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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ainda as greves: não são só oportunismo de quem as desencadeia, é estupidez de quem as fomenta

"Este surto de greves parece ser oportunista. Seja a longa paralisação na CP, a greve dos controladores de navegação aérea que não querem sofrer os cortes de outras empresas públicas ou a greve dos pilotos da TAP, que se engalfinham em política interna. À entrada da época alta de receitas, e numa altura em que o Governo apressa privatizações e concessões, parece haver um propósito de reivindicar enquanto é tempo. Enquanto o patrão é o Estado. E, paradoxalmente, os sindicatos que estão contra a privatização acabam por torná-la mais barata para os privados. Pelo caminho, destrói-se a porta de saída de exportadoras e de entrada de turistas. Mas isso não é preocupação de grevistas. Isso sim, é evidente" - Pedro Santos Guerreiro, Jornal de Negócios

11 comentários:

Tonibler disse...

A mais clara demonstração de que o estado não deve ser patrão são estes casos em que, pessoas melhor posicionadas, tentam ter um voto mais valioso que o meu. Embora isso possa ser admissível lá na terra dos patrões do Jerónimo, em democracia deveria ser impossível.

Mais, deve também servir de demonstração de que os funcionários do estado deveriam ter direitos civis reduzidos como a possibilidade de ocupar cargos de nomeação política.

Ilustre Mandatário do Réu disse...

Não é estupidez. É um plano concertado para quanto pior melhor.

Depois da greve, vem a greve selvagem e a revolução.

Dizer que o lobo é estúpido só interessa ao lobo.

Pinho Cardão disse...

Parece ser oportunista? Mas que eufemismo o do jornalista!... É oportunista.
Parece haver um propósito de reivindicar enquanto é tempo? Qual parece, qual carapuça: há mesmo esse propósito.
Claro que tudo A Bem da Nação. Os grevistas têm, acima de tudo, consideração suprema pelo bem da nação...

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o post original e com os comentários que se lhe seguiram. No entanto não deixo de dizer que também cabem culpas ao governo, por omissão, particularmente no caso da CP que já dura há tempos infindos. Por menos do que o que fizeram os maquinistas da CP, cá (em Espanha), levaram os controladores aéreos com requisição militar (acho que o termo correcto é "militarização de funcionários) durante seis meses. Ou seja, o governo também está a deixar que tudo isto se arraste demasiado sem tomar uma posição, seja lá ela qual for.

Já agora uma pergunta, aproveitando-me descaradamente (os meus perdões...) da sabedoria do autor do post original. Nos idos de 1975 um dos governos de não outro que o Vasco Gonçalves (comunistas, comunistas...) aprovou um decreto que previa a requisição civil e em certos casos a militarização de funcionários, vulgo requisição militar. Com o passar dos anos e as alterações à legislação laboral manteve-se essa possibilidade ou caiu algures pelo caminho?

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

José Mário
São greves selvagens, quanto mais estragos fazem melhor. Quem as pode fazer faz, são bem pagos, portanto é fácil. Estamos perante um acto que será muitas outras coisas, mas é com certeza uma manifestação de grande egoísmo e de desprezo por centenas de milhares de portugueses que estão a passar por grandes dificuldades.

Rui Fonseca disse...

Em Dezembro de 2010 coloquei aqui
http://aliastu.blogspot.pt/2010/12/blog-post_04.html

o apontamento seguinte:

"O direito à greve é sagrado e inalienável, diz-se e ninguém, publicamente, contesta.

Nenhum político com ambições de poder se atreve a sequer considerar restrições aos limites desse direito dos trabalhadores.

E, no entanto, a greve dos controladores aéreos espanhóis, uma classe de poucas centenas de profissionais*, conseguiu ontem, de um momento para o outro, paralisar todo o tráfego que atravessa o espaço que eles controlam causando o caos nos aeroportos de Espanha e perturbações graves em muitos aeroportos europeus. Por um dia, os controladores aéreos espanhóis foram donos e senhores de uma parte do mundo.

A propósito desta greve, o PM ministro português terá telefonado ao seu homólogo espanhol solidarizando-se com ele na condenação da paralisação selvagem. Entretanto, o PM espanhol já tinha decidido avançar com o estado de alarme, obrigando os grevistas a retomarem funções sob pena de (alguns) poderem ser expulsos e presos. À tarde, apenas treze não se teriam apresentado ao serviço, a cerca de cem terão sido abertor inquéritos e terão de comparecer perante a justiça.

O direito à greve foi fundamental na luta do trabalhadores pela conquista de dignidade social e pela mais justa repartição da riqueza criada. Sem esse direito, a humanidade seria mais pobre e a injustiça social mais degradante.

Acontece que os tempos mudaram e os trabalhadores também.

Hoje, as classes operárias que se bateram pelo direito à greve vêm esse direito constrangido. São raras as greves em fábricas porque a globalização facilitou a concorrência de produções distantes e suscitou a deslocalização das produções industriais para países com trabalho mais barato.

Quem faz greve, agora?

A função pública e os serviços de utilidade pública (sobretudo os transportes). Com emprego garantido para toda a vida, sem concorrência externa e receitas pagas por todos os contribuintes, as greves da função pública e afins têm êxito garantido e as reivindicações satisfeitas, até porque são muitos e valem muitos votos. Quando os transportes colectivos entram em greve são obrigados a faltar ao trabalho aqueles que os utilizam, isto é, geralmente os mais mal pagos.

Resolve-se a questão, privatizando parte desses serviços? Não se resolve se os concessionários continuarem a receber subsídios pagos pelos contribuintes.

A questão resolve-se do modo como, enviesadamente, reconheceu Zapatero com o apoio apressado de Sócrates: Reconhecendo sem complexos de esquerda que o direito à greve daqueles que se encontram no desempenho de serviços públicos é um direito ilegítimo e deve, portanto, ser extinto. Porque é um direito usado por forças monopolistas, em sentido totalmente contrário aquele para que foi criado: o direito de união do trabalho contra o poder superior dos patrões.

O que é uma paralisação selvagem senão, eufemisticamente, uma greve ilegítima?

Muito medo têm os políticos das palavras

Anónimo disse...

Meus caros, partilho muito do que exprimem nos comentários.
Quanto à atitude aparentemente frouxa e passiva do governo designadamente na CP creio que ela resulta de uma estratégia que passa por evitar crispações que se generalizem e que ponham em causa a relativa paz social que vivemos apesar dos sacrificios impostos a quem trabalha e da falta de perspetivas de quem ainda não teve oportunidade de ingressar no mercado de trabalho ou perdeu o emorego.
De todo o modo creio que esta estratégia, por boa justificação que tenha, não pode ignorar que o Estado tem o dever de reagir quando está posto em causa o interesse geral como consequência de um abuso do direito à greve. Neste caso, meu caro Zuricher, não conhecendo o regime que refere, creio que a resposta que se reclama nestes casos é a requisição civil e a ação contra quem a desrespeitar.

Anónimo disse...

Caro Ferreira de Almeida, o regime a que me refiro é o descrito no Decreto-Lei 637/74 de 20 de Novembro, particularmente o disposto nos números 3 e 4 do artigo 4º, artigo 5º, número 4 do artigo 6º e uns quantos pontos mais ao longo do decreto.

A minha memória dizia-me que era de 1975 mas afinal é de 1974 até. Devo dizer que ao ler este decreto-lei é-me visceralmente impossivel não ter um certo sorriso irónico na cara ao ler os nomes no final.

Anónimo disse...

Pois é verdade. Esse diploma constitui ainda hoje o fundamento legal da requisição civil. Os casos de requisição militar limtam-se, segundo a Lei nº 20/95 - que presumo se mantém em vigor - aos casos em que está em causa a defesa e segurança nacionais.

Joao Jardine disse...

Caro JMFAlmeida

A TAP, e posso estar enganado, vale mais em partes do que vendida por junto.
Uma greve é, para todos os quadrantes, uma crise e, como peroram alguns, as crises são cadinhos de oportunidades.
Era interessante verificar se, no "rescaldo" da greve, se, este Governo, pratica o que prega.
Cumprimentos
joão

Anónimo disse...

Meu caro Joao Jardine, não sei se retalhado o universo da TAP vale mais ou menos. O que intuo é que estes conflitos gratuitos elevam o risco percecionado por potenciais interessados na aquisição da impresa que, se mantiverem o interesse, não deixarão de refletir a ausência de garantia de paz social no preço que estão dispostos a pagar. Sei outra coisa: as greves são sempre fatores de empobrecimento das empresas (não é uma verdade universal porque assisti a negociações de greves necessárias para equilibrar contas e garantir a sobrevivência...). E o acionista de uma empresa que em vez de acrescentar valor o diminui sem que se perceba que outro valor (mesmo imaterial) justifica e contrabalança essa perda, não pode esperar que lhe dêem por ela o mesmo que dariam se apresentasse solidez e estabilidade social.