1.As estatísticas do comércio externo de mercadorias (bens) para os 2 primeiros meses deste ano, há poucos dias conhecidas (fonte AICEP), revelam alterações bastante significativas, direi mesmo surpreendentes, de que se dá aqui breve nota.
2.A nível global assistimos a um crescimento das exportações em relação ao mesmo período de 2011 que (por ora) se mostra muito acima dos valores subjacentes às previsões, tanto do BdeP como do FMI, para o corrente ano: +13,3%, que resulta de +6,5% nas vendas para a União Europeia (UE) e de +35,8% nas vendas para terceiros países.
3.As importações caem, como seria de esperar, -0,3%, sendo esssa queda devida à forte diminuição das compras à UE (-7,1%),no caso de países terceiros as importações subiram bastante (+21,3%) devido ao impacto dos preços do petróleo sobretudo.
4.Em consequência do exposto em 2 e 3, a taxa de cobertura das importações pelas exportações passou de 70,8% em 2011 para 80,4% em 2012.
5.Mas é ao nível dos nossos principais parceiros comerciais que se verificam as alterações mais curiosas, como veremos nos números seguintes.
6.Assim, assistiu-se a uma forte subida das exportações para os EUA (+69,4%) e sobretudo para a China (+176,3%), de que resultaram saltos significativos na posição desses dois países no ranking dos nossos principais clientes: os EUA de 8º para 5º, ultrapassando a Itália (que passa de 7º para 8º), os Países Baixos (de 6º para 7º) e o Reino Unido (de 4º para 6º, sendo também ultrapassado por Angola); a China de 16º para 10º, desalojando o Brasil que passou para 11º, tendo-nos comprado pouco mais do que no mesmo período de 2011 (+2,1%).
7.Verificou-se tb a continuação de uma subida muito apreciável das exportações para Angola (+28,9%), que assim ultrapassou o Reino Unido e subiu ao 4º lugar, embora com os EUA agora muito perto (Angola e EUA detêm 5,4% e 5,3% das nossas exportações totais de bens, respectivamente).
8.De referir ainda o bom desempenho das vendas para a Alemanha (+12,6%) e para a França (+8,4%), mantendo o 2º e o 3º lugar no ranking dos nossos principais mercados, com 13,8% e 12,5%, respectivamente.
9.De notar, finalmente, que as vendas para Espanha quase estagnaram neste período (+0,2%),embora a Espanha se mantenha como principal mercado das exportações portuguesas (passou de 26,1% em 2011 para 23,1% em 2012).
10.Estes dados, embora referentes a 2 meses apenas, mostram-nos já alterações muito significativas no perfil do comércio externo, deixando perceber que as empresas portuguesas se atiraram decididamente à conquista de novos mercados e estão conseguindo notáveis resultados.
11.Não querendo exagerar, tenho a noção de que estaremos testemunhando a uma verdadeira epopeia económica, em que os novos HERÓIS são as empresas expostas à concorrência externa, as quais, passando por cima de todas as dificuldades internas e virando as costas aos discursos derrotistas, se lançaram por esse mundo fora promovendo os seus produtos, com sucesso assinalável em grandes mercados!
12.E que contraste chocante com os maus exemplos: (i) do Estado que continua a desperdiçar recursos e a exigir-nos impostos cada vez mais pesados, (ii) de uma grande parte da classe política, envolvida em intrigas estéreis e em despesas supérfluas, sempre clamando por mais ajuda externa incapaz de perceber como se cria valor e (iii) das empresas confortavelmente instaladas no mercado interno, gozando rendas indecorosas que impõem aos que trabalham e de que não querem abdicar!
13.Que País tão curioso, este!
13 comentários:
Como a divergência de alguns pontos de vista é enganadora e a convergência é muito maior do que algumas vistas de pontos!
É interessante verificar como as crises e o instinto de sobrevivência trás à tona novas forças até agora aparentemente adormecidas (não se percebia realmente como muitas das nossas empresas, com produtos e serviços de excelência pareciam temer, ou estavam acomodados à globalização).
Falo dos agentes económicos, não dos políticos profissionais ou à procura de profissionalização em exercício, que estes parecem continuar estranhamente adormecidos nas suas cátedras de medidas incongruentes, muitas vezes contraditórias na prática e no discurso.
Nesse aspecto Passos que têm virtudes e defeitos diferentes do senhor anterior (esperemos que o saldo esteja a seu favor, mas esse só o veremos pela resultante final do índice de felicidade Português) devia pelo menos assumir para si uma (das poucas?) virtudes (públicas) do senhor anterior: a sua capacidade para agregar e peneirar com uma pequena task force todas as medidas, de molde a evitar-se contradições de medidas incongruentes com o discurso.
É que custa muito ouvir Passos falar nos rentistas e depois ver que estes continuam incólumes, enquanto os atomizados vão dando à costa afogados pela maré. É que a libertação da sociedade civil que Passos propõe através de um novo paradigma de "economia mecânica", não pode ter como consequência uma sociedade só liberta do Estado no topo e cada vez mais estrangulada na base.
Caro Tavares Moreira,
Heróis são as empresas expostas à concorrência externa?? E aquelas que são expostas à concorrência daquelas que são o instrumento do "estado enquanto motor da economia"?
Eu gostava de lembrar todos aqueles que vivem em sectores onde há "amigos". Aqueles em que o estado enquanto motor da economia resolve despejar encomendas sobre os amigos da Belém, do José e do Mira. O conjunto alargado de pequenas empresas que são esmagadas por grandes empresas. Grandes empresas que têm o mérito de encontrar amigos no estado que lhes proporcionam as margens que podem esmagar no sector privado. Quantas pessoas nesta vida não passaram já pela situação de estarem a concorrer com propostas abaixo de custo de empresas "subsidiadas" pelos amigos que estão no governo? Estes são os verdadeiros heróis.
No resto, quanto menos dinheiro o estado português deitar sobre a economia, maior será o crescimento real desta. E os números são isso mesmo.
Caro Almeida Sande,
Falando de task forces, aquela que refere, encarregada de apoiar as estratégias do anterior PM, epeneirando medidas para escolher com coerência, conseguiu ser coerente até ao fim: errou sempre! Escolheu sempre a pior solução, tendo logrado conduzir-nos, com extrema diligência, até ao ponto de absoluta ruptura!
Tem toda a razão nesse apontamento!
Caro Tonibler,
Dou-lhe carradas de razão nas observações críticas que faz e em chamar a atenção para o fenómeno das pequenas empresas que lutam pela sobrevivência com armas desiguais quando tratam com as grandes empresas que beneficiam da protecção explícita ou implícita do Estado...
Mas, como terá entendido, os meus comentários cingem-se ao fenómeno das alterações no comércio externo, daí a chamada de atenção para as empresas que concorrem nos mercados externos...
Gostei muito dos comentários que antecedem, pela análise rigorosa que fazem das diferentes realidades do país...
Quanto ao aumento das exportações, os esforços que as empresas estão a fazer para se aguentarem e com isso aguentarem os empregos que oferecem, não compreendo porque não não se apoiam aquelas outras que têm "produto" para a exigência dos mercados emergentes. Se calhar apostar em medidas deste tipo seria a solução mais inteligente para a criação de emprego e dinamização da economia em geral...
Caro Tavares Moreira
A principal conclusão que se pode retirar dos números do comércio externo é que, em termos nominais, estamos ao nível do ano de 2008; recuperámos da queda verificada.
Trata-se de um sinal positivo e importante.
Retirar algo mais do que esta conclusão é, no mínimo, arriscado, em especial pelos riscos que, presentemente, existem na zona euro.
Sobre o nosso estado em conceito alargado, apenas comentar que, burro velho não aprende línguas...
Cumprimentos
joão
Caro jotaC,
mais não!!! Querem apoiar empresas? Baixem os impostos todos! Não é baixar a porcaria do IRC que não serve para nada. Parem de apostar em empresas, porque apostar numa, é atacar todas as outras que são concorrentes.
Ainda bem que o diz, caro Tonibler, seria com certeza mais salutar para a economia aliviar as empresas de tantos impostos, permitindo inovarem-se e regenerarem-se do que apostar apenas em algumas esquecendo o potencial que porventura outras terão, com reflexo na oferta de emprego... Aparentemente parece ser simples, não se percebe porque não se segue esta lógica.
Caro João Jardine,
Permito-me chamar a sua atenção para o facto de este ritmo de crescimento nominal das exportações - de 2 meses a penas, nunca é demais repetir - terá implícito um crescimento real da ordem de 7%.
A taxa de crescimento real assumida nas previsões macro, tanto de BdeP como do FMI é da ordem de 2%.
Faltam os dados dos 10 meses restantes para se poderem tirar conclusões quanto ao cenário macro final...mas é bem possível que esse cenário não seja pior do que o das previsões - pelo menos os riscos de "down-side" diminuíram muito, espero que concorde comigo.
Caro Tonibler,
Absolutamente de acordo consigo: parem de "apoiar" empresas, a desgraça que já foi feita em nome da mítica ideia de apoiar empresas deveria ser suficiente para não insistirem mais nessa lamentável tecla!
Não deixa de ser paradoxal que se peça para apoiar as empresas a quem tem uma escassa noção do que são as exigências de gestão de uma empresa (os burocratas da administração central)!
Reduzam os impostos, é o maior apoio que podem oferecer às empresas!
Caro Tavares Moreira
Acompanho-o no argumento, com o comentário queria frizar que, recuperámos as perdas sofridas, algo que é importante realçar.
Estamos em Abril e, mesmo aqui ao lado as águas estão revoltas; mas, como conseguimos recuperar o tempo perdido, as condições melhoraram muito pelo que, a tempestade ao lado poderá fazer mossa, mas não será tão trágica.
Cumprimentos
joão
Caro João Jardine,
As águas aqui ao lado estão realmente mui revueltas...
Mas parece que hoje, como num passe de mágica, terá chegado alguma acalmia, apesar da colocação de dívida pública (a 12 e 18 meses) não ter sido um grande sucesso...vão-se lá perceber as razões últimas dos mercados...
Caro Tavares Moreira
Muita bondade sua no comentário do que se está a passar aqui ao lado.
Dito isto e porque não é, nem o local nem o momento, apenas queria realçar o facto de, estas próximas três semanas serão cruciais para o mundo e para a zona euro. As eleições em França são o motivo.
As probabilidades de uma alteração estratégica são superiores a 50%; mas, essa possibilidade, não significa que voltaremos à "vidinha" de antes.
Cumprimentos
joão
Caro TMoreira,
No meu entrnder o ponto 12 explica o porquê de não ser possível criar mercado/consumo interno assinalável. Preços exagerados ( na luz e combustíveis) e a letargia legislativa nos pontos fundamentais! Na justiça, veja-se, as reformas passam por esvaziar os tribunais, ao invés de dar maior celeridade aos momentos processuais. Resumindo, a justiça fica acessível a menor parte da população, mas para a restante continua lenta. E uma justiça que é lenta, cria insegurança no comércio (ex: dificuldade em exigir o cumprimento das dividas). Ora se a isto se juntar a pesadíssima carga fiscal, estamos no bom caminho para muitos mais pacotes de ajuda externa.
Caro João Jardine,
Pois pode estar cheio de razão quando diz:nem pensar em voltar à vidinha de antes...pela minha parte, 100% de acordo.
Mas pode tb crer que há para aí uma legião de artistas - muitos deles com assento no hemiciclo de S. Bento - que não pensarão noutra coisa...
Caro Unknown (suspeito que se trata de um dedicado dragão)
Pois esses e muitos outros problemas são o resultado de uma absoluta incompetência na gestão das funções do Estado que nos tem perseguido desde há décadas...só se pensa em apoios, subsídios, despesas sumptuárias, mais e mais pessoal, mais meios materiais, escolas de gosto faraónico por exemplo...
Mas com a eficiência no desempenho dessas funções muito poucos se preocuparam - e alguns dos que se preocuparam forma simplesmente banidos...
Não temos que nos lamentar, simplesmente registar a ocorrência!
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