso aos mercados financeiros externos, o crédito esgotou-se na grande farra das despesas públicas, com efeitos pesadíssimos sobre as empresas e as famílias...
7. É possível que a aprovação do OE/2011 consiga abrir um fiozinho de oxigénio do exterior, mas que desaparecerá caso (ou logo que) voltem sinais de que os objectivos orçamentais podem estar em risco e o desequilíbrio da economia não mostre significativa correcção.
8. Mas é tudo...ganharemos mais algum tempo para a economia conseguir respirar - embora ao mesmo tempo exista o enorme risco de se pensar (as cabeças bem-pensantes do País, claro) que isso nos dá margem para avançar com as aventuras do TGV e outras semelhantes...
9. Se assim for, o momento da aprovação do OE/2011, que será celebrado pelos comentadores de serviço como um momento de verdadeira redenção nacional, não passará de uma fugaz claridade antes de nos embrenharmos de novo na escuridão da crise...
10. O OE/2011 só seria uma viragem de página significativa e duradoura, abrindo caminho à regeneração financeira, caso representasse o primeiro capítulo de uma radical mudança de hábitos de despesa e uma inversão fundamental da política económica...
11. Se assim não for – mas quem nos garante que assim será? - dentro de pouco tempo voltará o refrão “aggiornato”: “é vital para o País e para os mercados que o OE-Rectificativo de 2011 seja aprovado”...

11 comentários:

Anónimo disse...

É o que eu sinto, meu caro Tavares Moreira.

Anónimo disse...

O corte repentino e desavergonhado de hoje aos segundos tratamentos de fertilidade em curso, a falta de papel higiénico em tribunais (cada funcionário com o seu na gaveta pessoal) e pessoas da PJ a queixarem-se de haver um só portátil para um em cada sete agentes é o mais claro sinal de que o pressuposto que o Governo nos está a querer impingir é falso e a situação é, já hoje, absolutamente dramática. Repare-se nesta preciosidade de hoje no JN: muitos estudantes podem ficar sem apoio social, mas não é por causa da falta de dinheiro; é que o ministério usa agora um novo mecanismo de cálculo que é muito difícil de executar; e foram eles que o criaram. Preparem-se, porque um belo dia não muito depois de o orçamento ser aprovado o PM vai dizer que o mundo mudou nas últimas horas. A única coisa do mundo que não muda é José Sócrates.

Manuel Brás disse...

... Urge clarificar, sem dúvida, Dr. Tavares Moreira.

É tamanha a escuridão
em que estamos embrenhados,
por culpa dessa frouxidão
de mentores mal amanhados.

Com pouco tempo para respirar
e com as contas descontroladas,
é inadmissível não reparar
em tantas burrices enroladas…

Como disse, e bem, o Prof. Medina Carreira...

Dessa barraca de farturas
tão fartas e enjoativas
surgem-nos pesadas facturas
de políticas defectivas.

Fartinho da Silva disse...

Caro Tavares Moreira,

Gostaria imenso que clarificasse um pouco esta parte do seu ponto 5. "(...) já começou aliás a abater-se embora nem todos os seus efeitos sejam ainda plenamente visíveis."

Preciso de tomar algumas decisões e se souber um pouco mais em relação a esta matéria poderei tomá-las com maior acerto.

Carlos Sério disse...

Totalmente de acordo.A aprovação do orçamento vem apenas prolongar a agonia deste desgraçado país.

André disse...

Caro Tavares Moreira,

Não podia estar mais de acordo com o seu comentário. Julgo ser importante salientar que mesmo que o OE seja aprovado, nada nos garante que ele venha a ser cumprido, em especial no que concerne à despesa pública. Sou da opinião que mais vale a pena deixar cair governo, fazer eleições e ter no Governo alguém com mais credibilidade, independentemente da cor política. Neste momento, o rosto da crise é a pessoa José Sócrates que como disse e bem M. M. Carrilho está numa fase de "deslumbramento tecnológico", entre outros.

Portanto, julgo que seria preferível governar em duodécimos e aprovar uma outra medida excepcional para evitar o estrondo total. No entanto, julgo que com ou sem Governo, haverá PEC 4!

Tavares Moreira disse...

Ainda bem, caro Ferreira de Almeida, ainda bem que assim pensa - com dois a pensar, a ideia ganha mais força!

Caro Flash Gordo,

Esse retrato de penúria que apresenta, tenderá a generalizar-se, não tenha dúvidas, é preciso utilizar bem os recursos em grandes jantaradas e em viaturas de alta cilindrada...

Caro M. Brás,

Essa observação do Dr. Medina Carreira definindo o benchmark da credibilidade das barracas de farturas, para avaliar a credibilidade da política financeira actual, foi sem dúvida a melhor piada do fim-de-semana!

Caro Fartinho da Silva,

Na minha percepção, a abertura do BCE tem permitido moderar por ora o impacto da escassez de financiamento na economia...mas não podemos continuar assim eternamente...

Caro ruy,

Registo o seu acordo, mas olhe que não se deverá deduzir deste Post que a minha posição é contrária à ideia de deixar passar o OE/2011...
Bem pelo contrário, se ler bem nas "entrelinhas"...

Muito bem, caro André, mas apesar de tudo acho preferível deixar passar este Orçamento inviável...
Mas deixar desde já entendido, de forma inequívoca, que deixar passar Orçamento Rectificativo de 2011 - jamais na vida!

Tavares Moreira disse...

Ainda bem, caro Ferreira de Almeida, ainda bem que assim pensa - com dois a pensar, a ideia ganha mais força!

Caro Flash Gordo,

Esse retrato de penúria que apresenta, tenderá a generalizar-se, não tenha dúvidas, é preciso utilizar bem os recursos em grandes jantaradas e em viaturas de alta cilindrada...

Caro M. Brás,

Essa observação do Dr. Medina Carreira definindo o benchmark da credibilidade das barracas de farturas, para avaliar a credibilidade da política financeira actual, foi sem dúvida a melhor piada do fim-de-semana!

Caro Fartinho da Silva,

Na minha percepção, a abertura do BCE tem permitido moderar por ora o impacto da escassez de financiamento na economia...mas não podemos continuar assim eternamente...

Caro ruy,

Registo o seu acordo, mas olhe que não se deverá deduzir deste Post que a minha posição é contrária à ideia de deixar passar o OE/2011...
Bem pelo contrário, se ler bem nas "entrelinhas"...

Muito bem, caro André, mas apesar de tudo acho preferível deixar passar este Orçamento inviável...
Mas deixar desde já entendido, de forma inequívoca, que deixar passar Orçamento Rectificativo de 2011 - jamais na vida!

Fartinho da Silva disse...

Caro Tavares Moreira,

Agradeço muito o seu esclarecimento.

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Apenas umas achegas para um poste em que concordo em grau, género e número.

a) Teoricamente alguêm sem voz pode cantar num coro, desde que apenas mova os lábios e, importante, que os outros membros cantem; quando deixam de cantar torna-se, ou pode tornar-se complicado.
O nosso governo e, especialmente, os seus dois principais responsáveis, estão nessa situação: já não convencem os credores mas, ainda não desiludiram os votantes domésticos, estes como querem acreditar, acham que cantar é mover os lábios.
b) A obcessão nacional pela aprovação do orçamento é semelhante à obcessão de Chamberlain por um tratado de paz com Hitler; o que os credores estão a exigir é cortar na despesa; infelizmente para o governo, os credores internacionais fizeram o trabalho de casa e, maldita sorte, sabem que, quase todas as medidas de contenção podem ser realizadas sem a necessidade de orçamento; por isso, invocá-lo, soa e sabe a desculpa. Não explicar aos eleitores é um pecado mortal...
c) O Governo e uma parte importante do país, vive entre Plutão e a nuvem de Oort, isto é, na fronteira do nosso sistema solar...
Se o primeiro acha que a resolução da crise está ao virar da esquina, o segundo deve pensar que o dinheiro vem de Bruxelas sem qualquer contraparitda; ou como se costuma dizer:"eles" vão resolver o problema...
A responsabilidade do primeiro é maior do que a do segundo, porque devia avisar este, da enrascada em que nos metemos; o pecado sem perdão está nesse comportamento do governo...
d) O país está insolvente, não vai ficar, está insolvente. O país está insolvente de há dois anos a esta parte, não desde 1996 ou de 2000.
A saída do euro é um cenário (mas não uma inevitabilidade) a cinco anos de vista, não se trata de uma hipotese académica, urdida para avaliar alunos de algum curso universitário, ou pós graduado em qualquer curso de estratégia...
A dívida representa +/- 800% das nossas exportações, +/- 220% do nosso PIB; as responsabilidades presentes e futuras a 20/30 anos representam cerca de 600% do nosso PIB.
Estes números são o resultado de políticas públicas que têm um nome, um autor, um responsável.
e) O cenário é mau e ficará ainda pior se insistirmos em manter uma memória de peixinho de aquário, isto é, com a duração de apenas 30 segundos; assim, vamos estar condenados a repetir sempre o mesmo;
Um país não deseparece, mas empobrece; um país não é uma empresa mas pode legar um mundo de penúria para a geração seguinte;
Não conheço nenhuma sociedade com sucesso, que não assente, por um lado, esse sucesso numa prespectiva de futuro a longo prazo e, por outro, na na determinação em alcançar os objectivos traçados.
Infelizmente, em países que acreditam no futuro o meu comentário desta última alíena é desnecessário...

Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Não tem de quê, caro Fartinho da Silva, não tem de quê!

Caro João,

Registo suas judiciosas observações, sempre bem fundamentadas.
Particular referência para a chamada histórica ao empenho de Chamberlain em celebrar um tratado de paz com um sujeito que não queria outra coisa a não ser a guerra...
Celebrar um tratado de disciplina financeira com quem tem a indisciplina por modelo de conduta, parece de facto algo bizarro...mas pode ter uma justificação inter-temporal...