Sabia desde o início que, se não conseguisses marcar o segundo golo, mais cedo ou mais tarde a Grécia voltaria ao jogo. Fizemos o que tínhamos de fazer e os golos foram uma consequência lógica», disse Joachim Low no final da partida, frisando que a Grécia «criou apenas uma ocasião de golo e marcou dois».
Está certo, assumo o meu favoritismo descarado pelos gregos no jogo de hoje e o facto de não perceber nada de futebol permitiu-me ver o “outro” jogo e o que ele revela de cada um daqueles dois grupos e da sua identidade como povos tão diferentes.
Era evidente, mesmo para quem não sabe as regras do jogo, a superioridade da equipa alemã, pareciam máquinas na organização, na precisão, no modo como se articulavam e, claro, na eficácia dos remates. Os gregos, por seu lado, nem atacaram nem se defenderam, faziam o que podiam para os torpedear, sem se cansar demasiado, claramente desanimados mas teimosos, orgulhosos, talvez, sem querer dar-se por derrotados mas sabendo que nunca seriam vencedores. Samara – nome providencial neste momento – empatou o jogo aproveitando o campo vazio de defensores, numa fase em que os alemães já nem se maçavam a defender o seu campo, tão convencidos que estavam da sua superioridade. O mais curioso é que me pareceu que o golo surpreendeu também os próprios gregos, como se espantassem com o seu feito. Mas Samara ali estava, a fazer os alemães correr e temê-los, sem os compreender. Seguiram-se os três golos alemães, numa desforra sem tréguas, zás, trás, voltem para o vosso lugar, entretanto notou-se uma certa insolência dos gregos, a inventar agressões, um deles cometeu uma falta e discutiu com o árbitro como se fosse uma vítima, como não levou a melhor atirou a cabeça para trás e desatou a rir-se, como se tudo fosse uma farsa, os gregos são assim, adoram discussões e zaragatas e depois ficam a rir-se da confusão, sobretudo se não puderem levar a melhor. Em qualquer caso é bom que não pensem que se deixaram intimidar.
Mas a melhor cena do jogo, para mim, foi o momento em que um jogador alemão se distraiu, ou estava de costas, não percebi bem, mas a mão tocou na bola e desviou-a. Azar, no melhor pano cai a nódoa, Salpingidis fez uma cara de predestinado e marcou o penalti, depois virou-se para a bancada dos adeptos gregos e, com um gesto do coração, dedicou-lhes o golo, aqui está este consolo, vocês mereciam. Foi um gesto maravilhoso, profundamente tocante, que tirou a alegria aos alemães e os deixou abananados, talvez por isso não tenham marcado mais golo nenhum embora pudessem tê-lo feito, não sei, mas que gostei deste final, gostei. Estragou a vitória e salvou a derrota, cada um é gigante à sua maneira.
E viva a nossa seleção!
5 comentários:
Suzana
Percebo pouco de futebol, mas achei que à partida tudo era possível. Não foi a Grécia que na grande final do Euro ganhou a Portugal? Não sei se pelo caminho eliminaram a Alemanha.
Ontem, jogaram um bocado desnorteados, depois do festival de golos dos alemães. Nem o Samaras lhes valeu, tenho impressão que aguçou o génio alemão. Valeu-lhes o consolo de um penalti para rematar a partida.
Até percebo a Dra. Suzana, estes gregos, com imensos genes ancestrais de grande grandeza, até mereciam "papar" os alemães, o problema é que a Merkel estava na bancada a exigir dos seus rapazes supremacia... :)
Cara Dra. Margarida, comentei o seu post da vinha, gostaria de saber a sua opinião...
Peço desculpa por estes comentários eliminados, provêm de um erro...
O que eu queria mostrar é este vídeo que ilustra o meu comentário antecedente :)
https://www.youtube.com/watch?v=ur5fGSBsfq8&feature=player_embedded#!
Bela reportagem do jogo, cara Suzana. Quem escreve assim sabe tudo de futebol. E de muitas coisas mais.
Ao menos no jogo dos filósofos os gregos ganharam aos alemães.
Divirtam-se com este pequeníssimo filme de um hipotético jogo entre os filósofos gregos da Antiguidade Clássica e os filósofos alemães da Modernidade.
http://youtu.be/eUbSVGCYagM
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