1. São conhecidos os dados do comércio externo de bens e de serviços para os primeiros 4 meses do ano e a evolução registada, por comparação ao mesmo período de 2011, revela-nos algumas novidades curiosas.
2. Em primeiro lugar, no que se refere ao comércio de bens, registou-se uma diminuição do défice de quase 40%, passando de € 5.920 milhões para € 3.583 milhões, graças a um aumento das exportações de +9,7% e uma diminuição das importações de -5,2%.
3. Constata-se um forte crescimento das exportações de bens para (i) Angola (+29,3%), que passou de 5º para 4º cliente, ultrapassando o Reino Unido, (ii) os EUA (+43,9%), passando de 8º para 6º cliente, ultrapassando a Itália e a Holanda, (iii) a China (+200,7%), que passou de 18º para 10º cliente, ultrapassando o Brasil, entre muitos outros, e...surpresa das surpresas, (iv) a Grécia (+171,3%), que passou de 34º para 20º cliente!
4. Em sentido inverso, confirma-se a quebra das vendas para Espanha (-4,5%), apesar de continuar a ocupar o 1º lugar como cliente (mas em perda relativa, de 26,1% em 2011 para 22,7% em 2012) e para a Itália (-0,5%), resultantes do abrandamento registado nessas economias, mas que faz um estranho contraste com a evolução notável dos negócios com a Grécia, que aparentemente passam ao lado da tão propalada crise da economia grega...
5. No comércio de serviços, em que foi possível obter nestes 4 primeiros meses um saldo global positivo de mais de € 2 mil milhões, um aumento de 15,9% em relação ao saldo verificado no mesmo período de 2011, Angola está em 1º lugar, pois apuramos com este país um superavit de mais de € 402 milhões, em 2º lugar vem o Reino Unido, com quem apuramos um superavit de € 381 milhões, em 3º lugar a França, superavit de € 338 milhões, em 4º lugar a Alemanha, superavit de € 205 milhões e em 5º lugar o Brasil, superavit de quase € 150 milhões.
6. Mas parece-me que de toda esta panóplia estatística, o dado mais surpreendente é o fortíssimo aumento das exportações de bens para a Grécia, do qual quase se pode dizer que “desafia a gravidade” - ninguém esperaria que com notícias tão negativas vindas daquele País as empresas portuguesas tivessem o engenho de aumentar tão significativamente (+171,3%) as vendas para aquele mercado...
7. E ainda dizem para aí os comentadores de sofá que as empresas portuguesas não têm suficiente competitividade e precisam de adoptar políticas comerciais mais agressivas...Tretas!
7 comentários:
E com o petróleo a baixar, isto pode mesmo equilibrar este ano...
Caro Dr. Tavares Moreira,
Não quero parecer pessimista, mas a ver a sua nota sobre o aumento dos negócios com a Grécia, lembrei-me do que um amigo meu, que produz para a Grande Distribuição (as Sonae e Pingo Doce desta vida), me disse há dias: "o ano até me está a correr bem, mas não por ter melhorado significativamente os meus processos, ou cortado custos drasticamente... apenas estou a aproveitar o fecho de empresas concorrentes que simplesmente não conseguiram sobreviver à falta de financiamento, ou às práticas comerciais dos compradores". Entre outras questões, notava-se-lhe algum desconforto com a noção de que o bem dele era o desemprego noutros lados.
Ou seja, se calhar vejo o nosso sucesso com a Grécia também como o "aproveitar da desgraça" desta. Dir-me-á, com alguma razão, que os gregos "abusaram", que as empresas têm de saber aproveitar oportunidaes, e que o mundo da economia passa por estas fases de "destruição criativa". Só que esta destruição me parece mais "social".
E, provavelmente, em algum blogue "4R grego", onde vemos "sucesso" das empresas portuguesas, outros estarão a ver abutres... Quanto à solidariedade europeia estamos falados.
Caro Tonibler,
Por esse lado, não estarei tão optimista...com o petróleo a baixar, a tendência da rapaziada será "in all likelyhood", para ajustar as despesas de consumo de combustíveis para cima, já se vai notando... Mas, mesmo assim, talvez tenhamos algum ganho, ainda pode ter razão.
Caro Jorge Lúcio,
E se os produtos portugueses tiverem conquistado mercado na Grécia à custa de concorrentes como alemães, franceses, nórdicos?
O que diria?
Em €, o que significam esses 171,3% de incremento de vendas para a Grécia?
Caro Dr. Tavares Moreira,
Desculpe-me a franqueza, e oxalá esteja eu enganado, mas diria que é um "wishful thinking" da sua parte...
É verdade que as exportações alemãs estão a cair, mas o que esperaria a Sra Merkel se os seus mercados de exportação naturais estão a ficar "sem cheta"? Agora acreditar que a diminuição da compra de BMWs ou de Bang&Olufsen é compensada por importações portuguesas...
Posso estar enganado, mas vejo como mais provável estarmos simplesmente a ocupar o espaço deixado pela destruição das empresas locais. No balanço "import/export" poderá parecer que estamos a "substituir" os do Norte, mas na realidade...
O que talvez falte saber é quanto é que exportávamos antes para a Grécia - e já agora que produtos - porque um aumento desses ou é revolucionário (encontrámos um novo segmento de negócio, que pode ter sido abandonado por outros, talvez o farmacêutico?) ou parte de uma baixissima taxa anterior, enfim, não faço ideia, estou só a tentar perceber.
Caros F. Almeida e Suzana,
Os números do comércio de bens com a Grécia são mais ou menos € 36 milhões nos 4 primeiros meses de 2011 para um pouco mais de € 100milhões no período homólogo de 2012...Constam das estatísticas de comércio internacional divulgadas pela AICEP.
Quanto ao tipo de produtos, não fui investigar mas se tiverem curiosidade, creio que a AICEP os poderá disponibilizar.
Caro Jorge Lúcio,
Na minha abordagem não existe a mais remota dose de "wishful thinking"...de resto, é um produto a que até sou alérgico, sabe?
Limitei-me à constatação de factos, mas confesso que aprecio, e muito, o trabalho que está sendo feito por muitas centenas de empresas deste País, cujos responsáveis e trabalhadores arregaçaram as mangas e puseram mãos à obra, não se resignando à cultura do sofá nem confiando apenas nas incomensuráveis virtudes da burocracia...
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