1. O Tesouro português colocou hoje no mercado dívida (Bilhetes do Tesouro) a 6 e a 12 meses, com os seguintes resultados (leilão):
- Nos 6 meses, € 500 milhões, taxa média de 2,653% (2,908% no leilão anterior);
- Nos 12 meses, € 1.000 milhões, taxa média de 3,834% (3,908% no leilão anterior).
2. Numa altura em que os mercados exibem elevado receio face à situação na Grécia e à crise financeira/bancária em Espanha, é talvez surpreendente este apetite dos investidores pela aquisição de dívida pública portuguesa, (a maior) parte da qual terá vencimento em Junho de 2013.
3. Tenho a percepção de que após a realização do 4º exame à execução do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF), agora concluído de forma positiva, e embora sejam ainda imensas as dificuldades a ultrapassar – e nada desprezíveis os riscos de um retrocesso, saliente-se – o País está a conseguir transmitir para o exterior a imagem (um pouco na linha da Irlanda) de que é capaz de cumprir os compromissos assumidos com os credores internacionais e de “dar a volta” aos desequilíbrios da economia.
4. Existirá outro factor, associado ao anterior e porventura nada desprezível: a crescente convicção de que a União Europeia estará bastante disponível para “nos dar a mão”, concedendo um apoio financeiro suplementar dos € 78 mil milhões do programa em curso, caso (i) o cumprimento do PAEF se mantenha assegurado no essencial e (ii) o acesso aos mercados não seja possível em condições de normalidade até ao Verão de 2013.
5. É claro que estes factos são para os Crescimentistas domésticos o mesmo que o toucinho seria para Maomé: horroriza-os a simples perspectiva de a aplicação do PAEF poder vir a ser bem sucedida e de, em consequência, a economia vir a ter condições para crescer sem ter de se endividar pesadamente (voltando à estaca zero logo a seguir, mas isso seria um acidente sem importância)...
6. Para os Crescimentistas, dívida e crescimento são conceitos inseparáveis, talvez mesmo gémeos: a primeira alimenta o segundo, qq crescimento sem dívida “a tiracolo” não vale, é inconsistente, deve ser liminarmente rejeitado...
7. Apesar de se tratar de mais dívida, de nova dívida, de querida dívida, estas notícias de hoje não são pois nada animadoras para os nossos inquebrantáveis Crescimentistas...
10 comentários:
Não sei se consigo concordar inteiramente com tudo o que o caro Dr. Tavares Moreira expõe neste post...
Desde que o nosso PR esteve de visita à Austrália e conseguiu convencer o seu homólogo de que o vinho australiano ficaria muitíssimo mais valorizado se as rolhas fossem portuguesas... não me restam dúvidas em poder afirmar convícto, de que Portugal irá muito em breve, tornar-se no "Rei da Cortiça". Um rei repúblicano, claro está mas, livre de empréstimos ao estrangeiro, que é o mais importante!
;)
Bem, 500 milhões a 6 meses...
Nesta fase acho que o estado está mais que safo, embora ainda esteja tudo por fazer. Talvez os stimulati estejam calados e satisfeitos, mas há que satisfazer os austerati, como eu, que ainda não viram nada de real. A RTP continua aí a valer uma crise financeira só por si, a TAP idem, a um emprego na função pública continua a valer 2 vezes um equivalente no privado, a porcaria da TSU continua no mesmo sítio, a cara do Bava continua com aquele sorriso, etc... Basicamente continuamos com um governo na onda do republicanismo Soarista/Salazarista que desde que o estado esteja bem, o país que se lixe.
Como sempre defendi, está visto que temos que meter aquele senhor dinamarquês como primeiro ministro...
Caro Bartolomeu, eu ouvi e o PR (se era ele que estava a falar com aquele pronuncia de Borat...) não falou de cork, falou de cock. "A good wine needs a good cock"
Bem, caro Tonibler, mesmo assim, foi muita sorte o encontro com o Ronaldo, não se ter dado antes da viágem, porque às tantas, o nosso PR, ainda tinha terminado o discurso dizendo: E para provar o que digo, vou oferecer a você um saco de rolhas, tá?!
;)
Caro Bartolomeu,
O meu Amigo já sabe que não tem nada que se preocupar se concorda com/discorda do que aqui escrevo...
Eu não tenho a preocupação dos dogmáticos - embora às vezes não me livre desse e doutros apelidos, veja que até à nomenclatura cubana fui ontem assimilidado por um excelente comentador - de que todos devem estar de acordo com o que escrevo oudigo...
Quanto às rolhas de cortiça, quero confessar-lhe que não tinha pensado nisso mas devo admitir que poderemos estar perante o Ovo de Colombo da economia portuguesa: se começamos a vender rolhas de cortiça por esse mundo fora, talvez a economia possa mesmo ficar a flutuar e não se afunde...
Lembra-se de um PR, já desaparecido deste mundo irreal que é Portugal, a quem apelidavam de "o rolha", exactamente pela incrível capacidade de se manter sempre à tona do poder, apesar dos sucessivos golpes palacianos que iam afastando, um a a um, todos aqueles a quem parecia mais ligado?
Caro Tonibler,
Essa sugestão do novo étimo Stimulati parece-me bem interessante...uma expressão a reter (espero que não perca tempo a registar os direitos)...
Quanto aos comentários que faz sobre (i) a infectividade das medidas de limpeza orçamental tomadas e (ii) as muitas que falta tomar, poderei estar de acordo com um desconto de 33 a 38%...
Não são expressões minhas, são de um cronista do FT, creio, que achei piada.
Para além da graça que tem, na sua e na minha opinião, esse étimo aparece revestido de um certo mistério, fazendo-me recordar o famoso livro Código da Vinci, contando uma história bem interessante em que alguns dos mais importantes protagonistas pertenciam aos Iluminati, uma sociedade secreta, capaz das maiores "proezas"...
Sabe-se lá se não existem relações entre os Iluminati e os Stimulati?...
Não percebo. *ensava que estávamos a soro da troika mas afinal o dito ainda saca dívida por fora? Confirma que a dívida foi comprada pelo mercado? Ou foi pelo "mercado" que nos dá o soro?
Esta fonte extra de financiamento só pode significar uma coisa -- esta gentinha já arranjou maneira de torrar mais dinheiro... não há maneira de estancar a hemorragia!
Ilustre Mandatário do Reu,
Não sei se está atento a este tipo de operações, mas o Tesouro Português nunca deixou de recorrer ao mercado de dívida por curtos prazos (que em emissões realizadas este ano já foram estendidos para os 18 meses) mesmo depois de ter acordado o PAEF com os credores internacionais...
Portanto nada de novo, nesta matéria...a não ser agora uma apetência do mercado por dívida portuguesa acima das (minhas) expectativas, dada a situação de grande incerteza (Grécia, Espanha) que se tem vivido e o efeito de contágio que produz sobre a dívida portuguesa.
Caro Tavares Moreira. Consegue-se saber quem foram os compradores da dívida?
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