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domingo, 31 de outubro de 2010

Halloween

Temos o hábito de incorporar nas nossas tradições hábitos de outros povos como se os nossos não fossem suficientes. Sejam quais forem as razões, há sempre uma que comanda as novas festividades: o negócio. Presumo que é o que está a acontecer com o Halloween. Não quer isto dizer que, nesta altura do ano, não ocorram festividades e iniciativas relacionadas com os defuntos e com a morte. Houve sempre e, nalguns locais, caso de Coimbra, já se usam, há muitos anos, abóboras esburacadas com dentes e velas no seu interior ou caixas velhas, retratando carantonhas, iluminadas no interior. Os miúdos transportam-nas à noite de casa em casa cantando “Bolinhos e bolinhós”:
Bolinhos e bolinhós, Para mim e para vós, Para dar aos finados, Que estão mortos enterrados., À porta da bela cruz, truz, truz…, A senhora está lá dentro, Sentada num banquinho, Faz favor de vir à porta, P’ra nos dar um tostãozinho ou um bolinho.
E o melhor é dar umas moedas ou outra oferta, porque senão ainda cantam coisas nada agradáveis.
A americanização deste evento tem alastrado e os mais novos já fazem festas e compram artefactos adequados. O comércio do Halloween veio para ficar. Mas parece que começa a provocar algum prurido em certos setores religiosos que não veem com muita graça estas formas de paganismo com bruxas, monstros e abóboras à mistura. Para contrariar este fenómeno propõem alternativas cristãs; as crianças devem vestir-se de santos, de santinhas, os adultos vestirem uma peça de roupa branca e colocar velas nas janelas, etc.
Presumo que os mais pequenos deverão achar mais piada às máscaras, muitas capazes de assustarem o ”susto”, e a toda a parafernália das vestimentas do que andarem vestidos de São João Baptista – não esquecer que nesta altura do ano não é muito aconselhável -, de São Jorge, de Santo António ou de anjinho papudo e de sexo duvidoso.
Mas que mal tem em cultivar o paganismo? Pessoalmente não vejo nada de mal, sempre é mais aberto e propício à fantasia e à criatividade. Muito mais do que o sugerido pelas práticas “alternativas”. São tantas as ocasiões em que se podem vestir de santos, de santinhos ou de anjos, que bem podemos deixá-los gozar um pouco com as bruxas e a morte.
Ia a pensar nestas “coisitas” quando esbarro com a realidade fria. Pessoas idosas doentes, e com dificuldades, em catadupa. Já tinha perdido o conto das que tinha visto nesse dia, quando tive de ver um tio, idoso, meio debilitado, algaliado, a viver sozinho, com discurso oscilante entre a revolta, a resignação, pensamentos não aconselháveis, regressando de imediato a um estado de confiança e de satisfação, agarrando-se a pequenas coisas, para ele muito importantes. Depois de alguma conversa e orientação, aceite como sinónimo de equilíbrio e de esperança, passo para outro lado onde a velhice e as limitações físicas impõem os seus ritos tenebrosos e perfeitamente outonais.
Mas que sábado! Meti-me no carro e acabei inesperadamente na albufeira. Só. Chuva intensa. Abertas ocasionais com o sol a piscar entre as negras nuvens mijonas. Sábado, chuva e sol ao mesmo tempo. Um espetáculo belo tendo por horizonte a toalha de água. Foi então que me lembrei de em pequeno ouvir dizer que aos sábados, quando chovia e fazia sol ao mesmo tempo, era porque as bruxas estavam a pentear-se. E comecei a imaginar as minhas bruxinhas de antigamente a enfeitarem-se. Mas não aquelas bruxas velhas, cabelos desgrenhados, narizes aduncos e verrugosos, sem incisivos e dentes cobertos de tártaro, e unhas negras dobradas em garra. Não! Eu sempre consegui imaginar bruxinhas com outras formas, lindas, graciosas, dentaduras perfeitas, cabelos soltos e doirados. Quase que julguei vê-las a saltar entre as mais belas e coloridas folhagens, tamanha era agitação e o ruído que faziam.
Enfim, cada um tem o Halloween que merece...
Agora que escrevi este relato só falta ouvir - já é noite -, a canalhada a cantar à porta: - “Bolinhos e bolinhós, Para mim e para vós, Para dar aos finados, Que estão mortos enterrados.”
Já tenho as moeditas prontas!

Pequeno apontamento sobre o Dia Mundial da Poupança...

Iliteracia económica e financeira, falta de rendimento disponível, endividamento e instabilidade fiscal explicam os baixos níveis de poupança registados nos últimos anos.
Segundo o INE, a taxa de poupança das famílias inverteu o movimento descendente que se registou de 2001 – situada nos 11,7% - a 2008, ano em que atingiu mínimos históricos de 5,6%. Esta queda só foi invertida no último trimestre de 2008, à medida que a crise económica se foi instalando.
No primeiro trimestre de 2010, a taxa de poupança situou-se em 10,7% do rendimento disponível, sendo previsível, segundo o INE, que este nível melhor ligeiramente até ao final do ano -11% - mantendo-se depois em 2011.
O desemprego e a incerteza quanto ao futuro geram receios que se traduzem num aumento de poupança das famílias. O avolumar dos efeitos da crise económica constitui um suplemento de prudência que influencia o comportamento das famílias. A maior dificuldade de financiamento das famílias, seja pelos elevados níveis de endividamento já atingidos, seja pela contracção do crédito por parte das instituições financeiras, pode explicar também uma retracção nas decisões de compra.
A poupança estável é fundamental para a economia, em particular a poupança interna e de médio e longo prazo. E neste capítulo há muito para fazer...

sábado, 30 de outubro de 2010

Pequenos detalhes que fazem a diferença

Há pequenos episódios que nos despertam para a realidade nacional com mais força que quatro telejornais seguidos. Em Setembro, quando fomos uns dias ao Alentejo, atrasámo-nos no passeio da manhã e procurámos um sítio para almoçar, já passava bem das duas da tarde. Não havia vivalma nas ruas porque o calor era sufocante. Entrámos num restaurante meio escondido que tinha ar condicionado e uma sala ampla cheia de mesas postas, onde apenas um par de clientes acabava a sua refeição. O empregado indicou-nos lugar numa mesa minúscula virada para a parede, num cantinho aproveitado certamente a contar com os dias de enchente mal contida de comensais. Disse-lhe que não queria ficar ali e sim numa das mesas junto à janela mas ele resistiu, que não podia ser, éramos só duas pessoas e as outras mesas eram para quatro, se viessem mais clientes e ele não tivesse mesa para todos? Enchi-me de paciência e lembrei-lhe que eram quase três horas, se viessem mais clientes havia de ser mais perto do jantar, talvez não demorássemos tanto a almoçar, não é? O homem embezerrou, definitivamente não gostou do atrevimento, foi lá dentro pedir instruções e voltou mal humorado, que sim, que escolhesse outra mesa, mas que se viessem mais clientes… Não chegou mais ninguém, almoçámos depressa e não fiquei com vontade de lá voltar.
No fim de semana passado fomos a Amsterdão e queríamos ir, um grupo de seis pessoas, a um restaurante pequeno que estava a abarrotar de gente. Não tínhamos marcado e, bem treinados como estamos em Portugal, pensámos logo que nem valia a pena tentar a sorte, além disso já passava das 9h da noite e àquela hora já nem deviam aceitar mais gente, os holandeses jantam pelas 7 e fecham cedo. Mas uma pessoa do grupo vive lá há anos e nem hesitou, entrou e poucos segundos depois estava a chamar-nos, entrem que vão arranjar-nos lugar. Os empregados, muito jovens, fizeram-nos um cumprimento amistoso enquanto se atarefavam a puxar uma mesa escondida para um lado onde parecia não caber mais nada, depois levaram pelo ar cadeiras não sei de onde, pouco depois, no meio da confusão de pessoas, já estavam os pratos e talheres na mesa e nós sentados com umas belas cervejas a matar a sede. Levámos algum tempo a decifrar o menu e entretanto o rapaz veio dizer-nos, muito contente, que ia vagar uma mesa mais desafogada, era só uns minutos, já aí vinha um colega tomar nota dos pedidos enquanto ele ia preparar a outra mesa, é só um momento, desculpem o incómodo de mudarem mas vão ficar melhor. Foi um excelente jantar mas a certa altura reparámos que já éramos os últimos, passava das 11 h e eles tinham começado a arrumar tudo para o dia seguinte, mas perceberam a nossa conversa e vieram dizer que ficássemos o tempo que entendêssemos, iam arrumando mas não havia pressa, enquanto houvesse clientes eles estavam ao serviço. Despedimo-nos com muita simpatia e cheios de vontade de lá voltar.

Agora aguardemos...

Acabo de ouvir Francisco Assis declarar uma novidade. A redução dos 500 milhões de euros de receita fiscal – IVA e deduções fiscais em IRS - que o PSD obteve na negociação com o governo será compensada com redução de despesa pública.
Afinal sempre há por onde reduzir do lado da despesa. Esperemos que não seja feito à custa dos trabalhadores da administração pública e das empresas do sector empresarial do Estado sobre quem já recai uma parte significativa do esforço de redução do défice. Esperemos que as despesas com protecção social sejam poupadas.
Aguardemos mais uns dias, até à discussão na Assembleia da República para conhecermos a proposta que o governo vai apresentar.
O Orçamento continuará a ser mau, mas a via negocial escolhida por Pedro Passos Coelho permitiu atenuar os impactos brutais que o aumento dos impostos vai provocar, em particular, na vida das famílias, em especial das famílias que vivem com rendimentos baixos e com dificuldades.

Qual rigor, qual carapuça! Calem-se, de vez!...

Muito se falou ultimamente nos gastos do Estado em Consumos Intermédios, rubrica que abrange as despesas não incluídas em Pessoal, Segurança Social, Juros, Subsídios e Outras Despesas.
Pois os Consumos Intermédios passaram de 5,5 mil milhões de euros para 9,1 mil milhões de euros (estes ainda dados provisórios), portanto um aumento de 3,6 mil milhões de euros, equivalente a 66%, nos anos do Governo Socialista.
Fantástico é também o rigor da execução de que tanto se orgulha Teixeira dos Santos.
Para 2005 estavam previstos 5,1 mil milhões de euros, que passaram na revisão orçamental para 5,7 mil milhões e acabaram em 6,0 mil milhões, isto é, um desvio de 900 milhões.
Para 2006 estavam previstos 5,6 mil milhões de euros, que acabaram em 6,4 mil milhões, um desvio de mais 770 milhões.
Para 2007 estavam previstos 6,4 mil milhões de euros, que acabaram em 6,8 mil milhões, um desvio de mais 400 milhões.
Para 2008 estavam previstos 7,0 mil milhões de euros, que acabaram em 7,2 mil milhões, um desvio de mais 200 milhões.
Para 2009 estavam previstos 7,7 mil milhões de euros, que acabaram em 7,8 mil milhões, um desvio de mais 100 milhões.
Para 2010 estavam previstos 7,8 mil milhões de euros, que acabaram em 9,0 mil milhões, um desvio de 1.200 milhões.
Para 20011, o OE prevê 8,638 mil milhões. Bastava regressar aos valores orçamentados para 2010, para se obter uma “poupança” de 800 milhões de euros.
E o Governo e Teixeira dos Santos têm a suprema lata de nos virem falar em rigor. Calem-se, de vez!...

Legisla-se tanto, porque não se legisla o necessário?

Segundo o ´Público´, a Câmara Municipal de Lisboa deliberou retirar as casas de habitação social a quem as vandalizar. O facto de esta medida só agora ter sido tomada e ser objecto de parangonas, diz bem do modo como durante décadas foi encarado o património de todos, como coisa que se poderia estragar que os contribuintes se encarregariam de financiar a reposição. Quantas vezes fosse necessário porque o pensamento do politicamente correcto tornava oficial a doutrina de que a pobreza confere o direito de desbaratar o esforço de quem contribui para a sua erradicação. Mais um custo incontornável do Estado Social...
Ainda bem que a CML acordou para a necessidade de não tolerar estas práticas, e faço votos para que a decisão agora tomada não seja mais uma proclamação de intenções. E surpreende-me que num País em que o jornal oficial se enche de leis para tudo e mais alguma coisa, o legislador não tenha considerado de interesse geral impor esta medida como obrigação de todos os municípios e responsabilidade dos seus gestores.

A pílula do dia seguinte

Acabou agora Teixeira dos Santos de dizer, em Declaração na Assembleia da República sobre o acordo relativo ao OE para 2011, "que o PSD quis dourar a pílula aos portugueses". Descaramento e falta de decoro a que, aliás, já estamos habituados!...
Então o que é que Sócrates e Teixeira dos Santos andaram a fazer durante todos estes anos, senão dourar a pílula aos eleitores?
Quando muito, o que o PSD fez foi evitar maiores contingências, procurando que o Governo tomasse a pílula do dia seguinte e, por uma vez, não gerasse mais um monstro de despesa.

"Socorro, Lisboa está de volta!"

Este é o título de um artigo publicado no jornal electrónico ´PRESSEUROP´ que vale a pena ler.
O texto procura dar resposta a uma interrogação óbvia: o que explica que um tratado aprovado há um ano, havido como a panaceia para as debilidades e bloqueios de uma união económica que se pretendia política, cedesse ao fim de tão pouco tempo à necessidade da sua revisão? Dirão os líderes, como Sócrates o fez, que o mundo mudou de repente. Mas a verdade é que a conclusão a que as lideranças chegaram a 28 de Outubro de 2010 na cimeira que os reuniu num momento de grande descontentamento e agitação social em muitos dos Estados europeus, não esconde as fragilidades de uma união onde a solidez institucional está à vista, a solidariedade entre Estados mais fortes e mais débeis é uma quimera, onde a união monetária dá sinais de desagradar a quem depositou a esperança de mudanças estruturais nas suas economias mas, acima de tudo isto, que revela a mediocridade dos decisores e a incapacidade da burocracia europeia para apoiar a concepção e tomada de decisões à altura das circunstâncias.
Creio que a situação que a Europa dos 27 vive, tornou indisfarcável que a somar à crise financeira e às dificuldades económicas ocorre uma crise profunda na qualidade das lideranças.
A ideia da revisão do Tratado de Lisboa é, para alguns, justificadamente um pesadelo se nos recordarmos do que aconteceu com o abortado tratado constitucional e com a negociação e ratificação pelos Estados do compromisso possível assumido em Lisboa.
Entendo bem a reacção dos irlandeses que o artigo documenta: “Muito a propósito, em vésperas do Halloween, regressa o fantasma do Tratado de Lisboa”, escarnece o Irish Independent. “Não vamos ter de reviver aquilo outra vez. Ao votarmos pelo Tratado de Lisboa, demos à União Europeia poder para tomar decisões sem andar a pedir aos irlandeses que organizem um referendo, ou não?”

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O homem do leme


A Margarida diz que andamos a meter água e descrê que alguém nos acuda.

Mas, calma, que o Homem do Leme, não dando muito cavaco, mas dando cavaco certo, ainda mantém e vai manter o rumo. Com dificuldade, é certo, mas o barco segue direito, apesar da tempestade que o chefe executivo da tripulação cria a todo o momento.
E os passageiros apoiam e estão com o Homem do Leme.

A meter água...

Andamos a meter água por todos os lados. Mas para não ser a seco, a natureza esmerou-se com chuva farta. Que mal fizemos nós para merecer tantos dilúvios? Mas alguém nos acode?

Sugestão para tema de doutoramento

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´O EFEITO AMACIADOR DOS RESULTADOS DAS SONDAGENS´
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Utopia, insensatez, temeridade no défice/objectivo do OE/2011?

1. Nestas fracassadas negociações – primeiro “round” é certo – para a “viabilização” do OE/2011, há um elemento que impressiona pela exuberância do irrealismo que revela: a insistência no objectivo do défice de 4,6% do PIB.
2. O Governo chega mesmo a declarar que se trata de um ponto inegociável, mostra-se totalmente inflexível quanto a esse dado.
3. Confesso que pasmo perante tão grande falta de sentido da realidade: sem se saber ainda qual vai ser o défice de 2010 – que pode atingir níveis bem superiores aos valores até agora sugeridos – como é possível fazer uma aposta arriscada com toda esta firmeza, com altíssimo risco de fracassar?
4. Não dá para perceber que o objectivo do défice para 2011 só pode ser razoavelmente projectado quando se tiver uma noção muito próxima do ponto de partida – ou seja de qual é o défice efectivo em 2010?
5. E que nesta fase, em que persistem enormes dúvidas quanto à real situação das contas públicas em 2010, seria do mais elementar bom senso apontar um objectivo para 2011 bem menos ambicioso, susceptível de ser cumprido sem grande risco, admitindo-se até o “brilharete” de, em meados de 2011, ser anunciada uma revisão em baixa desse objectivo?...
6. Generalizou-se a ideia, profundamente errada, de que o ponto de partida para a fixação do objectivo para 2011 é o défice de 7,3% do PIB em 2010.
7. Mas ninguém repara que este défice – de resto mais do que duvidoso neste momento – só será possível graças aos 1,6% do PIB que vêm da transferência do Fundo de Pensões da PT?...
8. O ponto de partida mínimo para avaliar a exequibilidade do objectivo de 4,6% em 2011 é assim um défice de, pelo menos, 8,9% do PIB...ou de 8% sem submarinos segundo os cálculos da Unidade Técnica de apoio à AR.
9. Mas é muito provável que o défice de 2010 venha a ser muito superior, na orla dos 10% do PIB, se tivermos em conta que existem volumes consideráveis de despesa (Saúde, etc) que estão neste momento fora das contas da execução orçamental e que numa avaliação segundo as regras de contabilidade nacional – de compromissos de despesa (e de “accrual” quanto aos juros) – terão de ser contabilizadas no défice.
10. Sendo assim, o objectivo de 4,6% para 2011 pode bem ser tomado como uma mistura explosiva de UTOPIA, INSENSATEZ e TEMERIDADE...
11. Quanto à posição de o considerar inegociável, nem me atrevo a classificar...

P.S.: A Grécia acaba de anunciar mais uma revisão em alta do défice de 2009, agora para 15% do PIB...não aprendemos?

“Do inconveniente de ter nascido”

Durante a tarde cruzei-me com uma aluna. Perguntou-me como andava, e eu, vagamente, deixei transparecer qualquer coisa com a vida. Perspicaz, apesar da sua juventude, sugeriu-me Cioran, pesado, amargo, mas experiente até ao tutano da noite em matéria de dor e de sofrimento.
À noite abro o correio eletrónico e deparo-me com um livro do filósofo, versão francesa, amavelmente enviado pela aluna. Percebi o seu gesto. Ao mesmo tempo fez-me recordar que tinha adquirido há pouco tempo um livro do autor, a versão portuguesa, “Do inconveniente de ter nascido”. Fui obrigado a procurá-lo e, com muita dificuldade, acabei por o encontrar num monte perdido. Tinha lido apenas algumas passagens. São muitos aforismos e fragmentos, curtos, incisivos, profundos, dolorosos e estimuladores da criação de novas ideias. Um deles, por acaso um dos mais longos, chamou-me novamente a atenção: “Nós não corremos em direção à morte; fugimos da catástrofe do nascimento, agitamo-nos como sobreviventes que procuram esquecê-lo. O medo da morte é apenas a projeção no futuro de um medo que remonta ao primeiro instante. Repugna-nos, claro está, chamar flagelo ao nascimento; não inculcaram em nós que era ele o supremo bem, que o pior se situava no fim e não no início da nossa carreira? O mal, o verdadeiro mal, está porém atrás, e não à nossa frente...”.
A releitura deste fragmento fez-me recordar certas pessoas que, quando confrontadas com situações graves, amaldiçoam o facto de terem nascido. Mas as associações não ficaram por aqui. Um pequeno episódio ocorrido num programa televisivo acabou, também, por bailar. O apresentador, a propósito de qualquer coisa que não consigo reproduzir, presumo que estaria relacionado com o desejo de ter filhos - um desvio inusitado do programa de entretenimento -, perguntou à senhora se já tinha pensado que um dia, o tão ambicionado ser iria sofrer e morrer. Achava bem? Calaram-se ambos. Passados dois a três prolongados segundos, o programa continuou com gargalhadas e boa disposição à mistura. Mas a pergunta continua viva e a incomodar. A terceira associação prende-se com um interessante artigo de opinião, de António Vaquero, em que é comentado as “Últimas notícias sobre Deus e o Universo”. Tudo por causa de Stephen Hawking que, há pouco tempo, afirmou: “o universo criou-se do nada”. Sendo assim, Deus não é preciso.
A confusão entre ciência e religião é cada vez maior. O melhor é separá-las definitivamente. Não deixar que os teólogos se metam com a física e que os físicos não se armem em teólogos. Mas parece que ambos têm uma apetência, e até necessidade, para se enfiarem em áreas que não são as suas. Uns caem no Paradoxo de Deus e outros no Paradoxo do Universo. Aquela coisa do Bing Bang, um acontecimento em que muitos veem a mão divina e outros uma singularidade, faz-me lembrar o conceito “a catástrofe do nascimento” de Cioran. Só que aqui, nascimento do universo, os sobreviventes, muito agitados, não procuram esquecer, antes pelo contrário; querem saber o antes e como tudo começou. Não conseguem? Claro que não, porque o “mal vem de trás”, um mal que se chama inteligência humana, que pode servir para alguma coisita, mas não deixa de ser limitada, porque nada invalida que não haja outras formas de inteligência capazes de ver, de sentir e de explicar o que para nós é inexplicável. Sendo assim, para que serve a nossa pobre e limitada inteligência? Basta ver o que andamos a fazer, como resolvemos os problemas e interpretamos os acontecimentos. Razões mais do que suficientes para justificar o “Do inconveniente de ter nascido”...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Confirma-se que não querem o FMI?

Aterrei e ouvi dizer que se malogrou o entendimento entre o governo e o PSD porque o governo responsável pelas derrapagens de milhares de milhões de euros na despesa pública e pelo concomitante agravamento da dívida externa, não aceita cortar na despesa o equivalente a ... 0,25% do PIB!
A ser verdade só encontro uma explicação: isto está de tal maneira que quem nos desgoverna só vê como remédio fazer tudo para que o FMI nos governe.
Aliás, alguém me diz se o FMI é pior do que isto?

Adenda: Será que a história se repete com outros tons? Será que o Doutor António Borges também terá pensado que um dia iria governar Portugal, só não sabia como?

Candidato Cavaco Silva


"Está ao nosso alcance agarrar o futuro com determinação e generosidade. Está ao nosso alcance construir um Portugal mais desenvolvido e mais justo.É isso que me motiva, guiado pela minha visão de futuro, pelo elevado grau de exigência ética que sempre caracterizou a minha vida, na crença inabalável na capacidade dos Portugueses para superar adversidades e na convicção de que seremos capazes de vencer.
Eu acredito."
(Cavaco Silva, extracto do discurso de candidatura)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pulseira do equilíbrio

Como o país anda desequilibrado, nada melhor do que uma pequena história para esquecer as amarguras da existência, uma espécie de "pulseira do equilíbrio", versão blog.


Uma jovem de 26 anos, obrigada pela legislação a fazer exame médico, chamou-me a atenção pela jovialidade, simpatia e por usar no pulso esquerdo dois relógios. - Este pessoal passa-se da cabeça. Dois relógios! Após este breve pensamento passei ao interrogatório e exame físico. Ao proceder à medição da pressão arterial aproveitei o ato para analisar os dois relógios. Não eram dois relógios, mas sim um e uma pulseira cor-de-rosa com dois hologramas. – Que raio de pulseira! No final, perguntei-lhe se me podia dizer o que era aquilo, porque nunca tinha visto nada de semelhante. Olhou-me com uma expressiva exclamação facial e, ao mesmo tempo que me dava a oportunidade de a ver mais de perto, disse: - Não sabe o que é? – Não! – É a pulseira do equilíbrio! – Como? – Pulseira do equilíbrio. – E serve para quê? – Para mantermos o equilíbrio, o bem-estar, para termos mais energia; não vê estes hologramas? Um é o polo positivo e o outro é o negativo. Olhei para a pulseira, reles, de plástico, com dois hologramas a dizer qualquer coisa em inglês, apalpei-a e não achei nada de especial, a não ser o seu uso por uma jovem que tinha um nível cultural, aparentemente, elevado, e uma experiência de vida rica para a idade. – E funciona? Perguntei-lhe. Riu-se, embaraçada, e rematou: - Não tem evitado alguns tropeções!
- Sabe? A sua pulseira fez-me recordar uma velha tia e uma história que lhe vou contar quando era pequeno. Aconteceu há meio século. A minha tia Custódia, solteira, que conheci sempre velha, de voz tonitruante e com duas manápulas capazes de dobrar o cachaço a um boi, tinha o hábito de contar histórias, inicialmente agradáveis, acabando sempre por as terminar de forma a chatear-me, - um estupor. Um dia comprou uma pulseira magnética na feira. Não lhe ficou barata. Ouvi-a dizer à minha avó. Mas como lhe disseram que era o melhor que havia para o reumático, não hesitou. A pulseira comportava vários elos, quadrados, feitos de latão, e dentro de cada um devia haver qualquer coisa, porque se ouvia quando a chocalhava. Feia, fascinou-me de imediato por causa da atração entre os elos. Abria a pulseira e depois, lentamente, aproximava-os até sentir uma força de atração e zás! Colapsava-se. – Mas como é possível uma coisa destas? Parecia um milagre. Intrigado com o interior dos elos, aproveitei uma distração da minha tia. A pulseira estava sobre a cómoda do quarto. Entrei, peguei no “antirreumático” magnético, e com a ajuda de uma chave de fendas consegui retirar do interior pequenos cubos negros com os quais comecei a fazer comboios e vê-los a chocar sozinhos entre eles. Uma delícia. O pior foi a seguir. Ao ver o estado em que se encontrava o remédio para as suas dores, não lhe foi difícil saber quem teria sido o autor. Sem dizer uma palavra, e com o resto da pulseira na mão esquerda, pregou-me um estalo de tal ordem que caí desequilibrado no chão. Vi estrelas, como se tivesse sido atropelado pelas enormes máquinas a vapor que puxavam o comboio-correio. Umas bestas. A minha tia também não lhes ficava atrás.
Sorriu. Antes de se levantar informou-me do preço, como adquiri-la e as cores disponíveis. Ao sair, disse-lhe em jeito de desabafo: - Se a minha tia Custódia na altura usasse uma coisa destas, não teria levado na cara e nem perdido o equilíbrio...
Cinquenta anos depois, tudo na mesma, ou pior! Bom, pior não digo. Pelo menos desta vez não estraguei a frágil pulseira...

O pau mandado!...





Nunca foi o Ministro das Finanças de Portugal.
Foi sempre o servo às ordens de Sócrates.
Um pau mandado.





Agarrrrrrrrrrrraaaaaaaa que...

... ele quer fugir!!
E se o ajudássemos a sair com dignidade?

Accountability, uma prática que aguarda melhores dias...

O défice de informação e de accountability (transparência) sobre as actividades do Estado, e não apenas no que se refere às contas do Orçamento do Estado, é um traço negativo da gestão pública. Mais uma vez um estudo internacional deixa claro que Portugal não cumpre com as boas práticas e os padrões de qualidade internacionais em matéria do processo orçamental, colocando-nos num lugar desprestigiante face aos nossos vizinhos europeus. Somos acompanhados pela Itália, mas com o mal dos outros podemos nós bem.
Lê-se no relatório que “A classificação indica que o Executivo só disponibiliza parte da informação sobre o Orçamento e as actividades financeiras analisadas no inquérito, o que torna difícil para os cidadãos responsabilizar o Governo pela gestão dos dinheiros públicos”.
Refere o relatório que a falta de informação dificulta a vida aos partidos na elaboração de propostas credíveis e bloqueia a sociedade civil, que não sabe como é gasto o dinheiro. Sendo verdade esta afirmação, também não é menos verdade que os partidos pouco ou nada têm feito para alterar este estado de coisas, aceitando que as regras do jogo se mantenham. E a sociedade civil com a sua fraca e inexistente intervenção cívica nestes domínios, adormecida e alheada que está da vida partidária e política, não exerce pressão e não toma iniciativas tendentes a alterar esta situação. Comportamentos que nos levam a pensar que ninguém estará interessado na mudança ou que ainda não descobrimos os seus benefícios.
A falta de accountability e de informação de qualidade e relevante sobre as actividades do Estado, seja, entre outras, nos sectores da saúde, da educação ou da justiça, faz parte de uma cultura que não avalia (ex-ante e ex-post), por regra, os impactos económico, social e financeiro das medidas políticas, inviabilizando que o governo e a assembleia da república conheçam esses impactos, se é que os querem conhecer, e impedindo que os cidadãos avaliem os resultados das decisões tomadas. É uma falta que é, também, desresponsabilizante, que nega a avaliação das políticas públicas, e que dificulta a qualidade da decisão política e o escrutínio da sociedade civil, mas com a qual vamos convivendo pacificamente.
Muita informação que deveria ser produzida e divulgada internamente acaba por chegar ao conhecimento público através de estudos e relatórios elaborados por instâncias internacionais. E quando acontece, lá aparecem o governo e as autoridades públicas a negarem os números que, por milagre, aparecem sem que previamente o país deles tivesse tido conhecimento e tivessem sido adequadamente validados. Accountability, uma prática que aguarda melhores dias...

António Borges no FMI: excelente notícia

1. Estamos mergulhados num turbilhão de notícias em redor das abortadas negociações sobre a proposta de OE/2011 – OE que, mesmo antes de nascer, já anda por aí aos tombos e pode vir a ser um nado-morto.
2. É certo que sabemos qual irá ser a triste sorte deste OE, caso ainda sobreviva, nomeadamente as horríveis deformações a que ficará ser sujeito ao longo da sua curta vida de 1 ano, que o transformarão numa criatura digna de Frankenstein...
3. Para aqueles que defendem o aborto, não se compreende de todo a defesa da vida deste OE...
4. Tem passado assim quase despercebida a notícia da nomeação de António Borges como Director do Departamento Europeu do FMI, também hoje divulgada.
5. Trata-se de uma nomeação de grande significado, particularmente numa altura em que diversos países europeus (Hungria, Roménia, Bulgária, entre outros) para além do conhecidíssimo caso da Grécia, mantêm programas de assistência supervisionados pelo FMI.
6. E é particularmente significativa esta nomeação por coincidir com o momento em que tanto se discute a (quase) inevitabilidade da sujeição de Portugal a um programa de ajustamento, sobretudo orçamental, monitorizado pelo FMI embora em articulação com os órgãos executivos da União Europeia como no caso da Grécia.
7. É pois muito bem-vinda esta notícia, calculo que o Governo português bem como os Partidos da oposição irão recebe-la com manifestações de grande júbilo, sobretudo no Governo a satisfação será visível...
8. No que ao 4R diz respeito, o júbilo é real e realmente sentido, pelo que endereçamos a António Borges os nossos melhores e mais sinceros votos de grande sucesso no desempenho destas importantes funções – e, já agora, esperamos que tenha alguma consideração por estes seus concidadãos quando chegar a hora de tratar da nossa enfermidade...

Sinais dos tempos!...

Empresário: Bom dia Sr. Eng., há quanto tempo ??!!!
Ministro: Olha, olha, está tudo bem?!
Empresário: Eh pá, mais ou menos, tenho o meu filho desempregado tu é que eras homem para me desenrascar o miúdo.
Ministro: E que habilitações ele tem?!
Empresário: Tem o 12.º completo.
Ministro: O que ele sabe fazer?!
Empresário: Nada, sabe ir para a Discoteca e deitar-se às tantas da manhã!
Ministro: Posso arranjar-lhe um lugar como Assessor, fica a ganhar cerca de 4000, agrada-te?!
Empresário: Isso é muito dinheiro, com a cabeça que ele tem era uma desgraça não arranjas algo com um ordenado mais baixo?!
Ministro: Sim, um lugar de Secretario já se ganha 3000 !...
Empresário: Ainda é muito dinheiro, não tens nada volta dos 600/700 ???
Ministro: Eh pá, isso não, para esse ordenado tem de ser Licenciado, falar Inglês, dominar Informática e tem de ir a concurso!!!...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Freguesia tecnológica

O Público noticiava há dias que uma junta de freguesia comprou um equipamento sofisticado de reconhecimento por impressão digital para controlar o cumprimento de horário dos seus funcionários, numa interpretação livre do objectivo de modernização administrativa. O problema é que este investimento de 108 euros mensais, a pagar durante quatro anos, se destina a garantir a pontualidade de uma totalidade de nada mais nada menos que…dois funcionários, os quais, atendendo à dimensão da freguesia, até são capazes de morar ali perto e de serem facilmente reconhecidos antes de colocarem o dedinho na foto da maquineta. Em sua defesa, o autarca de vistas largas argumenta que tenciona vir a recrutar mais dois novos funcionários dando assim um aumento de 100% à utilização do investimento, que isto das estatísticas não enganam, é só fazer as contas, como se tornou moda dizer. Em breve virá invocar que a medida de contenção que proíbe novas admissões de pessoal é que lhe estragou o rigoroso planeamento previsto para atingir os objectivos de aumento de produtividade na freguesia, deitando por terra o seu arrojado plano de modernidade, a que se seguiriam, adivinho eu, acções de formação para a correcta utilização do écran sensorial. Ah!, o deslumbramento tecnológico e os seus longos tentáculos…Como diria o nosso Gil Vicente, “e assi se fazem as cousas”.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Governo não cede na redução do défice...uma boa piada!

1. Decorrem desde sábado último, como é público, negociações entre representantes do Governo e do PSD para tentar encontrar uma plataforma de entendimento quanto ao conteúdo e estrutura do chamado “pacote de austeridade” que permita a “viabilização” da proposta de OE/2011.
2. Uma diferença se torna desde já nítida: enquanto do lado do PSD se regista uma grande reserva quanto aos problemas que estão em aberto (ao que não será estranho o estilo discreto e cauteloso da pessoa que encabeça a equipa de negociadores), do lado do Governo sucedem-se os “leaks” e os avisos quanto ao tema...
3. Trata-se sem dúvida de uma marca indelével ou talvez melhor de uma doença incurável desta governação: estar permanentemente com a “boca no trombone”, normalmente para tentar iludir a realidade ou para tentar confundir a realidade com a fantasia, como estamos cheios de saber...
4. Uma das mensagens mais curiosas por parte da equipa governamental é o aviso de que o Governo “não cede no objectivo de redução do défice”...pretendendo sugerir, para a opinião pública, que o PSD quererá um agravamento do défice mas que o Governo – qual incansável bastião da disciplina orçamental – nesse ponto VITAL não pode ceder...
5. Sabendo nós o que se tem passado nestes últimos anos em matéria de objectivos orçamentais – com sistemáticos, sucessivos e graves incumprimentos das metas para o défice, sempre negados até se tornarem indesmentíveis - este solene aviso do Governo só pode ser tomado (na melhor das hipóteses e com muito boa vontade) como uma bela piada...
6. Como se fosse necessário fazer cedências ao PSD para que o objectivo de redução do défice venha a sair furado...direi que neste caso o Governo subestima a sua própria capacidade de incumprimento de metas do défice, desvaloriza injustamente uma qualidade que lhe é universalmente reconhecida!
7. “Governo não cede na redução do défice”...uma boa piada, sem dúvida!

De surpresa em surpresa...

As instituições de solidariedade social (IPSS) desempenham um papel insubstituível e indispensável no apoio social às pessoas carenciadas. Constituem uma rede de intervenção que mobiliza a sociedade civil, congregando vontades e causas que excedem em muito a relação estabelecida entre as IPSS e o Estado através da qual este entrega subsídios por conta dos serviços prestados às populações por aquelas entidades .
Num momento em que se concretizam cortes e muitos outros já estão anunciados, seja nos apoios sociais (subsídio de desemprego e apoio ao emprego e abono de família, etc.) seja nos salários, em que os impostos vão aumentar e em que o desemprego tem vindo a crescer e se vai agravar, vamos ter mais famílias carenciadas e a pobreza e a privação material vão agravar-se. Partimos de níveis de pobreza e de privação material muito elevados e preocupantes. As famílias de menores rendimentos são as mais vulneráveis à austeridade imposta pelo OE e serão as mais atingidas e as que maiores dificuldades vão ter que enfrentar.
Quem vai ajudar estas famílias? Muitas delas recorrerão às IPSS, que já estão submetidas a grande pressão, com pedidos de apoio que não param de crescer.
Sabendo-se que o montante dos subsídios do Estado às IPSS – rubrica “Acção Social” do Orçamento da Segurança Social – vai também sofrer um corte em 2011, de 5,5%, face ao montante orçamentado para 2010, é fácil perceber que se estas entidades não encontrarem outras fontes de financiamento - a contracção da actividade económica e o clima de incerteza poderão afectar os donativos das empresas e das famílias - terão dificuldades acrescidas para responder satisfatoriamente às necessidades das famílias.
Perante um quadro em que as IPSS vão ser chamadas a uma maior intervenção, é incompreensível que o OE preveja cortar nos benefícios fiscais que lhe estão concedidos, designadamente a restituição do IVA suportado na aquisição de determinados bens e serviços, entre os quais constam a construção, beneficiação ou manutenção de instalações. Com crise ou sem crise, a sua vocação e o facto de se tratar de entidades sem fins lucrativos justifica o regime fiscal que está estabelecido.
Enfim, já nada nos deveria espantar, mas a verdade é que há sempre mais uma descoberta que não deixa de surpreender. Ainda assim, gostaria de acreditar que se trata de um engano. Ainda há tempo para o corrigir…

domingo, 24 de outubro de 2010

“Sem culpa”

A vida atulha-nos de acontecimentos como se fossemos um aterro a céu aberto. Outras vezes delicia-se a fabricar circunstâncias só para não termos acesso a um pouco de tranquilidade e à beleza de um parque agradável. E já nem falo do éden. É preciso apanhá-la distraída para podermos entrar, mas acaba por durar pouco; os “securitas”, uma versão mais prosaica de uma qualquer ordem a imitar a divina, prontificam-se a convidar à saída. Xô, xô, fora daqui! Enxotados que nem uns cães, vamos tentando viver com mais ou menos tranquilidade, sempre sobressaltados com o que o vai acontecer no dia seguinte.
As causas dos infortúnios são variadas, umas vezes é a dita natureza, devido à sua “natureza” probabilística, cega, surda, muda e indiferente às pretensões humanas, e outras, talvez as mais comuns, são da responsabilidade humana. Neste último caso, deparo-me com um fenómeno universal, constante e difícil de eliminar ou de controlar, a falta de caráter de muitos seres humanos. É incrível que, ao longo do tempo, não tenhamos conseguido grandes conquistas nesta área. Nem o aparecimento de novas religiões, nem a evolução do direito, nem a generalização do acesso à educação, conseguiram travar um fenómeno que tem causado muito sofrimento nas vítimas. Um horror. Provavelmente, e de acordo com as evidências científicas, a razão assenta no funcionamento do cérebro. Em termos práticos, certos comportamentos psicopatas têm explicações na forma como o cérebro trabalha, ao ponto de algumas pessoas não serem condenadas, porque são “assim mesmo”. Mas não é preciso chegar a casos extremos, também os casos minor, os mais comuns, podem ser explicados de acordo com a estrutura e funcionamento cerebral. Vigaristas, ladrões, corruptos e quejandos poderão, um dia destes, justificar os seus atos graças ao funcionamento dos seus cérebros, logo não têm culpa. E se sentirem culpa, o que duvido, também não deixarão de encontrar justificações produzidas pelos seus cérebros “doentios”. Uma maravilha quantificável e suscetível de ser visualizada com as novas técnicas.
Na prática, as consequências da falta de caráter podem ser dramáticas, ao ponto de provocarem o suicídio da vítima. A leitura de um relato sobre um homem de 38 anos, que se suicidou como forma de reagir à sentença de violação de um sobrinho aos três anos de idade, causou-me mal-estar.
"Sem culpa", a obra escrita pelo suicida, é uma história que exige atenção e uma profunda reflexão. Após a leitura da notícia acabei por ler o pequeno livro. A notícia do jornal comporta novos dados, muito importantes, a favor da inocência da vítima e da falta de caráter de alguns intervenientes.
Quando alguém opta pelo suicídio para provar a sua inocência, qual deveria ser a resposta da sociedade? Culpada! Eu ainda não ouvi, e tenho dúvidas de que algum dia possa assistir a algo de semelhante.
No bilhete do suicídio, o autor remete para o livro as suas razões. Mas há no contrato com a morte um pormenor que merece ser realçado: “Prefiro morrer livre no vosso país a viver no meu, Portugal. O meu último desejo é ser enterrado nos EUA. Por favor, make it happen”.

Elogio à paciência dos outros

Helena Matos teve paciência de ler uma entrevista de Manuel Alegre ao DN. Eu não. Há muito que se  me esgotou a pachorra. A minha paciência transformou-se em coisa escassa, que vou doseando com grande parcimónia, procurando resistir à tentação de me alhear deste mundo verdadeiramente irreal em que vivem os políticos europeus. Li, sim, o esclarecido comentário da Helena no Blasfémias sobre o paradigma discursivo de uma esquerda que perdeu definitivamente o norte, que se recusa a perceber que as coisas não acontecem apesar do nihilismo em que sempre viveram alguns dos actuais políticos. O discurso de Alegre é um espelho das políticas dominantes nos últimos anos, ancoradas numa coisa plástica a que ainda chamam ideologia, situada entre a defesa de um Estado social a caminho da falência e o pragmatismo económico.
Acresce que ao ler o comentário de Helena Matos confirmei o acerto da minha indiferença.

sábado, 23 de outubro de 2010

Aprender com a Autoeuropa...

Quando as empresas são bem geridas e o clima organizacional estimula o bom desempenho dos trabalhadores a sua satisfação aumenta. Quando a responsabilidade social das empresas aposta na partilha de informação e na transparência de gestão a confiança e o compromisso aumentam.
Um caso que bem poderia ser um case study para muita gente...

O Ministro das Finanças e o calão técnico

Teixeira dos Santos referiu há dois dias a possibilidade de um entendimento sobre o Orçamento com Eduardo Catroga e a Delegação do PSD, porque falamos a mesma linguagem técnica, e cito de memória, crendo ser fiel.
Grande presunção a de Teixeira dos Santos, a de dizer que fala a linguagem de Eduardo Catroga e logo depois de ter deixado as contas do Estado e a dívida pública chegarem ao descalabro que chegaram.
É que, entre o calão técnico que revela falta de ideias e de conhecimento e que tem sido o linguarejar do Ministério, e a linguagem e o rigor técnico vai longa, muito longa distância.
A do conhecimento profundo e a da experiência vivida a sério e não em regime de faz de conta.
Mal de nós, Senhor Ministro, mal de nós, se a linguagem fosse mesma!...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Governo acredita na eficácia do OE/2011? Parece que não...

1. Das muitas declarações proferidas pelo MoF a seguir à cena algo conturbada da apresentação da proposta de OE/2011, houve uma que me impressionou em especial:disse o MoF que caso o OE/2011 não fosse aprovado, seria inevitável a intervenção do “papão” FMI e, com isso, teríamos que enfrentar medidas muito mais duras do que estas...
2. Esta declaração passou quase despercebida (muito injustamente) no meio da imensa torrente declarativa do governante em causa, justificando pois que aqui lhe prestemos a atenção que ela justamente merece.
4. O que resulta dessa declaração parece claro: o FMI, se tiver de intervir, vai concluir que este programa de medidas é insuficiente, pelo que exigirá às autoridades portuguesas a adopção de um programa de austeridade muito mais pesado.
5. Num registo completamente diferente do MoF, podem citar-se as declarações da Dr.ª Teresa Ther Minassean - alto quadro do FMI que conhece muito bem a economia portuguesa pois foi responsável pela monitorização dos dois programas celebrados entre o FMI e Portugal – esta semana entrevistada pela RR.
6. Quando perguntada exactamente se uma intervenção do FMI revestiria muito maior dureza do que o programa de austeridade anunciado – conforme sugerido pelo MoF - respondeu claramente: “Isso é uma ideia errada...se o Governo português está a realizar o ajustamento orçamental necessário, porque razão haveria o FMI de formular exigências adicionais?”.
7. É pois notória a discrepância entre as declarações de Ther Minassean e do MoF...
8. A representante do FMI colocou o problema no seu devido lugar: se o programa de austeridade anunciado pelo Governo se traduz no ajustamento orçamental requerido, não haverá qualquer razão para recear maior dureza de uma eventual intervenção do FMI...
9. Quem parece assim menos convencido da eficácia das medidas de austeridade anunciadas é pois - e paradoxalmente - o Governo! Ao manifestar tanto receio face a uma eventual intervenção do FMI, só pode estar a dizer-nos uma coisa: que este programa de austeridade (OE/2011) ainda não é a última palavra na matéria...

Já nem o zapping nos distrai

Dizem-me que é melhor passar a ver a BBC News porque aí ficamos a saber um pouco do que se passa no mundo em vez de pensar que está todo o mundo concentrado a roer as unhas sobre o round orçamental que se desenrola em Portugal. Mas o zapping não me deixou mais feliz, embora de facto não tenha apanhado nenhuma referência bombástica às angústias nacionais. Vi, por exemplo, imagens das greves e dos distúrbios em França, um microfone em risco de ir parar ao chão com os empurrões conseguiu transmitir a declaração emocionada de um estudante “não nos querem ouvir mas se não nos ouvirem vamos partir tudo” e, de facto, havia já vários destroços à volta da turba, incluindo um carro virado ao contrário e incendiado. Mas se a questão é o aumento da idade da reforma de 60 para 62 anos porque é que são os jovens que estão em ira e não os que vão ver adiada a sua reforma? Não acredito que estes jovens se revoltem por alguém ameaçar o seu futuro daqui a 40 anos, até seria mais razoável que se revoltassem por serem eles a pagar a factura das reformas actuais, mas não, alguém explicou que os jovens se juntaram à luta para reclamar o direito à segurança no emprego, que será dificultada pelo aumento da idade da reforma para os actuais empregados. É o que se chama olhar o curto prazo, cada um quer resolver o seu problema empurrando o outro e empurrando também os problemas que com isso se agravam, esta filosofia não augura nada de bom para os que amanhã virem as suas reformas dependentes destes novos ideólogos do projecto pessoal.
O tempo de paz e prosperidade fez-nos esquecer a terrível frase que resume o confronto na guerra: Morro eu ou morres tu?, morre tu que não te conheço de lado nenhum.
Não sei realmente se o zapping é boa ideia.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Para ler no Economist...

Para ler aqui no Economist. Por quanto mais tempo continuaremos a ouvir as diversas instâncias internacionais apontarem o caminho que temos de seguir para melhorar a competitividade, reduzir o peso da dívida e ganhar a batalha do crescimento?

Grau zero!


Esta denúncia situa-se no grau zero da política. Quem a faz sente no ar o cheiro a cadáver e só por isso a faz. Mas a ser verdade o que vem denunciado, confirma-se pela voz de uma verdadeira autoridade na matéria, que os partidos políticos e os seus mais altos dirigentes há muito que mandaram às malvas o mérito, e só sobrevivem à custa das clientelas compradas com lugares e dinheiros públicos.
Andam - dizem - à procura de formas de reduzir a despesa pública. Um pouco mais de probidade na gestão da república e a introdução de conceitos como honradez e vergonha na vida político-partidária, acabaria com os sorvedouros clientelares. Dava um resultadão, garanto.

Sublime Ministro

O Sr. Ministro Santos Silva está muito preocupado com os ziguezagues do PSD.
Será que ele ainda não reparou que é um dos responsáveis que colocou o país aos trambolhões ?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Comunicação

Dado o aumento do preço do leite com chocolate em resultado da subida do IVA de 6 para 23%, comunica-se a todos os pais que têm filhos menores que podem substituir o leite por um pacotinho de vinho que só paga o IVA a 13%.

A lista

Hoje estive com um grupo de amigos, cada um com a sua profissão e que até há pouco tempo confiavam que poderiam garantir às suas famílias uma vida sem grandes sobressaltos, fruto do seu trabalho e do seu esforço nas respectivas empresas. Muito mudou de repente, ou quase de repente chegou a consciência aguda da incerteza. Um deles, habitualmente jovial e otimista, tinha um semblante muito preocupado, quisemos saber se era o agravamento dos impostos ou a situação do País que tanto o atormentava. Disse que não, que antes de se preocupar com a situação dele tinha que tomar a terrível decisão de indicar quais os trabalhadores da sua área que iriam para a lista dos “a despedir” caso não houvesse encomendas a curto prazo. E não há perspectivas de mais encomendas, é preciso reduzir custos, esmagar as margens, aguentar o mais possível o funcionamento da empresa na esperança de uma retoma que não se vislumbra. Entretanto, tem que fazer a lista e vê chegar o dia seguinte como um pesadelo em que ainda não acredita.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Frankenstein

Já conhecia a história, mas é sempre agradável revivê-la, porque ajuda a estruturar as nossas ideias e a estimular a criação de outras. Foi o que aconteceu com a leitura de um interessante artigo intitulado “Frankenstein: a origem da Neuroética” da autoria de Adela Cortina.
Nos princípios do século XIX, durante um período de mau tempo, nos arredores de Genebra, Byron, Shelley, Polidori e Mary Wollstonecraft Godwin, mais tarde Mary Shelley, para passarem o tempo, decidiram fazer uma aposta; cada um devia escrever um livro de terror. Polidori, médico, e Mary Shelley escreveram duas obras, mas a do primeiro foi “sufocada” pelo sucesso de “Frankenstein: O Prometeu moderno”.
Lembro-me de o ler e até de ver o filme, que, curiosamente, não corresponde à obra de Mary. No filme é Henry, um vilão, um monstro, com o cérebro de um assassino e partes de corpos mortos, na novela é Victor, uma criatura criada com o objetivo de ser perfeita. No entanto, o desejo de atingir a perfeição humana pode ter um revés muito perigoso, a criação de monstros.
Frankenstein é um ser infeliz, diferente dos restantes, com algumas capacidades que poderão ser consideradas perfeitas, mas que não consegue encontrar ninguém semelhante a ele. Não ama e não é amado. Acaba por odiar o seu criador, porque este se esqueceu de lhe dar os meios para ser feliz, compartilhar a vida e o destino. Afinal para que serve a perfeição? Para nada, ou melhor, serve para saborear, na extrema solidão, a infelicidade. Até o diabo tem melhor sorte, já que pode contar com a solidariedade de amigos, outros diabinhos e muitos homens, ele não, é um ser solitário.
É interessante o facto de esta figura fantasmagórica ser utilizada como “símbolo” da neuroética, uma disciplina que emerge em consequência das inúmeras possibilidades que o futuro nos acena em termos de melhoria e estímulo das capacidades neurológicas e cognitivas dos seres humanos. Talvez seja fácil, e rápido, investir, com sucesso, mais no cérebro do que no genoma, originando, no futuro, seres com capacidades de fazer inveja a qualquer um de nós. Imaginem memorizar tudo e mais qualquer coisa! Uma maravilha? Uma tristeza, se não conseguirmos esquecer o sofrimento e a tristeza. Aumentar a criatividade artística? Nada de novo, já que muitas obras literárias e pinturas foram “feitas” imersas em bebedeiras, drogas e até devido a infeções propositadamente contraídas, como a sífilis, por exemplo. Mas há quem vá mais longe ao considerar que se poderá modificar o caráter das pessoas e reformular valores e princípios morais. Não deixa de ser curioso a criação da denominada “ciência da moralidade”.
Lentamente, o progresso nestas áreas tende para a produção de “cabeçudos” dotados de capacidades difíceis de prever. Resta saber se serão úteis. Recordo ter lido, em tempos, alguns ensaios, de cientistas que se dedicam à vida extraterrestre, segundo os quais a nossa ciência pode andar a sobrestimar a frequência de inteligência extraterrestre, ou, então, a evolução da inteligência tem tendência para se autolimitar, se autodestruir ou liquidar-se umas às outras. Sendo assim, o melhor é não mexer muito nas cabeçorras, porque a emenda ainda pode ser pior do que o soneto.
Basta de Frankensteins, chega e sobra o de Mary Shelley...

O todo e a soma das partes...

É um acontecimento extraordinário. A pequena Grace Freeman foi salva de um cancro ocular que lhe poderia ter sido fatal, porque a sua fotografia foi partilhada através do Facebook. Uma amiga da família, enfermeira, ao olhar para a fotografia reparou que algo de anormal se passava num dos olhos da miúda.
Esta notícia deixa-nos contentes e solidários e remete-nos para a importância que têm hoje as redes sociais, ao ligarem no mundo global e em real time milhões de pessoas que se reúnem em comunidades de interesses, para falarem e conversarem, trocarem experiências, para se conhecerem, para partilharem ideias, para darem e receberem ajuda, para realizarem acções colectivas. É uma filosofia revolucionária de viver o mundo que aproveita a inteligência colectiva. As redes sociais sendo um produto da inovação social que aproveita a inovação tecnológica da Net, mostram-nos como o todo é bem maior do que a soma das partes. A ideia do princípio colaborativo no qual assentam as redes sociais confirma que todos somos mais talentosos e inteligentes que cada um.

Cumplicidades chocantes

Ficámos a saber pela voz de Mário Soares que será uma "tragédia para Portugal" se o orçamento não for aprovado.
Ficámos também a saber que Eduardo Lourenço pensa que o chumbo do orçamento será "catastrófico".
Mas nada nos dizem sobre quem nos colocou à beira desta "tragédia" e desta "catástrofe".
Nem sobre as consequências deste orçamento salvador.
Há omissões que são inaceitáveis!!

Epifanias


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Subitamente sucedem-se estudos e relatórios a constatar o óbvio e a fazer do óbvio ciência. Nalguns casos os resultados dos estudos são apresentados como verdadeiras epifanias.
A edição de hoje do ´Publico´revela as conclusões de um inquérito - ao que parece mandado fazer pelo Banco de Portugal - sobre os níveis de poupança: "a população é muito pouco sensível à importância de poupar".  Depois de anos a fio a apelar ao consumo interno e a deixar que as instituições reguladas estimulassem "a população" a gastar o que não tinha oferecendo crédito a todo o bicho careto, que conclusões esperava o BdP?
Vamos deixar-nos de estudos patéticos, conclusões risíveis e aproveitemos a lição dos disparates passados (e alguns bens presentes!) para ver se conseguimos aliviar algum sofrimento futuro.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Uma visita...

Há ocasiões em que ser-se formal constitui uma fonte de inspiração cultural, um estímulo para reforçar a autoestima e um laço para unir os cidadãos.
Foi o que aconteceu no passado Sábado quando Santa Comba Dão foi visitada pelo Presidente da República, a convite da autarquia, para inaugurar o terceiro e último centro educativo do concelho. Realço a forma elegante como foi recebido pelos cidadãos locais. O formalismo na receção, com a presença dos bombeiros e da filarmónica local, repleta de uma maré de jovens músicos, a tocar o Hino Nacional, chamou a atenção dos convidados. A seguir às boas-vindas, decorreu uma sessão solene ponteada pela elevada qualidade dos discursos, traduzindo um inexcedível sentido de estado numa das áreas mais sensíveis da nossa sociedade: a educação e o consequente conhecimento.
Pequenas localidades podem ser exemplos de esforço e de luta para o progresso e sucesso do país. Por isso merecem respeito e reconhecimento. E é nestas ocasiões, solenes, que as populações sentem que também são importantes, tão importantes como as que vivem nos grandes centros ou as que vivem nas órbitas mais próximas do poder.
Como conheço muitos dos cidadãos, não me foi difícil verificar as suas reações, miscelânea de alegria, de curiosidade e de orgulho pelo facto do Presidente da República ter-se dignado a visitá-los.
O peso da responsabilidade e do formalismo contagiou todos, num dia belo com o sol a coroar a festa. A juventude foi o fulcro de todas as atenções, e bem merece. Verifiquei que os miúdos bebiam tudo o que se passava ao seu redor, guardando imagens e sons que lhe irão ser muito úteis no futuro. Criaram-se naquele dia recordações futuras que poderão exercer um efeito muito importante no comportamento dos mais jovens.
À entrada do centro educativo, duas filarmónicas, a de São João de Areias e a de Pinheiro de Ázere, tocaram conjuntamente. A menos de dois metros de distância, precisamente a meio, um miúdo, que não deveria ter mais de dez anos, tocava o seu instrumento como se fosse o menino do tambor, de uma forma verdadeiramente impecável e com uma gravidade só vista. Sabia qual era o seu papel e, de olhos nos olhos com o Presidente, não se deixou intimidar, antes pelo contrário, via-se que estava a registar para o resto da sua vida um episódio formal e muito digno. Do mesmo modo, e apesar da longa experiência nestas andanças, o Presidente não tirava os olhos do gaiato, cumprimentando e felicitando-o no final. Satisfeito com tanta juventude e atitude, foi de imediato confrontado, numa sala, com um coro de crianças e uma orquestra de jovens que sabem do “ofício”, revelando um sentido de responsabilidade e de formalismo que vale a pena citar e realçar. Aprendemos todos, os mais velhos, experientes, e os mais novitos em encantadora aprendizagem.
Um dia diferente de outros, um dia que não vai ser esquecido, um dia que foi uma lição para todos, para os responsáveis, para as crianças e jovens, e para uma população acolhedora, que gosta, como qualquer outra, de ser reconhecida, porque o reconhecimento é vital para o progresso e manutenção da autoestima.

Quiseram despesa? Agora têm pobreza!...

Como desde sempre e desde há 5 anos persistentemente o afirmamos aqui, no 4R, a despesa pública excessiva desgraça a economia e empobrece os cidadãos.
A prova está à vista. Na Grécia, como em Portugal.
Só Sócrates e Teixeira dos Santos, e também os catedráticos economistas mediáticos que suportaram tal política, não o sabiam. O Ministro Teixeira dos Santos ousou mesmo dizer, no acto de apresentação do Orçamento para 20011, que em Janeiro deste ano a crise da dívida era imprevisível em Portugal.
Para tais doutas cabeças o excesso da despesa e da dívida apenas na Grécia é que faria mossa. E nunca se meteria com os doutos governantes cá da outra ponta!...
Mas os cidadãos também tiveram culpa. Votaram na despesa. Agora têm pobreza. O que em nada desculpa a "criminosa" política seguida.

Uma cana gigante, made in Portugal


Foi muito injusto não termos dado o devido relevo à nossa proeza de entrar para o guiness com o maior foguete do mundo! È obra, temos que concordar, não havia maneira de o mundo reparar em nós e então , zás!, agora é que não podem mesmo deixar de nos ver, um foguetão dos grandes, com a maior cana do mundo, 25 vezes maior do que o normal, é mesmo disso que esses distraídos todos estão a precisar, de ver como Portugal é perito em fazer estalar foguetes gigantes nos céus mesmo quando minguam, e de que maneira, as razões para os largar.
Juntaram-se milhares de pessoas para ver subir o prodígio, há uns dias, nas margens do Douro, mas já nem os foguetes têm vontade de soar, parece que foi uma decepção, por razões de segurança perdeu-se o efeito e pouparam-se os ouvidos.
Fica no Guiness o registo da largada, cá entre nós os foguetes são assim, primeiro largam-se e só quando é altura de se apanhar as canas é que se ouve o estrondo com nitidez.

domingo, 17 de outubro de 2010

E podemos censurar quem assim nos censura?


As soluções para por fim às virtuosas SCUT com que o Eng. Cravinho quis fazer o milagre da multiplicação das auto-estradas (projecto que outros camaradas se encarregaram de dar diligente continuidade) estão a revelar-se em todo o esplendor. O jornal espanhol El Mundo dá o mote, como se pode ler aqui. Infelizmente para todos nós, lá por fora não passa despercebido o mar de trapalhadas e absurdos em que o País se atolou. Se o articulista do El Mundo conhecesse o inenarrável ministro das obras públicas português e o seu secretário de estado Campos, e soubesse que existe uma coisa chamada Estradas de Portugal, SA que parece ter sido propositadamente criada para agravar os excessos e manter as omissões que se fazem sentir no sector rodoviário há muitos anos, então talvez fosse menos severo na análise e concluísse que, para o Povo que tudo isto suporta (e de que é a principal vítima), só sobra a culpa de ter uma pachorra digna de figurar no Guinness World Records!

sábado, 16 de outubro de 2010

Depois dos gregos, a culpa é da imprevisibilidade!...

Ao apresentar hoje o Orçamento do Estado Português para 2011, Teixeira dos Santos começou logo por culpar a Grécia, a causa das causas. Malandros dos gregos!...
Depois, culpou os mercados internacionais. Malandros dos mercados internacionais!...
A seguir, culpou a imprevisibilidade. Quando o Governo, no início do ano, tudo apostava na recuperação, eis que apanhámos inesperadamente, e por tabela, o efeito grego, o que nos obrigou ao presente Orçamento, explicou o Ministro.
O Ministro desta vez superou-se a si mesmo nas explicações. Mas tenha calma, Sr. Ministro, que se esgota com tanto esforço. Não se lhe exige tanto!...

Uma peça notável...

... contra a memória curta e a amnésia.
A não perder!

A quadratura do círculo

Habituei-me à ideia - metida na minha cabeça por gente que não acompanhou a mudança do mundo em 15 dias -, de que o impulso dado à economia pelo lado das exportações depende de condições externas - a mais óbvia de todas, a abertura dos mercados aos produtos nacionais; e a condições internas - designadamente um maior investimento na competitividade, que o mesmo é dizer, uma aposta na modernização das empresas, na qualidade da produção e numa maior produtividade. 
Ouço a profissão de fé do ministro do estado-a-que-isto-chegou e das finanças, num crescimento do PIB para 2011 à custa do incremento das exportações. E fico baralhado. Bem sei que o mundo mudou de repente, e o que era antes já não vale agora. Mas gostava de perceber - porque sou parte interessada - de que forma é que um aumento brutal da carga fiscal que retira ainda mais capacidade de investimento e da poupança que poderia ser canalizada para o financiamento das empresas, favorece as exportações e, por essa via, o crescimento da economia. Ou haverá algum produto exportável, de enorme mais-valia, produzido em larga escala em Portugal sem outro competidor, cuja existência me escapa?
Alguém, por aí, dá uma ajuda?

A pão e água!

Que critérios, que não sejam fiscais, podem justificar que os óleos alimentares, as margarinas, os produtos lácteos, as conservas de carnes e de frutas e os sumos de frutas deixem de ser considerados bens essenciais alimentares?
Estes produtos, como muitos outros que ficaram a salvo da taxa normal do IVA, agravada de 21% para 23%, fazem parte do cabaz básico de alimentos que as famílias adquirem. Acresce que alguns destes produtos são especialmente consumidos por crianças e doentes. Este género de medidas são muito injustas e assustadoras...

Yes, we can!

À primeira, qualquer um acredita. Depois, acredita quem quer ou quem gosta do engano

Ouço um jornalista a insurgir-se contra o adiamento da conferência de imprensa convocada para as 10 h  pelo ministro do estado a que isto chegou e das finanças, na qual iria explicar o orçamento. O que me admira não é que o ministro tenha incumprido. O que é espantoso é que os jornalistas tenham acreditado que cumpriria.

A não entrega do Orçamento: fraude no seu esplendor

Ontem, Teixeira dos Santos escamoteou, descarada e deliberadamente, no acto de entrega do Orçamento de Estado, perante as rádios e televisões, e em discurso solene, que ficava de fora a parte essencial do documento. Precisamente o Relatório, sem o qual o Orçamento é imperceptível.
Já não bastava enganar os portugueses; agora, Sócrates e Teixeira dos Santos usam o Presidente da Assembleia da República para publicitar um documento falso. Uns meros quadros orçamentais e umas tantas alterações legislativas.
Aí está o up-grading máximo da fraude política, a sua elevação ao mais alto grau. Perante o próprio Presidente da Assembleia da República, segunda autoridade do Estado.

Querm guarda o guardião?

Uma notícia sobre as regras para elaboração de legislação constantes do novo Regimento do Conselho de Ministros faz notar que "não há sanções para quem não as cumprir". Que tal o regresso às reguadas?

Ai, o ridículo...

"...Um Orçamento para ultrapassar a dificuldade dos mercados internacionais...um Orçamento para ultrapassar a difícil situação dos mercados internacionais..."
Teixeira dos Santos, no acto de entrega do OE para 2011 na Assembleia da República. Citação de memória, mas julga-se que fiel.
Os mercados internacionais, em difícil situação, não sabem já como agradecer a solicitude de Teixeira dos Santos em ajudá-los a ultrapassar as dificuldades...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Não há mais vida para lá do OE

Um deputado, até há pouco tempo responsável pela federação de Coimbra do PS, veio dizer a quem o quis ouvir que o chefe de gabinete do secretário-geral do PS lhe propôs um cargo numa empresa pública em troca da renúncia à sua recandidatura à federação. É verdade que o deputado só veio denunciar a generosa oferta do seu camarada após ter perdido as eleições. Não foi bonito. Mas menos bonito foi ver o secretário-geral do PS e PM de Portugal justificar mais esta triste estória com o despeito do deputado. Percebe-se que arquivou o assunto, apesar de se tratar de clara e manifesta denúncia, ainda para mais pública, de uma conduta política, ética, moral e, quiça, juridicamente reprovável de um seu colaborador muito próximo.

Vem-nos nestas ocasiões à lembrança que o País gastou rios de dinheiro a investigar se era verdade ou não que os árbitros de futebol aferiam a sua acuidade visual por fruta, café com leite ou miniaturas douradas de apitos. Já este caso de alegada colocação à venda de um cargo de nomeação governamental por um alto dirigente partidário parece não merecer qualquer atenção. O drama do orçamento encarregar-se-à, com grande probabilidade, de obnubilar quer a denúncia do deputado, quer o grave desprezo do PM pelo caso. O mesmo PM que há dias exaltava os valores éticos do republicanismo, apesar de tudo isto ter que ver com a situação a que chegámos e para a qual não há orçamento que seja panaceia.

É vital, é dever patriótico, "viabilizar" o OE/R de 2011...

1. Qualquer dia cai o pano sobre a discussão e votação do OE/2011...as forças vivas da Nação vão todas congratular-se com a passagem do documento, saudando o realismo e patriotismo da Oposição e do Governo - sobretudo deste último e com toda a justiça já que com tanta generosidade e competência soube conduzir o País até à beira do abismo financeiro...
2. Mas a vida não acaba aqui, há que pensar no futuro - sobretudo porque há mais vida para além do Orçamento, como dizia há cerca de 7 anos e ½ um eminente político, um visionário na acepção mais lídima desta expressão (e um CVO na acepção mais moderna)...
3. E pensar no futuro é, no actual contexto, “prima facie” pensar na execução do OE/2011...
4. Admito que os comentadores de serviço não tenham pensado nesse pequeno detalhe, de tão atarefados que andaram no trabalho da “viabilização”, mas não basta aprovar um OE (viabiliza-lo é uma coisa completamente diferente apesar da confusão que os media estabelecem entre as duas expressões...) - embora se trate de um pequeno detalhe, repito, é preciso depois promover a sua execução...
5. E executar o OE/2011 vai ser uma tarefa dantesca, tantas vão ser as vítimas fatais deste processo...não é preciso ser adivinho ou visionário para perceber que os riscos de a execução não conseguir atingir os objectivos são elevados, não obstante a dureza de algumas das medidas anunciadas, sobretudo porque grande parte do esforço de ajustamento assenta no agravamento da carga fiscal e as contingências pelo lado da receita são enormes...
6. Não podemos esquecer que o esforço de ajustamento não se traduz em passar o défice de 7,3% para 4,6% do PIB...mas sim de 9% (ou mais) para 4,6% do PIB uma vez que sem as receitas extraordinárias da transferência do F.P./PT para a Segurança Social o défice de 2010 seria de 9% (ou mais) do PIB.
7. Pelo sim, pelo não, recomendaria aos comentadores de serviço que fossem desde já ensaiando o novo refrão. Não custa nada: “É vital para o País, é um dever patriótico a “viabilização” do OE/R”. Com a ajuda do nosso comentador M. Brás até talvez seja possível encontrar uma versão poética...
8. Não venham é dizer que o 4R não avisou, a tempo e horas...

Indignidade

Indignidade. Não haverá classificação mais favorável para as intervenções do 1º Ministro no Parlamento, pelo menos até agora.
Não respondeu a uma pergunta. Não admitiu qualquer erro. Iludiu, referindo que os problemas de Portugal são os de qualquer país europeu. Acusou a Oposição e particularmente o PSD pela crise política e financeira. Exigiu a aprovação de um Orçamento que ainda não apresentou. Arrogante até mais não, negou todas as evidências.
Ofendeu a inteligência dos portugueses.
Um acto de indignidade absoluta e total.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Anúncio importante

O PS fez hoje saber que o seu projecto de revisão constitucional visa "reforçar o estado social".
Fiquei tão siderado que só me resta um comentário:
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Não me peçam para traduzir...

“Superpapás e superavós”

Hoje, no decorrer de uma consulta, acabei por encontrar a razão de um problema cardíaco agudo que atingiu uma senhora. Conheço-a há algum tempo. Face à situação, entretanto resolvida, comecei a indagar sobre a existência de algum problema emocional. Havia, e não era nada pequeno. Tem um netinho, mas não consegue vê-lo, porque a mãe não deixa. Não é a única, conheço outros casos semelhantes que se acompanham de uma dor de alma terrível. Foi então que recuei cinco anos, quando escrevi um pequeno texto, “Superpapás e superavós”, uma tentativa para chamar a atenção para a necessidade de legislar sobre os direitos de uma minoria, a de alguns avós privados, intencionalmente, do convívio e do afeto dos netos.

“Os divórcios e separações, tão comuns nos dias de hoje, são fontes de graves problemas, nomeadamente no que respeita aos filhos, os quais, privados do acompanhamento regular de um dos pais, acabam por sofrer consequências negativas. Pelo menos, a frequência de determinados comportamentos é dupla dos verificados nos casais com estabilidade. No momento da separação, muitas vezes litigiosa, o Estado confere a custódia, em percentagens que variam entre 80 a 93%, de acordo com os países, às mães. Aqui entramos com um novo conceito, denunciado pelos pais separados, de "rapto sancionado pelo estado".
A situação criada a grande número de pais que ficam impossibilitados de acompanhar, de ver, de desfrutar a companhia dos seus filhos, levou à criação de verdadeiros movimentos sociais, sob a forma de grupos perfeitamente organizados e que, à boa maneira de outros movimentos, tudo fazem para dar nas vistas. O objetivo é denunciar esta descriminação sexual, em que os homens são preteridos na custódia e educação dos filhos.
Os superpapás de vários países têm tomado iniciativas bastante espetaculares. Em Londres, um pai, vestido à Batman e ajudado por um Robin, subiu à mais famosa varanda britânica - palácio de Buckingham - para denunciar a situação dos pais separados que querem um contacto mais próximo com os seus filhos. A moda de copiar os heróis da banda desenhada alastra-se a outros tais como o Homem - Aranha (que já fez uma incursão semelhante). A onda promete alastrar-se e até agravar-se originando novos problemas para os quais não estamos preparados.
Mas a revolução em curso não se restringe apenas aos pais. Os avós também iniciaram movimentos, no Reino Unido, na Alemanha, em Itália e também em Espanha, com o objetivo de defenderem os seus direitos: a possibilidade de verem os netos vítimas de separações dos seus filhos. Os nossos vizinhos acabaram mesmo de legislar nesse sentido, no ano passado (2004). A lei espanhola garante que os avós não podem ser impedidos de verem os seus netos em caso de separação ou divórcio. Apesar de não os satisfazerem totalmente, constitui um ponto de partida, muito importante, para quem na última etapa da vida tem necessidade de dar sentido à existência, evitando a morte antes do tempo. A humanidade e a civilização existem graças ao papel dos avós nas primeiras etapas do desenvolvimento e, hoje em dia, continuam a desempenhar um papel primordial. É bom que os seus direitos sejam acautelados, já que, devido à idade, não será muito recomendável que começam a fazer papéis de Super-Homens, idênticos aos dos filhos. Não seria muito saudável se um dia víssemos, entre nós, um avô, vestido à maneira a subir à fachada do Palácio de São Bento, a escalar a Torre de Belém ou a pendurar-se da Torre da Universidade. A idade não perdoa…”

Não seria altura de defender os direitos e interesses dos avôs e avós portugueses que, impedidos, por diversas razões, de verem os seus pequeninos, gritam, silenciosamente, dores lancinantes ?

Jacques Atalli colaborou na proposta de OE/2011? Não sabia...

1. Jacques Atalli, ex-conselheiro do Presidente Miterrand e ex-Presidente do Conselho de Administração do BERD, fez hoje uma declaração muito curiosa: o OE/2011 em Portugal é “necessário, responsável e rigoroso...mesmo se doloroso”.
2. Esta declaração é surpreendente, pelo menos para mim pois não sabia de todo que o Snr. Attali tinha sido convidado pelo Governo português para colaborar na preparação do OE/2011 (admito, sem dificuldade, que a falha de informação seja minha).
3. Na verdade, só uma pessoa que tenha profundo conhecimento desta proposta orçamental pode dizer que a mesma é necessária, responsável e rigorosa...e ainda dolorosa!
4. Tratando-se de um cidadão estrangeiro e não-residnete, não se vislumbra outra possibilidade para explicar um pronunciamento tão definitivo e seguro sobre as virtudes do OE/2011...
5. Como é que, noutra condição, poderia um cidadão estrangeiro, não-residente, revelar um conhecimento tão profundo do documento em causa?
6. Mas, a ser assim, não me parece que esta intervenção seja muito auspiciosa para o futuro do OE/2011...é que o Snr. Atalli, ao tempo em que presidiu ao BERD notabilizou-se pelos gastos de tipo sumptuário que foram realizados sob as suas ordens.
7. Recordo-me de algumas histórias (supostamente verídicas) dos luxos “asiáticos” na compra de móveis, tapeçarias, pinturas, mármores e outras maravilhas que fizeram a felicidade de antiquários e de marmoristas, mas que escandalizaram muita gente, dentro e fora do BERD...o insuspeito F. Times fez-se eco, abundante, de tais histórias.
8. Assim sendo, não percebo bem qual terá sido a ideia de contratar os serviços do Snr. Atalli para consultor duma proposta de OE/2011 carregada de austeridade... a menos que lhe tenha sido cometida a espinhosa tarefa de preparar a decoração interior do TGV...aí já poderá fazer sentido!

Salvos!


Can you believe it? Diz o repórter, mal contendo os gritos de emoção! À hora a que escrevo acabou de surgir à superfície Raul Bustos, o 30º mineiro chileno, depois da subida dos outros 29, um após outro ao longo de um longo dia, num verdadeiro milagre em que se conjugaram a técnica, a solidariedade, a determinação absoluta e a esperança, toda a esperança do mundo, sustentada sabe-se lá por que forças, mas é profundamente comovente ver os múltiplos agradecimentos fervorosas à Virgem de Guadalupe, a Deus e ao Presidente do Chile, tudo misturado com lágrimas, risos e abraços às famílias e aos amigos. É uma verdadeira festa no Chile, um feito heróico feito de muitos heróis, os que ficaram soterrados e resistiram meses no fundo da mina, os que nunca os abandonaram usando todos os meios possíveis para lhes fazer chegar alento, amor, comida, vitaminas, remédios e distracção, os que não regatearam meios nem saber, em vários países, para tentar e conseguir o que parecia quase impossível.
Que cheguem todos bem e que a festa perdure no espírito de todos, muito para além do dia da salvação. Porque o Mundo precisava disto, deste precioso suplemento de alma, desta vitória contra a adversidade. Parabéns ao Chile, por todos.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Profecias...

.... com 6 anos.
Conseguiram mesmo trazer Portugal para Novas Fronteiras.

OE/2011 - qual o Pior Cenário?

1. A cada hora que passa aumenta o tom de dramatismo em torno da aprovação ou não aprovação da proposta, ainda não conhecida, de OE/2011.
2. As “forças vivas da Nação” vão desfilando pelos palcos mediáticos, revelando a sua enorme preocupação face à eventualidade de ficarmos sem Orçamento aprovado num primeiro “round” parlamentar.
3. Na linha dos Posts mais recentemente editados aqui no 4R sobre este tema, tenho a noção de que, apesar de tudo o que tem sido dito, a eventual não-aprovação da proposta de OE/2011 não constitui o Pior Cenário com que podemos estar defrontados.
4. Digo isto sem deixar de reconhecer que a não aprovação da proposta de OE/2011 poderá ter consequências financeiras gravosas...embora nada comparáveis às consequências dos erros de política dos últimos anos que nos arrastaram para esta lamentável situação e que explicam, muito mais do que o sim ou não ao OE/2011, o dramatismo da situação em que nos encontramos.
5. Julgo que o Pior Cenário seria o da aprovação da proposta de OE/2011 e, subsequentemente, dentro de 6 a 8 meses, estarmos a discutir a necessidade de um Orçamento Rectificativo ou Suplementar (o nome pouco contará em tal cenário).
6. Esse cenário seria sim uma verdadeira tragédia, pois atirar-nos-ia em definitivo para uma crise financeira inultrapassável e tornaria imediatamente exigível uma intervenção conjunta da União Europeia e do FMI – e quem sabe se em termos bem mais gravosos do que os aplicados à Grécia.
7. Com isto quero também dizer que a aprovação da proposta de OE/2011 poderá ser benéfica para o País se for capaz de trazer consigo uma alteração RADICAL da política económica - em primeiro lugar, obviamente, uma mudança RADICAL dos enormes excessos despesistas do Sector Público Alargado que desequilibraram gravemente a economia do País nos últimos anos.
8. Numa demonstração da vontade inequívoca de levar por diante essa mudança de política, os projectos megalómanos como o “TGV” deveriam ser congelados por tempo indeterminado...não contribuindo para agravar ainda mais a dificílima situação financeira que todo o País atravessa...
9. Se a aprovação da proposta do OE/2011 for utilizada para “ganhar” tempo, aplicando algumas medidas, duras certamente, mas sem corrigir radicalmente a política económica e sobretudo os formidáveis hábitos despesistas que se instalaram nos sectores públicos, então não vamos longe...vamos quase sem apelo de encontro ao Pior Cenário daqui a 6 ou 8 meses.
10. Este tempo terá de ser pois de definições radicais, não de meias-tintas ou só para “ganhar” tempo...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Maldição de uma vida longa

Quando ouço pessoas de idade a relatarem os seus problemas de saúde, umas vezes graves, outras, felizmente, nem por isso, muitas terminam dizendo, “é da idade, já vivi muito”! Uma explicação muito razoável, porque a idade é a principal causa de doença e de morte. Embora as reações nem sempre sejam coincidentes, muitos confessam que os males de saúde não são os mais preocupantes, mas sim os da alma. E contam as tragédias que vivenciaram com os seus familiares, filhos e netos, mortos precocemente, ou as vivências atuais em que muitos entes queridos estão a ser vítimas de maleitas diabólicas. Quando contam estas tragédias, vê-se perfeitamente que os males do corpo deixam de ter significado face ao sofrimento que revelam, culpando a morte por não os terem poupado à maldição de uma vida longa. E muitos choram!
Estes acontecimentos emergem periodicamente no meu espírito, obrigando-me a rever muitas conversas que, gravadas a ferro e fogo, deixam as suas marcas, marcas da maldição de uma vida longa,
No final de um dia trabalho fui arrastado para uma livraria. Uma forma de acalmar e de encontrar amigos, aos montes, que, com as suas obras, têm o condão de dar respostas a perguntas perturbadoras e fornecer meios que ajudam a viver. Escolhi dois. Perturbador o primeiro, “Beatriz e Virgílio”, de Yann Martel, esclarecedor o segundo, um romance de Salley Vickers, “Onde três estradas se encontram”. Neste último, podemos ver, ouvir e sentir os últimos tempos de vida de Freud, um fumador inveterado de charutos - chegava a fumar vinte por dia, mesmo depois do diagnóstico dos seus tumores do palato e maxilar, fontes de sofrimento horrível durante dezasseis anos, e, frequentemente, tinha de usar uma mola de roupa na boca para poder introduzir o charuto. Quando foi operado pela primeira vez, o seu neto de quatro anos foi operado às amígdalas. Avô e neto compararam os progressos das suas intervenções. Ao fim de quatro meses o miúdo morreu. Foi a única situação que o fez chorar, entrando em depressão profunda. A seguir morre-lhe a filha, a mãe do neto. A descrição do seu sofrimento arrepia qualquer um, mas estou convicto que as dores, as hemorragias, as dificuldades em falar ou em comer, desapareciam face à dor da lembrança da perda do neto e da filha.
A maldição da vida abate-se com uma impunidade obscena em qualquer idade, mas à medida que envelhecemos, esfrega as mãos de contente porque sabe que é material de primeira, vulnerável, frágil e apetitoso. A este propósito, maldição da vida, que muita gente cultiva, ao rogar pragas aos seus semelhantes, obriga-me a rever mentalmente uma imagem que um dia me impressionou, o rei de Espanha a passear com Adolfo Suarez num jardim, ambos de costas e com o braço real, protetor e amigo, sobre os ombros de um homem atingido violentamente de demência precoce, e que contribuiu decididamente para a democratização do seu país. Um homem que viu morrer mulher e filha com cancro e uma outra sofrer a mesma doença. A demência roubou-lhe a memória da miséria em que chegou a cair e a dor da perda dos familiares, mas também lhe roubou o sentido a daquele gesto de amizade. Uma maldição da vida.