Não me
espanta o silêncio dos media sobre os contratos paralelos
das Scuts, feitos pelo anterior Governo, que agravaram os encargos do Estado (e
nossos…) em 750 milhões de euros, segundo informou o Tribunal de Contas. 750
milhões que assim fugiram, de forma descarada, à fiscalização daquele Tribunal.
De facto, não
fiquei surpreendido, porque o montante em causa, 750 milhões, não tem qualquer
importância nos tempos que correm; ademais, sonegar contratos ao Tribunal de
Contas também não é facto assinalável.
Os media têm
mais do que se entreter, que os critérios jornalísticos são coisa exigente. Curiosamente, ainda ouvi hoje na RTP, serviço público,
mais uma da infindável série de reportagens sobre as portagens, com entrevistas
e publicitação directa dos boicotes que se preparam. Claro que uma parte dos
custos da portagens nada tem a ver com os negócios paralelos das SCUTS. Não
senhor e com toda a razão. Porque até parece que esses contratos paralelos nem
existem, não têm pai nem mãe. O Secretário de Estado nega a progenitura, mas lá
vai dizendo que paternidade, a haver, seria dos Ministros. Estes negam a cópula
e, naturalmente, a consequente paternidade.
Enfim,
apareceram espontaneamente, por obra e graça, não do Espírito Santo, que está livre desta, mas do Tribunal de Contas. Os media
nada têm, pois, a esclarecer. Está tudo transparente. E há muita história de espiões para contar. Mas nada de espiar contratos
paralelos. Ainda se fossem os contratos principais…
6 comentários:
Bem, do ponto de vista do critério jornalístico, há que dar-lhes razão. Governo que é ladrão e que se safa sem julgamento é notícia porquê? Não se arranja umas gajas nuas pelo meio para que passe a ser novo? Do tipo, ministra nua desvia 750 milhões de euros. Pelos 750 milhões safa-se, agora pela nudez...
Churchill afirmava que a política era a arte de fazer previsões sobre “os próximos anos” e de passar “os próximos anos” a explicar por que razão as coisas não se passaram como estava previsto.
Penso que este raciocínio é aplicável também, no caso das SCUTS, a cujo projecto de traçado e construcção, presidiu outro projecto politico-económico que se previa estratosféricamente viável e evolutivo, mas que não resultou. Hoje, como não ha maneira de provar as causas daquela inviabilidade, sem decepar alguns corpos, opta-se pela via mais fácil, que é a de cobrar oao contribuinte...
Assim, até eu era um bom ministro das finanças, acumulando as outras pastas todas, na boa!
Exactamente, caro Tonibler!
Caro Bartolomeu:
A questão não é essa, caro Bartolomeu, a questão é por que se esconderam esses contratos paralelos do Tribunal de Contas. Tão secretos que ninguém os assume. Porquê?
Mas, claro, isso não tem importância nenhuma.
Lamentavelmente, a importância tem a ver apenas com quem foi o autor. Há vacas sagradas!...
Talvez para a questão que o caro Dr. Pinho Cardão agora coloca, já não exista resposta, porque ela tem origem no tremendo emaranhado de interesses e decisões, umas dependentes de outras, assim como os decisores, os fiscalizadores e agora, os julgadores.
Do meu ponto de vista, caro Dr. Pinho Cardão, uma vez que se perdeu a hipotese de julgar em tempo casos como os das SCUT, o conceito de moral perdeu valor.
E não pretendo defender políticas, longe de mim, até porque existem orgãos próprios para tanto, não directamente eleitos por sufrágio universal, mas por mandatários dos eleitos, o que, em democracia, se recobre do mesmo valor, sendo contudo, quando colocado na prática, de valor contrário.
O grande problema, caro Dr. não reside no TC, nem em outros órgãos, mas sim na nossa falta de consciência cívica.
É que, se o caro Dr. bem se recorda, ha uns anos atrás, uns bacanos, espertos como um alho, convenceram o pessoal de que, havendo uma constituição e um regime democrático que previa que três orgãos distintos, como o Presidente da República, a Assembleia da República, o Tribunal Constitucional garantiriam a estabilidade e as boas decisões governamentais, ou seja, aquelas que não lesariam o interesse nacional, ninguém mais precisaria de se preocupar com a defesa de direitos. Para isso, estariam lá os senhores que o povo elegeria dessa tal forma democrática, absolutamente transparente e honesta. Todos pessoas de bem, com um passado escrupulosamente imaculado e imbuídas do mais elevado espírito de ética, respeito e defesa dos direitos dos cidadãos e do bom funcionamento das instituições, mesmo até, daquelas a que compete zelar pela justiça.
Pois é caro Dr. Pinho Cardão, isto, bem vistas as coisas, ninguém pecou, excepto os utentes das tais vias.
Esta questão lembra-me a anedota do empresário do norte que vem a negócios em Lisboa. Depois de concluir as reuniões que tinha agendadas, de regresso ao hotel, decide divertir-se um pouco. Então, dirige-se ao recepcionista e pergunta-lhe: Ó amigo, bocê numarranja aí umas garinas pra me fazerem cumpanhia no quarto?
-Claro que sim, responde o empregado, solicito. E quantas moças pretende o senhor?
-Ó pá, então... arranje-me praí umas 5.
Quando o empresário está em pleno acto de diversão, batem à porta do quarto; é uma brigada da judiciária que está a proceder a uma rusga. Entram, mandam encostar toda a gente à parede e começam a pedir a identificação.
- A menina, nome, morada, profissão.
- Chamo-me Amélia, resido em Lisboa e sou secretária.
- Eu, chamo-me Josefina, resido em Lisboa e sou estudante universitária.
- Eu, chamo-me Pancrácia, resido no Estoril e sou empresária.
- Eu, chamo-me Eufélia, resido na Pontinha e sou deputada.
-Eu, chamo-me Virgulina, resido na Musgueira e sou professora universitária.
- E o cavalheiro, pergunta o oficial da judiciária.
- Então ó senhor agente... num se tá mêmo a ver? Eu, sou a prostituta!!!
Diz o amigo Bartolomeu que "o grande problema... reside na nossa falta de consciência cívica".
Pois não concordo com essa culpa colectiva. Houve alguém que, não sei por que razão, mas ele saberá, que quis esconder os contratos ao Tribunal de Contas. Esse alguém é um ser concreto, existe,tem nome e, com toda a probabilidade, era membro do Governo. A razão por que o fez deve ser investigada.
A ser como o Batolomeu sustenta, seria sempre um fartar vilanagem. E, ainda por cima, com a culpa a ser colectiva, isto é, minha, sua, etc, etc. Não pode ser!
Na realidade, assistimos, bovinamente calados a um "fartar vilanagem", a todos os níveis, caro Dr. Pinho Cardão.
E para mim, está tudo interligado e interdependente. E não é de hoje, nem de ontem. Tem sido o processo progressivo que floresceu e se cimentou, por culpa da nossa falta de cultura cívica.
E aqueles que nos governam, pertençam de que quadrante político pertencerem, sabem-no e usam a trouxe-mouxe esta lusitana handicap.
Para compreendermos o porquê de não ser mando investigar, este e outros crimes de lesa-pátria e por conseguinte, de lesa-cidadão, precisamos remontar ao tempo da idade média e do feudalismo. Tempos esses que estão menos longícuos do que aquilo que teimamos imaginar.
Temos nos genes o marçano vivaço que saiu das berças para vir trabalhar na carvoaria do primo abastado, que lhe pagava com uma malga de entulho e meio pão escuro com o resto do toucinho, mas que quando chegou à idade da torpeira, lhe legou o estabelecimento.
No entanto, convencemo-nos de ter evoluido, assim que adquirimos um BMW, um Mercedes ou um Audi, ou fomos nomeados para dirigir uma qualquer Secretaria-Geral.
Somos assim, caro Dr. Falta-nos a cultura cívica.
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