Na obra que rapidamente se tornou a grande referência da história financeira mundial - "This Time is Different", Princeton University Press, 2008 - os Profs. Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart mostram, com recurso a uma impressionante bases de dados, que as crises com origem no sistema bancário têm como consequência ineludível o aumento muito significativo do grau de endividamento do estado, uma vez que: (i) esta tipologia de crise costuma provocar recessões económicas pronunciadas, o que tende a fazer cair as receitas fiscais e a aumentar as despesas de carácter social; (ii) a importância sistémica dos bancos na economia faz com que, na prática, os governos tendam a suportar as instituições financeiras mais fragilizadas através de injecções de capital nos mesmos.
Daí que não seja de espantar a prevalência de crises de finanças públicas nos países afectados pelas mais graves crises financeiras - uma conclusão que a referida obra também ressalta. Como os curiosos por estas matérias bem sabem, as crises de finanças públicas resolvem-se, em última instância, através do incumprimento do estado das obrigações financeiras ("banca-rota"), ou através de inflação elevada. Das suas, venha o Diabo e escolha.
Ora, uma vez eclodida a crise, pouco haveria a fazer para evitar a deterioração automática das finanças públicas. Mas daí a exacerbar o problema, apostando no activismo da política orçamental para combater os efeitos da recessão, parece, no mínimo, pouco prudente. Mas foi o que a generalidade dos países fizeram. Grécia, Portugal e Espanha já perceberam os custos que tal estratégia pode trazer...
Este e outros aspectos da resposta à crise que foi seguida pela maioria dos principais economias mundiais nos últimos dois anos constituem o objecto do artigo que publiquei no Jornal i na passada 6ª feira.
4 comentários:
Caro Dr. Brandão de Brito,
Tema de enorme interesse, o deste seu Post.
Mas há um ponto que suscita uma curiosidade muito particular: sendo certo que em países como o Reino Unido e os USA foi muito elevada e conhecida a contribuição da crise financeira para os défices orçamentais, como terá sido em Portugal?
Tanto quanto se sabe, em Portugal o Estado apenas contribuiu com garantias financeiras, não com capital...e as garantias financeiras em nada afectam o défice, que se saiba...
No caso BPN,
...que se saiba, o Estado ainda não injectou um simples euro, tem sido a CGD a tratar o doente...
Tem alguma indicação do contributo directo da crise financeira para o défice?
Caro Brandão de Brito:
Um notável artigo, que deveria ser lido e reflectido pelo nossos Ministérios das Finanças e da Economia.
No combate à crise, gerou-se uma onda que levou à mesma medicação, qualquer que fosse o estado da economia e das finanças públicas de cada país. Foi um "Maria vai com as outras" e depois logo se veria, como o meu amigo bem refere.
Por isso, compunge-me ver os nossos governantes a dizer que tomaram as mesmas medidas que os outros países, e dão como exemplo a França, a Alemanha, etc. Acontece que os nossos indicadores são substancialmente diferentes.
UM OUTROS ASPECTO RELEVANTE do seu artigo refere-se à questao levantada sobre a liquidez que foi injectada no sistema financeiro. Pouca se destina à actividade produtiva; muita vai para o financiamento do Estado.
Tinha essa percepção. Mas o meu amigo conseguiu fundamentar a sua teoria de um modo brilhante.
Caro Dr. Tavares Moreira,
Tanto quanto sei, é como diz: o estado português ainda não injectou fundos no sector financeiro. Mas a crise financeira não deixou de provocar uma explosão do défice.
A parte maior da deterioração das finanças públicas teve origem no efeito cíclico ("estabilizadores automáticos") resultante da recessão que se seguiu à crise financeira. Também significativas, mas de segunda ordem para o crescimento do défice, foram as políticas orçamentais de suporte à economia.
Caro Dr. Pinho Cardão,
Muito obrigado pelas palavras amigas.
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