O livro O Amor como Critério de Gestão, de António Pinto Leite, rasga com a visão tradicional de que amor e gestão não casam, onde há gestão há procura da eficiência e do lucro incessante, exige-se disciplina e rigor, premeia-se a competência e o trabalho, o amor não entra nesta fórmula.
Falar de amor na gestão pode surgir como algo desajustado, uma utopia que não se compadece com a realidade, um tema algo improvável. Por onde se deve começar?
Quem lida com a gestão sabe que as empresas bem sucedidas incorporam na gestão valores que não se limitam à racionalidade e à disciplina, que têm uma componente afectiva muita importante. Estas empresas desenvolvem um clima organizacional assente na confiança e satisfação permanente de gestores e trabalhadores que se mobilizam e querem fazer parte de um desígnio colectivo que está muito para lá dos objectivos individuais.
Com efeito, o capital emocional das organizações que mobiliza vontades para enfrentar dificuldades e realizar desafios numa incessante resposta à mudança, promovida dentro ou imposta de fora, é a bem dizer a prova de que o amor está próximo da gestão. O sentido da sobrevivência, só por si, e já é muito, quer-me parecer que não é suficiente.
É um facto que na literatura da gestão raramente encontramos a palavra amor enquanto valor, instrumento ou critério de gestão. Porque será que não é dada relevância a esta palavra na acção empresarial? Porque não é utilizada nos textos sobre ética ou liderança empresarial? Mas encontramos com frequências narrativas como humanismo, solidariedade, bem comum, responsabilidade social, felicidade, sentido social, etc.
O amor ao próximo como critério de gestão significa segundo António Pinto Leite tomar decisões como se nós próprios fossemos os destinatários dessas decisões. Só colocando-nos na real situação do outro, com a informação de que dispomos, podemos tomar decisões segundo a integridade de amarmos os outros como a nós mesmos. Conclui, assim, por uma definição simples: “Amor ao próximo como critério de gestão significa tratar os outros como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar deles”.
Um critério assim tão simples, pareceria à primeira vista fácil de operacionalizar. Mas não é.
Não se trata de transportar o amor que há em cada um de nós para dentro de uma empresa. Já o fazemos todos os dias, porque o amor é intrínseco ao ser humano. Transformar o critério num guião simples e consequente de gestão não é fácil porque no mercado global há sempre quem não adira, não sendo possível uniformizar as regras do jogo. Num mundo em concorrência quantas situações não surgem que ameaçam a sua literal aplicação?
Como colocar o amor no centro das preocupações da gestão constitui realmente um desafio…
4 comentários:
Cara Drª Margarida, eis, sem dúvida uma leitura interessante, acerca do amor, e das formas como o entendemos e gerimos.
Um tema que sempre se reveste de alguma ambiguidade, se assim lhe possa chamar para o definir.
Mas, como no amor, entram sempre, no mínimo duas entidades, existe sempre a possibilidade de o mesmo se apresentar, também pelo menos, de duas formas diferentes, ou, de ter desfechos que nenhum dos dois, ou mais, consigam prever...
Existem ainda aqueles amores "doentios", em que um, depende inteiramente do outro e se acha por ele condicionado em todas as acções ou decisões, não dispondo da força de carácter suficiente, para o afastar da sua vida, mesmo que se lhe meta pelos olhos dentro, que o outro... o 2º não é pessoa de bem, que é falso e pernicioso e que, um dia, o vai tramar até às orelhas.
Mas pronto... já diz o pobõe no seu cantar: «o amor é louco... não façam pouco... tra-la-rá-lá-lá».
;)
Certamente foi por Amor que a FPF tomou esta decisão de gestão dos dinheiros públicos quando contratou o alojamento da selecção na Polónia:
«O diário espanhol “As” quis perceber quanto é que as várias selecções em competição vão gastar com o alojamento, e o resultado acabou por ser surpreendente se tivermos em consideração as constantes medidas de austeridade que têm vindo a ser aplicadas em Portugal.
Segue-se a respectiva listagem em despesas diárias:
1. Portugal – Opalenica 33.174 euros
2. Rússia – Varsovia 30.400 euros
3. Polónia – Varsovia 24.000 euros
4. Irlanda – Sopot 23.000 euros
5. Alemanha – Gdansk 22.500 euros
6. Rep. Checa – Wroclaw 22.200 euros
7. Inglaterra – Cracóvia 19.000 euros
8. Holanda – Cracovia 16.200 euros
9. Italia – Wieliczka 10.500 euros
10. Croácia – Warka 8.300 euros
11. Dinamarca – Kolobrzeg 7.700 euros
12. Espanha – Gniewino 4.700 euros.»
De facto, estamos no bom caminho, não haja dúvida.
Parece realmente estranho que se recupere a palavra amor para falar do sentido dos nossos gestos numa empresa, mas será mais a palavra "caritas" tal como fala a enciclica, decência, humanidade, paciência e interesse pelo próximo. Esse sentido de decência foi substituído por conceitos como eficiência, gestão racional, orientação para resultados, como se todas estas orientações dispensassem uma perspectiva humana da relação entre quem trabalha e quem dá emprego. A mercantilização do trabalho será talvez isso mesmo, tratar as pessoas como máquinas ou como "factores" de produção, esquecendo as suas emoções e a importância dos estímulos e das reacções. Se esta formulação com base no "amor" servir para chamar a atenção para o básico, já se ganhou alguma coisa.
Caro Bartolomeu, é muito ambíguo, mas é consensual que é um dos bens mais preciosos da vida.
Caro José Fontes, será que a Troika sabe disto?
Suzana, bem que o básico precisa de ser reabilitado.
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