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quinta-feira, 29 de março de 2012

Os exames da discórdia...

A esquerda, como seria de esperar, atacou a reforma curricular do ministro Nuno Crato. Não lhe encontram qualquer virtude, para o PS, inclusive,é voltar a uma escola da qual nós nos libertámos: elitista. E não estaremos disponíveis. O que estão a fazer é implodir o sistema educativo que nós conseguimos construir e a escola pública que temos vindo a defender". Não fazem a coisa por menos. Insistem em carregar de ideologia o debate educativo.
O ponto central da discórdia é a introdução dos exames no quarto ano do ensino básico, uma medida apelidada de fascista, discriminatória, segregadora e elitista. 
A necessidade de incutir hábitos de trabalho e disciplina nos primeiros anos da escola e de avaliar os conhecimentos dos alunos é importante para ir semeando uma cultura de mérito e de excelência e para melhorar a função da escola ajudando os alunos com dificuldades. Uma das deficiências do sistema educativo está no enorme e persistente insucesso escolar. Estes maus resultados são geradores de desigualdade de oportunidades e constituem uma barreira à mobilidade social.
Há muitas outras deficiências no sistema educativo para resolver, mas não é nivelando por baixo que se consegue ter uma escola de excelência e inclusiva. Prestar provas é o que de  mais certo nos espera ao longo da vida, começar  a fazê-lo cedo é bom, não vem daí mal algum ao mundo!

9 comentários:

Nuno disse...

"A necessidade de incutir hábitos de trabalho e disciplina nos primeiros anos da escola e de avaliar os conhecimentos dos alunos é importante para ir semeando uma cultura de mérito e de excelência e para melhorar a função da escola ajudando os alunos com dificuldades."

Será?

Deixo-lhe aqui algo completamente diferente e com sucesso: http://blog.nunocosta.eu/2012/03/como-revolucionar-educacao-publica.html

Eduardo Saraiva disse...

Curiosa foi a intervenção, na AR, de um deputado jovem do PCP, ao afirmar que os exames no 4º. ano são para "impedir o acesso à Universidade".
O PCP não se recorda do tempo em que acabaram com as Escols Técnicas. Para mim, ums dos grandes erros do PREC. Portugal não precisa só de "doutores". Também precisa de técnicos qualificados em diferentes níveis produtivos e sectores da sociedade.
Os deputados jovens do PCP continuam com a mesma cartilha.

Tonibler disse...

Não estou certo de que os exames sejam algo de particularmente diferente das provas de aferição que são feitas hoje. O sistema parece responder melhor às provas de aferição, que aos exames, porque as provas de aferição põe a responsabilidade sobre todos os intervenientes e não só sobre os alunos.

A reforma parece-me positiva, mas aquém daquilo que seria de esperar de alguém que foi tão crítico dos seus antecessores. Louve-se o fim da educação tecnológica (e do ridículo que é ter professores quase analfabetos em tecnologias a ensinar putos que são verdadeiros hackers) e da sua "dispersão" pelas outras disciplinas. Condene-se o reforço da língua portuguesa que, à semelhança das tecnologias, deveria ter sido "dispersa" reforçando as outras disciplinas e, assim, vai reforçar-se o estudo da literatura nacional que, sendo de defender, é uma expressão artística, não é conhecimento.

Em resumo, nota 11....:)

Luís Lavoura disse...

Tonibler,

Condene-se o reforço da língua portuguesa que [...] vai reforçar o estudo da literatura nacional que, sendo de defender, é uma expressão artística, não é conhecimento

Muito bem, de acordo!

É de louvar que se queira ter os alunos a escrever em bom português. No entanto, o reforço do horário da disciplina de Língua Portuguesa dificilmente levará a isso - apenas levará a um estudo reforçado da literatura nacional, o que em pouco contribui para o aperfeiçoamento da linguagem utilizada, na prática, pelos alunos.

José Fontes disse...

Caro senhor Eduardo Saraiva:

Quer fazer o favor de me (nos) esclarecer quem terminou com o Ensino Técnico e quando tal aconteceu?
É que eu fui lá professor durante vários anos (desde que ele foi morrendo de morte natural até que foi realizada a formalidade do «funeral») e a minha memória (e alguns factos concretos e registados) é bastante diferente da sua, se tem memória disso, se não está a falar apenas pela «vulgata» ideológica maniqueísta em que se transformou o «debate» de ideias entre nós, seja sobre educação ou sobre outro assunto qualquer.
Normalmente as pessoas assumem um campo de «debate», normalmente muito marcado ideologicamente, depois esgrimem «argumentos» internos a esse campo.
A realidade que foi (ou que ainda é) normalmente também passa um pouco ao lado desse «debate».

Eduardo Saraiva disse...

Caro José Fontes
Estou fora de Lisboa mas, para a semana, informo das datas precisas em que certos cursos acabaram, como foi o caso do curso (bem terminado) da Formação Feminina e cursos técnicos, como o curso comercial, electricistas, etc.
Deve recordar-se do tempo do Ano 0 (zero), o ano do trabalho cívico (pré-ingresso na Universidade), etc.
No caso presente, não vou entrar pela "vulgata ideologia. Quando analiso ou abordo os aspectos que se referem à educação/escola, não o faço nessa perspectiva mas, infelizmente, a "carga vulgata" tem entrado de mais na Escola portuguesa.
Para a semana transmito as datas com precisão, caso me faculte o contacto, pois ao clicar em José Fontes não encontrei o contacto.

José Fontes disse...

Caro Eduardo Saraiva:

A pergunta que lhe fiz foi pura retórica, como poderia ter depreendido da frase: «desde que ele foi morrendo de morte natural até que foi realizada a formalidade do "funeral"».
O funeral foi, de facto, feito pelo Decreto-Lei n.º 80/78, mas o «morto» já vinha morrendo desde há muito tempo: 1967 – a criação do CPES (Ciclo Preparatório do Ensino Secundário, Decreto-Lei n.º 47.480, de 02/01/1967) unifica o 1.º Ciclo do Ensino Liceal com o Ciclo Preparatório do Ensino Técnico; a Lei n.º 6/73 - vulgo Reforma Veiga Simão, permite, a partir de 1973, e num número significativo de escolas por todo o país, a experiência do 7.º e 8.º anos unificados, que se generaliza a partir de 1975/76. Pelo meio, e antes de 1974, regulada por Circulares, houve a criação dos novos Cursos Complementares, quer do Ensino Liceal, quer do Ensino Técnico (permitindo que estes, pela primeira vez, dessem acesso à Universidade.
Moral da história: o ensino técnico tornara-se obsoleto a partir dos anos 60, não correspondia às necessidades de um país que, a um lado se industrializava em novas áreas a que aqueles cursos não davam resposta, a outro lado a guerra e a emigração fizeram rarear a mão-de-obra que passou a ser muito melhor paga, o que cativava os filhos dos operários para o mercado de trabalho directamente sem passarem pelas escolas técnicas (a muitos servia-lhe os novos cursos dos Centros de Formação Profissional, mais curtos e mais directos na formação profissional).
As escolas técnicas foram perdendo cada vez mais alunos, quer por este efeito que descrevi, quer pela crescente procura dos liceus por parte dos filhos de camadas cada vez mais vastas da classe média baixa e dos novos operários especializados (Lisnave, Cuf, etc. etc.)
Portanto, o ensino técnico não foi capaz de se modernizar e corresponder às necessidades do país a partir de meados dos anos 60, morreu de «morte natural», não foi morto pela Revolução de 1974 como hoje se diz, ou por ignorância ou por razões político-ideológicas.
O período de perturbação social pós-revolucionário apenas serviu para aprofundar a agonia e prosseguir mais rapidamente um rumo bem determinado que vinha de longe.
Outra coisa é considerar-se que o país se deveria ter munido de um ensino técnico-profissional adequado, mas houve tanta coisa que não fomos capazes de fazer.
Nós sempre tivemos grande propensão para a construção retórica da Educação, o que se prova por abundantes reformas e outra produção legislativa complementar e por fracos resultados que nos colocaram 50 anos atrás dos piores países da Europa (Espanha e Itália) e 100 anos atrás dos países da Europa Central e do Norte.
Veja só um indicador importante mas muito significativo: a República Checa instituiu a escolaridade obrigatória universal em 1776, nós apenas em 1956 para os rapazes (Decreto-Lei n.º 40.964, de 31/12/1956) e 1960 para as raparigas (Decreto-Lei n.º 42.994, de 28/05/1960).

Eduardo Saraiva disse...

Caro José Fontes

Só uma "ajuda" para o seu precioso testemunho.
Quem esteve no Ministério da Educação, no tempo do PREC (não me refiro ou culpo a manhã libertadora de Abril),conhece e sabe bem o que se passou nos gabinetes, corredores e elevadores do prédio na av. 5 de Outubro.
Talvez ainda seja cedo mas, como a história não morre e a história faz-se com distanciamento, estou certo que um dia se saberá o que aconteceu à Escola portuguesa, à educação dos jovens e à formação dos estudantes.
Não volto a este assunto. Um bom fim-de-semana para todos os visitantes do blog

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Nuno Manuel Costa
Chego um pouco atrasada ao debate que entretanto ocorreu a propósito do ensino técnico-profissional, mas não queria deixar de reagir ao seu comentário, dizendo que os sucessos dos outros não são necessariamente os nossos. Podem-nos inspirar, mas não podemos deixar de ter os pés bem assentes na terra, sabemos bem quais seriam os resultados de abolirmos os exames. Prescindir dos exames não se faz por decreto, há muitos outros problemas para resolver. Um deles tem que ver com a carga ideológica do debate educativo, de que é um bom exemplo a "luta" entre o ensino público e o ensino privado em vez de nos concentrarmos na qualidade e nos resultados.
Para todos um bom fim de semana.