Qualquer sociedade em desenvolvimento tem de passar por certas fases independentemente dos fatores de risco, que estão na génese de muitos problemas, serem passíveis de prevenção e/ou tratamento. Uma espécie de fatalismo sociológico. Podemos apontar como exemplo paradigmático desta afirmação o caso das doenças cardiovasculares. Sabemos qual é o papel da hipertensão, do tabagismo, do colesterol elevado, da diabetes, da obesidade, do sedentarismo, apenas para ilustrar alguns fatores perfeitamente preveníveis e/ou tratáveis. Fazem-se campanhas de rastreio e de informação a todos os níveis. Mas na prática o que é que se verifica? A prevalência desses fatores continua a aumentar ou não diminui de acordo com as expectativas. Sendo assim, muitas das suas consequências, acidentes vasculares, traduzem-se em taxas de morbilidade elevadas. Depois de se atingir um determinado patamar é que começa a diminuir as consequências mórbidas da exposição aos fatores de risco, ou seja, passam a ser menos frequentes, e mais tardias no seu aparecimento, denotando, agora sim, a eficiência de prevenção e da terapêutica. Estas duas medidas só encontram terreno favorável em situações de gravidade absoluta.
A "prevenção" tem muito que se lhe diga, o que se faz na prática é apenas adiar, assim, ter um enfarte do miocárdio aos cinquenta anos é uma tragédia que passa a ser uma felicidade, uma "bênção" de Deus, quando nos tira de forma ultra rápida deste mundo aos noventa e muitos de idade.
É muito complexo e difícil malhar em ferro frio. No dia-a-dia confronto-me com inúmeras pessoas recalcitrantes e perfeitamente "surdas" a quaisquer conselhos ou atos terapêuticos. Não há nada a fazer. Não querem ouvir, não acreditam no que se lhes diz, borrifam-se para os cuidados terapêuticos, enfim! Tenho dias em que me apetece desistir. Sinto uma frustração incrível, desperdiçam bens que lhes são oferecidos e que poderiam ajudá-los a viver mais anos e com muita qualidade. No fundo, são representantes de comunidades subdesenvolvidas que, praticamente, não beneficiarão das medidas propostas nem tão pouco contribuirão para o bem-estar dos concidadãos mais responsáveis e com nível cultural superior. Logo, só quando forem "substituídos" pelas gerações mais novas, e mais suscetíveis às mensagens, à formação e informação em matéria de saúde, é que poderemos "ver" resultados muito positivos. Mas isto demora? Ai não, demora e muito.
Na área da epidemiologia este fenómeno está muito bem estudado. Penso que deveriam ser feitos estudos semelhantes no setor da política. Ou seja, será que aos "nossos" políticos se poderá aplicar este fenómeno de transição sociológica? Talvez. Sendo assim, ainda estarão na fase da qualidade mais baixa, o equivalente à "idade da peste e da fome", de acordo com a designação dada por Omran em 1974. Uma chatice, porque, tal como certos doentes são refratários à mudança de hábitos e estilos de vida, também os nossos políticos apresentam comportamentos idênticos quanto à forma de servir a nação. Não servem e não sabem servir. Eu, durante anos, acreditei em muitas individualidades. Pensei, para chegarem onde chegaram é porque têm qualidade e valor muito superior à média. Depois foi um grande aborrecimento. Conheci alguns, o suficiente para verificar que não era bem assim. Agora, com esse conhecimento adquirido ao vivo, aliado a algum peso da idade, mais certas evidências que vou vendo e ouvindo aqui e acolá, acabo por ficar com os cabelos em pé. Poderia ilustrar com alguns casos, mas são tantos, meu Deus! Desde um ex-ministro e deputado a fazer figura ridícula num programa desportivo até às declarações de um ex-candidato a presidente da república que considera ser uma felicidade não ter sido eleito, passando pela vaidade e o sentimento messiânico de um ex-primeiro ministro, há de tudo, mas há mesmo de tudo. Na minha opinião dificilmente iremos a algum sítio com estes políticos. No entanto, apesar de não acreditar na Divina Providência, a qual não deverá ter qualquer interesse na política, pode muito bem acontecer que, devido a fatores alheios à nossa vontade, possamos um dia acordar numa situação diferente da que estamos a passar. Espero que seja para melhor, mas não acredito que seja à custa de políticos que ainda vivem na "idade da peste e da fome". Alguns são mesmo uma peste e outros andam cá com uma fome...
4 comentários:
Enquanto o médico apenas pode aconselhar – “Pode-se levar o cavalo à fonte, mas não se pode obrigá-lo a beber” –, uma população unida, bem informada e responsável (não há aqui qualquer conotação revolucionária) tem o poder de transformar qualquer primeiro ministro em ex-primeiro ministro, qualquer político em ex-político – subentende-se evidentemente de que estes cidadãos vivem numa democracia.
Subitamente, recordei-me do velho ditado: “Entre uns e outros, venha o diabo e escolha.”
Talvez o facto de um ex-ministro e deputado estar fazer figura ridícula num programa desportivo signifique que a evolução social está a fazer-se. Pior sinal seria se a mesma pessoa fosse ministro e ex-deputado a fazer figura ridícula num conselho de ministros. Pelo menos sabemos que este, não está.Dos outros?...Vamos andando...
Não está, mas já esteve!
Evolução social? Hum! Muito interessante essa perspetiva. A "sobrevivência dos mais aptos"? Não sei o que diria Darwin, mas, meu caro Tonibler, sou capaz de lhe dar razão!
Sendo assim, os "outros" estão a preparar-se para a dita evolução e de evolução em evolução acabamos por cair onde estamos,nós, os "menos aptos"!
Bem, eles não nasceram lá, fui "eu" que os lá coloquei. O menos apto "sou mesmo eu"...
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