A forma como os jornalistas transmitem as notícias merece muitas reservas. No fundo, são uns senhores todos poderosos que escolhem as que no seu entender são suscetíveis de captar a atenção dos ouvintes; quantos mais ouvirem melhor para a sua imagem e bolsa, presumo eu, mas também para incentivar o consumo de alguns produtos. Para o efeito, nada melhor do que enveredar pela área da saúde.
Começo a ficar farto das notícias sobre o valor em termos de saúde de certos produtos alimentares. Agora corre por aí uma "maratona" de combate ao colesterol feita à custa de um iogurte. O maratonista, que eu sempre respeitei, foi um dos meus ídolos, dá a cara ao consumo do dito. Antes, noutras campanhas sobre o mesmo produto, figuras da música e do desporto também deram o seu contributo. Ganharam dinheiro? Obviamente, porque não creio que fizessem a publicidade por puro filantropismo. Gostava, sinceramente, de saber se os tais "artistas" acreditam nas virtudes terapêuticas do que estão a publicitar, nos euros não duvido!
Voltando à seleção das notícias, o critério editorialista é muito estranho. Como exemplo temos o chocolate. Quem fizer uma compilação dos estudos sobre tão interessante alimento ficará deveras surpreendido. Nunca vi tantos estudos a apontarem para os benefícios do dito, do tinto, desculpem, do negro. É demais. Seria conveniente analisar se por detrás de tão criteriosos estudos não estarão interesses económicos. Às tantas! A ciência e a comunicação social põem-se com uma facilidade do caraças ao serviço de certos “produtores”. Na minha opinião se alguém gostar de chocolate, então, coma-o por mero prazer e nada mais, desde que não haja contraindicações em termos de saúde, se é que as há para o chocolate!
É preciso ter muito cuidado com o que lemos e, sobretudo, porque é que lemos tão "interessantes" notícias. Este fenómeno chocolateiro não é de hoje. Rio-me à brava. Mas melhor do que "não engordar", como agora foi demonstrado cientificamente, fiquem a saber que, entre muitos estudos, o chocolate faz bem à tosse e à frigidez sexual, para não falar das tentativas de ensaio no decurso do enfarte agudo do miocárdio!
Montezuma deve rir-se que nem um louco no seu céu de chocolate, a fazer inveja a Óbidos, ladeado pelos seus guerreiros, os únicos que podiam beneficiar de tão maravilhoso alimento, o mais energético de todos!
Entretanto estou à espera de ouvir uma notícia sobre "estar sentado", um fator de risco independente capaz de aumentar a mortalidade por todas as causas, mesmo naqueles que praticam exercício físico. Mas nada! O melhor é dar ao Carlos Lopes um quadradinho de chocolate todos os dias quando estiver a beber o biberão do iogurte e aconselhá-lo a que não passe o dia sentado. O "chocolate emagrece", o "iogurte baixa o colesterol", o exercício diminui o risco de mortalidade, mas passar o dia sentado pode estragar tudo.
Estou tramado, não posso comer chocolate, não bebo o iogurte milagroso, passo o dia sentado, o exercício físico que faço não deve servir para grande coisa, logo o risco cardiovascular aumenta. Poderão perguntar como se mede a gravidade do "estar sentado"? Verificando se já tem calos no dito...
12 comentários:
Ahahah!
Caro Prof., não se referiu às pipocas! O alimento do dia! The perfect snack, imagine! Assim o disse o dr. Joe Vinson, da Universidade de Scranton. As pipocas têm mais antioxidantes do que a fruta e os vegetais! Picocas simples, note-se! : )
Carlos Lopes, foi e não deixou ainda de ser também, o meu ídolo.
Conheci-o bem dos tempos em que também pratiquei atletismo - fundo e meio-fundo- e tibve a oportunidade de treinar algumas vezes ao seu lado nos trilhos da mata de Monsanto. Homem simples, apesar de todos os títulos que já tinha alcançado, lutador, tenaz e disciplinado. Carlos Lopes achava-me piada porque, sendo eu um novato na modalidade, "esfarrapava-me todo para o acompanhar nos duros treinos, conseguindo algumas vezes a proeza (certamente com a condescendência do campeão) de o acompanhar até ao fim; depois despedia-se de mim, sem parar de correr e dizia-me: até amanhã rapaz. Eu seguia para o estádio do Belenenses e ele para o do Sporting. Um dia encontrámo-nos numa prova de corta-mato que se realizou numa pista que existia no espaço onde hoje se encontra instalada a Universidade de Medicina Veterinária, em Monsanto. Cumprimentou-me e, dirigindo-se ao carro, retirou um par de sapatilhas de bicos da marca Adidas, azuis-claras, com tiras brancas e ofereceu-mas. Tinham-lhe sido oferecidas dois meses antes, quando ganhou a São Silvestre no Rio de Janeiro.
Também me surpreendeu ver o Carlos a anunciar um yogurte, dado o carácter íntegro que lhe conheço. No entanto, pensei, sem que o produto tenha, só por si, a faculdade de produzir o efeito anunciado, pode no entanto contribuir para ele, e para o ex-atleta, pode constituir uma importante fonte de rendimentos. Não faço ideia de qual será a situação económica actual de Carlos Lopes. Sei que quando veio da sua terra para o Sporting e foi entregue aos cuidados do Professor Moniz Pereira, era um rapaz sem estudos que queria ser soldador e os anos mais importantes da sua vida, passou-os a esfolar-se todo por carreiros e pistas de atletismo.
Mas... como em muitas outras questões - a da comunicação social inclusivé - a tendência é para vermos a árvore e não notarmos a floresta.
Por exemplo; os milhares de pessoas formadas em comunicação que têm de "inventar" notícias para conseguir manter o posto de trabalho numa redacção?! A concorrência é agressiva em muitas profissões e o jornalismo é provávelmente a "rainha" das profissões, nessa matéria.
É verdade Catarina. Mas só depois de ter escrito esta nota é que tive conhecimento desse extraordinário e "saudável" produto, pipocas!
Meu Deus, há muito que ando a denunciar certas condutas, que são mesmo perigosas e ainda ajudam a "afundar" a honorabilidade da ciência. São várias as razoes, mas há uma, de natureza metodológica que é considerar uma associação como sinónimo de causalidade. Para obter associações significativas, bem, deem-me uma amostra muito grande e eu "descubro" maravilhas científicas.
Agora é que vai ser o bom e o bonito se os portugueses seguirem o conselho, comam pipocas. Nos cinemas é uma desgraça quando me sento perto de um pipoqueiro, agora nem quer imaginar,
O mundo está "perigoso", pelo menos em termos alimentares. Nem sei como não foi feito um estudo epidemiológico a demonstrar os efeitos benéficos para a saúde dos pastéis de Belém. Por acaso até podem ter, pelo menos à custa da canela...
Bartolomeu
Eu nunca privei com o Carlos Lopes. Admiro-o muito e fez-me chorar de alegria quando ganhou aquelas medalhas.
Quanto à fabricação de notícias, claro, a poderosa indústria jornalística sabe o que faz e não me admira nada que através de gabinetes de comunicação social fabricados para o efeito não manipulem certas notícias fazendo-as chegar às redações e televisões. Devem, digo eu, ganhar muito nestes circuitos de manipulação e influência. Seria conveniente que se fizessem investigações a propósito das ligações entre certas notícias e comportamento dos jornalistas. Mas haverá jornalistas para realizar este estudo?
Caro Professor;
Penso (eu de) que:
Enquanto houver políticos que solicitam entrevistas a jornalistas e que nessas entrevistas lhe sejam colocadas perguntas préviamente forjadas, e... enquanto houver jornalistas que acedam a fazê-las... e enquanto houver figuras públicas que concedem entrevistas nas suas casas, rodeados pela mulher, os filhos, o labrador e o periquito, querendo passar para o público a imágem de famílias-modelo e enquanto os níveis de audiência atingurem picos, quando estas entrevistas são exibidas nas televisões... qualquer estudo comportamental, ético ou profissional, não terá a menor relevância.
Bartolomeu
Touché!
Espero que as notícias de que o iogurte é barrete não se estendam ao chá de beterraba. Senão vou ter mesmo que ir ao médico...
Chá de beterraba? Isso sabe bem? Às tantas deve ser muito adocicado.
Claro que não. Se soubesse bem não poderia reduzir o colesterol, a tensão alta e as dores nas cruzes. Ou seria de beringela?
Beringela! Colesterol é com a beringela!
Caro Prof, apesar de ser (eu) uma pipoqueira em filmes de ação, sou das silenciosas. Pode sentar-se ao meu lado que não vai ficar incomodado! : ) E quem sabe se ainda o convenço a provar este alimento tão rico em flavonóides! : )
Abraço
Bom. Eu não devo comer pipocas, mas olhe que fico tentado a comer meia dúzia, mas às tantas era capaz de fazer muito barulho.
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