(clique no quadro para melhor visualização)
Este quadro representa a distribuição do crédito bancário entre 2004 e 2008 pelos diferentes setores da atividade económica nacional. Ajuda a compreender aquilo que está em causa no assunto abordado no post da Margarida Corrêa de Aguiar num plano que se situa aquém do Direito.
3 comentários:
É um quadro muito elucidativo da forma como a política económica não é decidida na Horta Seca mas pelos banqueiros e caixeiros (os da Caixa Geral de Depósitos, entenda-se). Poderia ter sido de outro modo? Ou, dito de uma forma mais construtiva, poderá ser de outro modo? Pode e deve, e há muito que venho anotando isso no meu bloco de notas.
A economia portuguesa vinha sendo drogada há muito tempo com construção civil e obras públicas com visível satisfação e prosperidade das partes envolvidas. Agora é o tempo da ressaca e não há modo nenhum de alterar mesmo a médio prazo uma situação estrutural que se suportava num sector não reprodutivo que absorvia, directa ou indirectamente, mais de 1/3 do emprego total. Dito de outro modo, o desemprego elevado está para ficar mesmo com o aumento de emigrantes e o retorno de imigrantes. Ninguém sabia disto?
Claro que sabia. Mas, de tão encantados estavam com os lucros e com os votos, queriam lá saber de desgraças futuras!
Quanto à questão em concreto, várias vezes anotei no meu bloco de notas que era mentira dizer que não há uma bolha imobiliária em Portugal. Claro que há, e não é pequena. Não se dá por enquanto tanto por ela como nos EUA, por exemplo, porque aqui existem as garantias pessoais, as tais que levam a que um pândego perde a casa a favor do banco e ainda fica com dívidas por conta da casa perdida se perde o emprego, por exemplo.
Já há algum tempo referi isto num comentário colocado no Quarta República: Nos EUA a bolha rebentou violentamente porque não há garantias pessoais e o tomador do empréstimo pode entregar a casa e saldar a dívida entregando a casa ao banco.
Por cá, ainda há poucas horas vi um cartaz colocado numa urbanização dos arredores de Lisboa oferecendo 100% de financiamento. Isto é subprime sem tirar nem pôr, e significa que a festa ainda continua. Muito menos animada, obviamente.
A prática das garantias pessoais para além da hipoteca do prédio objecto do contrato de empréstimo foi, e continua a ser, uma das razões pelas quais este país se cobriu de tanta construção. E especulação imobiliária.
Na semana passada, o sabido Alberto João declarou alto e bom som não estar arrependido de ter endividado a Madeira porque, de outro modo, não teria aproveitado os fundos comunitários, e como Sócrates lhe cortou as vazas, ele financiou-se pela diferença à socapa nos bancos.
E encobriu as dívidas.
Por que razão é que os bancos emprestaram o que o governo da República tinha ( e eles, bancos, sabiam) recusado?
Porque contavam e contam com garantias pessoais dos contribuintes portugueses.
Chamam a isto risco moral. E os bancos continuam a contar com ele.
É óbvio que o caro Rui Fonseca tem sobre este asunto informação absolutamente elucidativa. Permito-me subscrever o seu comentário.
José Mário
A dívida do sector privado cresceu de forma galopante, como se pode ler no quadro apresentado. Muitas pessoas não sabem que o seu nível é muito superior ao nível da dívida pública que no final de 2011 ascendia a 184,3 mil milhões de euros - 107,8% do PIB.
Os fardos da dívida no sector privado – empresas e famílias - estão a ser submetidos, a par do sector público, a um processo de desalavancagem financeira. Começamos agora a perceber como está a ser feito e quais são os seus efeitos económicos e sociais. Mantém-se, no entanto, a incerteza sobre a sua duração. Os custos de socialização das perdas da desalavancagem financeira devem merecer especial atenção política. O tema da nossa reflexão insere-se precisamente nesta preocupação.
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