De tempos a tempos o PSD olha para o sistema político e é violentamente atacado de frémitos reformistas. Há uns meses foi ao ponto de propor uma profunda revisão da Constituição, dando a entender que não haveria amanhã se não fosse substituído o texto constitucional. Chegou a esboçar uma proposta de reforma do sistema eleitoral e apresentou um modelo alternativo de governação autárquica, quase sempre em tom dramático como se a democracia dependesse de alterações e alterações substantivas e urgentes. Mas tão depressa surgem estes assuntos na agenda do PSD, como saem dela.
O mesmo se diga do PS. De vez em quando também é possuído por uma furiosa vontade reformadora das instituições políticas. Recentemente, pretendendo aproveitar uma onda que julgava estar a formar-se, o Dr. Seguro veio declarar-se favorável à redução do número de deputados à Assembleia de República. O lider parlamentar, o Doutor Zorrinho, lá apareceu, escassas horas depois, a dizer que para o PS o caso é desesperado mas não grave, isto é, que o assunto não é prioritário. E assim passou o efeito matinal, aquela vontade tão vibrantemente afirmada pelo primeiro responsável pelo partido, o seu secretário-geral. Claro que o que se passou no interlúdio é de simples compreensão: a esperada onda não passou da habitual e recorrente expressão dos "achistas" nacionais, e o PS percebeu que não capitalizaria nada, uma vez que os portugueses estão justificadamente mais preocupados com o cada vez mais dificil presente e com as incertezas do futuro.
Há algo que esta atitude dos dois partidos demonstra: a falta de sentido de Estado dos seus responsáveis. Uma reforma do sistema político não se anuncia como manifestação sentimental. Negoceia-se séria, profunda e responsavelmente, uma vez que só será possível reformar neste domínio se se alcançar um alargado consenso político. Foi aliás assim no passado, sempre que se concluiu que era importante para a consolidação da democracia e aperfeiçoamento das instituições.
Anúncios como os que têm sido feitos parecem brincadeiras de gente politicamente menor. Para as quais vai faltando pachorra.
4 comentários:
Pois, e com a dos "custos da democracia" a falar dos carrões do grupo parlamentar do PS ... este pessoal acha que "isto" é a prova de bala, de certeza...
Caro Drº Ferreira de Almeida,
Completamente de acordo...
Trazer à colação do momento político que se vive, um assunto tão melindroso não abona nada a favor do iluminado, e é por estas pequenas coisas que se vê que as alternativas não existem.
Claro que todos desejamos uma democracia com custos sustentáveis, mas isto, desta maneira é puro gozo.
E é por estas coisas que cada vez mais se olha para lá dos partidos...
Estava à espera que a Dra Susana repetisse o post de outro dia... Ouvir toda esta gente falar começa a ser algo assustador. Anunciam medidas terríveis, prometem dourar a pílula, recuam às vezes,...
O mal que tudo isto faz ao país é terrível: deprime/assusta os cidadãos e leva-os a adiar/cancelar decisões que podiam ser benéficas para a economia e o país. Fariam um imenso favor ao se, antes de falarem, estudassem cuidadosamente os dossiers e os impactos do que querem ver consagrado em lei. Assim "cheira-me" que contribuem, decisivamente, para o desastre...
Convenhamos que das duas uma, ou António Seguro foi claramente populista e demagogo ou acabou por ser Carlos Zorrinho.
Aliás, segundo as palavras do deputado (PS) João Galamba -e cito-: "Tem uma dimensão muito perigosa, que é de pessoas convencerem-se, por exemplo, que: cortando salários a deputados, reduzindo trinta deputados na Assembleia da República,[..]se resolve o problema da despesa pública...".
Não negando as nuances melindrosas que o tema aporta, não deixa de ser mirabolante a recente capacidade do PS em dar tiros no próprio pé.
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