Confesso que quando vi concretizada a ambição do Dr. António José Seguro vir a liderar o PS, conjeturei duas coisas. Primeiro, que a escolha dos socialistas para a nova liderança era uma solução precária, destinada a garantir a transição entre o socratismo e algo que haverá de surgir da inevitável convulsão interna, quando o PS estiver em condições de disputar o poder. Segundo, que o Dr. António José Seguro seria de todos o primeiro a saber disso, e cedo cederia à tentação de se desvincular de compromissos que o partido assumiu em nome do País e mandaria às malvas a responsabilidade.
Reconheço que, até agora, a atitude do Dr. Seguro, pese embora o discurso político nem sempre conforme, revela que me enganei nas minhas previsões. O secretário-geral do PS tem-se mantido, no essencial, consciente de que o PS não pode ceder à tentação de competir no Parlamento e na rua com o PCP e com o BE na busca dos lucros fáceis da contestação às medidas dolorosas tomadas pelo Governo.
Mas pelo que leio na imprensa, não foi só este que assina quem se enganou na perspetiva. Parte importante do grupo parlamentar (e das estruturas do PS) também se enganaram e cansaram-se, inconformados, de esperar por outro comportamento do seu lider. Unem-se aos setores mais radiciais e subscrevem um documento que contesta o compromisso celebrado com a troika que, recorda-se, salvou Portugal da falência quando o PS tinha a responsabilidade de conduzir a governação.
Um desses deputados, justificando a sua adesão ao movimento, escreve na sua página do Facebook: PORQUE SIM!
Ora aí está. Contesta-se porque sim! Não porque Portugal tenha submergido do mar de dificuldades em que o afundaram. Não porque a Troika incumpriu a sua parte no acordo. Não porque o País passou a gerar riqueza para se poder dispensar de pedir dinheiro emprestado ao exterior. Mas...porque sim, com ponto de exclamação e tudo.
Que o exemplo do Syriza grego tenha provocado frémitos de entusiasmo, depressa arrefecido, ao Dr. Louçã, é normal. Que tenha contaminado alguns setores do PS é, no mínimo, caricato atentas as responsabilidades que o partido tem na situação e no próprio acordo com os novos credores. Oxalá não passe do caricato e não venha a ser preocupante. Do que o País menos necessita nesta fase é de irresponsabilidade.
4 comentários:
Meu caro Amigo, Dr. José Mário, não entenda o que vou escrever, ofensivamente. Pelo contrário.
Começo este comentário com uma pergunta: não estará ainda o meu estimado Amigo, sob o efeito de "jet-lag"?
É que, de onde o caro Dr. José Mário vem,do local onde obteve as fantásticas fotografias com que nos obsequiou, é a realidade! Aqui, onde se acha, onde nos achamos... é outra coisa... é um carrocel onde desfiam um sem-número de ambiguidades que nos deixam desorientados e nos fazem acreditar na letra dos "Loucos de Lisboa", aqueles que nos querem fazer acreditar que «A terra gira ao contrário e os rios nascem do mar».
http://www.youtube.com/watch?v=w7rMj6ao6wo&feature=related
Mas, deixemos a Costa Rica, e concentremos a atenção na Costa Pobre desta Europa, também ela cada dia mais pobre, por vontade dos homens que lhe governam os destinos.
Depois de José Socrates ter sido meio-forçado a abandonar os comandos da lancha... quem, dentro do PS, estaria em condições para assumir o resultado máximo das eleições? Só um Tó-Tó, não lhe parece? Aliás, no PS isso é tradição, no PSD também. Não nos podemos esquecer do outro que foi fazer rodagem ao carro e quando regrossou também já não era o mesmo quando partiu. Este país é assim, caro Dr. José Mário, tão rápidamente santifica, como diaboliza...
Ainda me estou a rir porcausa daquela estória com o Tino de Rãs... nada mais caricato, não lhe parece?!
Ha uns dois ou três anos passava na teelvisão uma série humorística, recheada de pêssegas, em que o actor Carlos Areias, representava um naufrago que se encontrava numa ilha deserta. Ele era resgatado por um navio de turismo e mal entra a bordo, pede notícias de Portugal. Quando o colocam a par das actualidades, ele atira-se borda fora e grita estéricamente eu quero voltar para a ilha!!!
Hmmm???
Não senhor, não estou a insinuar nada, juro. Até porque eu sou daqueles que acredita nas potencialidades do país, do seu povo, mas sobretudo, naqueles que abenegadamente dão a vida se preciso fôr para recuperar e restituir o bem-estar aos cidadãos!
Pfhhhh!!!
Desculpe-me caro Dr. o empolgamento, mas acho que ao almoço sou capaz de ter exagerado um pouco nos copos de tinto e nas doses do digestivo...
Mas, seja como for, uma coisa é indiscutível... os rios nascem na foz!
Folgo em ver que apesar de todos os desencantos continua a persistir a boa disposição, caro Bartolomeu.
E não insinua. Acerta. No dia em que se pisa terra lusa e se ouve e lê o que se vai passando por cá, apetece mesmo voltar a embarcar. mas como o estimado Bartolomeu também eu amo demais este cantinho à beira mar plantado. Apesar de todos os tó-tos...
Atitude e gesto de meninos birrentos ou nostálgicos daquelas uniões de esquerdas das Internacionais, onde os socialistas sempre compareciam para serem normalmente "dizimados" pelas correntes comunistas. Não aprenderam nunca, não é agora que aprendem.
Qualquer debate em Portugal se traduz nas trincheiras entre os "bons" e os "maus", o que interessa é colar rapidamente o rótulo a um dos lados e depois é deixar correr as coisas, para quê argumentos? "Porque sim" é o terreno dos "bons", dos que acham que só por maldade é que "não", é fácil,dá notícias e...não obriga a coisa nenhuma.
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